DITOS & DESDITOS - Eu não posso lhes ensinar. O caminho está
dentro de nós, nem nos deuses, nem nos ensinamentos, nem nas leis. Dentro de
nós está o caminho, a verdade e a vida. Pensamento do psiquiatra e
psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) sobre Metanoia,
expressa em suas obras O livro vermelho (Liber Novus - Vozes,
2010) e A vida
simbólica (Vozes, 2000),
postulando como o momento de crise existencial da segunda metade da vida, dos
35 aos 45 anos, onde o eu
busca a resolução de conflitos internos e autorrealização. Para ele é um
momento de crescimento profundo em que a pessoa consegue ressignificar a sua
atuação no mundo. O autor considera que a palavra metanóia significa mudar de
conceito, mudar de ideia ou mudar seus próprios pensamentos. Veja mais aqui e
aqui.
ALGUÉM FALOU: Nada
posso lhe oferecer que não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro
mundo além daquele que há em sua própria alma. Nada posso lhe dar, a não ser a
oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio
mundo e isso é tudo. Pensamento do escritor alemão Hermann Hesse
(1877 – 1962). Veja mais aqui.
O CAMINHO DA VIDA – [...] Na
metade do caminho da vida pelo qual caminhamos acordei e me vi no meio de uma
floresta escura onde a estrada certa havia desaparecido completamente [...]. Trecho da obra Divina Comédia (1321- Ateneu,
2011), do poeta italiano Dante Alighieri (1265-1321). Veja mais aqui.
NEUROEDUCAÇÃO - O cérebro
precisa se emocionar para aprender. É preciso acabar com o formato das aulas de
50 minutos. São os professores que,
além do conhecimento, transmitem os seus valores aos homens e mulheres do
futuro. Expressões do neurocientista espanhol Francisco Mora que é autor do livro Neuroeducación: solo se puede aprender àquello que se ama (Alianza,
2013). Ele é doutor em Neurociências pela Universidade de Oxford e em Medicina
pela Universidade de Granada, professor de Fisiologia na Universidade
Complutense de Madrid. Tornou-se uma referência internacional em neuroeducação
e autor de inúmeras publicações enfatizando a importância das emoções na
aprendizagem. Veja mais aqui, aqui e aqui.
LEITURA – Quem não lê, aos 70 anos terá vivido
só uma vida. Quem lê terá vivido
5 mil anos. A leitura é uma
imortalidade de trás para frente. Vivemos para os livros. Os livros não foram feitos para serem
acreditados mas para que os questionemos. Quando lemos um livro, devemos perguntar
a nós próprios não o que diz mas o que significa. Tenho cerca de 50 mil livros.
Quando a minha secretaria disse que ia catalogá-los disse-lhe para não o fazer,
os meus interesses mudam constantemente. Para sobreviver é preciso contar
histórias. Frases do escritor, filósofo e bibliófilo italiano Umberto
Eco (1932-2016). Veja mais aqui e aqui.
CULTURA & MATERIALISMO - [...] A
interpretação específica dada então foi, naturalmente, a de um declínio
cultural; o isolamento radical da minoria crítica foi, nesse sentido, tanto o
ponto de partida quanto a conclusão. Mas qualquer teoria do declínio cultural
ou, colocando de forma mais neutra, da crise cultural [...] adquire, inevitavelmente, uma explicação
social mais ampla: nesse caso, a destruição de uma sociedade orgânica pelo
industrialismo e pela civilização de massa [...] Devido aos críticos de Scrutiny serem muito mais próximos da
literatura, não se adequando às pressas a uma teoria concebida a partir de
outros tipos de evidência, sobretudo da evidência econômica? Creio que foi por
isso, mas a razão real era mais fundamental. O marxismo, como comumente entendido,
foi fraco justamente na área decisiva em que a crítica prática foi forte: na
sua capacidade de oferecer explicações precisas, detalhadas e razoavelmente adequadas
para a consciência real — não apenas um esquema ou uma generalização, mas obras
reais, cheias de uma experiência rica, significativa e específica. E não é
difícil encontrarmos a razão para a fraqueza correspondente do marxismo: ela
estava na fórmula herdada de base e superestrutura que, em mãos pouco
treinadas, converteu-se rapidamente em uma interpretação da superestrutura como
mero reflexo, representação ou expressão ideológica [...]. Foi a teoria e a prática do reducionismo —
as experiências e as ações humanas específicas da criação convertidas de forma
rápida e mecânica em classificações que sempre encontraram a sua realidade e
significância última em outro lugar — que, na prática, deixaram o campo aberto
a qualquer pessoa que pudesse dar uma explicação à arte que, em sua proximidade
e intensidade, correspondesse à verdadeira dimensão humana [...]. Tenho grande dificuldade em ver os processos
da arte e do pensamento como superestruturais no sentido da fórmula tal como
ela é comumente usada. Mas em muitas áreas do pensamento social e político —
certos tipos de teoria ratificadora, de lei e de instituição que, afinal, nas
formulações originais de Marx, eram de fato parte da superestrutura —, em todo
esse tipo de aparato social e em uma área decisiva da atividade de construção
política e ideológica, se não formos capazes de ver um elemento
superestrutural, não seremos capazes de reconhecer a realidade. Essas leis,
constituições, teorias e ideologias que são tão frequentemente defendidas como
naturais ou como tendo validade ou significância universal devem ser vistas
como simplesmente expressando e ratificando a dominação de uma classe particular
[...] Trechos extraídos da obra Cultura e
materialismo (Unesp, 2011), do acadêmico, crítico e novelista galês Raymond Williams (1921-1988). Veja mais
aqui.
MODERNIDADE PERIFÉRICA – [...] Observar o
espetáculo: um flâneur é um espectador imerso na cena urbana e, ao mesmo tempo,
faz parte dela: numa sequência infinita, o flâneur é observador por outro
flâneur que por sua vez é visto por um terceiro [...] O circuito do passante anônimo só é possível na cidade grande, que é
uma categoria ideológica e um universo de valores, mais do que um conceito demográfico
e urbanístico. Arlt produz seu personagem e sua perspectiva nas Aguafuertes,
tornando-se ele próprio um flâneur modelo. Diferentemente dos costumbristas que
o antecederam, mistura-se na paisagem urbana como um olho e um ouvido que se
deslocam ao acaso. Tem a atenção flutuante do flâneur que circula pelo centro e
pelos bairros, penetrando na pobreza nova da grande cidade e nos meios mais
evidentes da marginalidade e do crime. [...] Assim escreve uma mulher que quer ser poeta, mas também quer continuar
a ser aceita. Norah apaga tudo o que pode colocar em questão sua
respeitabilidade pós-adolescente e juvenil; apaga o que a visão social dos pais
não deve ler. O ultraísmo lhe dá a irrestrita liberdade das imagens. Norah usa em
seu esforço de tapar o inconveniente, e nesse esforço pode-se ler, no entanto,
o trabalho da censura. [...]. Trechos extraídos da obra Modernidade Periférica (Cosac &
Naify, 2010), da escritora e crítica literária argentina Beatriz
Sarlo. Veja mais aqui e
aqui.
CONFISSÕES - Eu estava esperando por você. Além do inverno, em cinquenta e oito, das
letras sem pulso e verão da minha primeira carta, pelos corredores lentos e o
exame, através de livros, tardes de futebol, da flor que não quis virar
almofada, além do menino ligado à lua, Sob tudo o que eu amei Eu estava
esperando por você. Eu estou esperando por você. Atrás das noites e das ruas,
das folhas pisadas e obras públicas e comentários das pessoas acima de tudo o
que sou, de alguns restaurantes que já não frequentamos, com mais pressa do que
o tempo que me foge, mais perto da luz e da terra, Eu estou esperando por você.
E vou continuar esperando. Como os amarelos do outono, ainda uma palavra de
amor diante do silêncio, quando a pele desliga, quando o amor abraça a morte e
nossas fotos ficam mais sérias, no penhasco da memória, depois que minha
memória vira areia, por trás da última mentira, vou continuar esperando.
Poema da escritora espanhola Almudena Grandes Hernández (1960-2021).