segunda-feira, setembro 28, 2020

SASKIA SASSEN, OCEAN VIVA SILVER, PAULA TROPE, MOACIR SANTOS, EVELYN HALL, VICTOR JARA & NURIT BENSUNSAN


  

TRÍPTICO DGF – AQUELA DA... UMA GARAPA DO BAGAÇO - O meu diário perdeu as linhas revoltas da pauta e não quer ser apenas página em branco. Sim, tudo porque o meu país é o caos, quando não anomalia: assimetria troncha de rotundo varapau. Pois é, se não parou em ponto morto, vai à tona desenfreado ladeira abaixo na maior desabalada carreira: pra onde, hem? Sabe-se lá, ora! O que não se pode é ultrajar a tresloucada razão econômica dos plutos de todos os cifrões, só puxa-tapete e a cangalha pro ar, no bate-cabeça dos bumbos e bumbuns! Eita, coisa boa! Melhor, não há. Qualquer empenada, chama lá o juiz que ele resolve e ninguém decide, fica por isso mesmo e todo mundo no rastapé. Então, queima tudo na remarcação! Falar nisso: já viu o preço do arroz? Pela hora dos que arribaram na estatística da pandemia e nem são levados mesmo em conta pelos apelos e desditas das jaculatórias dos que se benzem entre lúmpens e videotas na farofa de zeros e uns, Jesus-amém! Isso enquanto tantos complacentes invisíveis que torraram o auxilio emergencial estão na solidão do mundo sob o império dos gritos patéticos e conquistas secretas na latrina. Benzodeus, meu. Tudo é possível e ninguém sabe ainda o que pode ser feito, nem o que é pra fazer! Pra quê, deixa rolar! E para não passar em branco, dizem que não foi Voltaire, mas Evelyn Beatrice Hall: Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las. Eu lá sei, mas vale! E viva o engodo no desgoverno do Fecamepa. Estou só tomando garapa do bagaço, gente!

 


DUAS & SERÁ MAIS OU QUASE NEM TANTAS ASSIM? - Curtindo a arte da Ocean Viva Silver, da performática artista e compositora experimental francesa Valérie Vivancos - Não era a confusão do Grande Hotel Abismo na Escola de Frankfurt, não, não era. E a minha cabeça girava ao contrário do mundo, porque não me sinto aqui nem sou mais daqui, sou um ex-humano com Nurit Bensunsan: Diante dos descalabros da nossa espécie, desisti de ser humana e agora quero me tornar uma libélula, mas continuar bióloga e seguir escrevendo, criando jogos e inventando moda. Vou manter meus solilóquios ao pé do fogo com meus rabiscos num poemópera interminável, sem que saiba da parede por trás da porta falsa, sempre quase ou talvez nas minhas inquietações agudas pelas horas tardes da noite, bem perto de lugar nenhum, porque sei de agora e que ainda há gente boa por toda parte. Entre deslumbramentos e vacilações, Saskia Sassen insiste que Os que não têm poder, podem fazer história sem tomar o poder, os momentos mais dramáticos, a longo prazo, são esquecidos. Talvez as pequenas cidades que existem em todo o mundo nos permitam sobreviver. Estamos matando a Terra! Não sei como meus disparates decifram na tampa do vaso tudo que não escrevi, sinto como se fosse submetido a uma trepanação louca e ela me chama atenção sobre O declínio do homem público, de Richard Sennett, mais acerca da cidade global e da imigração na sociologia urbana, desestabilizando os conceitos estáveis: O momento da expulsão é o momento de uma condição familiar que se torna extrema. Você não é simplesmente pobre, você está com fome, perdeu sua casa, vive em barraco. Ou com a terra e com a água: não são simplesmente degradadas, terras ou águas insalubres. São mortas, acabadas. Nós tendemos a parar no extremo. Não entrar nele. O extremo é muito, muito feio e não temos conceitos para capturá-lo*. Quase já nem sei quem sou ou o que posso com tudo isso, esperança e temores entre o que é da vida no meio de gases fétidos e nauseabundos, só sei que é cada vez mais difícil respirar. *Em tempo: trecho da entrevista Não é imigração, é expulsão (Ponto e Vírgula, 2015), concedida a Jorge Félix.

 


TRÊS VEZES & TRECHOS OUTROS - Imagem: Arte da artista visual Paula Trope – A esquina do corredor em polvorosa era só arte e Victor Jara cantava para dizer que: Nossa vida não foi feita para cercá-la de sombras e tristezas. Minha canção é uma corrente sem começo nem fim, e em cada elo está a canção dos outros. A vida é eterna em cinco minutos. No meio do quiprocó pro bota pra quebrar, Melpômene mais que linda com seus coturnos e vestida com sua grinalda das folhas de videira, sua coroa de cipreste e máscara trágica, empunhando o bastão de Hércules no embalo dos nossos beijos, não conteve a empolgação e expôs seus seios apetitosos para que eu redivivo saísse do marasmo enlouquecedor. Irrompe Adorno com seus olhos esbugalhados naquele flagra, chama a polícia que a reprime e a todos da multidão, e uma bala abate desamparada Labibe no primeiro de abril da nênia. Nossa dança rechaçada levou-a dos meus braços e eu na escolta como a um endríago demudado, recolhidos na infecta cela do presídio Brasil. Não há como sorrir, o amor sucumbe ao ódio para que eu seja a voz de canção nenhuma. Até mais ver.

 

MOACIR SANTOS, O OURO NEGRO DO PAJEÚ



No beabá, na cartilha, aí eu voo; talvez ninguém mais possa voar. Aí, eu vou ser condor... A música é como a rosa, tudo tem que ser perfeito. Você encontra tudo com um desenho. É uma beleza. É uma coisa... quem souber venerar uma rosa, é uma beleza, como a música popular. A música erudita é compara com um jardim, no sentido que tem o festim, tem a garça, tudo... Você vê de longe assim, e quando vai se aproximando, vai enchendo de coisas. É preciso coisas que o compositor tem que gravar...

Trechos extraídos da obra Moacir Santos: o ouro negro do Pajeú (Comunigraf, 2004), da jornalista, historiadora, professora e escritora, Marilourdes Ferraz, tratando sobre o maestro, compositor, arranjador e multi-instrumentista Moacir Santos (1926-2006) e Seara Vermelha, Ganga Zumba, Ouro Negro não brilha em casa, Os fuzis, Lamento astral, O Criador e a Criação, salsamania: el saoco latino, a estrela do nordeste, Nanã, Coisas, Saudades do Pajeú, do Rio Pajé ao Pacífico, De repente estou feliz, A Serra – Emygdio de Miranda, Hino de Vila Bela, entre outros assuntos. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.