POESIA VITAL
ABSOLUTA - Imagem: arte da artista plástica e
desenhista Cyane Pacheco. - Desde
daquela hora Pirata de 1982, dúbios passos trocando pés e pernas pelo meio fio,
calçadas, asfaltos entre o Capibaribe e o Beberibe até a Livro 7 – tudo
acontecia ali, asas livres na rua - para voar o céu do Recife além do Brasil e
planeta. Mais fizera da intromissão do verbo a minha invocação pra saber do Burocracial e sem saber do Título Provisório nem que Só às paredes confesso, o Palpo a quimera e o tremor, ou Ora Pro Nobis Scania Vabis. Só agora, a
vida à deriva e de pernas pro ar, dei de cara com o Bando de Mônadas revisitando Liebniz, quando o poeta se confessa atravessando
o pomar do apocalipse, preparando seu próprio féretro pra viver aos extremos e
além deles, insepulto na sua morte voluntária entre poemas surgidos do nada da
intuição, confissões, loucuras de Catuama abarcando úteros e partos abandonados
nas ruas de Palmares, com as cinzas do ego pelo céu vagaroso de Garanhuns, palavra
como valor de troça nas metades perdidas do ser pra viver além da redoma de si,
dos limites do plano cartesiano, das medidas e comprimentos. A sua Poesia
Absoluta é feita de vida: sem explicações, regras, significados ou necessidade
de compreensão: vive, apenas, simplesmente, e o poeta cônscio de sua natural
vitalidade vocifera lírica paradoxal enraivecida por oxímoros que recriam sintagmas
destronando hierarquias, taxonomias, distinções, porque o id vital é um jumento
priápico celebrando a paudurescência das orgias dionisíacas na festa dos
escombros da decadente sociedade neoposmoderna e despótica, tão corajosa quanto
Dom Quixote enfrentando seus gigantes moinhos, tão desafiador quanto o eco de
eu oco de Eliot e as provocações dos muitos eus Pound, Zizek, Cummings, Valéry,
Wittgenstein, demasiadamente humano Nietzsche e tão ousado quanto o lance de
dados de Mallarmé, tão intenso quanto as disparadas do Finnegans de Joyce, tão iconoclasta quanto o brincarte de Ascenso,
tão paradoxal quanto a vida daquela tribo do Informe de Brodie da cegueira de Borges traduzida por Hermilo. É
correr risco, o sema mata e ler VCA causa AVC e o leitor pode se perder no meio
da poesia pura doída e doida contra o euismo poético com seus monósticos de
carbono priapoéticos – respire fundo antes de usar – para a sublime
incompreensão total: entender não é preciso, poetar livremente sim, isso sim é
preciso, a talvez sincera confissão final no futuro que não virá nunca nas meditações
do abismo profeta pra quem sabe Deus nos detalhes (nas reentrâncias de um punhal navalha e cutelo), demolindo sintaxes
e sentidos – só o significante, nada de significados, esses pra lata de lixo! -
pelas rieiras inóspitas das faces humanas com o peso da culpa, dos esgares, da
usura nos omoplatas e o tempo escancarado sem horas nem contagem nem medidores
no labirinto imprevisível: nada de inspiração, piração é a palavra de ordem! Que
diga, ué! E só, dizer e dizer mesmo sem
ter nem pra quê, ora! O que é ao se revelar pode – ou deve - ser reconhecido
como outra coisa, outras mais, muitas: do útero à cova, tudo, a semente, o
fruto. Salve, salve, Vital Corrêa de Araújo (Veja mais abaixo). © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o compositor, arranjador e
multi-instrumentista Hermeto
Pascoal: Slave Mass & Live Montreux
Jazz Festuval;
a compositora, pianista e escritora Jocy Oliveira: Estórias para voz, instrumentos acústicos e eletrônicos, Solares, Medea
Ballade & Noturno de um piano; a iniciativa de
criação da arte erudita com elementos da cultura popular Orquestra Armorial & Quinteto
Armorial, oriundos do movimento criado pelo escritor e dramaturgo
Ariano Suassuna: Chamada & Do romance ao galope nordestino; e a artista
experimental e performática compositora estadunidense Laurie Anderson: Homeland & Mister Heartbreak. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] No Brasil, a história é longa. Houve um tempo, antes de
os portugueses chegarem, em que os povos indígenas viviam seus regimes comunitários
em que cabia todo o mundo, uma sociedade de todas as gentes, ninguém era excluído.
Não eram todos iguais, mas todos estavam contemplados com alguma parte do que
era de todos. É fantástico pensar esse mundo onde cada pessoa tem um lugar,
onde ninguém está excluído. Com a chegada dos portugueses, que naquela época se
consideravam a modernidade, começou o regime da escravidão e da exclusão.
Índios dizimados, negros africanos escravizados como assalariados, migrantes, trabalhadores
de todo o tipo desse tremendo apartheid chamado Brasil. Brasil onde a terra
nunca foi bem dividida, sempre concentrada. A riqueza grande, fabulosa para
muito pouca gente. E o poder nas mãos de quem tem chicote, cerca de arame farpado,
grupos armados. Depois, o poder de quem tem informação e meios de comunicação.
Primeiro, a oligarquia e, depois, todos os outros senhores desta terra e dos
bens que nela se produzem. Assim foi que se produziu o Brasil para chegarmos
hoje a 80% de pobres e milhões de indigentes divididos entre o campo e a
cidade. E isso num país onde o que não falta é riqueza. A matemática brasileira
soma, acumula e multiplica, não aprendeu a dividir, a compartir. Aqui, o bolo
sempre cresce, nunca é dividido. Hoje, temos uma bomba social explodindo nas
nossas grandes cidades, literalmente. A miséria concentrada nas grandes cidades
foi tomando forma de mendigos, alcoólatras, crianças de rua, contrabando,
ilegalidade, marginalidade, roubo, seqüestro e narcotráfico que se confronta
com as próprias forças armadas. E crescendo. As pessoas foram sendo excluídas,
mas insistem em sobreviver à margem. Os ricos passaram a viver no medo, em bunkers
onde se protegem da sociedade que criaram. Essa é uma bomba terrível e que não
foi nem está sendo efetivamente desativada, cresce seu poder de destruição como
se fosse um fato inexorável que todos vêem, mas não podem evitar. [...]. Trecho extraído do texto Democracia e cidadania (Democracia Viva,
28 – 1997) do
sociólogo e ativista dos direitos humanos, Herbert de Souza – Betinho (1935-1997).
Veja mais aqui, aqui e aqui.
ABELHAS CUPIRA - [...] Como as demais cidades,
Cupira nasceu de uma pequena povoação localizada em torno de uma capela, sob a
iniciativa do senhor Aleleuia, à margem de uma lagoa, onde existia uma grande
barauna. Nesta baraúna, árvore grande e frondosa, fizeram “morada” umas abelhas
conhecidas por Cupira. O local ficou sendo escolhido pelo povo como ponto de
reunião para “acerto” de negócios e conversações, e ficou conhecido como
Cupira, a pequena povoação pertencente ao município de Panelas. O distrito de
Cupira foi criado pela Lei municipal 10, de 30 de março de 1900, com sede na
povoação de Taboleiro. Passou a denominar-se Cupira em virtude da Lei municipal
56, de 7 de dezembro de 1914. O Decreto estadual 1818, de 29 de dezembro de
1953, criou o município de Cupira, desmembrado de Panelas e elevando sua sede à
categora de vila. Sua instalação ocorreu em 20 de 1954. Anualmente, no dia 29
de dezembro, o município comemora a sua emancipação política. Administrativamente
é formado pelos distritos sede, Lage de São José e pelo povoado de Gravatá Açu.
Trecho extraído da obra Enciclopedia dos Municípios do interior de Pernambuco
(FIAM/DI, 1986). Veja mais aqui e aqui.
ESCREVER E VIVER – O escrever, como a própria vida,
é uma viagem de descobrimento. A aventura é de caráter metafísico; é uma
maneira de aproximação indireta com a vida, de aquisição de uma visão total do
universo, não parcial. Com freqüência, escrevo coisas que não entendo, embora
certo de que depois me parecerão claras e significativas. Tenho fé no homem que
está escrevendo, no homem que sou eu, no escritor. E não creio nas palavras,
mesmo quando as junta o homem mais hábl: creio na linguagem, que é algo que
está mais além das palavras, algo do qual as palavras não oferecem mais do que
uma ilusão inadequada. As palavras só existem separadamente nos cérebros
eruditos, filólogos, etimólogos, etc. As palavras divorciadas da linguagem são
coisa morta e não entregam segredos. Como o princípio do universo, como o
imperturbável Absoluto – o Uno, o Todo -, assim o criador, ou seja, o artista,
se expressa a partir e por meio da imperfeição. Esse é o tecido da vida, o
verdadeiro signo do vivente. A arte nada ensina, senão a significação da vida. A
grande obra será inveitavelmente obscura, exceto por um punhado de homens, para
aqueles que, como o próprio autor, foram iniciados nos mistérios. Uma vez
realmente aceita, a arte deixa de sê-lo. Constitui apenas um substituto, uma
linguagem simbólica que substitui algo que deverá ser captado diretamente. Mas para
que isso seja possível, o homem terá de transformar-se em um ser totalmente
religioso e não simplesmente em um crente, em um primeiro motor, em um deus em
ato. Inevitavelmente, chegará a sê-lo. E de todos os rodeios ao longo dessa
senda, a arte é o mais glorioso, o mais fecundo, o mais instrutivo. Texto
escrito pelo controverso
escritor norte-americano Henry Miller
(1891-1980), extraído da obra O escritor
e seu fantasmas (Companhia das Letras, 2003), do escritor argentino Ernesto
Sábato. Veja mais aqui e aqui.
RESGATE & CRIOULA – I
- Sou negra ponto final / devolvo- me a
identidade / rasgo minha certidão / sou negra / sem reticências / sem vírgulas
sem ausências / sou negra balacobaco / sou negra noite cansaço / sou negra / Ponto
final. II - eu sou crioula decente / não sou vil / estou nas cordas / em equilíbrio
/ de um Brasil / a minha cor apavora / essa raça agride ouvi dizer / não é nos
dentes do negro / não é no sexo do negro / é na arte do negro / de viver / melhor
dizendo / sobreviver / com essa coisa que arrasta / o tronco que tentam
esconder / mas esses troncos existem / no conviver / os troncos estão nas
favelas / vejo troncos nas vielas / nas moradias fedidas / nas peles sem
esperança / nas enxurradas de não / no jogo das damas e reis / eu me perdi / nas
rotas dos estiletes / nas celas e nos engodos / negro carretel de rolo / querem
fazer um mundo / marginal crioulo. Poemas da poeta e ativista política
atuante no Movimento Negro e no Movimento das Mulheres Negras, Alzira Rufino. Veja mais aqui.
A ARTE DE CYANE PACHECO
A arte da artista plástica e desenhista Cyane Pacheco.
NUVENS & CÉU DE PALMARES DE LUCIAH LOPEZ
No fim do mundo, um pé de sonhos
que mais parece ser__________um pé de nuvens.
Meu olhar afirma: são penas nuvens!
Meu coração me diz: são os teus sonhos
nascendo outra vez.
Veja mais:
&
CINCO TERCETOS
DE PALMARES – VITAL CORRÊA DE ARAUJO
Caminho pela tarde imaginária
Descendo de hunos e coivaras.
Das horas perdidas vestígios
fumegam
Nas absolutas avenidas da vida
não me demoro.
A sombra do Porto (do Recife)
se arrastava do cais
E ferros das naves pareciam
efêmeros (grilhões).
Ao absurdo cotidiano do homem
do mundo
À cata de usuras obesas e
salvações vãs.
(Gaia para salvar-se
prescindirá da vida humana).
Reino das Águias, 15/05/2014
ADENDO: A ordem é o caos e
sintagmas voam pelo meu peito como águias.
Poema extraído da obra Semata (Autor, 2017), do escritor, jornalista,
advogado, professor, conferencista e tradutor Vital Corrêa de Araújo. Veja
mais aqui.