quinta-feira, novembro 20, 2014

MURIEL BARBERY, GALSTYAN, JOYCE OATES & CÉSAR LEAL

 


RESTA SOBREVIVER... – Rascunhei a primeira frase... Os fogos de artifícios são a guerra do Natal, a chama e as labaredas, quantos se queimaram e eu quase incólume... Logo a segunda e teibei!... O menino chorão só queria um soldadinho de chumbo daquele suposto Papai Noel que nunca deu as caras, só de pensar nas crianças de Gaza, quem o algoz senão o próprio, os destroços e quem comemora, as botas marchando na desolação, nem sobraram as fotos do álbum de recordações totalmente destruído, um tijolo na parede apenas e nenhuma memória por socorro. - Corrigi esta elocução umas três vezes para ficar com essa feitura ainda defeituosa. Na parede, os tijolos empilhados com argamassa, algum engenho a mantê-lo de pé, os meus desabaram ao primeiro olhar. Saco do violão o primeiro acorde, capturo outros e se eu disser assim, não direi assado. Tento disfarçar o nó na garganta, o buraco no peito, as dores da alma. Quem dormiria sossegado se na calçada da praça da matriz alguém estirado cochila com cobertor de nuvens e céu estrelado, enquantoutro ronca com seus lençóis de papelão embaixo da marquise daquela loja chique. Quase desabo ao pé do poste mal iluminado, a vertigem das ideias nas garatujas de poças vítreas encharcando meus sapatos. Descalço reescrevo tudo. De ponta à cabeça, versos soltos na página, rasuras, indignações. E o que é mais importante é muito menos no Beco do Mijo, quem se importa o próprio opróbrio. Entre tantas apenas uma possibilidade: sobreviver como puder. Terá título ou não. Ah, dane-se! Hehehehehe! Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - É fácil cair na armadilha de pensar que você não é bom o suficiente ou que não tem o que é preciso para atingir seus objetivos. Mas a dúvida é uma mentirosa. Somos capazes de grandes coisas. Você pode se defender e aguentar tudo o que a vida joga em você. Você sempre descobrirá as coisas, mesmo que pareça um desafio impossível. Com o passar do tempo, aprendi que sou mais forte do que pensava e posso enfrentar meus desafios com confiança. Pensamento da atriz e diretora de teatro armênia Marine Galstyan, que estreou na televisão com Parnas (Armenia, 2000–2003), depois vieram os filmes Bella (2003), T'amo e t'amerò (2004), Il caso di Amati Malik (2008), Miradas (2013) e Coupe Fatale (2013), bem como no teatro: Uma casa de bonecas (2006), Mateo Falcone (2006), Antigone (2007), Il rischio (2009), Tio Vania (2010) A gaivota (2011) e La strana notte di Vico Renica  d'Igiaba Scego (2011).

 

ALGUÉM FALOU: No amor existem duas coisas – corpos e palavras... Pensamento da escritora estadunidense Joyce Carol Oates (também conhecida por "JCO"), que no livro Faithless: Tales of Transgression (Ecco, 2002) diz que: [...] A solidão é como a fome: você não percebe o quanto está com fome até começar a comer...[...]. Veja mais aqui e aqui.

 

A ELEGÂNCIA DO OURIÇO - [...] Quando o chá se torna um ritual, ele ocupa o seu lugar no centro da nossa capacidade de ver a grandeza nas pequenas coisas. Onde a beleza pode ser encontrada? Nas grandes coisas que, como tudo o mais, estão fadadas à morte, ou nas pequenas coisas que não aspiram a nada, mas sabem engastar uma joia do infinito num só momento? [...] As pessoas miram nas estrelas e acabam como peixinhos dourados em um aquário. Eu me pergunto se não seria mais simples ensinar às crianças desde o início que a vida é absurda. [...] Finalmente concluí, talvez seja disso que se trata a vida: há muito desespero, mas também aquele momento ímpar de beleza, onde o tempo já não é o mesmo. É como se esses acordes musicais criassem uma espécie de interlúdio no tempo, algo suspenso, um outro lugar que chegou até nós, um sempre dentro do nunca. Sim, é isso, um sempre dentro nunca [...] Pessoalmente penso que a gramática é uma forma de alcançar a beleza [...] Se você tem apenas uma amiga, certifique-se de escolhê-la bem. [...]. Trechos extraídos da obra The Elegance of the Hedgehog (Europa, 2008), da escritora e professora francesa Muriel Barbery, que no seu livro Gourmet Rhapsody (Europa, 2000) expressa que: […] A verdadeira provação não é deixar quem você ama, mas aprender a viver sem quem não te ama. [...] As pessoas pensam que as crianças não sabem de nada. É o suficiente para fazer você se perguntar se os adultos já foram crianças. [...] Eu sei que eles estão todos infelizes porque ninguém ama a pessoa certa como deveriam e porque eles não entendem que é realmente com eles mesmos que estão bravos. [...].

 

DOIS POEMAS - ANÁLISE DA SOMBRA - Analisa-se da sombra \ seu caráter permanente: \ pela manhã retraindo \ a imagem, à tarde crescente. \ E aquele instante em que a sombra \ adelgaça o corpo fino \ como se no chão entrasse \ quando o sol se encontra a pino. \ Quem a esse instante mira \ em oposição ao lado \ onde o sol era luz antes \ logo vê o passo vago \ da sombra que agora cresce \ o corpo de onde se filtra \ até fundir-se no limbo \ que em torno dela gravita. \ Forma esse limbo a coroa \ que as sombras traz federadas: \ soma de todas as sombras \ num só nó à noite atadas. CARTA AOS RINOCERONTES - Não sei se estou mais presente na Terra \ do que estariam uma rosa e uma dália.\ Nem um milésimo das coisas que vejo diariamente\ está contido em meus poemas...\ Sei que o leitor poderá dizer isso agora: \ "— Você não é um bom poeta! Castro Alves \ é mais participante, mais exato, \ transporta o mundo — ou pelo menos sua metade \ no Navio Negreiro.\ Mas você — que leio agora —\ não me acende nenhuma luz,\ agarra-se demasiadamente aos anjos,\ a uma forma estéril\ que não fala ao tempo,\ aos pássaros,\ e menos ainda ao meu coração".\ Ouço-te e repito\ que sou apenas pequena parte das coisas\ que estão no mundo\ com certeza não sou a menor parte\ e, por isso, tens que me aceitar\ se és um leitor e não apenas um crítico.\ Se minha poesia te cansa, \ peço-te: come as saladas de Souzândrade; bebe\ lentamente as gotas de orvalho que fluem dos Caligramas\ de Apollinaire...\ Elas satisfarão tua fome e tua sede,\ ou terás uma sede e uma fome tão estranhas\ que suportarias ainda Maiakovski,\ Evtuchenko, Voznessenki, Pound\ e toda a galeria dos participantes\ que ficam à tua direita e à tua esquerda?\ Quanto a mim, pouco te posso oferecer:\ não escrevo para los muchos \ arranco de mi corazón el capitán del inferno,\ establezco cláusulas indefinidamente tristes\ Esgotados os estábulos aonde os teus donos\ guardaram para ti alimentos tão nobres,\ ainda restariam os membros do Clube dos Ultraistas,\ Tzara e todos os que, à semelhança dos empregados domésticos\ sopram trombetas das 6 às 6,\ repetindo eternamente a contínua canção:\ "somos os que andam na vanguarda do Tempo".\ Quanto a mim continuarei sozinho,\ solitário como um estranho rio\ de um território ainda não visitado pelos geógrafos,\ abrindo sem descanso a minha estrada\ certo de que alguém um dia\ — anjo ou demônio —\ caminhará por ela até a porta do meu nome. Poemas do jornalista, poeta e crítico literário César Leal (1924-2013). Veja mais aqui e aqui.

 

HUMOROUTROS & DICAS MAIS

 

ESTUPIDOLOGIA – Einstein costumava afirmar que para ele apenas duas coisas eram infinitas: o universo e a estupidez humana. Isso levou Manfred Max-Neef, premio Nobel, a desenvolver o estudo da estupidologia, ciência que considera que a estupidez humana é o fator básico determinante da megracrise em que vivemos. Tal estupidez caracteriza-se pela racionalidade lógica, exercida principalmente através da linguagem – o que a distingue da idiotice. Para o psicólogo e antropólogo Roberto Crema, a devastação suicida do ecossistema planetário, por exemplo, pode ser justificada ou racionalizada estupidamente através de uma lógica desenvolvimentista. Eis a desveladora imagem correspondente a esta atitude: um homem serrando um  galho da árvore, exatamente onde se encontra sentado (Roberto Crema, Novos desafios, nova liderança: o facilitador holocentrado). Veja mais aquiaqui.

AS FEZES DA CABRITA – O PhD em Psicologia Transpessoal, doutor em Teologia e professor de Filosofia, Jean-Yves Leloup: “[...] O Ser fala a cada um a linguagem que ele compreende. Às pessoas bizarras, ele às vezes fala bizarramente. Eu sempre me lembrarei de Filomena, a cabrita que gostava de subir na minha mesa e que, um dia, recitou no meu prato o rosário de seus excrementos impecáveis. Foi para mim, realmente, uma experiência do “numinoso”. Eu não acreditava em Deus, nem no Diabo, mas a consideração atenta desses excrementos despertou em mim um espanto – não ouso dizer êxtase – que hoje me leva não só a sorrir mas também  a pensar. Um excremento de cabra é “quase perfeito”. A perfeição em um excremento. Se nos detivemos a contemplar isto, não estamos longe do “nirvana no Samsara” de que falam os budas: o infinito no finito, o sem-forma na forma. Foi-me preciso esperar por muito tempo a leitura de Mestre Eckhart e de certos sábios do Mahayana, para re-entender – em uma linguagem sem dúvida mais adequada – a lição de Filomena... o olhar da criança ou do recém-nascido é também uma experiência possível do numinoso. Os olhos das crianças são grandes catedrais, “as antecâmaras do mistério”, a diferença entre Deus e a natureza não é a diferença entre o azul do céu e o azul de um olhar? Há também a beleza pungente de uma criança que dorme... “Só os santos sabem orar como as crianças sabem dormir...” O numinoso aparece naquela qualidade de abandono e de entrega que frequentemente só encontramos no rosto dos mortos, naquele famoso rosto que precede o nascimento, do qual falam os mestres zen – nosso rosto de eternidade”. (Jean-Yves Leloup, Três orientações maiores de uma psicoterapia iniciática).  Veja mais aqui.

HUMOR: “A seriedade é uma séria patologia. Levar-se muito a sério pode ser grave sintoma neurótico; levar o mundo demasiado a sério pode ser enlouquecedor. Pouco riso, muito siso, além de ser um provérbio invertido, é uma triste situação. Rir é um santo remédio. Uma boa gargalhada desfaz muitos nós, revitaliza e oxigena o organismo inteiro. É estético, rejuvenesce e sempre é um presente que é dado a si e aos vizinhos; é anuncio de celebração, é a música da alegria. Leela é um bonito conceito do hinduísmo que significa brincadeira de Deus. O mundo é leela, é um divertimento da Totalidade; é mais parecido com uma dança do que com um quebra-cabeça. Brincar de nascer, de viver, de morrer, é pura arte das crianças e dos iluminados. Conta-se que, numa ocasião em que Sidarta, o Buda, deveria fazer um discurso, ele apenas olhou pra um flor, em silêncio. E, no meio da multidão confusa e inquieta, um discípulo sorriu. Este foi o mais belo discurso de Buda e apenas Mahakasyapa, o discípulo que sorriu, pôde compreendê-lo e levar adianta a mensagem indizível. Buda olha para a flor, o discípulo sorri e o mundo se ilumina. O facilitador holocentrado é, definitivamente, bem-humorado. Bom humor é a arte de sorrir de tudo e, pricipalmente de si próprio. Não é preciso ter motivos para sorrir. O sorriso deveria ser gratuido, uma forma natural de reverenciar a vida e um convite para que o outro também sorria, assim, inventando, do nada, a sua felicidade(Roberto Crema, Novos desafios, nova liderança: o facilitador holocentrado). Veja mais aqui e aqui.


PSICODRAMA DE MORENO: “[...] Especialmente na esfera humana, não se pode entender o presente social, a menos que se tente mudá-lo” (Jacob Levy Moreno, Psicodrama). Veja mais aqui.


GODOFREDO RANGEL – Neste dia 21 de novembro é comemorado o aniversário de 130 do escritor tricordiano Godofredo Rangel. A programação comemorativa está a cargo da Casa da Cultura Godofredo Rangel  com exposições, atrações culturais entre outros eventos (Info: Meimei Corrêa).


ANDITYAS SOARES DE MOURA & FERNANDO FIORESE– Neste dia 22 de novembro, de 11 às 14 horas, no Espaço Comum Luiz Estrela, em Belo Horizonte, acontecerá o lançamento e bate papo sobre o livro de Andityas Soares de Moura Costa Matos, Filosofia Radical e Utopia. Já no dia 29 de novembro, sábado, de 9 às 12 horas, no Museu de Arte Murilo Mendes, palestra com Fernando Fiorese, "Em torno da poesia erótica de Drummond: Quando o amor ousa dizer seus nomes".


O MUSEU CASA DE HISTÓRIA – o Museu Casa de História  reunirá o mais rico do acervo historiográfico, iconográfico, documental, heráldico e cartográfico sobre o município de São Thomé das Letras e suas origens. O escopo desse minucioso trabalho segue o apoio institucional do dentro do Projeto Índias Orientais - Levando Cultura, trazendo Saber", desenvolvido pelo historiador e pesquisador Ricardo Kayapó.


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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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