DITOS & DESDITOS - O meu Israel foi traído... Como israelense, passei a entender: não há como amar Israel e rejeitar uma paz de dois Estados, não há como amar Israel e rejeitar a Palestina... Isso está muito além da traição. Este é o assassinato político do partido que fundou o Estado de Israel... Não é usando a força que Israel se tornará um país normal. Não há e não pode haver uma paz real e duradoura que possa ser reconciliada com a colonização massiva dos Territórios Palestinos Ocupados... Uma paz de dois estados é um "presente" que Israel ofereceria a si mesmo e a única maneira de não trair os valores e princípios que são os fundamentos do nascimento do estado de Israel. Pensamento da escritora israelense Yael Dayan (1939-2024).
ALGUÉM FALOU: Prevenir os
conflitos de amanhã significa mudar a mentalidade dos jovens de hoje... Devemos
ser respeitosos, mas também devemos ter a coragem de impedir práticas
prejudiciais que empobrecem meninas, mulheres e suas comunidades. Em um mundo
tão diferente, as crianças são uma força unificadora capaz de nos unir em apoio
a uma ética comum. O impacto do conflito armado nas crianças é responsabilidade
de todos. E deve ser preocupação de todos. Pensamento da ativista moçambicana
dos direitos humanos, Graça Machel (Graça Simbine Machel Mandela), foi a
única pessoa no mundo a ser primeira-dama de mais de uma nação, uma vez que ela
se casou tanto com o primeiro presidente de Moçambique e, ao enviuvar, depois,
casou-se com Nelson Mandela.
OS EMBRULHOS – A peça teatro em um ato Os embrulhos (1970), da escritora e dramaturga Maria Clara Machado (1921-2001), fundadora da escola de teatro O Tablado, acontece num cenário que envolve um casal de velhos, uma criada jovem, um homem e figurantes-maquinistas. Do texto destaco o trecho: (Ouve-se o som de uma Caixinha de música. A Velha procura com rapidez no meio dos pacotes. Acha-a. Coloca-a dentro de outra caixa e embrulha com muito jornal até abafar a música.) VELHA - Tem ainda barbante branco, Neguinho? (O Velho entrega uma cesta cheia de barbantes.) Quanto barbante eu colecionei, santo Deus! Também, tantos anos! VELHO (sai e"volta com os álbuns de fotografias) - Como estão cheios de poeira, veja, Neguinha, os álbuns. VELHA - Ah, os "álbuns! Os álbuns! (Folheando.) Você tinha um cabelo preto... Ah! aquela cadelinha chamada Zefa. .. morreu... eu acho, não éNeguinho? VELHO - Morreu. Que retrato bem tirado! (Apanha na estante uma máquina fotográfica antiga.) Com esta máquina aqui, lembra? (O Velho sobe na cadeira, faz que vai bater uma foto. Há um segundo de imobilidade, enquanto a Velha cobriu o rosto, rindo, atrás do álbum.) VELHA - Embrulha bem ela, senão estraga a lente. (O Velho embrulha a máquina, enquanto a Velha folheia o álbum. Subitamente, arranca uma foto do álbum e joga no chão:) VELHA (mexe a cabeça como se dissesse não) Você deixou isto aqui de propósito,·só para me fazer maldade. VELHO (apanha a fotografia) Ele ainda era um menino, Neguinha! VELHA - Não quero levar ele, não quero VELHO Então a gente não leva. VELHA - Não quero ... (Pausa.). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
A FILOSOFIA NA ALCOVA – O romance Filosofia na alcova (La Philosophia. dans le boudoir – Companhia das Letras, 1992), do
escritor libertino francês Donatien Alphonse François de Sade, mais conhecido
como Marquês de Sade (1740-1814),
trata da história de um debate filosófico entre a Madame de Saint Ange, a jovem
Eugenia, o cavalheiro de Mirvel e Dolmancé, com narrativas filosóficas e
eróticas. Destaco do livro o prefácio do autor denominado Aos libertinos: Voluptuosos de
todas as idades e de todos os sexos, é a vós somente que dedico esta obra; alimentai-vos
de seus princípios que favorecem vossas paixões; essas paixões que horrorizam
os frios e tolos moralistas, são apenas os meios que a natureza emprega para
submeter os homens aos fins que se propõe. Não resistais a essas paixões
deliciosas: seus órgãos são os únicos que vos devem conduzir à felicidade. Mulheres
lúbricas, que a voluptuosa Saint-Ange seja vosso modelo; segui seu exemplo, desprezando
tudo quanto contraria as leis divinas do prazer, que dominaram toda sua vida. Jovens,
há tanto tempo abafadas pelo liames absurdos e perigosos duma virtude
fantástica, duma religião nojenta, imitai a ardente Eugênia; destruí,
desprezai, com tanta rapidez quanto ela, todos os preceitos ridículos
inculcados por pais imbecis. E vós, amáveis devassos, vós que desde a juventude
não tendes outros freios senão vossos desejos, outras leis senão os vossos
caprichos, que o cínico Dolmancé vos sirva de exemplo; ide tão longe quanto
ele, se como ele desejais percorrer todas as estradas floridas que a
lubricidade vos prepara; convencei-vos, imitando-o, de que só alargando a
esfera de seus gostos e suas fantasias, e, sacrificando tudo ã volúpia, o
infeliz indivíduo, conhecido sob o nome de homem e atirado a contragosto neste
triste universo, pode conseguir entremear de rosas os espinhos da vida.
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ZUNS ZUM ZOOM – O livro Zuns zum zoom (Anome, 2012), do poeta, editor, videomaker e psicólogo baiano-mineiro, Luiz Edmundo Alves, reúne uma série de
seus poemas resultantes de atividades com a sua poesia, incluindo performer e
palestrante. Após publicar em 2010 a biografia do grande artista plástico
mineiro Rui Mineiro, ele nos premia com esse excelente livro, no qual destaco: um poema se faz com ideias / um poema se faz
com palavras / um poema se faz com um / brilho repentino de / suor / e / sal /
um poema se faz com paixão / um poema se faz sem paixão / um poemas se faz com
coisas / esquisitas, coisas esquisitas tão / bonitas que não confortam / um
poema se faz pelo prazer / em fazer poemas e depois chorar. E também este
poema: [...] escrevi silêncio saliência sal só
sol solstício. / escrevi no muro no namoro namorada na morada normalmente. Ih
foi / assim que me repeti, na moral, assim que me deslumbrei com / palavras
incomuns, com paisagens incomuns, com pessoas incomuns, / com viagens incomuns,
com batidas incomuns: pra buscar o incomum / reescrevi expectativas, redesenhei
linhas desalinhei conteúdos, / extrapolei. Ei, ei eu sei onde extrapolei, ei eu
senti ei eu falei o que / escrevi, recitei, murmurei, escrevi tudo bem. Não!
Não quero mais. / quero mais! Não! Não quero mais assim / eu quero mais por aí,
é meu álibi, ali meu alivio / escrevi, é assim que estou aqui: escrito e finito...
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ROCK AND ROLL &
DESENHOS – O belíssimo
blog das irmãs Monica & Monique
Justino traz sempre muitas novidades como poemas de Fernando Pessoa e de
Manuel Bandeira, também músicas e desenhos, a exemplo da excelente banda One
Republic, entre outras. Nesse blog fui agraciado com um lindo poema, Meu Corvo,
da Monique Justino: Um corvo me chama / Num sonho sombrio / Minha alma descansa, / Na
eternidade de meus sonhos / Quando te vejo, e vou te ver para sempre. / Eu
sou um corvo em busca da escuridão da noite fria / A brisa bate no meu rosto
que se mistura com minhas lágrimas vazias. / Queria poder despertar de um
pesadelo, mas tenho que tentar viver assim, Enxergando tudo através da
escuridão de minha alma, num pesadelo sem fim. Veja mais aqui.
O TAMBOR – O romance de critica social O tambor (Die Blechtrommel, 1959 – Círculo do Livro, 1986), do escritor,
dramaturgo, artista plástico alemão e ganhador do prêmio Nobel de Literatura de
1999, Günter Grass, conta a história de Oskar, um menino que se recusa a
crescer criticando o mundo dos adultos e da burguesia da época, com sua voz
vitrícida bate no tambor para quebrar vidraças e derrubar objetos. Da obra
destaco o trecho: [...] Desde sempre tinha estado ai, inclusive no pó
efervescente de aspérula, por muito inocente que fosse sua verde espuma; em
todos os guarda-roupas em que então me acocorava, ela também se acocorava. Mais
tarde tomou emprestada a cara triangular de raposa de Luzie Rennwand e devorava
cachorros-quentes e levou os Espanadores ao trampolim – restou apenas Oskar,
que contemplava as formigas porque sabia: esta é a sua sombra, que se
multiplicou em insetos negros e procura o açúcar. E todas aquelas palavras:
bendita, dolorosa, bem-aventurada, virgem entre as virgens... e todas aquelas
pedras: basalto, tufo, diábase, ninhos em calcário conchífero, alabastro tão
brando... e todo o vidro partido com a voz, vidro transparente, vidro fino como
o hálito... e os gêneros alimentícios: farinha e açúcar em saquinhos azuis de
uma libra e meia. Mais tarde, quatro gatos, um dos quais se chamava Bismark, o
muro que teve de ser caiado de novo, os poloneses na exaltação da morte, e os
comunicados especiais, quem afundava o quê, quando, as batatas que caiam
rolando da balança, o que se estreita em direção ao pé, os cemitérios em que
estive, as lajes sobre as quais me ajoelhei, as fibras de coco sobre as quais
me estendi... tudo misturado ao cimento, o suco das cebolas que arranca
lágrimas dos olhos, o anel no dedo e a vaca que me lambeu... Não perguntem a
Oskar quem ela é? Já não lhe restam palavras. Porque o que outrora se sentava
na minhas costas e beijos minha corcunda está agora, agora e para sempre,
diante de mim e vem se aproximando: Negra, a Bruxa Negra sempre esteve atrás de
mim. / Agora também está me encarando de frente, negra! / Vira pelo avesso a
capa e a palavra, negra! / Pague-me com dinheiro negro, negra! / Enquanto as
crianças cantam e deixam de cantar: / A Bruxa Negra está aí? Sim, sim, sim!
A obra foi adaptada para o cinema em 1979, com direção de Volker Schlöndorff e
música de Maurice Jarre, destacando-se a interpretação da atriz alemã Angela
Winkler. Veja mais aqui. 










