segunda-feira, outubro 07, 2024

EWA LIPSKA, SAMANTHA HARVEY, LENA HADES & PERNAMBUCO DO PANDEIRO

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Gema (2013), Live from Aurora (2016), Phenomena (2019) e Devaneio (2023), da banda instrumental feminina Ema Stoned, formada por Alessandra Duarte (guitarra e vídeo-projeção), Elke Lamers (baixo) e Jéssica Fulganio (bateria e vocais).

 

A segunda da semana sou... - Um galo anônimo madrugou alhures o canto do porvir no limiar do dia. Assim despertei com os ossos da memória revolvidos pelos pássaros palreando à minha janela. Respirava a solidão do quarto pelas lembranças esvaídas. Aos quatro ventos a teia das pulsações e foi ali onde a pedra tataravó me mostrou o barulho das coisas vivas: era eu quem transpirava e um passado saltava aos olhos, com todo o incomensurável e interdependente, a descendência e a herança fecundada. Quem duvidou possa o sorriso largo, saibam quantos toda luz brilhava para que todas as águas corressem rio afora e todo mar movia e era mais que a plena sensação viva, porque o chão germinava a todo instante as raízes que me prolongavam por onde o sangue escoou e nada mais extinguiu as faces ancestrais, que emergiam do meu peito ao que via e me fez mais que a mim próprio no espelho mútuo das vibrações ecosóficas mais divinas. E houve um dia e fui irmão para conhecer o dia e a noite: a paz encontrada no que buscava e havia quem supusesse contar meus pecados ao mundo árido, só porque ouvi os que partiram, quando madurou o amor como o que já era muito mais que amar. Todos estavam mortos há tempos e comigo conviviam muitos mais vivos e conversavam até os instantes mais próximos dagora, a me dizerem mais do que sou Abya Yala. E aquele madrugador canto era meu Pindorama ensolarando a cidade estiolada em meus braços, como se soubesse que não haveria mais ninguém e restavam apenas meus fantasmas. Aliás, era este o derradeiro alento, porque o amanhecer trazia a verdadeira vida todo santo dia. Até mais ver.

 

Anne Perry: Os homens que não conseguem rir de si mesmos me assustam ainda mais do que aqueles que riem de tudo... Veja mais aqui e aqui.

Nora Roberts: Se você não for atrás do que quer, nunca terá. Se você não pedir, a resposta é sempre não... Veja mais aqui e aqui.

Eleanor Catton: Nunca subestime o quão extraordinariamente difícil é entender uma situação do ponto de vista de outra pessoa... Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 

UM POEMA

Imagem: Acervo ArtLAM.

Na palma da minha mão tenho esta paisagem \ que percorro de eléctrico. Linha número um. \ Sinto o ferro das rodas. Tiras submissas de trilho. \ Como um brinquedo educativo. \ Uma garota cede seu lugar para mim. \ À medida que contornamos a curva, a linguagem muda. \ As sílabas caem da boca. \ Um grito bruto. \ "Aproveite enquanto dura, criança, \ aproveite este momento. Este bonde. Este mais adiante." \ Mas não o mais longe. Isso eu sei. \ Seus cabelos grisalhos já estão esperando \ no fim da fila. \ Ainda estou sentado \ enquanto sua bengala branca sai \ apoiando minha profecia. \ “Estou falando com você, criança” \ A menina ri. Que piada, \ dizem os passageiros: a vida ama a morte. \ E quando o bonde chega à parada, \ seus freios ainda estão rindo.

Poema da poeta polonesa Ewa Lipska, integrante da geração da "Nova Onda". Veja mais aqui.

 

ORBITAL – [...] A Terra, daqui, é como o céu. Ela flui com cor. Uma explosão de cor esperançosa. Quando estamos naquele planeta, olhamos para cima e pensamos que o céu é em outro lugar, mas aqui está o que os astronautas e cosmonautas às vezes pensam: talvez todos nós que nascemos nele já tenhamos morrido e estejamos em uma vida após a morte. Se tivermos que ir para um lugar improvável e difícil de acreditar quando morrermos, aquele orbe vítreo e distante com seus lindos shows de luz solitários pode muito bem ser ele. [...] Nós importamos muito e não importamos nada. Alcançar algum pináculo de realização humana apenas para descobrir que suas realizações são quase nada e que entender isso é a maior realização de qualquer vida, que em si não é nada, e também muito mais do que tudo. Algum metal nos separa do vazio; a morte está tão perto. A vida está em todo lugar, em todo lugar. [...]. Trechos extraídos da obra Orbital (Atlantic Monthly Press, 2023), da escritora inglesa Samantha Harvey, que no livro The Shapeless Unease: A Year of Not Sleepin (Grove Press, 2020), expressou que: […] Para escrever ficção, você tem que se envolver em fraude organizada, na lavagem de experiência no paraíso fiscal das palavras. [...] Se a mente é uma cacofonia, o subconsciente é um teatro silencioso. [...]. Também no seu livro No The Western Wind (Grove Press, 2018), expressou que: […] Por que o tempo não pode ir para trás e para frente também? Se o tempo não é um rio, mas um círculo, e se você pode viajar em volta de um círculo de uma forma ou de outra e terminar onde começou, por que ele não pode ir para este lado e para aquele? [...] Só alguém com uma mente de pedra poderia continuar com a ideia de que nós, em nossa pequena ilha, somos separados daqueles outros lugares — aquele grande mundo são fios de arco-íris entrelaçados em nossos cinzas e verdes. De onde veio esse cinto de couro? ele me perguntou, de um cinto que eu não conseguia ver. Não de cabras inglesas, mas norueguesas. E a farinha para assar pão que alimenta nossas grandes cidades? De grãos do Báltico, bem alto no norte. E a ferragem em nosso novo cata-vento? Ferro espanhol. Nossa pequena terra é salpicada de estranheza, o Senhor quer nossa mistura colorida. [...]. Veja mais aqui.

 

FILOSOFIA OUTRA PINTURA - As pessoas não sabem como incorporar uma palavra, elas não veem a palavra... Pensamento da pintora e escritora russa Lena Hades (Lena Jeydiz), que é autora do artigo Thus Spoke Lena Hades: Nietzsche's Texts Live In Me (HuffPost, 2017), no qual expressa que: [...] Estou triste pelo fato de estar sozinho neste campo e que outros artistas não estejam envolvidos na personificação artística dos textos de Nietzsche. Talvez seja porque os artistas em massa não são filósofos o suficiente, ou como Marina Bessonova me disse - "eles são, em sua maioria, pessoas sem educação" (embora, eu acho, não se trate apenas de educação). Essas pessoas não sabem como incorporar uma palavra, elas não veem a palavra. Muitas vezes, os artistas estão envolvidos em substituições baratas - eles fazem do assunto da arte seu mundo interior e seus problemas. E como o mundo interior é frequentemente pequeno e feio, então essa arte também é desinteressante e chata. Nietzsche considerava a história humana dos últimos dois ou três milênios como uma história pessoal. O mundo interior desse tipo tem direito a uma longa vida na cultura, na arte! Essa criatividade vai além dos complexos psicológicos individuais e do lixo, dos quais ninguém precisa e dos quais é necessário se libertar. [...] Para se aproximar de Nietzsche, é preciso ser "chamado por seu espírito". Essas são palavras muito precisas - ser chamado. Se formos chamados por Nietzsche, podemos fazer algo interessante. [...].

 

CENTENÁRIO DE PERNAMBUCO DO PANDEIRO

[...] Ter aquele cavaquinho em minhas mãos foi um marco na minha vida, ele ali, à minha disposição. Não sei e nem quero comparar, mas emoção de tirar o som do seu primeiro instrumento, com ele assim, coladinho no peito, é como ver o primeiro sorriso dos filhos, são coisas que a gente cala nos recônditos da alma, e com o passar do tempo, as lembranças dessas emoções retiram lágrimas dos olhos da gente com maior facilidade [...].

Trecho extraído da obra A velha guarda do choro no planalto central (FCS/UFG\FUNAPE, 2012), organizado por Ana Lion e Sebastião Dias, tratando sobre o instrumentista e compositor Pernambuco do Pandeiro (Inácio Pinheiro Sobrinho - 1924-2011), o pandeirista que é um dos fundadores do Clube do Choro de Brasília, que integrou os conjuntos de Radamés Gnattali e Severino Araújo, acompanhou diversos artistas da música nacional. Veja mais aqui.

 

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