sábado, novembro 04, 2017

DUFRENNE, RACHEL DE QUEIROZ, DELEUZE, ANA CRUZ, VIRGÍNIA PALOMEQUE, BOLSHOI BALLET, IARAVI & ÁGUAS BELAS

IARAVI ENTRE ANHANGÁ & PERÓS - Imagem: arte da artista plástica argentina Virgínia Palomeque - Tupã alumia meus caminhos e me protege enquanto subo o Una, alcanço as margens do Pirangi, sigo até a Serra da Prata para alcançar toda extensão da minha gente caeté, empunhando seus arcos e tacapes. Aceno e me despeço de todos. Sinto-me seguro, prossigo até a densa floresta com o silvo de cobras, piados de coruja rasgando mortalhas, cricrilar dos insetos, ameaças da Cobra Grande, ventos e presságios. Vou com a flecha em punho para rasgar o espaço escuro e o meu tacape pronto para golpear qualquer fera que interdite minha caminhada. Vou firme. Sei que lá longe Anhangá reina tirânico além das matas, aterroriza escravizando a todos que lhe cruzem as vistas. Por conta de uma sua desalmada intervenção, a amada caingang perdeu-se no caminho, nunca mais pude vê-la, temo não mais encontrá-la. Esse imprevisto me atormenta a alma e persigo os seus passos, sinto a baforada de sua ira a cada surpresa, tenho de enfrentar o seu horrível bafejo, pois desconfio que Iaravi tenha sido capturada por suas garras. Ouvi dizer que não, apenas se perdera estrada afora. Anhangá continua inquieto, reafirmam, se a tivesse capturado estaria quieto, entretido com sua escrava. Pode ser. Talvez ela tenha sido levada pelos perós aos montes desembarcando das suas caravelas e se amontoando na praia, sinal de desgraça no ar. Não confio neles, cara pálida pérfido parece desalmado e achegado às hostilidades. As fogueiras ardem e eles buscam aprisionar as cunhantãs formosas, isso eu sei. Temo por Iaravi. Também disseram que ela não está entre as suas prisioneiras, está perdida. Sei que ela tem poderes que nem sabe, aprenderá a usá-los para sobreviver às emboscadas e malsinações das matas densas sme fim. Foi por causa disso que exilei do meu povo para reencontrá-la, desconsolado, desgostoso de tudo, muitas luas no camino e penso nela, sua boca requerente à espera do meu beijo, sua graça à porta da maloca ansiando minha chegada, seu corpo o reino da minha satisfação. Por ela enfrento toda e qualquer maledicência, que venham monstros e algozes com seus ferros ultrajantes, estou pronto pro vento que encrespa nas ondas do Una e um raio fuzila no espaço com estrondoso trovão, chegou a hora da contenda! O vendaval é forte e demorado e quando a procela passa a manhã sorri no firmamento, com a autora o Sol doura as copas das frondosas árvores. Lá longe avisto: eis ela nas águas pro seu banho ritual, inocente vítima das circunstâncias. O meu coração se apressa querendo sair pela boca, meus passos se misturam às carreiras para encontrá-la quase a me descontrolar na descida da ribanceira e ela presa fácil, preciso alcançá-la para protegê-la tanto das investidas de Anhangá como das insolentes invasões dos perós. Finalmente alcanço-a e seu olhar é só sorriso ao ver-me. Abraço-a e sua carne é como a água que nos lava à cintura, tudo nela é como a vida para que eu possa viver o amor que nos une a alma. PS: Narrativa inspirada na lenda de Ajuricaba, recolhida da obra Folclore amazônico (São José, 1951), de José Coutinho de Oliveira. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o conjunto instrumental-vocal Quinteto Violado: O Guarani & outros sucessos; a violinista e maestro britânica Rachel Podger: Sonatas de Bach &  La Stravaganza Vivaldi; o Duofel formado pela dupla de violonistas Fernando Melo e Luiz Bueno: Festival Choro Jazz, Beatles, Palhaço de Egberto Gismonti & Construção/Cotidiano/Deus lhe pague de Chico Buarque; e a compositora, performer, vocalista, cineasta e cenógrafa estadunidense Meredith Monk: Pianos Songs & Book of Days. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Certas conversações duram tanto tempo, que já não sabemos mais se faz parte da guerraou já da paz. È verdade que a filosofia é inseparável de uma cólera contra a época, mas também de uma serenidade que ela nos assegura [...] Como as potências não se contentam em ser exteriores, mas também passam por cada um de nós que, graças a filosofia, encontra-se incessantemente e em guerrilha consigo mesmo [...]. Trechos extraídos da obra Conversações (34, 1992), do filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), que nos legou em sua última obra Crítica e clínica (34, 1997), o texto A literatura e a vida, do qual destaco o trecho: [...] Escrever é um caso de devir, sempre inacabado, sempre em via de fazer-se, e que extravasa qualquer materia vivível ou vivida. [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

AS TRIBOS DE ÁGUAS BELAS - A vila de Águas Belas foi criada na antiga povoação de Ipanema, pela Lei provincial 997, de 13 de dezembro de 1871 – data de criação -, tendo sido desmembrada do município de Buíque. Sua instalação ocorreu em 25 de junho de 1872. Foi elevada à categoria de cidade pela Lei Estadual 665, de 24 de maio de 1904. Segundo a tradição, a região onde fica hoje siatuada a cidade de Águas Belas, era habitado pela tribo denominada de Tupiniquins. A tribo dos Carajós, depois de uma luta com aquela, conseguiu expulsá-la do aldeamento então conehcido pelo nome de Lagoa, devido a uma lagoa que ali existia. [...]. A denominação de Águas Belas se opriginou do fato de o ouvidor, Jacobina, durante a viagem, ao chegar a este lughar, encontrou a mais potável e fina água [...] Em Águas Belas ainda existe uma aldei de índios, já mais civilizados, restantes da tribo que povoou a região em épocas distantes. Eles já vivem em contato com os habitantes da cidade, embora conservando ainda seus antigos ritos tribais. Administrativamente, o município é formado apenas pelo distrito-sede e pelos povoados de Campo Grande, Curral Novo, Garcia e Tanquinho. Anualmente, no dia 24 de maio, Águas Belas comemora a sua emancipação política. [...]. Extraído  da Enciclopedia dos municipios do interior de Pernambuco (FIAM/DI, 1986). Veja mais aqui.

A ESTÉTICA DE DUFRENNE - [...] A essência tem de ser descoberta, mas por um desenvolvimento e não por um salto do conhecido ao desconhecido. A fenomenologia se aplica em primeiro lugar ao humano, porque a consciência é consciência de si: é aqui que está o modelo do fenômeno, o aparecer como aparecer do sentico a ele mesmo [...] Nós não podemos dizer aqui qual é esta norma do objeto estético, pois ele é inventado por cada objeto, que não tem outra lei senão a que dá a si mesmo; mas pode-se dizer ao menos que, sejam quais forem os meios de uma obra, o fim a que ela se propõe para ser obra-prima é por sua vez a plenitude de ser senível e a plenitude de significação imanente ao sensível [...] Não se define o que é o belo, constatamos que ele é objeto [...] Assim é possível uma estética que não refuta de modo algum a valorização estética, mas que não lhe é subserviente, que reconhece a beleza sem fazer uma teoria da beleza, porque no fundo não há teoria a ser feita; ela tem a dizer o que são os objetos estéticos, e eles são belos desde que são verdadeiros [...]. Trechos extraídos da obra Fenomenologia da Experiência Estética  (PUF, 1953), do filósofo e esteticista francês Mikel Dufrenne, autor da obra Estética e filosofia (Perspectiva, 1998), em que aborda sob a perspectiva estrutural e fenomenológica por meio da experiência os valores estéticos das obras de arte e da natureza, os referenciais constituintes no objeto da percepção válida, o belo como artístico e natural, a linguagem da arte, a crítica literária, o objeto estético e técnico.

VIVER NA CIDADE - [...] A cidade, assim de repente, vista de uma vez e surpreendida de brusco, deu-me um choque no coração, comoveu-me tanto que as mãos me começaram a tremer e meus olhos se encheram de água. Estava ali o mundo, o povo, a vida de fora, tudo o que era interdito à minha vida de reclusa. Sentia medo e alegria juntos numa emoção violenta, como quem rouba e se apossa de qualquer coisa sonhada e proibida [...]. Trecho extraído da obra As três Marias (Abril, 1982), da escritora, jornalista, dramaturga e tradutora Rachel de Queiroz (1910-2003). Veja mais aqui e aqui.

CORAÇÃO TIÇÃO - Quero me lambuzar nos mares negros / para não me perder, / conseguir chegar no meu destino. / Não quero ser parda, mulata / Sou afro-brasileira-mineira. / Bisneta / de uma princesa de Benguela. / Não serei refém de valores / que não me pertencem. / Quero sentir sempre meu coração / como um tição. / Não vou deixar que o mito / do fogo entre as pernas iluda e desvie / homens e mulheres / daqui por diante. Poema extraído da obra E... feito de luz (Ykenga, 1995), da poeta Ana Cruz. Veja mais aqui.

A ARTE DE VIRGINIA PALOMEQUE
A arte da artista plástica argentina Virgínia Palomeque.

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A ARTE DO BOLSHOI BALLET AND ÓPERA THEATRE
Espetáculo The Cage do Bolshoi Ballet and Opera Treatre, com música de Igor Stravinsky, coreografia de Jerome Robbins.