quinta-feira, novembro 15, 2007

HENRIQUETA LISBOA, GLÓRIA STEINEM, OLIVE SCHRINER, WANGARI MAATHAI, PICABIA, PREVISÕES DO DORO, ELVIRA & LITERÓTICA



Portrait de femme, do pintor e poeta francês Francis Picabia (1879-1953).



ELVIRA, A DEBUTANTE DO CORONEL - Menina dos olhos de todos os olhares. Assim era Elvira, sempre linda: órfã aos doze, faceira de infância, adolescente ríspida e linda. Ah, Elvira, o desassossego dos meninos. Parecia triste no olhar. Uma meiguice escondida, vulnerável da vida. Futuro promissor? Linda e bem apanhada. Da vida, a cilada.
O primeiro infortúnio varrendo a primeira esperança: finaram seus pais. Um acidente trágico na rodovia federal. Sobrara apenas lembrança triste, mais nada. Aos cuidados da avó, seu único amparo. A anciã sofria de enfermidade rara. No coração. Cuidados redobrados dela que, apesar da insinuada rebeldia, sempre fizera por compreensiva e obediente. Comiserada para ser mais que o chalé, as meias nas sandálias, o casaco do frio e a tremedeira da esclerose. Carecia, então, de mais cuidados que dela mesma. Isso ela sabia e perseguia, pactuando na carne e nos sonhos o seu compromisso: nada faria para desagradá-la, nunca! Dos espinhos, a flor reinando, a segunda cilada.
Debutante e linda. Acnes na franzinice charmosa. Maturranga. Quando não, sem papas na língua. De nada adiantara. Entre a legião de marmanjos aloprados, eis Manildo Abatimtimbaí Jacubá, coronel ricaço, perito em descabaçador de donzelas. Todo pavoneado para as suas bandas. Do alarde, todos sabiam: é aí que mora o perigo. Por certo, Elvira não escaparia de sua sanha. Nem pôde. Bastou uma festa numa casa amiga, para a segunda cilada laçá-la. Foi no aniversário da anfitriã. Lá o coronel montou banca: vistas para lá de gulosas sobre a menina. Lambendo os beiços, azuretado. Todos flagraram a agourenta paquera do traste velho. Sim, porque muitas contavam do coronel. Fizeram a caveira dele em cochichos aos ouvidos de todos. (Diziam da muita dele, coisas até que formaram um lendário rico ao seu redor. E nem aliviavam arreando a lenha, isso às escondidas, todos morriam de medo). Quem, então, o algoz? Um escroque rico de um carneiro berrante preso numa corrente: carneiro branco com uma estrela brilhante na testa. E mais: bocório de jeito espaventoso. Chaboqueiro de aventuras galantes que vendera a alma ao diabo. Leviandades muitas, contrafações hábeis nas suas orelhas de abano. Mais: um frei Tomás, santarrão solto na gandaíce com mulheraças desabridas. (E quantos pormenores foram levantados na poeira de sua vida nebulosa). Do alto de suas posses, uma procissão alheia de solteironas, descasadas, comprometidas e mal-amadas. Mas era luxento mesmo, era. Biqueiro, o cabaço da donzela era o seu troféu. Escolhia a dedo, não antes dar uma sarrabulhada empenada na priquita de qualquer que caísse nas suas graças. Viesse não, era sabugo dentro. Valia-se do Galeoto, seu fiel amigo e consolo na solidão. E até as mães, muitas e muitas mães, levavam suas filhas virgens para banqueteá-lo. Tudo em troca de alguma modesta fortuna.
O assédio dele, Elvira repulsava. Pressão total. Por todos os flancos arrotava gentilezas e ela não. Mesuras e gracejos, não. Mas Manildo Jacubá não perde viagem, não bate prego sem estopa. Destá, preparava ardis no tempo. Ela nem quis saber.
Na inocente festa, a arapuca. O pavão cercou-lhe junto de todos os olhares de língua solta. O cerco se fechava. Venderiam maledicências à avó. Tudo mentira, armação. Elvira empinou nariz e esperneou: não era o que pensavam. Já era tarde, mas ocultou de sua avó as persistentes investidas dele. E recusou tudo desde a hora que nasceu. Empalideceu na viela e não teve outra: não sou parente e nem é meu aniversário! Não senhor, não aceito de maneira nenhuma. Não, não e não! Pronto. A avó não perdoaria enxerimentos com ninguém. Muito menos com. Rigorosa como era, toda fiel às crenças e virtudes, por certo, estaria com uma reprimenda pronta para colocar no lugar todas as coisas que julgasse contrária a sua religiosidade. Isso tendo um veredicto para a desgraça da moça inocente. Nessa sinuca, Elvira varou noites sem sossegar o sono. Não conciliava nada, pois que seria condenada, cuspida, arrastada pela humilhação. Permanecia mais que encucada e não conseguia pregar os olhos. E com isso, vieram os pesadelos com o escárnio dos mais próximos, o preconceito dos longínquos, a presepada que lhe daria a alcunha de puta sem nem ser tocada por qualquer mancebo na vida. Tinha certeza que já estava condenada antes de tudo, o coronel não se cansaria de tê-la entre as suas posses. Estava na ordem do dia, na primeira linha da primeira página da agenda dele, era evidente que não arredaria pé por nada. No cúmulo da cilada: se correr, o bicho pega; se ficar, o tinhoso come. Encruzilhada com semáforo no sinal vermelho em todas as direções. Era. Um papa figo que sugaria todo o seu sangue, paparia todos os seus órgãos e deixá-la-ia exangue como Inez de Castro depois da coroa de espinhos. De sobressalto em sobressalto, ela desejava que ele sumisse pros quintos dos infernos dali pra dentro de cabeça pra baixo plantando bananeira e que não estaria disposta a atender-lhe as bajulações safadas, muito menos era uma descarada que precisasse pedir-lhe qualquer favor vez que não era puta nem tinha vontade de ser. Longe dela de servir por troféu para as conquistas baratas de um sujo energúmeno como ele e que botasse o rabinho entre as pernas que ela não cederia de forma alguma aos seus galanteios. Foi assim mesmo no meio dos resmungos do seu gênio agastadiço. Ah, bicho tinhoso sabe amansar bicho brabo encantado, desentortar aço inoxidável sem tocá-lo, mudar a rotação e a translação da terra só para passear pelo universo.
Elvira partiu para dar um ponto final em tudo: sustou convites, estornou presentes, mandou socar no cu toda aquela baboseira, que tivesse respeito por ela que era uma moça prendada e não era nenhumazinha encontrada com a boca aberta pronta para ser desalmada por um sujeito tão bandoleiro como ele e que não serviria de cobaia para uma aventura nojenta, inescrupulosa com um sanguessuga bastardo feito ele, acostumado a enrolar as bestinhas que pensam com príncipe encantado e ele só metendo ferro nas intimidades delas, mais nada, que convidasse a mãe dele de bunda de fora e fosse para o raio que o partisse. Todo arrazoado inútil. Mandingas e conselhos alheios levaram-na inescrupulosamente aos domínios dele. A avó nem sonhava com isso. Engoliu seco e enfrentou tudo. Já davam por certa golpeira de baú. Mentira, mas estigmatizara. Desapontada, deu-se por fuso perdido. Chorou e chorou com toda aquela parafernália de insinuações que lhe acusavam sem ao menos respeitarem sua conduta, nem mesmo sua participação pela existência de um ser humano como outro qualquer, pobre e digna, dona do seu próprio nariz, levada para uma armadilha perspicaz, uma arapuca premeditada, um redemoinho sem salvação. Desconsolada no seu pranto, fez como avestruz: enfiou a cabeça na sua própria escuridão pensando haver se desvencilhado do perigo. Qual nada. O chão fugiu-lhe, estava despencando num labirinto cósmico. E a avó? Ela julgaria aquilo como uma lúbrica situação dolosa e a única culpada seria ela, Elvira mesma, mais ninguém, andar dando trela para homens, sem-vergonha, não quisesse não fosse, pronto, tudo estaria resolvido. Desamparada via que sua avó aplicaria razões múltiplas para condená-la, alegando fraqueza de personalidade, cafajestagem, sonsa libidinagem, predestinada à puta e merecendo ser apedrejada em praça pública. Desprotegida gritou e relutou juntando todas as forças. Nada adiantou: a caça arrastada para um quarto suntuoso sob o banho de arroz, arrancando sua calcinha à força e num safanão restou estendida na cama. Saia jogada escancarando o sexo e as pernas, aos puxavanques viu-se rasgada em bandas. Elvira repulsou tudo quanto pôde, esperneando, gritando, lutando por se desvencilhar daquilo enquanto choramingava doídamente. Indiferente aos seus gritos e repulsa, ele apenas cravava seu membro rude na vagina dela violentamente e cavalgava ao bel prazer como numa égua quarto de milha. A dor dela, a rudeza, a indignação: criou coragem e mirou a cara dele enquanto arfava enfiando-lhe o caralho com raiva. Vira a cara do monstro e que ele fitava a si mesmo pelo espelho na cabeça da cama, enquanto lerdeava selvagemente suas necessidades. Era como se ele testemunhasse no olhar a sua vitória, sua conquista, o seu troféu. Vira o monstro peludo e suarento. O asco envolveu sua alma, tocou-lhe no profundo âmago. O que fizera? Não havia como recusar, estava vencida, sem forças para nada. Aniquilada. Aquilo fora a maior violência que havia conhecido. Nunca pensara que houvesse algo parecido no mundo. As suas lágrimas torrenciais lavavam a cama e ele mais pulava em cima dela, roubava-lhe as últimas energias, tomava-lhe a alma, o seu próprio eu. Quem era? Ninguém. A solidão do ser, a inexistência de vida. E ele a revirava de costas, trotando enlouquecido, enfiava-se por todo o seu corpo, vagina, ânus, seios, lambuzava-a toda carne, esbofeteava as faces, agarrava-lhe pelos cabelos e tornava a se aproveitar: chupa, puta, chupa! Saboreou ali o fiasco da sua existência no reino daquele paquiderme. Beirava, faltando pouco, para se dizimar na sua própria morte. Concluído o coito, ele deitou-se pesado em cima dela, fitando a si próprio no espelho por demorado tempo. Elvira engulhava como que com nojo. Ela era um bicho para ele, não era gente. Uma prenda, uma posse, uma coisa. Depois ele se foi. Ela deitada, desencontrada, melada em sangue, uma nódoa em sua mente, uma poça enorme em seu coração. Ficara em encalistrado recanto enquanto o diabo esfregava um olho. Sozinha. Nenhuma força nas pernas, nem nelas nem em nada. Só consumida, vilipendiada, seviciada. Reunindo forças, levantou-se e seguiu até ao toalete da suíte. Demorou-se com a água do chuveiro a devolver-lhe qualquer vitalidade. O poder da água. A restauração da vontade de sentir viva no meio de selvagens, uma morta viva. Enquanto a água molhava seu corpo, alisava o seu sexo dolorido. Apertou-se com as duas mãos. E depois ficou a alisar as suas próprias coxas, pernas, ventre, rosto, lábios. Perdeu a noção de si. Enojada daquilo tudo, levantou-se lentamente. Deu-lhe uma abulia toda aquela situação. Passos inseguros, os seus. Recolheu-se no quarto envidraçado. A solidão fazia a sua parte.
À noite tudo recomeçava e ouvira a chegada dele pelo alarido dos gansos como os do capitólio. Estava deitada apenas na sua exclusiva mixórdia. Ele invadia o recinto sem palavra alguma, apenas aquele pisado de mando, aquela marcha funérea. Tudo era temeroso, ninguém possuía a palavra. O silêncio mandava com a sua chegada. Aliás, o silêncio validava a tristeza, a dor, o medo, a imponência de quem manda, a verdade de quem tem sobre quem não tem nada. Abriu-se a porta do quarto e no afã de satisfazer-se ele atacou-lhe novamente. Do mesmo jeito. Sem consideração, sem valia de nada. Dias e mais dias assim.
Ao cabo de um mês exigira dele que falasse com ela, enfrentando-o, aquele baluquitério atual cheio de mudez, que trocasse palavras, assuntos quaisquer, ele dava-lhe as costas. Até que ela aquela cunhã que espezinhava clamando por sua companhia, enquanto ele um mastodonte que lhe trouxera para mão como uma vespa atraída pelo suor. Pensara, então, no fosso entre a sua idade e a dele. Ela uma marruá na vida, ele um marupiara. Começou por se esquivar de seus carinhos ariscos. Bebeu umas doses e ficou grogue. Apresentou-se perante ele ridiculamente vestida e enfeitada em demasia. Acusou-lhe de tratante, traste de merda. Sabia que ele perpetuava o costume antigo dos teutônicos: depois das bodas uma horrível lua-de-mel. Sabia de tudo e obtivera de antemão todas as coisas ruins que dele proviria. Mas, passara batida e se estrepara. Um combustível na sua cólera. A partir disso, em protesto, fazia suas refeições sentada no chão, abandonada, doída. Quando teve oportunidade acocorou-se e fez a micção ali mesmo, o mijo escorrendo pela sala. Disse-lhe que estava com diuria. Nem aí. Ela enfrentou-o. Ele pegou de uma moeda e esfregou na sua venta. Cuspiu-lhe a cara. Coisa tão aviltante, tão ultrajante, injuriosa. Feriu seu pundonor. Haveria dignidade ainda? Era um pugilato desigual. Viva ou esteja. Cadê a terra embaixo dos pés? Esgrimia contra tudo e todos. Faria pirraças, em troco.
- Seu milhafre!
A voz ecoava em seus nervos, acendia sua raiva e enervava sua postura. Aquilo não ficaria assim, jurava. Jurava dias e noites sem fim enquanto sentia sua intimidade destroçada por um caralhudo desalmado. Estava presa, coerções múltiplas visando impedir-lhe as vontades.
Um mês, dois, seis, um ano ali, sem ver vivalma. Escrava.
Depois disso a ameaça de ficar no caritó, ninguém mais proporia casar-se com ela. E agora? Fazia abstinência e padecia diuturnamente. Tudo colidindo com o seu orgulho, sua maturescência. Conflitos. Ela ignorava a vingança dele e ficou na sua abstração. Não era mais a mesma, tinha de haver uma reviravolta na sua vida. Pode ser que a coisa mude, algumas vezes assim dá certo. Nada mais tinha haver o seu passado com o futuro agora. Toma tempo. Perscrutou de tudo, de venta inchada, Deus lhe falou na alma. Ela ia maturescendo a pulso, cismada. Bem que ela ainda não era amojada e em pleno viço mostrava-se um tigre de mão torta. Tinha de escoimar seu passado, perquirindo todo seu trâmite vital. Passou a manter uma distância geodésica dele e foi acometida por uma depressão nervosa. Bote mais tempo. Durou uma eternidade tudo isso.
Certa manhã ele exigiu sua presença no café da manhã. Por mais amável falso que sempre fora com ela, estava naquela hora no seu dia de calundu. Deu para notar logo que coisa boa dali não sairia nunca. Sentou-se à mesa e ouviu-lhe falar pela primeira vez.
- Acabou!
Nada mais disse e partiu. Ela ficou sem saber o que fazer. Vestiu-se com esmero e saiu. Dali, Elvira enfurnou-se nos pesadelos, o seu sisifismo, a sua apocatástase. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui & aqui.


DITOS & DESDITOS - Os direitos humanos não são coisas colocadas em cima da mesa para as pessoas desfrutarem. São coisas pelas quais se luta e depois se protege. A geração que destrói o meio ambiente não é a que sofre as consequências. É esse o problema. Se você destruir a floresta, então o rio deixará de fluir, as chuvas se tornarão irregulares, as lavouras falharão e você morrerá de fome… Até que você cave um buraco, você plante uma árvore, você regue ela e faça com que ela sobreviva, você não fez nada. Você está apenas falando. É o povo que tem de salvar o ambiente, é o povo que tem de obrigar os seus líderes a mudar. Você não pode proteger o meio ambiente, a menos que capacite as pessoas, as informe e ajude a entender que esses recursos são próprios e devem protegê-los. Estou muito consciente do fato de que não se pode fazer isto sozinho. É um trabalho de equipe. Ao fazer sozinho, corre o risco de que mais ninguém o faça. Pensamento da professora, ativista ambientalista e feminista queniana Wangari Maathai (1940–2011). Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: A empatia é a mais radical das emoções humanas. Você é sempre a pessoa que era quando nasceu. Você apenas continua encontrando novas maneiras de o expressar. O maior problema para todos nós, homens e mulheres, não é aprender, mas desaprender. Estamos repletos da sabedoria popular de vários séculos e nos sentimos aterrorizados em abandoná-la. Precisamos lembrar através das gerações que há tanto para aprender quanto para ensinar. Quando desistimos de procurar a aprovação, muitas vezes percebemos que é mais fácil ganhar o respeito. Sem saltos de imaginação, ou sonhos, nós perdemos a exitação das possibilidades, afinal de contas, sonhar é uma forma de planejar. Pensamento escritora, jornalista e ativista estadunidense Glória Steinem. Veja mais aqui.

DAS PALAVRAS DE OLIVE SCHRINER - Nenhum bom trabalho é feito com o coração quente, ansioso e irritado. Não é por causa da covardia da mulher, incapacidade, nem, sobretudo, por causa de sua virtude superior geral, que ela vai acabar com a guerra, quando sua voz for plena e claramente ouvida no governo de Estados - é porque, neste ponto, e sobre este ponto praticamente sozinho, o conhecimento da mulher, simplesmente como mulher, é superior ao do homem; ela sabe a história da carne humana, ela sabe o seu custo, ele não. Eu vi uma mulher dormindo. Em seu sono sonhou a vida parada diante dela, e em cada mão um presente - em uma o amor, na outra liberdade. E disse à mulher, 'Escolha!’. Pensamento da escritora e feminista sul-africana Olive Schriner (1855-1920). Veja mais aqui.

UM SONETOAs cadeiras azuis da Academia  / é problema insolúvel da mulher / Acrescentar ao caso uma ironia, / Eis, a meu ver, o que se faz mister. / As reticências, em diplomacia, / são recursos melhores que qualquer, / Eu sei de gente má que malicia / pelo que se disser ou não disser / Vejo-vos, ó poltronas, face a face, / e não posso atingir a honra suprema / enquanto ao meu alcance não descerdes! / Ai de mim se de leve alguém pensasse / que eu, fazendo lembrar um velho tema, / em vez de azuis vos ver, vos visse "verdes". Poema da poeta Henriqueta Lisboa (1904-1985), satirizando a postura intransigente da Academia Brasileira quanto à velada proibição de ingresso feminino e a apropriação "interessada" do Estatuto, ao se referir, de forma cifrada, às discussões em torno do vocábulo "brasileiros", deixando bem claro na última estrofe se tratar de "um velho tema", referindo-se ao equívoco interpretativo (apoiado na adoção improvisada de um discurso sobremaneira "conveniente"), por meio do estabelecimento de uma analogia com as cores das cadeiras. Veja mais aqui.



VEJA MAIS:
Bhagavan Sri Râmana Mahârshi, Raimundo Carrero, Bardesanes, Rainer Werner Fassbinder, Elisa Fukuda, Sustentabilidade, Direito Tributário, Cássio Pires & Hanna Schygulla aqui
O cravo e a rosa, Clitemnestra & Oréstia, Antônio Maria, Elis Regina, Antônio Torres, Bernardo Bertolucci, Antoine-Jean Gros, Pierre-Narcisse Guérin, Maria Schneider & Clara Redig aqui.  
Baruch Espinoza, Arundhati Roy, Henri de Toulouse-Lautrec, Vera Pedrosa, Julieta Venegas, Tragédia Grega, Christian Carion, Antonio Canova, Cicero Melo, Meimei Corrêa & Ísis Nefelibata aqui.  

AS PREVISÕES DO DORO:
VIRGEM (23 de agosto – 22 de setembro) - CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS, PREVIDENTES & GERAIS: Você, minha amiga, que é a perfecionista, minuciosa, detalhista, devotada, engenhosa, trabalhadeira, filantrópica e a pragmática do sexto signo zodiacal de Mercúrio e Terra, nem se azoe muito menos suba no tamanco, nêga, só porque está representada pela demoníaca deusa-lua da fertilidade, Ishtar, a filha do céu e rainha das estrelas, e, também, por Deméter, a deusa-mãe da distribuição do trigo, não é de ficar narcisicamente fazendo pouco dos outros, né? Há que se ver que tudo para você, virginiana figura rara, tudo é difícil de agradar. Afinal, com sua honestidade a toda prova, sua sinceridade cáustica e sua inteligência não muito apropriada, pudera, a força da lua faz um bom bocado, sacou? A sua ansiedade é que atrapalha muito. Pudera, você desfila de Greta Garbo desde antanho, marca presença como uma Sophia Loren, sapeca uma desconfiança à la Agatha Cristie, impressiona feito uma Cameron Diaz, é talentosíssima que nem Ingrid Bergam, simpatissíssima (quando quer) que só uma Glória Pires, altruísta como a Madre Teresa de Calcutá, mas que, também, filhota, sem partir dessa pra melhor, quando a coisa pega de rodar a baiana, vira uma Nelson Rodrigues ou Michel Jackson da água pro vinho. Isso na horinha mesmo, verdadeira tromba d´água. Tanto faz ser uma Juscelino agora, para, quando menos esperar posar de Calígula, ou ACM-Neto, ou Paulo Maluf, cruz-credo! Eita gota! É isso mesmo, ou uma Leônidas da Silva ou Ronaldo Nazário. Qual? É mole? Já se imaginou uma Bocage, ou Goethe, ou Borges, ou, também, uma Guga ou B. B. King? Pois é, entre os mortos, feridos, reencarnados e enturidos, uma coisa é certa: a coisa só cai no colo quando você corre atrás e acredita. Do contrário, nem mel nem cabaço, lhinda! Pois, lembre-se que a deusa Astréia irritou-se com a Humanidade por causa da gradual corrupção humana para depois de injuriada se transformar na constelação de Virgo, viu? Este é o Mito de Virgem, entende?

Imagem: Ishtar, a deusa babilônica com seus múltiplos selos e seu papel de fecundadora de colheitas e da Natureza: "Uma prostituta compassiva sou eu". -AMOR - Já que você quer dominar as relações, tem uma mente aguçadíssima e lábia de derrubar avião, tenha sempre um cuidado: tem neguinho por aí que é um verdadeiro Zeca Urubu, falou? Está cheínho de carinhas dor-de-dente, calo-seco, prego-bicão no aro, viu? E como você tem o hábito de entrar nos mínimos e meândricos detalhes, tenha sempre em mente que Marte mexe com seus hormônios e quando bater em Mercúrio, virge, isso vai ativar seu prazer a ponto de não ter bilonga que sacie suas trepadas. E vai piorar mais quando Vênus se inclinar pela Casa 2, aí, meu, vai ser saculejo que só vai dar no paraíso astral. Segura a onda, maré boa a gente não descarta, né? Para manter a tesão em dia pegue 1 punhado de folhas de sabugueiro, 3 rosas vermelhas, 1 pouco de guiné, um pouquinho do suor da sua virilha, 1 cravo branco, 1 colher de sopa de azeite, 1 açucena, 1 cagadinha de papacapim, 1 tolotinho de merda de uma guriatã e 1 vela derretida, ponha tudo num invólucro secreto e quando for a primeira lua minguante do mês, entre 22 e 24 horas, se vista de azul, mele tudo de azul, fique toda azul cantando Djavan “O amor é azulzinho” e vire a noite. Durma de roncar das muriçocas e acorde feliz da vida pronta para os seus afazeres. Uma recomendação: na hora do vamos ver não vá dar uma de certinha demais nem uma de sereia envolvida num ritual narcísico de amor por si mesma, como as deusas Astargates ou Deméter, cuidado! Para quem já foi comprometida com os serviços para manter o poder fertilizador da deusa Vesta, se transformando em sacerdotisa que engrossou o caldo das prostitutas sagradas só para o hedonismo, a reputação em primeiro lugar. Pois bem, como você, com certeza, é uma pessoa engraçada, muito leal, fiel e, acima de tudo, sincera, não vá cair na esparrela de ser sectária, luxenta, formal, biqueira ou cu-doce, nada disso! Quando encarar o caralhudo, dê uma de súcubus e bote sua sensualidade em dia, deixe a vergonha de lado e suba nas paredes, se atrepe no céu, lave a jega e a alma e tudo dentro e fora da lei. Aí é só bilu-bilu-tetéia!

Imagem: Paris et Cenone, de Agostino Carracci. TRABALHO - Esse seu temperamento instável e nervoso vai deixar você ainda careca feito uma pilha vencida, viu? Não seja tão desconfiada, nem sempre tão calculista assim, danada, finda só imprestável. Veja só: você já é perfeccionista, metódica, severa, exigentíssima, conservadora, muito prática e cheia dos argumentos, tem a última palavra, aí, meu, tá difícil de agradar, né? Não adianta bajular, é só dá um descontinho aí na fatura rasa para melhor aplicar as suas capacidades e aptidões, ora! Não basta ser ordeira, limpa, saudável e organizada? Ainda quer se a gelol, é? Essa superproteção dá atitudes doentias, tá? Para manter o emprego e o ambiente saudável, faça essa simpatia: faça 1 estrela azul de papel ou papelão, se vista de azul, pinte o azul, mande azul para todo mundo e cante, de novo “Azulzinho”. Feito isso, vai se livrar do poço de broncas. Do contrário, 7 anos de azar no espinhaço. E vai virar o Desert Punk, quer? Outra coisa: se você só vive preocupada, alguma merda tem que acontecer, né? Isso é bizarro, meu. Assim vai virar uma sociopata. Saiba que você não é onipresente, aprenda com Rita Lee, quando terminar o expediente bote uma máscara, uma cartola, uma capa e saia voando por aí fuderosa, poderosa, paladina, defensora dos pobres e oprimidos revelando o segredo do código redondo e da tabaca lascada. Hihihihihi. Repito: você não pode de jeito maneira perder a fé, pois as coisas só acontecem favoravelmente, quando você acredita no que está fazendo. Cuidado para não se influenciar negativamente, pois há indícios de que terá de encarar situações de conflito profissional por causa das neuras e energias negativas. Xô pra lá. Por esse motivo, nunca é tarde para uma consulta de Ifa no jogo de búzios para ver a regência do seu Ori, pois, é fundamental a sintonia com seu orixá Obaluwaye, deus da cura e da doença que tratará de emanar forças e proteção para que suas dificuldades tenham fim. Mas também um outro orixá convém paparicar: é o Nana que representa o barro da lama com profundas ligações com a vida e a morte. Sim, claro, nunca se sabe, né? Mantenha sempre em vigilância com orações dos Salmos 21, 25, 74 e 80, e também os outros, também. Então, arregace as mangas e coloque em prática apenas o indispensável sugerido pelos outros. Suas ideias podem esperar um pouquinho mais.

SAÚDE – Não dê tudo de si assim, senão finda sem nada. E destroçada. E cuidado com doenças psicossomáticas, sabe, aquelas de fundo emocional, lembra? Também você tem mania de se antipatizar com qualquer barulho e com o caos. Se já é ansiosa, nossa, multiplique por mil e dá numa de marinheira de primeira viagem que não sabe nem pra onde ir, cego-em-tiroteio. Para melhorar essa sua imagem tenha sempre uma imagem de 1 pomba na entrada do quarto. Essa “pomba”, tá sacando, tá? Aquela pomba que você aprecia nas horas de fogo descendo pelo parque de diversão, sacou? Então, consiga uma imagem bem nítida de uma bem robusta para você ficar fitando nas horas de orações pesadas. Se puder faça uma tatuagem dela na parte interna da coxa à altura da beirada da perseguida. Ôxe, isso vai dar uma tranqüilidade de deixá-la imune a qualquer doença. Quando conseguir a imagem e fizer a tatuagem, faça uma simpatia: pegue açafrão, xaxim, chuchu, fáfia, zedoária, urucum, passe tudinho na sua xiranha, fique excitada, acenda duas velas de 7º dia, e comece a rezar pela oração de Nossa Senhora das Tesões Sadias, enquanto vai comendo a salada. Essa reza afasta todo vento ruim, quebranto e maledicências. Como você é muita trabalhadora demais, convém além disso ainda fazer uma oração para a Santa Maria dos Desejos Desenfreados para que dê sossego na sua alma.

VIDA – Um descanso nunca é demais. Vale, pois, ser sempre prática, autodisciplinada e persistente, aquela antenada de sempre, mas descansada. O seu guardião é o arcanjo Rafael. E para ele, todo santo dia, você tem que, ao acordar, pegar 1 cristal citrino, 1 incenso, 2 velas sendo uma laranja e a outra verde, uma opalina, uma folha de papel A4 reciclado, a carta do tarô de Lughnasadh, a carta da Rainha de Copas, o dozão do dominó, 1 tesourinha, 1 cd todo esfarelado, 1 bateria velha de celular e 1 brinco inutilizado. Pegue tudo e bata bem batido na mão de pilão. Quando virar um pó jogue dentro de uma bacia com água benta e tome um banho de mxtxrrmarrae. Sabe o que é? Também não, se vira. Feito isso, anote: seu número da sorte é 05. E se souber brincar direitinho, pode incluir entre as suas premiadas dezenas: 17, 26, 32, 53 e o 71. Ao ganhar não se esqueça de mim. Alarme: durante o inverno de 2016 não se aproxime de ninguém de Escorpião, nem de Peixes, Touro ou Câncer. Nem também de gente dos outros signos, nem do seu mesmo. Hiberne, suma do mapa, saia da face da terra. Isso mesmo, dê um tilt. Ei, psiu: Plutão se picou, certo? E nem me pergunte para onde foi ou vai a sua vida, certo? Para abrir seus caminhos e um bom retorno à vida, pegue 5 ramos de alecrim, 5 fiapos de vassoura usada, 5 cravos, 5 cordas de viola de aço gastas, 5 jasmins, 5 fios do seu bigode que insiste em renascer de tempos em tempos, 5 bicos de rã coaxante, 5 ligas da calcinha suja, 5 pegadas de sapo-tanoeiro, 5 convites para Pasárgada, 5 pentelhos, 5 pregas do cu, 5 tacos de unhas da mão e dos pés, amarre tudo em 1 fita preta e branca ensopada do seu mijo, passe esse buquê pelo seu corpo com a oração para São Roque das Talagadas Legendárias. Depois desfaça o buquê e mergulhe tudo numa vasilha com 5 litros do seu próprio mijo, acrescentando 8 gotas de essência de lavanda, 8 cuspidas, 8 gotas do seu perfume favorito, 8 gotas de suor do seu sovado mais 8 do seu espirro, sacuda em cima canela, sal grosso, um cachete de qualquer natureza, 1 pingo de creolina, 1 pingo de qualquer desinfetante e 1 prastada de dentrificio que você use, depois mexa bem muito até virar quase 1 papa, coe e se banhe com a misturada, ficando molhada até deixar enxugar naturalmente. As fitas usadas amarre nas canelas por 1 mês até refazer todo ritual no mês seguinte. Um recado: nunca seja negativa, estéril ou metidamente humana, muito menos criticar minuciosamente o defeito dos outros nem esbanjar suas etiquetas, porque quando o pipoco é de aperto aos peidos soltos, não adianta mudar o platinado nem nada, foi que atolou a tração nas quatro rodas, viu? E que pelos imprevistos, a vida pode virar uma bagunça! E ao invés de se encontrar com aquele lindo pintudo capa-de-revista, você pode dar de cara com João Gordo dando uma de Carlos Alberto Parreira na sua vida. Se cuide e meta o penico na cachola dele. Então, use e abuse das orações, simpatias,patuás e banhos. Mas ainda está faltando duas coisas: indispensável fazer de forma completíssima a simpatia da virada do ano para que tudo dê certo para as suas bandas. E, também, inevitável e extremamente recomendável que a senhorita dispense o seu votinho, isso mesmo, o sufrágio universal nesse candidato que vos fala nas próximas eleições, caso contrário vou colocar seu nome costurado na boca de um sapo cheio dos esconjuros, enrolona, aí você vai ver com quantos desastres se faz uma fatalidade, viu? Assinado, Doro.

Veja mais previsões acessando:


CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Seleção de fotos de Ísis Nefelibata.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
 Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja aqui e aqui.