segunda-feira, janeiro 05, 2015

LEA SCHNEIDER, ESPIDO FREIRE, NATHALIE SARRAUTE & ARIANNA HUFFINGTON

 


UMA CANÇÃO PRO MEU AMOR - É quando a tarde é mansa que o meu desejo acende com a gula de querer além da conta toda a sua inexprimível sedução. É quando vou esfaimado mergulhar no seu riso de sol vasto porque nasci destinado a amá-la completa e indecentemente. É aí que me atiro mergulhando nos seus olhos de mar que me dão seu sexo fulgurante e desesperado que emerge do seu jeito nu e completamente minha clamando com o remexido de sua dança sensual onde sou suicida de suas montanhas mais que ambicionadas. É quando me jogo e subo por suas pernas onde semeio minhas lambidas que rebenta na minha obscenidade inescrupulosa de retê-la toda para mim até repousar no seu ventre fuviando ao alcance da minha assanhada posse demoradeira sem regresso. É quando me extasio na sua reluzente boca que me engole varada de astúcias e bebe do meu sobejo e brinda festiva até ficar lavada por meu sêmen para sufocá-la com a minha euforia. É quando você se faz meu abrigo porque descobri sua concha que levo comigo e me faz esfaimado hóspede que deprava seus desejos ignorando o futuro, penetrando a sua solidão e mantendo o seu trote delicioso e interminável. E se me fosse dado o poder de refazer tudo que já fiz, eu queria nunca ter que ir embora. Mesmo que fosse tarde, mesmo que fosse nunca, ou jamais. E se me fosse dado o poder de sonhar de novo tudo o que sonhei, jamais queria acordar, mesmo que a vida me dissesse para não valer. E se eu tivesse que vencer um dia o invencível, só queria vencer toda sua querência quando me dá o que é para mim de nunca acabar, porque eu tenho a sua flor e não quero que ela seja cinza na minha mão. Porque eu tenho o seu beijo tatuado na minha alma e não quero jamais que a solidão me ensine que tudo um dia basta. Porque eu tenho a sua dor e sorri para que nascesse o sol sempre na nossa entrega. Eu recolhi a sua lágrima e a gente rio caudaloso que se esvaia em desejos e desencontros. Eu vivi o seu sonho e fui com seu desespero onde tudo é o que não tem pra onde ir e ficamos juntos porque eu sempre tive a sua pele na minha alma como se nunca fosse possível arrancá-la, levando a vida que pude ter para viver. Porque na gente a dor não vai durar pra sempre pelo que foi ou jamais será só porque ontem soubemos nos alimentar do irrefreável prazer. Porque o azul nos salva dos abismos. E eu enlouqueci me refugiando no seu mangue irremediavelmente delirante a me fazer percorrer por seu sangue os sonhos de cão sem dono que tenho tudo na sua triunfante teia de amor impossível. Em nós nunca caberá o aceno do adeus porque estou perdido das lembranças a me enfincar incendiado no fogo eterno de seu ser que é meu e é todo de maravilhas. Aos saltos meu coração implode tudo e rebenta nos seus seios para que eu seja as labaredas acesas ressaltando seus dotes para sempre a me dar todos os versos e a me entregar todos os poemas. E me faz seu amo a recolher toda minha poesia saindo de sua carne e eu como bicho morto de sede e de fome miseravelmente apaixonado. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Num momento como o atual, em que os olhos mal pousam um momento sobre um tema antes de saltar para outro mais escandaloso, mais marcante, os livros têm que recuperar o ritmo lento, a necessidade de transcendência essencial à reflexão e à aprendizagem proporciona um mínimo de significado para a sociedade moderna. Pensamento da escritora espanhola Espido Freire. Veja mais aqui e aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Minha mãe foi uma fonte contínua de sabedoria e ótimos conselhos... ela me ensinou que sempre há uma maneira de contornar um problema - basta encontrá-la. Continue tentando portas; um deles acabará por abrir. Ela também me ensinou a aceitar o fracasso como parte integrante da vida. Não é o oposto do sucesso; é parte integrante do sucesso. Falo muito sobre aprender a ser destemido em sua abordagem da vida. Destemor não é ausência de medo. É o domínio do medo. É sobre levantar mais uma vez do que cair. Pensamento da escritora e jornalista greco-estadunidense Arianna Huffington, que no livro On Becoming Fearless...in Love, Work, and Life (Little, Brown Spark, 2007), expressa que: […] Se você olhar as melhores pesquisas sobre paternidade, verá que se resume a uma coisa e apenas uma coisa. Não o que você ensina a seus filhos ou quanto tempo passa com eles, ou se lê para eles ou não. O que importa é quem você é, porque ensinamos quem somos. Você lê, seu filho vai ler. Se você assistir muita TV, seu filho assistirá. Você presta serviço ao mundo, seu filho prestará serviço ao mundo. Portanto, a melhor maneira de superar todas as preocupações é ser o melhor que puder. E perdoe-se quando não estiver. E não ter expectativas irrealistas em relação aos seus filhos quando você não está de forma alguma mostrando-lhes o comportamento que exige deles. Seja um exemplo para você mesmo do qual seu filho possa se orgulhar [...]. Veja mais aqui.

 

OS FRUTOS DE OURO - [...] Sinto-o muito bem, mas não sei como exprimi-lo... Só tenho à minha disposição palavras pobres, completamente desgastadas por terem sido usadas por todos e por tudo. [...]. Trecho extraído da obra Les Fruits d'Or (Folio, 1973), da escritora e advogada francesa Nathalie Sarraute (1900-1999), que no livro Age of Suspicion (George Braziller Inc, 1990), expressou que: […] A suspeita é uma das reações mórbidas pelas quais um organismo se defende e busca outro equilíbrio. [...]. Dela também a frase: Aqueles que vivem num mundo de seres humanos só podem refazer os seus passos... Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 

[DEIXE AS BICICLETAS E SIGA A OUTRA PESSOA] - deixe as bicicletas e siga a outra pessoa. que age como uma artista faminta, acariciando a barba como um gato confuso, uma curta distância que ela percorre embaçada. gira em água, efervescendo comprimidos de vitaminas. será verdade que todo movimento implica um ponto estável anterior ou começa mais atrás? como a suspeita furtiva de que alguém havia ativado as legendas erradas e não queria voltar ao início. você não pode separá-lo. como ela ri quando está mais forte. hera, como ela brilha através das folhas, como fica invisível. isomorfia, diz a outra pessoa, que forma você consegue manter? se eu te tocar, aqui, e não te disser onde está. os pronomes em seu cotovelo, nade. nenhum deles chega até a parte de trás do seu cabelo, subindo o barranco. Poema da escritora alemã Lea Schneider.

 

SACADOUTRAS

 


OUTROS DITOS E DESDITOS – A única convicção que tenho é a de que não tenho convicção nem certeza alguma (LAM). Veja mais aqui e aqui.

Imagem: escultura do artista plástico, professor, poeta, escultor, gravurista e ceramista pernambucano Abelardo da Hora (1924-2014).

Ouvindo: Qui nem jiló, de Luís Gonzaga e Humberto Teixeira, numa interpretação de anos, apenas ao violão, da cantoramiga Eliane Ferraz.


O HOMEM QUE ENGARRAFAVA NUVENS – Belíssimo documentário de 2009, produzido pela filha do homenageado, Denise Dummont, e dirigido por Lírio ferreira, em homenagem ao advogado, poeta, político e compositor Humberto Cavalcanti Teixeira (1915-1979), grande parceiro de Luís Gonzaga, o Rei do Baião. O filme é tocante e maravilhoso, principalmente pela oportunidade de rever cenas de antanho e da lindíssima Denise homenageando seu pai. Veja mais aqui.


EXCESSO DE INFORMAÇÃO PROVOCA AMNÉSIA – Em uma entrevista concedida a um veículo da imprensa brasileira, o escritor e semiólogo Umberto Eco, esbravejou:  A internet é perigosa para o ignorante porque não filtra nada para ele. Ela só é boa para quem já conhece – e sabe onde está o conhecimento. A longo prazo, o resultado pedagógico será dramático. Veremos multidões de ignorantes usando a internet para as mais variadas bobagens: jogos, bate-papos e busca de notícias irrelevantes.[...] Seria preciso criar uma teoria da filtragem. Uma disciplina prática, baseada na experimentação cotidiana com a internet. Fica aí uma sugestão para as universidades: elaborar uma teoria e uma ferramenta de filtragem que funcionem para o bem do conhecimento. Conhecer é filtrar. Veja mais aqui e aqui.


A PANE DE DÜRRENMATT – Quando li A pane, do escritor e dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990), tomei um susto! Veja como ele começa sua narrativa: Haverá, ainda, histórias possíveis! Temas para escritores? Aquele que não quiser falar em si, generalizar seu eu de modo romântico, lírico, que não quiser sentir a obrigação de relatar, com absoluta veracidade, suas esperanças e fracassos, dissertar sobre a sua maneira de agradas às mulheres, como se a veracidade transportasse tudo isso para o campo geral em vez de para o da medicina ou, quando muito, da psicologia; àquele que não quiser proceder assim, tendo o assunto diante de si como o escultor a seu material, trabalhar e se desenvolver nele e, como uma espécie de clássico, tentar não desesperar-se logo, embora seja quase impossível negar o absurdo que surge sempre; aí, então, o escrever se torna mais difícil, raro e também inútil. [...] E se o autor se recusar, mais e mais obstinadamente a uma produção dessas, por estar ciente de que o motivo de sua história existe nele, em seu consciente e inconsciente, dosado em relação a cada caso, em sua crença e dúvida, e pense também que justamente isso não é da conta do público, sendo suficiente o que escreve, realiza e dá forma; que mostre, de modo agradável, apenas a superfície e somente nela trabalhe; deverá calar-se quanto ao mais, sem comentários e conversa fiada? Se chegar a essa conclusão, irá deter-se, vacilar, sem saber como agir; isso por certo, é inevitável. Surge, então, a desconfiança de que não há mais nada a contar, e a renúncia é, seriamente, considerada. Talvez ainda sejam possíveis algumas sentenças. Alem delas, porem, apenas um giro no campo da biologia, com o intuito de, ao menos em pensamento, aproximar-se da explosão da humanidade, dos bilhões que avançam, da ininterrupta produção dos úteros; ou no da física, da astronomia, visando, a bem da ordem, prestar contas do andaime onde oscilamos. [...] Por este mundo de panes segue o nosso caminho, em cuja beira poeirenta, junto ao reclame de sapatos Bally, Studebaker, sorvete e de cruzes marcando acidentes, ainda existem algumas histórias possíveis, onde através de um rosto comum a humanidade espreita e azar sem propósito se generaliza, tribunal e justiça se tornam visíveis, talvez até clemência, refletida por acaso no monóculo de um ébrio (Friedrich Dürrenmatt, A pane. Rio de Janeiro: Globo, 1964). Veja mais aqui.


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