TRÍPTICO DQC: TerraMãe – Ao som da Symphony of Nature (2015), de Marcus Viana & Transfônica Orkestra - Sou rio para mar... Sim, porque
esperar pelos outros e o que esperar dos outros, não é a minha nem se encaixa, é
tudo irrespondível: guerra, miséria, astúcias, domínio. Não faço parte dessa
leva, quem quiser que vá. Falo sozinho e, às vezes, uma presença qualquer me
assalta, penso em voz alta. Numa dessas da vida, o escritor estadunidense Theodore Sturgeon (1918-1987) me
escutou e disse: O amor é um tipo de coisa diferente, quente o suficiente
para fazer você fluir em algo, interfluir, esfriar e recozer e ser uma solda
mais forte do que você começou. Depois pigarreou, foi até o canto da jantela e
voltou-se: Há em certas almas vivas uma qualidade de solidão
indescritível, tão grande que deve ser compartilhada como a companhia é
compartilhada por seres inferiores. Essa solidão é minha; então saiba por isso que na imensidão há alguém mais
solitário do que você. Por que devemos amar onde o raio cai, e não onde
escolhemos? 90% de tudo é lixo! Cuspiu,
fez um aceno e se foi como se nada tivesse acontecido. Cá comigo, sim: sorrio para amar, sim. Não sou melhor que nada, apenas
mais um. Com as árvores aprendi o vento e as raízes na Terra. Com os peixes assimilei
a travessia das correntezas até as profundezas abissais oceânicas. Com todos os
demais seres vivos compreendi o viver: coisas de arregalar os olhos, outras nem
tanto. Ademais, voo vivo.
DOIS: Do perigo & o prazer de saber - Imagem:
arte da artista visual estadunidense Linda Alterwitz, ao som de Spiritual
State (Hydeout, 2011), do
compositor japonês Nujabes. – Meu
pouso nas andanças, comigo a apreensão de tudo percebido e o trâmite do visinvisível. Do lado, escuto
Steven Pinker: Temos que ser gratos agora que suas opiniões foram expressas em suas
épocas e eventualmente foram vitoriosas e, portanto, nos tempos atuais, temos
que preparar terreno para ideias desconfortáveis, porque não sabemos, até que
permitamos que elas sejam avaliadas, se elas têm mérito ou não. A moralidade vem da universalização de suas
próprias preferências e isso dá sentido à vida: tornar a vida o mais benéfica
possível para o maior número de pessoas possível; eliminar a fome, a doença, a
guerra e a ignorância; e eu acho que isso fornece razões suficientes para a
existência. Compreendo exatamente o que ele diz. Daí mais um pouco, do
outro lado, Stephen Hawking: Não importa quanto a vida possa ser ruim,
sempre existe algo que você pode fazer, e triunfar. Enquanto há vida, há
esperança. Mesmo as pessoas que dizem
que tudo está predeterminado e que não podemos fazer nada para mudá-lo, olham
para os dois lados antes de atravessar a rua. Há uma diferença fundamental entre a religião, que se baseia na
autoridade; e a ciência, que se baseia na observação e na razão. A ciência vai
ganhar porque ela funciona. Entendi cada palavra e sentido do que disse,
sou permeável aos mais paradoxais que sejam quaisquer pensamentos e teorias,
discernimento valendo resiliência. Não muito depois, Maturana & Varela
quase em uníssono, frase ecoada: Esse é o
fundamento biológico do fenômeno social: sem amor, sem a aceitação do outro ao
nosso lado, não há socialização, e sem socialização não há humanidade. Não
se trata de moralizar — não estamos pregando o amor, mas apenas destacando o
fato de que biologicamente, sem amor, sem a aceitação do outro, não há fenômeno
social. Se ainda se convive assim, é hipocritamente, na indiferença ou ativa
negação. Cegos diante da transcendência de nossos atos, fingimos que o mundo
tem um vir-a-ser independente de nós, justificando assim nossa irresponsabilidade
e confundindo a imagem que buscamos projetar, o papel que representamos, com o
ser que verdadeiramente construímos em nosso viver diário. A manifestação
deles premia a minha solidão e o mundo, apesar dos pesares, segue adiante.
TRÊS: Ainda no meio da noite – Imagem da série Silk road - Show Off Silks (2017), da artista visual
britânica Victoria
Rowley, ao som de Mid
of the Night, symphonic poem
(1904 - Chandos, 2006), do compositor britânico Frank Bridge (1879-1941), The BBC National Orchestra of Wales and
Richard Hickox. - O chão repleto de estrelas, a noite paradisíaca, a lembrança
dela. Certa vez, espalmada sobre o tapete de sua arte, ela me disse de Grace Metalious: Não pode haver beleza, nem confiança, nem segurança entre
um homem e uma mulher se não houver verdade. Não sei a razão dela assim se expressar e, virando de
lado, continuou no mesmo tom: Se cada homem... parasse
de odiar e culpar todos os outros pelos seus próprios fracassos e deficiências,
veríamos o fim de todo mal no mundo, da guerra à calúnia. Mais uma vez rolou sobre o tapete e manteve o tom: Pessoas mortas não podem te machucar. São os que estão vivos, você tem que tomar cuidado. O público adora criar um
herói... Às vezes acho que eles fazem isso pela alegria de derrubá-lo do pico
mais alto. Como uma criança que constrói uma casa de blocos e depois
a destrói com um chute violento. Você nunca percebeu como são sempre as pessoas
que desejam ter algo ou feito algo que odeia mais? Levantou-se, vestiu a blusa e pegou o copo para uma dose.
De repente virou-se, afastando-se: Eu olhei para aquela garrafa vazia e me vi. E se foi nua dançando feliz na minha cabeça. Até
mais ver.
A ARTE DE SEBASTIÃO PEDROSA
A arte do artista
e educador de arte Sebastião Pedrosa,
PhD pela University of Central England em Birmingham, Reino Unido. Foi professor do
Departamento de Arte e Comunicação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e é professor do
Departamento de Teoria da Arte da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde é
Coordenador da Arte. Sua arte
pode ser vista na Arte Plural Galeria.
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