sexta-feira, novembro 03, 2017

BETINHO, HENRY MILLER, ALZIRA RUFINO, VITAL CORRÊA DE ARAÚJO, CYANE PACHECO, LUCIAH LOPEZ & CUPIRA

POESIA VITAL ABSOLUTA - Imagem: arte da artista plástica e desenhista Cyane Pacheco. - Desde daquela hora Pirata de 1982, dúbios passos trocando pés e pernas pelo meio fio, calçadas, asfaltos entre o Capibaribe e o Beberibe até a Livro 7 – tudo acontecia ali, asas livres na rua - para voar o céu do Recife além do Brasil e planeta. Mais fizera da intromissão do verbo a minha invocação pra saber do Burocracial e sem saber do Título Provisório nem que Só às paredes confesso, o Palpo a quimera e o tremor, ou Ora Pro Nobis Scania Vabis. Só agora, a vida à deriva e de pernas pro ar, dei de cara com o Bando de Mônadas revisitando Liebniz, quando o poeta se confessa atravessando o pomar do apocalipse, preparando seu próprio féretro pra viver aos extremos e além deles, insepulto na sua morte voluntária entre poemas surgidos do nada da intuição, confissões, loucuras de Catuama abarcando úteros e partos abandonados nas ruas de Palmares, com as cinzas do ego pelo céu vagaroso de Garanhuns, palavra como valor de troça nas metades perdidas do ser pra viver além da redoma de si, dos limites do plano cartesiano, das medidas e comprimentos. A sua Poesia Absoluta é feita de vida: sem explicações, regras, significados ou necessidade de compreensão: vive, apenas, simplesmente, e o poeta cônscio de sua natural vitalidade vocifera lírica paradoxal enraivecida por oxímoros que recriam sintagmas destronando hierarquias, taxonomias, distinções, porque o id vital é um jumento priápico celebrando a paudurescência das orgias dionisíacas na festa dos escombros da decadente sociedade neoposmoderna e despótica, tão corajosa quanto Dom Quixote enfrentando seus gigantes moinhos, tão desafiador quanto o eco de eu oco de Eliot e as provocações dos muitos eus Pound, Zizek, Cummings, Valéry, Wittgenstein, demasiadamente humano Nietzsche e tão ousado quanto o lance de dados de Mallarmé, tão intenso quanto as disparadas do Finnegans de Joyce, tão iconoclasta quanto o brincarte de Ascenso, tão paradoxal quanto a vida daquela tribo do Informe de Brodie da cegueira de Borges traduzida por Hermilo. É correr risco, o sema mata e ler VCA causa AVC e o leitor pode se perder no meio da poesia pura doída e doida contra o euismo poético com seus monósticos de carbono priapoéticos – respire fundo antes de usar – para a sublime incompreensão total: entender não é preciso, poetar livremente sim, isso sim é preciso, a talvez sincera confissão final no futuro que não virá nunca nas meditações do abismo profeta pra quem sabe Deus nos detalhes (nas reentrâncias de um punhal navalha e cutelo), demolindo sintaxes e sentidos – só o significante, nada de significados, esses pra lata de lixo! - pelas rieiras inóspitas das faces humanas com o peso da culpa, dos esgares, da usura nos omoplatas e o tempo escancarado sem horas nem contagem nem medidores no labirinto imprevisível: nada de inspiração, piração é a palavra de ordem! Que diga, ué! E só, dizer  e dizer mesmo sem ter nem pra quê, ora! O que é ao se revelar pode – ou deve - ser reconhecido como outra coisa, outras mais, muitas: do útero à cova, tudo, a semente, o fruto. Salve, salve, Vital Corrêa de Araújo (Veja mais abaixo). © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o compositor, arranjador e multi-instrumentista Hermeto Pascoal: Slave Mass & Live Montreux Jazz Festuval; a compositora, pianista e escritora Jocy Oliveira: Estórias para voz, instrumentos acústicos e eletrônicos, Solares, Medea Ballade & Noturno de um piano; a iniciativa de criação da arte erudita com elementos da cultura popular Orquestra Armorial & Quinteto Armorial, oriundos do movimento criado pelo escritor e dramaturgo Ariano Suassuna: Chamada & Do romance ao galope nordestino; e a artista experimental e performática compositora estadunidense Laurie Anderson: Homeland & Mister Heartbreak. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] No Brasil, a história é longa. Houve um tempo, antes de os portugueses chegarem, em que os povos indígenas viviam seus regimes comunitários em que cabia todo o mundo, uma sociedade de todas as gentes, ninguém era excluído. Não eram todos iguais, mas todos estavam contemplados com alguma parte do que era de todos. É fantástico pensar esse mundo onde cada pessoa tem um lugar, onde ninguém está excluído. Com a chegada dos portugueses, que naquela época se consideravam a modernidade, começou o regime da escravidão e da exclusão. Índios dizimados, negros africanos escravizados como assalariados, migrantes, trabalhadores de todo o tipo desse tremendo apartheid chamado Brasil. Brasil onde a terra nunca foi bem dividida, sempre concentrada. A riqueza grande, fabulosa para muito pouca gente. E o poder nas mãos de quem tem chicote, cerca de arame farpado, grupos armados. Depois, o poder de quem tem informação e meios de comunicação. Primeiro, a oligarquia e, depois, todos os outros senhores desta terra e dos bens que nela se produzem. Assim foi que se produziu o Brasil para chegarmos hoje a 80% de pobres e milhões de indigentes divididos entre o campo e a cidade. E isso num país onde o que não falta é riqueza. A matemática brasileira soma, acumula e multiplica, não aprendeu a dividir, a compartir. Aqui, o bolo sempre cresce, nunca é dividido. Hoje, temos uma bomba social explodindo nas nossas grandes cidades, literalmente. A miséria concentrada nas grandes cidades foi tomando forma de mendigos, alcoólatras, crianças de rua, contrabando, ilegalidade, marginalidade, roubo, seqüestro e narcotráfico que se confronta com as próprias forças armadas. E crescendo. As pessoas foram sendo excluídas, mas insistem em sobreviver à margem. Os ricos passaram a viver no medo, em bunkers onde se protegem da sociedade que criaram. Essa é uma bomba terrível e que não foi nem está sendo efetivamente desativada, cresce seu poder de destruição como se fosse um fato inexorável que todos vêem, mas não podem evitar. [...]. Trecho extraído do texto Democracia e cidadania (Democracia Viva, 28 – 1997) do sociólogo e ativista dos direitos humanos, Herbert de Souza – Betinho (1935-1997). Veja mais aqui, aqui e aqui.

ABELHAS CUPIRA - [...] Como as demais cidades, Cupira nasceu de uma pequena povoação localizada em torno de uma capela, sob a iniciativa do senhor Aleleuia, à margem de uma lagoa, onde existia uma grande barauna. Nesta baraúna, árvore grande e frondosa, fizeram “morada” umas abelhas conhecidas por Cupira. O local ficou sendo escolhido pelo povo como ponto de reunião para “acerto” de negócios e conversações, e ficou conhecido como Cupira, a pequena povoação pertencente ao município de Panelas. O distrito de Cupira foi criado pela Lei municipal 10, de 30 de março de 1900, com sede na povoação de Taboleiro. Passou a denominar-se Cupira em virtude da Lei municipal 56, de 7 de dezembro de 1914. O Decreto estadual 1818, de 29 de dezembro de 1953, criou o município de Cupira, desmembrado de Panelas e elevando sua sede à categora de vila. Sua instalação ocorreu em 20 de 1954. Anualmente, no dia 29 de dezembro, o município comemora a sua emancipação política. Administrativamente é formado pelos distritos sede, Lage de São José e pelo povoado de Gravatá Açu. Trecho extraído da obra Enciclopedia dos Municípios do interior de Pernambuco (FIAM/DI, 1986). Veja mais aquiaqui.

ESCREVER E VIVERO escrever, como a própria vida, é uma viagem de descobrimento. A aventura é de caráter metafísico; é uma maneira de aproximação indireta com a vida, de aquisição de uma visão total do universo, não parcial. Com freqüência, escrevo coisas que não entendo, embora certo de que depois me parecerão claras e significativas. Tenho fé no homem que está escrevendo, no homem que sou eu, no escritor. E não creio nas palavras, mesmo quando as junta o homem mais hábl: creio na linguagem, que é algo que está mais além das palavras, algo do qual as palavras não oferecem mais do que uma ilusão inadequada. As palavras só existem separadamente nos cérebros eruditos, filólogos, etimólogos, etc. As palavras divorciadas da linguagem são coisa morta e não entregam segredos. Como o princípio do universo, como o imperturbável Absoluto – o Uno, o Todo -, assim o criador, ou seja, o artista, se expressa a partir e por meio da imperfeição. Esse é o tecido da vida, o verdadeiro signo do vivente. A arte nada ensina, senão a significação da vida. A grande obra será inveitavelmente obscura, exceto por um punhado de homens, para aqueles que, como o próprio autor, foram iniciados nos mistérios. Uma vez realmente aceita, a arte deixa de sê-lo. Constitui apenas um substituto, uma linguagem simbólica que substitui algo que deverá ser captado diretamente. Mas para que isso seja possível, o homem terá de transformar-se em um ser totalmente religioso e não simplesmente em um crente, em um primeiro motor, em um deus em ato. Inevitavelmente, chegará a sê-lo. E de todos os rodeios ao longo dessa senda, a arte é o mais glorioso, o mais fecundo, o mais instrutivo. Texto escrito pelo controverso escritor norte-americano Henry Miller (1891-1980), extraído da obra O escritor e seu fantasmas (Companhia das Letras, 2003), do escritor argentino Ernesto Sábato. Veja mais aqui e aqui.

RESGATE & CRIOULAI - Sou negra ponto final / devolvo- me a identidade / rasgo minha certidão / sou negra / sem reticências / sem vírgulas sem ausências / sou negra balacobaco / sou negra noite cansaço / sou negra / Ponto final. II - eu sou crioula decente / não sou vil / estou nas cordas / em equilíbrio / de um Brasil / a minha cor apavora / essa raça agride ouvi dizer / não é nos dentes do negro / não é no sexo do negro / é na arte do negro / de viver / melhor dizendo / sobreviver / com essa coisa que arrasta / o tronco que tentam esconder / mas esses troncos existem / no conviver / os troncos estão nas favelas / vejo troncos nas vielas / nas moradias fedidas / nas peles sem esperança / nas enxurradas de não / no jogo das damas e reis / eu me perdi / nas rotas dos estiletes / nas celas e nos engodos / negro carretel de rolo / querem fazer um mundo / marginal crioulo. Poemas da poeta e ativista política atuante no Movimento Negro e no Movimento das Mulheres Negras, Alzira Rufino. Veja mais aqui.

A ARTE DE CYANE PACHECO
A arte da artista plástica e desenhista Cyane Pacheco.

NUVENS & CÉU DE PALMARES DE LUCIAH LOPEZ
No fim do mundo, um pé de sonhos
que mais parece ser__________um pé de nuvens.
Meu olhar afirma: são penas nuvens!
Meu coração me diz: são os teus sonhos nascendo outra vez.
Poena da poeta, artista visual & blogueira Luciah Lopez. Veja mais aqui, aqui e aqui.

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CINCO TERCETOS DE PALMARES – VITAL CORRÊA DE ARAUJO
Caminho pela tarde imaginária
Descendo de hunos e coivaras.
Das horas perdidas vestígios fumegam
Nas absolutas avenidas da vida não me demoro.
A sombra do Porto (do Recife) se arrastava do cais
E ferros das naves pareciam efêmeros (grilhões).
Ao absurdo cotidiano do homem do mundo
À cata de usuras obesas e salvações vãs.
(Gaia para salvar-se prescindirá da vida humana).
Reino das Águias, 15/05/2014
ADENDO: A ordem é o caos e sintagmas voam pelo meu peito como águias.
Poema extraído da obra Semata (Autor, 2017), do escritor, jornalista, advogado, professor, conferencista e tradutor Vital Corrêa de Araújo. Veja mais aqui.