A arte
da fotógrafa francesa Laure Albin
Guillot (1879-1962). Veja mais aqui.
LITERÓTICA: NOSSA
FESTA - Toda sexta-feira, meio-dia em ponto, eu bato
meu ponto pro que der e vier. Meio dia em ponto, toda sexta-feira eu chego já
pronto e o que é o que é. E ela vem de viés com toda surpresa, rompendo a
represa de querer mais. É tudo demais e ela só me fascina, jóia excepcional,
uma real mina, bailarina de Degas. Ou nua vestal, dançarina de fuá. E eu
sentimental com toda destreza arrasto essa presa, astuta indefesa do pito voar.
E para empenar tomo a pele e o pulso, a deixo em soluço a gemer de manhar. A se
espernear no corpo rendido, eu domino o seu urânio enriquecido pronto pra
explodir e eu só pra acudir num bote certeiro, quando vou de matreiro adornar
seus quadris. E se faz bela atriz ensaiando sem medo a me ter entre os dedos, a
me lamber num enredo de São Paulo a Paris. O que eu sempre quis e me morde
abusada, se entope e se engasga entornando o seu mel. Eu adoço seu fel e vou de
gandaia com minha azagaia no seu beleléu. Já sou réu condenado a morrer um
bocado no meio do céu. Onde ela faz escarcéu, reluta e se esgana, ela goza
sacana no maior pitéu. Ao léu a valer, ela não satisfez. E vem tudo de novo pra
glória de um rei, ela sabe e eu não sei, o que importa é viver e venha tudo
outra vez. OUTRA VEZ: Toda
sexta-feira, meio dia em ponto, ela apronta de tudo comigo e pronto! Ela chega
e me olha e toda se desfolha para o bem-me-quer. Ela se abre mulher e eu
sorrio, ela se rela e vira cadela no cio e me abraça e me beija, e se faz de
puta e princesa quando me quer e eu sou sua passarela onde o sangue dá na
canela pro que der e vier. Ela ronda, me cheira e me fela, ela usa e lambuza,
se descabela e me acusa de só abusar dela. Ela lambe e abocanha, ela vence e me
ganha na melhor de três. Ela me agarra medonha, ela me bate uma bronha na maior
maciez. Ela chupa e me suga, ela aponta pra fuga e me faz descortês. Ela agita
e me alisa, ela grita e repisa que é a última vez. E nem bem recomeça, ela me
prega uma peça e posa sisudez. Ela bole, suspira e rebola, ela delira e quase
degola a minha rigidez. E se aninha e engalfinha, ela jura que é minha por mais
de um mês. Ela assunta e se enrosca, ela se faz mesa posta e eu seu freguês. Ela
ajeita e retruca, ela monta mutuca e diz que não fez. Ela esfrega e renega, ela
rega e pula a janela da minha timidez. Ela atiça e se esfola, ela então faz
escola pela insensatez. Ela aguça e me inflama, ela me queima na chama da sua
nudez. Ela se arrisca de fato, ela fica de quatro na maior viuvez. Ela torce e
retorce, ela morde, rejeita e se ajeita e nem se refez. Ela goza e remexe, ela
arrocha e debocha na maior altivez. Ela treme e me grita e quer sair muito bem
nessa fita com toda malvadez. E quando eu gozo espalhafato de folia de bombo. Ela
sorri que de fato fui salvo pela zoada do gongo. ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS - Em vários aspectos,
escrever é o ato de dizer Eu, de se impor sobre as outras pessoas, de dizer
escute-me, veja pelo meu lado, mude de ideia. É um ato agressivo, até mesmo
hostil. Pensamento da escritora e
jornalista estadunidense Joan Didion.
ALGUÉM FALOU – Cinema-verdade? Prefirto
o cinema-mentira. A mentira é sempre mais interessante do que a verdade. Sempre
faço o mesmo filme. Não consigo distinguir um dos outros. Pensamento do cineasta
italiano Federico Fellini (1920-1993). Veja mais aqui, aqui e aqui.
HERANÇA DESTE TEMPO – [...] Nem todos estão presentes no mesmo tempo presente.
Aparentemente estão porque é possível vê-los aqui e agora. Mas não é só por
isso que uns e outros vivem no mesmo tempo. Pelo contrário, alguns possuem um
passado que se intromete. [...] Tempos mais antigos que os atuais continuam
a viver nas camadas mais antigas [...] “As velhas
formas”, dizia ele, colaboram em parte para a novidade, quando elas são bem
dispostas. O inimigo viu melhor [...] que essas formas são extremamente eficazes.
É tempo de recuperar algumas velhas coisas, a urgência da hora nos ordena. A
indolente arrogância com que um Kautsky zombava dos “heróis” ou das “pequenas
amostras da mística apocalíptica” e se contentava em ridicularizá-las está
ultrapassada, tanto na teoria quanto na prática [...]. Trechos extraídos da
obra Herança deste tempo (Payol, 1978), do
filósofo alemão Ernst Bloch (1885-1977). Veja mais aqui.
CIDADE: A
SEDUÇÃO DO LUGAR – [...] Mesmo com as
instituições públicas distanciadas, a sensação da cidade e o seu tecido físico
estão sempre presentes para os habitantes e visitantes. Apreciado, visto,
tocado, cheirado adentrado, consciente ou inconscientemente, esse tecido é uma
representação tangível daquela coisa intangível, a sociedade que ali vive e
suas aspirações
[...]. Trecho extraído da
obra A sedução do lugar
(Martins Fontes,
2004), do professor e historiador de arte britânico Joseph Ryckert.
QUANDO TUDO COMEÇA – O filme Quando tudo começa (1999), de Bertrand
Tavernier, trata sobre a direção de uma escola pública infantil
mutirracional, em uma pequena cidade francesa, com alto índice de desemprego. A
situação confronta o cotidiano profissional, refletindo sobre o desempenho e o
comportamento dos alunos. Utiliza historias reais relatadas por professores,
discutindo problemas de educação, de comunidades excluídas, problemas éticos
relacionados à exclusão socioeconômica, participação da comunidade, cidadania e
solidariedade.
ARTERÓTICA –A coleção Erótica (Taschen, 2001), reunindo a arte de 17th
– 18th Century: from Rembrandt to Fragonard, 19th Century: from Courbet
to Gaugin, 20th Century Volume I – From Rodin to Picasso & 20th
Volume II – From Dali to Grumb, do historiador e editor de arte francês Giles Néret, reúne a expressão
artistica erótica dos séculos XVII ao XX. Veja mais aqui.
PROMESSA QUEBRADA - [...] Nada
aconteceu que pudesse perturbar a felicidade da jovem esposa até o sétimo dia
após o casamento, quando seu marido foi convocado para executar algumas tarefas
que exigiam a presença dele no castelo durante a noite. Na primeira vez que foi
obrigado a deixá-la sozinha, ela se sentiu indisposta de um modo que não soube
explicar, vagamente assustada sem saber por quê. Quando se deitou, não
conseguiu dormir. Podia sentir uma estranha opressão na atmosfera, uma
densidade inexplicável, como ocorre algumas vezes nos momentos que precedem uma
tempestade. Quase na Hora do Boi, ela
ouviu, no lado de fora, um sino tocar, o sino dos peregrinos budistas; e se
perguntou que peregrino poderia estar passando pelo bairro do samurai àquelas
horas. Logo em seguida, após uma pausa, o sino soou muito mais perto. Com
certeza, o peregrino estava se aproximando da casa; mas por que o faria pelos
fundos, onde sequer havia uma rua?… De repente, os cães começaram a ganir e
uivar de uma maneira incomum e apavorante; e ela sentiu-se tomada pelo medo,
como o medo que tinha dos sonhos… Aquele som vinha certamente do jardim… Ela tentou
se levantar para acordar um serviçal. No entanto, percebeu que não conseguia se
erguer, se mover e nem mesmo falar… E o som do sino mais perto, cada vez mais
perto; e, nossa!, como os cães estavam uivando!… Então, ligeira como uma sombra
furtiva, uma Mulher entrou no quarto, embora todas as portas estivessem
trancadas e todas as janelas fechadas, era uma Mulher vestida numa mortalha ,
carregando um sino de peregrino. Cega, pois estava morta havia muito tempo, ela
se aproximou… e seus cabelos soltos escorriam pelo rosto; e sem visão ela olhou
através do emaranhado da sua cabeleira e falou sem a língua: — Você não pode ficar nesta casa! Ainda sou
a senhora deste lar. Vá embora; e não diga a ninguém a razão de sua partida. Se
contar para ELE, eu te deixarei em pedaços! Dizendo isso, a assombração
desapareceu. A nova esposa do samurai ficou entorpecida de medo. E assim
permaneceu até o dia raiar. Todavia,
com a agradável luz da manhã, ela duvidou da realidade do que tinha visto e
ouvido à noite. Entretanto, a lembrança daquela ameaça ainda pesava sobre ela
com tanta força, que não ousou falar sobre a visão que tivera, nem com seu
marido, nem com ninguém; acabou, porém, quase conseguindo persuadir a si mesma
de que tudo havia sido apenas um pesadelo que a deixara indisposta. Na noite seguinte, porém, não teve dúvidas.
Novamente, na Hora do Boi, os cães começaram a uivar e ganir; novamente o sino
soou, aproximando-se lentamente pelo jardim; novamente ela tentou em vão se
levantar e chamar alguém; novamente a falecida entrou no quarto e lhe
sussurrou: — Vá embora; e não conte a ninguém o motivo de sua partida! Se você
sequer contar para ELE, eu te deixarei em pedaços! Desta vez, a assombração
chegou perto da cama, curvou-se sobre ela e murmurou, como se pairasse no ar… Na
manhã seguinte, quando o samurai voltou do castelo, sua jovem esposa se
prostrou diante dele e suplicou: — Eu imploro — disse ela —, perdoe minha
ingratidão e minha extrema rudeza dirigindo-me desta forma a você: mas eu quero
voltar para casa; quero ir embora imediatamente. — Você não é feliz aqui? —
perguntou ele com sincera surpresa. — Alguém ousou ser indelicado com você na
minha ausência? — Não, não é isso — soluçou a moça. — Todos têm sido muito bons
co- migo… Mas não posso continuar sendo sua esposa; tenho que ir embora… —
Minha querida — exclamou o samurai, incrivelmente espantado —, é muito doloroso
saber que alguma coisa nesta casa causou-lhe infelicidade. Mas não posso
imaginar um motivo para você ir embora, a menos que alguém tenha sido indelicado
contigo… Espero que você não esteja dizendo que pretende se divorciar. Tremendo
e chorando, ela respondeu: — Se você não me der o divórcio, morrerei! Ele ficou
em silêncio durante um instante, tentando inutilmente descobrir alguma causa
para aquela surpreendente declaração. Então, sem demonstrar qualquer emoção,
disse: — Deixá-la voltar para sua família, sem nenhuma falha da sua parte,
seria um ato vergonhoso. Se você me der uma boa razão para esta sua vontade,
qualquer razão que me permita explicar honrosamente o que houve, eu concederei
o divórcio. Mas, a menos que me dê uma razão, uma boa razão, você não terá o
divórcio, pois a honra deste lar deve ser mantida acima de qualquer opróbrio. E
assim ela se sentiu obrigada a falar; e lhe contou tudo, acrescentando, numa
agonia de terror: — Agora que contei para você, ela me matará! Ela me matará!… Embora
fosse um homem de coragem, e pouco inclinado a crer em fantasmas, o samurai
ficou bastante sobressaltado por um instante. Mas uma explicação simples e
natural logo veio-lhe ao espírito. — Minha querida __ disse ele —, você está
muito nervosa agora; e receio que tenham lhe contado histórias absurdas. Não
posso conceder-lhe o divórcio apenas porque você teve um pesadelo nesta casa.
Mas lamento realmente que esteja sofrendo de tal modo durante minha ausência.
Esta noite, também, tenho que ir ao castelo; mas você não ficará sozinha.
Ordenarei a dois serviçais que vigiem seu quarto; e você poderá dormir em paz.
São pessoas da minha confiança e cuidarão muito bem de você. Em seguida, falou
com ela de um modo tão atencioso e afetuoso que a moça se sentiu quase
envergonhada do seu terror, e resolveu permanecer naquela casa. Os dois
serviçais encarregados de cuidar da jovem esposa eram homens simples, fortes e
corajosos, que tinham experiência em proteger mulheres e crianças. Eles
contaram à moça histórias divertidas para alegrá-la. Ela conversou com eles por
um bom tempo, riu de suas tiradas bem-humoradas, e quase esqueceu seus receios.
Quando finalmente ela se deitou para dormir, os dois guardiões tomaram seus
lugares no canto do quarto, atrás da tela, e iniciaram um jogo de go, falando apenas em sussurros, para
não incomodá-la. Ela adormeceu feito uma criança. Porém, mais uma vez, na Hora
do Boi, ela despertou com um gemido de terror ao ouvir o sino lá fora!… O som
já estava perto e cada vez se aproximava mais. Ela teve um sobressalto e
gritou; mas não notou nenhum movimento no quarto, havia somente um silêncio
sepulcral, um silêncio crescente, cada vez mais denso. Ela correu na direção de
seus guardiões: estes estavam sentados diante do tabuleiro, imóveis, miravam-se
um ao outro com os olhos fixos. A moça os chamou, os sacudiu: eles permaneceram
paralisados, como se estivessem congelados… Mais tarde, eles disseram ter
ouvido o sino, e também o grito da jovem esposa, até chegaram a sentir que ela
os sacudia para despertá-los; e que, no entanto, não foram capazes de se mover
nem de falar. No momento exato em que pararam de ouvir e enxergar, submergiram
num sono sinistro. Ao entrar no quarto de casal, de madrugada, o samurai viu,
na claridade de uma luz evanescente, o corpo sem cabeça de sua jovem esposa,
deitado numa poça de sangue. Ainda agachados diante do jogo inconcluso, os dois
serviçais dormiam. Ao ouvirem o grito do senhor eles despertaram, e com uma
expressão estúpida, afrontaram o horror no chão… Não encontraram a cabeça; e a
ferida horrenda mostrava que ela não havia sido cortada, mas arrancada. Um
rastro de sangue se estendia do quarto até um ângulo da varanda, onde as portas
que protegem das intempéries pareciam ter sido rachadas. Os três homens
seguiram o rastro até o jardim, passando pelo gramado, pelos canteiros de
areia, ao longo da margem de um lago iridescente sob a sombra espessa de cedros
e bambus. E, repentinamente, num desvão, encontraram-se face a face com uma
coisa horripilante que se agitava como um morcego: a figura da mulher há muito
enterrada, ereta diante de seu túmulo, numa das mãos o sino, na outra a cabeça
ainda gotejante… Por um momento, os três ficaram entorpecidos. Em seguida, um
dos serviçais, pronunciando uma prece budista, avançou e desferiu um golpe
sobre aquele vulto. Imediatamente o vulto se esfarelou no chão, não passava de
um amon- toado de trapos de pano, ossos e cabelos; e o sino rolou retinindo
para longe daquele dejeto humano. Mas a mão direita, descarnada, mesmo decepada
do pulso, ainda se contorcia; e seus dedos comprimiam a cabeça ensangüentada,
dilacerando-a e desfigurando-a, como as tenazes dos caranguejos amarelos estraçalhando
uma fruta que caiu da árvore…— Esta é uma história cruel — disse eu ao amigo
que acabara de contá-la. — Se a falecida queria se vingar de alguém, deveria
ter escolhido o marido. — É assim que os homens pensam — respondeu. — Mas não é
desse modo que as mulheres agem… Ele tinha razão. [...]. Trechos da obra do
escritor japonês Lafcadio Hearn
(1850-1904). Veja mais aqui.
A arte
da fotógrafa francesa Laure Albin
Guillot (1879-1962). Veja mais aqui.
TODO DIA É DIA DA MULHER
Leitora
Tataritaritatá.
&
Cantarau
Tataritaritatá!
Ligue
o som para conferir & veja clipes/vídeos aqui.