SOBREVIVENTE DOS NAUFRÁGIOS
– Desde que me vi por gente nas ilhas desertas da solidão, quantos naufrágios
na aventura que é viver o dia a dia como se houvesse ousado pelos mares da
existência, pelas intermitências nas travessias tropicais, pelo cotidiano entre
estações invariavelmente estivais e invernosas, pela vivência da destruição de
sonhos e anseios. Quantas mãos surgiram do inopinado para o resgate, poucas,
mas valiosas, inesquecíveis. Cada evento com suas feridas marcadas
profundamente, as lições subjacentes que sangram ao respirar fundo e se tornam histórias
pra contar da vida que, como o mar, está sujeita aos desafios das tempestades e
vicissitudes - a rudeza das sombrias incompreensões humanas e suas tensões
conflituosas, a implacabilidade da vingança, os perigos e o desafio das profundezas
de selvagerias, ah, desvencilhar-se dos apuros, certezas a pique, as ideias em
choque, a necessária adaptação. Aprendi a renascer com a sabedoria de ter
vivido e tornei-me cada vez mais vivo e em cada momento, desde o despertar
amanhecido ao crepúsculo da sonolência. Sabia que escapara porque não seria a
vez do fim, mas de uma nova jornada, a coragem revestida, a resiliência em
alta, o recomeço árduo e solitário, o caminho pra seguir e sobreviver salvando
a própria embarcação corporal, com a serenidade, a paciência e a criteriosa consciência
de que novos e sucessivos naufrágios estarão à vista, sábias lições pro
aprendizado e a gratidão de experienciar. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - A
história é sempre meio mentirosa... Uma piada trágica... Não, não sou ativista,
não sou política... Há pessoas que optam
por pegar o barco e se salvar, e outras que não resistem à tentação de salvar os
outros. E pessoas que são capazes de matar outras pessoas para escapar. Estas são
grandes decisões pessoais. Elas têm a ver com um lugar, chame-o de consciência.
As pessoas podem nem todas entender de política, não é fácil entender o dilema humano
e a tragédia humana. Pensamento da atriz e cineasta argentina Norma Aleandro.
ALGUÉM FALOU: Um brinde
aos livros, as férias mais baratas que você pode comprar... A ficção apenas
torna tudo mais interessante. A verdade é tão chata... Você acha que não é a
magia que te mantém vivo? Só porque você entende a mecânica de como algo
funciona não significa que seja um milagre menor. Que é apenas outra palavra
para magia. Todos nós somos mantidos vivos pela magia. Minha magia é um pouco
diferente da sua, só isso. Pensamento da escritora estadunidense Charlaine
Harris. Veja mais aqui, aqui e aqui.
LOBO DO MAR - [...] Ora, se existe
alguma oferta e procura, a vida é a coisa mais barata do mundo. Há um limite de
água, de terra, de ar; mas a vida que
exige nascer é ilimitada. A natureza é uma
perdulária. Veja os peixes e
seus milhões de ovos. Aliás, olhe para
você e para mim. Em nossas entranhas
estão as possibilidades de milhões de vidas. Se pudéssemos
encontrar tempo e oportunidade e utilizar o último pedaço da vida ainda não
nascida que existe em nós, poderíamos nos tornar os pais das nações e povoar os
continentes. Vida? Bah! Não tem valor. Das coisas baratas
é a mais barata. Em todo lugar ele
vai mendigar. A natureza derrama
isso com mão generosa. Onde há espaço para
uma vida, ela semeia mil vidas, e a vida come a vida até que reste a vida mais
forte e mais porca. [...] O homem é inconstante como os ventos e as
correntes marítimas. Impossível adivinhar o que ele vai fazer em seguida.
Quando você começa a achar que o conhece, quando começa a vê-lo com bons olhos
e põe as velas pra vento a favor, ele dá uma volta na sua frente, entra
rasgando e arrebenta tudo [...]. Trechos extraídos da obra Lobo
do mar (Zahar, 2013), do escritor, jornalista e ativista estadunidense Jack
London (1876-1916). A obra mergulha
nas profundezas da alma humana ao retratar a vida árdua e solitária dos
marinheiros que enfrentam os perigos e desafios do Mar de Bering. Publicado em
1904, o livro segue a jornada de Humphrey Van Weyden, um intelectual
sofisticado que se vê em apuros quando seu navio é afundado por um choque com
outro barco. Resgatado por uma embarcação liderada pelo brutal capitão Wolf
Larsen, Van Weyden é forçado a se adaptar à vida rude e implacável a bordo do
navio Fantasma. Larsen, um homem de grande inteligência e força física, é um
personagem complexo que desafia as noções convencionais de moralidade e
determinismo. Sua luta constante contra a natureza e a sociedade molda o tom
sombrio e introspectivo da narrativa. O autor tece uma trama poderosa que
explora temas como a natureza humana, a luta pela sobrevivência e a relação do
homem com o ambiente natural. A tensão entre os personagens, especialmente
entre Van Weyden e Larsen, cria um conflito fascinante que se desenrola ao
longo da história. "O Lobo do Mar" é uma obra-prima da literatura
americana, conhecida por sua escrita visceral e realista. London habilmente
transporta o leitor para o mundo cru e implacável dos marinheiros, onde a linha
entre a civilização e a selvageria se torna tênue. É uma leitura intensa e
envolvente que cativa desde a primeira página até o final, deixando uma marca
duradoura na mente do leitor. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
POEMA - Aqui reside \ o
coração de uma cidade. \ Lá, em suas colinas, jazem \ seus ossos verdes,
silenciosos sob \ a confusão de casas e ruas. \ E lá em seus rios correm veios \
que há muito tempo movimentavam seus moinhos. \ Seus longos membros alcançam as
\ charnecas. Mas aqui, aqui \ está seu coração palpitante. Poema da
escritora, dramaturga e roteirista inglesa Berlie Doherty.
OUTRAS DIC’ARTES