domingo, agosto 17, 2014

FANON, BAE SUAH, SOLEDAD ALTAMIRANO, MNOUCHKINE & RACHEL BLOOM

 


ENCONTROS, DESENCONTROS, REENCONTROS – O encontro é sempre uma surpresa, nunca se sabe o que virá depois. O universo parece conspirar a favor: o olhar, o sorriso, a hesitação inicial, as mãos e tudo bem, quase um convite mútuo. As conversas, compartilhamentos, as coincidências, os encaixes, risos e olhares cúmplices, emoções e sentimentos intensos e mútuos. Tudo escorre até que os desencontros ditem a separação e a refletir com a partida de quem se foi por novos horizontes, os desencontros definitivos, a perda e os momentos de dor e saudade. Entre perdas e danos cresci e me transformei, acredito: a impermanência e a necessidade de valorização de cada conexão. Seis que os encontros e desencontros permeiam a condição humana: é quando sabemos nossa capacidade de amar e de nos reinventar, carregando as lembranças e ensinamentos daqueles que cruzaram os devires. Celebrei muitos encontros, aceitei os desafios dos desencontros e estive pronto para quantos reencontros, alguns mágicos, outros nem tanto. E reviver novas e antigas emoções, laços esgarçados, celebrações, gratidões, redescobertas. No reencontro, há uma mistura de alegria, saudade, surpresa e nostalgia. É como se o tempo parasse por um instante, permitindo que as pessoas se reconheçam novamente, não apenas fisicamente, mas também emocionalmente. É um momento de conexão profunda, onde as palavras muitas vezes são desnecessárias, pois os olhares, os gestos e os sorrisos falam por si só. Em qualquer caso, um lembrete de que, no final das contas, o que realmente importava é que estiveram ali e, apesar de todas as mudanças e desafios da vida, os laços verdadeiros nunca se fortaleceram ou se perderam de vez. A dança da vida segue seu curso, entre encontros que nos inspiram, desencontros que nos desafiam e reencontros que nos emocionam. Cada um desses momentos é uma peça importante no quebra-cabeça da existência individual, moldando quem somos e quem queremos ser. E, no fim das contas, o que realmente importa não são os encontros perdidos, mas sim os reencontros que nos fazem acreditar na magia da vida e na força dos laços que nos unem. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Se eu pudesse criar a minha própria utopia, seria um mundo sem gênero, onde não teríamos de falar sobre isso. Quando você combina sua autoestima com seu talento e, de repente, você pode não ser o mais talentoso, isso é realmente assustador. Foi emocionante ficar bom em algo onde eu não tinha medo de não ser o melhor. A primeira coisa pela qual me sinto sinceramente atraída é a inteligência. Os escritores são, portanto, o auge da inteligência. Embora os atores sejam ótimos e incríveis, os escritores literalmente criam novos mundos do zero. O que é mais sexy do que isso? Pessoalmente, não sei por que nem todas as pessoas estão namorando um escritor. Pensamento da atriz, humorista, cantora e compositora estadunidense Rachel Bloom.

 

ALGUÉM FALOU: Estou no presente e só o presente me importa... O teatro não deveria representar a psicologia, mas sim as paixões, o que é totalmente diferente. Seu papel é representar os diferentes estados emocionais da alma e os da mente, a história mundial. Você deveria sair do teatro mais forte e mais humano do que quando entrou. Pensamento da diretora de teatro e cinema francesa Ariane Mnouchkine. Veja mais aqui e aqui.

 

A CARTA DE FANON - O que eu queria dizer a você [...] é que a morte está sempre conosco e que o importante não é saber como evitá-la, mas ter certeza de que fazemos o nosso melhor pelas ideias que acreditamos. A única coisa que me choca, desenganado nesta cama e perdendo as forças do meu corpo, não é que eu estou morrendo, mas que eu estou morrendo de leucemia aguda em Washington, DC, quando eu poderia ter morrido há três meses, de frente para o inimigo no campo de batalha, quando eu já sabia que tinha esta doença. Nós não somos nada nesta terra, se não servirmos antes de tudo uma causa, a causa do povo, a causa da liberdade e da justiça. Eu quero que você saiba que, mesmo quando os médicos tinham perdido toda a esperança, eu ainda estava pensando, em uma névoa concedida, mas pensando, no entanto, no povo argelino, nos povos do Terceiro Mundo [...]. Se eu consegui segurar, foi por causa deles [...]. Trecho da Carta de despedida ao amigo Roger, escrita pelo psiquiatra e filósofo martinicano Frantz Fanon (1925-1961), extraída de A Philosophical Introduction to His Life and Thought (A Fordham University Press, 2015), de Lewis Ricardo-Gordon. A obra mais mais conhecida de Fanon, Les Damnés de la Terre, foi publicada em 1961, um ano após sua morte, e é considerada um manifesto da luta anticolonial. Neste livro, Fanon analisa os efeitos psicológicos e sociais do colonialismo e defende a violência como meio legítimo de resistência contra a opressão colonial. Um dos conceitos-chave em sua obra é o da "violência purificadora", que desafia a ideia convencional de que a violência é sempre negativa. Fanon argumenta que, no contexto da luta pela libertação nacional, a violência pode ser uma forma legítima e necessária de resistência contra a opressão colonial, uma maneira de os colonizados se afirmarem como agentes de sua própria história. Além de sua análise política e social, Fanon também fez importantes contribuições para a compreensão da psicologia do colonialismo. Outra obra importante de Fanon é Peau noire, masques blancs, publicada em 1952, na qual ele explora a psicologia do racismo e da colonização, examinando como os colonizados internalizam os valores e as normas do colonizador, afetando sua autoestima e identidade. Além de suas contribuições teóricas, Fanon também foi um militante ativo, envolvendo-se em movimentos de libertação nacional em países africanos, como a Argélia, onde trabalhou como membro do Front de Libération Nationale (FLN). O seu legado continua a influenciar pensadores, ativistas e movimentos sociais em todo o mundo, que buscam compreender e combater as estruturas de poder coloniais e racistas que ele tão incisivamente criticou em sua obra. Em resumo, Frantz Fanon foi um pensador corajoso e visionário que desafiou as estruturas de poder colonial e racial de sua época. Sua obra continua a ser uma fonte de inspiração para aqueles que lutam por justiça, igualdade e libertação em todo o mundo. Veja mais aqui e aqui.

 

EM NENHUM LUGAR – [...] Não importa o quão decadente e corrupto meu corpo se torne, eu irei, como uma orquídea do deserto que floresce uma vez a cada cem anos, até você carregando essa frieza em relação à vida. [...] Você tem os olhos de uma garota-lobo cujo coração nunca foi tocado. Quando pressiono meu ouvido em seu peito, ouço apenas vento e vazio. [...] Você nasceu com uma faca no coração. [...] De vez em quando, imagino um trem do metrô à noite lotado de pessoas que conheci e de pessoas aleatórias que encontrarei por acaso em algum futuro distante. A maioria das pessoas que conheci há muito tempo agora vivem suas vidas sem mim, e aqueles que um dia encontrarei por acaso não me conhecem agora. Eles passam apáticos, os rostos sombrios sob as luzes fracas da estação de metrô da prefeitura, empurrando meus ombros ao passarem. [...] Mesmo agora, acho que talvez minha família seja apenas uma coleção aleatória de pessoas que conheci há muito tempo e que nunca mais encontrarei, e pessoas que ainda não conheço, mas que um dia conhecerei por acaso. [...]. Trechos extraídos da obra Nowhere to Be Found (Amazon Crossing, 2014), da escritora e tradutora sul-coreana Bae Suah.

 

DOIS POEMAS - TUAS MÃOS - Te espero \ ao lado do pôr do sol \ até o dia \ que você volte \ e meu corpo \ torna-se transparente \ entre suas mãos. SONHAR - eu tenho apalpado \ seu corpo nu \ na solidão \ dos meus sonhos. \ Eu senti suas mãos \ tocando o meu \ e eu fui seu \ muitas vezes. \ Ao acordar \ você é apenas isso \ que desmorona \ na realidade da madrugada. Poemas da escritora e professora hondurenha Soledad Altamirano Murillo. Veja mais aqui.

 

OUTRAS DIC’ARTES

 


MICHEL FOUCAULT
– Resultado de leituras das obras do filósofo, historiador, teórico social e crítico literário francês Michel Foucault (1926-1984), encontramos sua opinião acerca da utilização da literatura em seus estudos filosóficos:  “[...] eu me interesso pela literatura, uma vez que ela é o lugar onde nossa cultura operou algumas escolhas originais”. Veja mais aqui e  aqui.


 Imagem da artista plástica e arte-educadora Edina Sikora.

Ouvindo Coltrane Plays The Blues (1962) do saxofonista e compositor de jazz norte-americano John Coltrane (1926-1967).


T.S. ELIOT – Na reunião de sua obra poética, o poeta modernista, dramaturgo e critico literário inglês nascido nos Estados Unidos e Prêmio Nobel de Literatura de 1948, Thomas Stearns Eliot, traz entre as mais belas páginas da poesia universal o seu poema Quatro Quartetos que destacamos esse fragmento: “As palavras se movem, a música se move / só no tempo; e o que vive só, / só pode morrer. / As palavras, depois de haver falado entram em silêncio. Unicamente / por meio da forma, do desenho, / a música ou as vozes conseguem a quietude, / como se move um jarro chinês imóvel / perpetuamente na imobilidade”. Veja mais aqui, aqui e aqui


WENDER MONTENEGRO – Esta semana tive a grata satisfação de conhecer melhor o trabalho do poeta e professor cearense Wender Montenegro que já foi premiado, participou de diversas antologias poéticas e editou ao lado de Chagas Conceição o jornal Universo e o livro Casca de Nós (2010). De sua verve poética destacamos Mea culpa ou profissão de fé: “Semear poeiras e andrajos de esperas / dissecar os ossos das metáforas / acender espantalhos no amarelo das espigas. / Decantar o silêncio que sustenta o cais / ostentar um colar de metonímias / despir a voz da louca, cuja febre anuncia / um evangelho apócrifo. / Caminhar sob pedras como por milagre / ouvir a foz rouca dos rios da infância / borrifar no azul as flores do arco-íris. / Pintar um verão vazio de andorinhas / se encharcar de sol e devaneios / hastear um lenço sujo de saudade / ajustar os ponteiros na cópula dos pardais”.

PROGRAMA TATARITARITATÁ – O programa Tataritaritatá que vai ao ar todas terças, a partir das 21 (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação desta terça aquiO programa Tataritaritatá desta terça, dia 19 de agosto, a partir das 21hs, no MCLAM, com apresentação de Meimei Corrêa, trará por destaque na programação Pat Metheny, Helio Delmiro, John Anderson & Vangelis, Ricardo Machado, Jarbas Barros, Danny Reis, Sonia Melo, Santanna o Cantador, Juliana Impaléa, Juareiz Correya, Jucimar Luiz de Melo Siqueira, Kel Monalisa, Ozi dos Palmares, Mariza Sorriso & muito mais. Confira mais aqui.


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