quinta-feira, outubro 30, 2014

IDA GRAMCKO, ÓMARSDÓTTIR, CORITA KENT, CASTIANO, CRÔNICA & LITERÓTICA

 


A CARTOMANTE & O MAGO – Noite ádvena dos momentos mais impróprios, ela me apareceu do mais improvável. Não sabia nem quem era e me serviu com um sorriso de afeto. Dá licença? À vontade. Sentou-se mais familiar que gentil a me contar do quanto precisava falar comigo. Nunca vira quem mais simpática e me deixei levar. Na segunda dose já nos identificávamos como conhecidos de décadas, às risadas pelas coincidências. Na terceira, já estávamos confidentes: segredando coisas de arrepiar qualquer ouvinte. Na quarta, nos tornamos mãos bobas, alisados e ôpas às desculpas pelo descuido ou adiantamento. Bateu de cara, acertou em cheio. Nada mais côncavo no encontro convexo das afinidades, encaixante. Mais três ou quatro, sei lá, perdi a conta, hora de ir embora. Vamos? Prazer. Nos despedimos, porém saímos juntos e pelo corredor, porta afora, rua a nos levar. Moro aqui. E um convite, a saideira. Fui de cabeça pro desconhecido. Chave à porta, adentramos. Luz acesa pro mistério: convidou-me à mesa ilustrada pelos quatro naipes do Tarô e logo dei de cara com a inscrição hermética “Assim como embaixo é em cima” inscrita ao longo da toalha. Duas taças, vinho branco, seco. Tlin, tlin! E me apontou no centro da parede The Magician: Olha você ali! Eu? Nesta parede reproduções de Chagall. Muitas. Ao lado do quadro central estava Les mariés de la Tour Eiffel, entre outras ilustrações eróticas do pintor e, ornando o ambiente, caramanchões, lírios e rosas. Gostou? Aconchegante. No lado esquerdo da porta, uma pequena estátua do Le Captif de Michelângelo e várias outras miniaturas de estátuas femininas eróticas distribuídas em prateleiras nas demais paredes. Parei a vista numa pequena estante que me aguçou a curiosidade. Levantei-me e fui até lá: clássicos da literatura erótica, desde Safo a poemas de Hilda Hilst, Drummond, Henry Miller, Bataille. Aprecio. Também gosto, a certidão das coisas que mutuamente nos apraziam. Voltei a sentar-me folheando Afrodite de Isabel Allende, nunca tinha lido. Tem mais. Eu sei. Quer conversar? Sim? Não precisa falar, Le Bateleur, sei que você é um labirinto de contradições e, por isso mesmo, quero o encantamento das suas múltiplas facetas. Como assim? Aí ela mostrou-se mais misteriosa: Isto é um encontro com o insólito! Hein? E que fora convidada para ser acolhida por mim com muito prazer para o espetáculo cósmico. Então, levantou-se e sumiu. Ao retornar, trouxe-me uma túnica de variegadas cores vibrantes: É pra você! E fez questão de arrodear a mesa e se aproximar: Dá licença? Aquiesci. E fez-me levantar. E me desnudou para vesti-la. Vi-me um estranho comigo mesmo. E, depois, colocou sobre minha cabeça um chapéu com duas elipses unidas por uma grande corcova e que mais parecia a Lemniscata de Bernoulli, com a curva do sinal vermelho da aba, como um oito deitado de lado com o símbolo chinês Tai Chi no centro – a interação de yin e yang. Afastou-se, conferiu-me e fez um sinal: nos trinques! Disse-me: Gigantescos óculos das lentes que não são cor-de-rosa, essa a sua coroa. Vejo agora a cabeça da Medusa! Quem? Começou a falar dando-me a impressão de que me ligava ao seu antepassado e que eu era Hermes, o deus das revelações. Eu? E veio com um papo sobre o processo alquímico dos poderes mágicos de Mercúrio, pedindo-me para ensiná-la. Queria que eu fizesse ritos místicos para que eu a levasse ao mundo transcendental. Nem me mexia. Pensei: Será que ela é louca? Nem deu tempo pensar direito e já foi me dizendo que eu era um viajante amadurecido e pediu-me demonstrações. De quê? E interrogou-me: quais eram os meus planos para ela. Dei de ombros e ela já foi logo dizendo que estava disposta a ser minha cúmplice e a colaborar com a minha missão. Sabia-me um profissional sério, um artista dedicado: Você é o trunfo número 1! O quê? E ajoelhou-se diante de mim, mãos postas sobre minha virilha sob a túnica: Oh, Mago de Marselha, dá-me a moeda de ouro escondida na outra mão! Suas mãos são o momento fugaz da criação que nunca para! Aí meteu as mãos por baixo da túnica, alcançando meu pênis e o segurou com a mão esquerda, como se fosse a sua varinha mágica. Ao apalpá-lo começou a dizer em voz alta, impostada: La flûte enchantée de Chagall, a realizadora de todos os prodígios! E começou a felar enquanto entre uma abocanhada e outra ronronava: “Benditos são os que saciam a fome e a sede”. E segurando- o como se fosse um microfone entoou: É esta a batuta que me conduzirá! E estou pronta para minha cooperação consciente, porque sou afeiçoada por aquele que me levará ao pódio. Este o dedo indicador da Criação de Michelangelo di Buonarroti Simoni! Ofereço-lhe a abóbada palatina da minha Capela Sistina. Levou tempo e o delírio da sua dedicação não me deixou saber o que fazer. Completamente extasiada e tomada pelo entorpecimento de seu ato, levantou-se e começou a se despir como se orasse: Venha, meu maestro, orquestre em mim as energias! Quero transcender meu ego, venha! Dê-me a água que Moisés tirou da rocha! Quero o líquido milagroso! Diante da minha estupefação, agarrou-me e fez brandir meu cajado a gritar: Rasgue-me os véus! Quero a energia inseminadora do Deus de Rodin, a natureza mais bondosa de Ovídio! Estou tomada pelo sentimento de deveniridade e quero saber o princípio criativo por trás da diversidade e aprender a como manipular a natureza, como domesticar a energia e as cerimônias da fertilidade. Venha, traga-me o Trismegisto e Tot, estou sentindo o ritmo circular do fluir da água benta. E mais me introduzia no seu ser. E com voz diferente começou a apregoar: Quero aprender as relações ocultas e a revelação do fundamental. Leve-me para as profundezas da perfeição com todos os seus opostos e me conduza para a manjedoura do milagre de Camelot. E enquanto mais remexia com meu membro enfiado nela, mais delirava: Sinto-me habilitada ao Grande Círculo da Unidade e A Separação dos Elementos de Goltzius, na dança dos Dervixes Rodopiantes, a coreografia das revelações. E assim mais se escancarava no seu extase a sentir os calores alquímicos, a interação dos Vinte e Dois Trunfos, os múltiplos orgasmos da substância transformadora, a libertar o espírito mercurial aprisionado dentro de si. E estertorou e mais se debateu, até cair arriada agarrada em mim. Ao meu ouvido ouvi-lhe os suspiros de que obrei milagre nela criando maya em seu íntimo com as dez mil coisas e que são uma só. E insistiu sussurrante que eu era o Mestre da Mão. Eu me deliciava com tudo, mas, cá comigo: Ué, o mago sou eu ou é você que é bruxa? Por sinal, fugindo dos estereótipos, bem lindíssima. Mais agarrada em mim e já sonolenta se entregou: A sua tempestade é maior que a shakespeareana e me lavou. Você é o meu Próspero e liberou a Ariel que há em mim. Você revelou a minha sombra! Estou em Tao: "Somos da mesma substância que os sonhos”. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.

 

DITOS & DESDITOS - A arte não vem do pensar, mas da resposta. Considere tudo um experimento... A criatividade pertence ao artista que existe em cada um de nós. Criar significa relacionar-se. A raiz do significado da palavra arte é “encaixar” e todos nós fazemos isso todos os dias... É um enorme perigo fingir que coisas terríveis não acontecem. Mas você precisa de esperança suficiente para continuar. Estou tentando criar esperança. As flores crescem na escuridão... Pensamento da freira, artista e educadora estadunidense Corita Kent (Frances Elizabeth Kent, depois conhecida como Irmã Mary Corita Kent – 1918-1986). A arte era seu ativismo, e através de seu trabalho social e espiritual, promovia amor e tolerância.

 

ALGUÉM FALOU: A floresta está perdendo capacidade de sequestrar carbono porque está doente... Em 2003 e 2004 a floresta já estava bastante alterada, mas ainda não tinha chegado próxima ao ponto de não-retorno. Pesquisas recentes mostram que o ar sobre a porção leste da floresta está mais seco. Isso significa maior vulnerabilidade ao fogo e maior mortalidade de árvores, portanto menor capacidade de produzir serviços ambientais para o clima e menor resistência à mudança climática. A floresta está perdendo capacidade de sequestrar carbono porque está doente. A cada ano, a estação seca está ficando maior: antes a chuva começava no final de setembro. Agora, em meados de novembro ainda não começou a chover em grande parte da Amazônia... Pensamento do agrônomo, biólogo e ambientalista Antônio Nobre.

 

LEITURA: A CRÔNICA NA SALA DE AULA – Na obra O narrador (Brasiliense, 1994), o filósofo alemão Walter Benjamin expressa: [...] O cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido na história. [...]. Já o escritor Carlos Heitor Cony, no seu artigo A crônica como gênero e como antijornalismo (Folha de São Paulo. 16 de outubro de 1998), expressa que: [...] temos a crônica esportiva, a social, a policial, a política, a econômica. Elas se diferenciam do artigo porque são centradas num eixo permanente: o “eu‟ do autor. Daí que o gênero é romântico por definição e necessidade [...]. No estudo da professora Margarida de Souza Neves, Uma escrita do tempo: memória, ordem e progresso (Unicamp/FCRui Barbosa, 1992), ela considera que: [...] A crônica, pela própria etimologia − chronus/crônica −, é um gênero colado ao tempo. Se em sua acepção original, aquela da linhagem dos cronistas coloniais, ela pretende-se registro ou narração dos fatos e suas circunstâncias em sua ordenação cronológica, tal como estes pretensamente ocorreram de fato, na virada do século XIX para o século XX, sem perder seu caráter de narrativa e registro, incorpora uma qualidade moderna: a do lugar reconhecido à subjetividade do narrador. [...]. No estudo da professora Ana Cristina Coutinho Viegas, intitulado Para o início de uma conversa – a crônica na sala de aula (Pensares em Revista, 2013), consta em suas reflexões que: [...] Constitui papel fundamental de a escola ampliar e aprofundar a convivência dos alunos com a variedade e a complexidade dos gêneros textuais, entre os quais se encontram os gêneros literários. [...] A experiência com o texto literário pode ocorrer por meio de uma leitura que dá asas à imaginação e envolve emocionalmente o leitor, uma leitura crítica que possibilita discernir questões éticas, ideológicas, além de uma leitura capaz de perceber a construção do texto. Esses diferentes modos de ler podem e devem ser experimentados desde o Ensino Fundamental, visando à formação de um leitor autônomo. [...] Nesse caso, destacamos outra faceta do emprego das crônicas como material didático. No Ensino Fundamental, a preocupação dos professores se concentra na leitura e em breve caracterização do gênero, visto que as discussões literárias só aparecem mais formalmente no Ensino Médio. Por outro lado, esses jovens leitores já possuem um repertório que lhes permite criar suas próprias crônicas. Para incentivar essa produção, nada melhor do que proporcionar leitores para essas crônicas que não se restrinjam aos professores. [...] o principal argumento para se continuar a ensinar literatura na contemporaneidade é o de que a leitura literária é um direito de todos desde a infância. Ainda que o aluno não tenha interesse pelos textos literários, negar o contato com qualquer tipo de representação artístico-literária é privá-lo de exercer sua humanidade plenamente. E as crônicas, esses pequenos textos aparentemente despretensiosos, podem cumprir papel de grande relevância para esse exercício. [...]. Por fim, o poeta e cronista Carlos Drummond de Andrade esclarece sobre a crônica que: Crônicas escritas há mais de cem anos estão hoje vivas como naquele tempo. Os acontecimentos perderam a atualidade, mas a crônica não perdeu. Ela surge inesperadamente como um instante de pausa para o leitor fatigado com a frieza da objetividade jornalística. De extensão limitada, essa pausa se caracteriza exatamente por ir contra as tendências fundamentais do meio em que aparece. E se a notícia deve ser sempre objetiva e impessoal, a crônica é subjetiva e pessoal. Se a linguagem jornalística deve ser precisa e enxuta, a crônica é impressionista e lírica. Veja mais aqui, aqui e aqui,

 

FILOSOFIA AFRICANA - [...] Podemos falar em liberdade, quando falamos da possibilidade do ser humano poder agir sem coerção ou impedimento, poder determinar-se a si mesmo com base na sua consciência e, acima de tudo, após uma reflexão [...] O processo da intersubjectivação da filosofia (pensamento) africana passa necessariamente pela criação de valores e atitudes que levem ao reconhecimento do outro como um interlocutor válido, como um sujeito com dignidade e conhecimento [...] precisa desenvolver uma atitude filosófica para com as tradições no sentido de ver e aprender com que conceitos e referenciais as tradições em causa constroem a segunda natureza [...] como uma condição que unicamente o ser humano possui, o de agir livremente. Este agir livremente significa sempre «consciência da necessidade», isto é, a liberdade de agir na base do conhecimento que possui sobre as leis que condicionam a sua acção perante a Natureza, para agir consoante a sua vontade [...] sempre «consciência da necessidade», isto é, a liberdade de agir na base do conhecimento que possui sobre as leis que condicionam a sua acção perante a Natureza (por exemplo a lei da queda livre dos corpos); para agir consoante a sua fantasia (tempo livre), agir consoante a sua vontade (decisão sem constrangimentos). [...] Há duas formas ou dimensões principais de reconhecimento do Outro: trata-se do Outro colectivo, portanto como uma categoria social, e o Outro individual, portanto como uma categoria ontológica, enquanto ser humano antes de ser um ser social [...]. Trechos extraídos da obra Referenciais da Filosofia Africana: em busca da intersubjectivação (Ndjira. 2010), do filósofo moçambicano José Castiano.

 

BOSQUES DAS RENAS - [...] As pessoas devem ser confiadas com suas próprias vidas. As pessoas devem ser independentes em todos os aspectos. Ninguém deveria possuir nada. A propriedade deveria ser gratuita como as pessoas. As estradas não devem pertencer a nenhuma pessoa, para impedir que alguém cobre pedágios dos viajantes. Um padre não deveria cobrar caro pelas orações. Um lavrador não deveria cobrar caro pelos frutos da terra. A companhia telefônica não deveria cobrar caro pelas conversas. Totalmente gratuito, como se o tempo do feto dentro da mãe continuasse a ser após o seu nascimento [...]. Trecho extraído da obra Children in Reindeer Woods (Open Letter, 2012), da escritora e dramaturga islandesa Kristín Ómarsdóttir. Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS - POEMA 14 - O amor invalida nosso reflexo \ para transformá-lo em cúmplice submisso. \ Estupor, desafio antigo, \ humilhação em ambientes encantados \ onde os tocados, os tímidos, os perplexos \ sofrem culpa e sentem o cheiro do paraíso \ Esta ainda é \ uma paz perturbada pelas lágrimas. \ Este era eu: um \ aluno molhado, aberto e ansioso. \ Devo ser isso: chorar, enquanto viver. \ Um soluço ereto me levanta, \ me faz caminhar pelos picos, me encaminha \ para a montanha azul. \ E lá está o sorriso \ como uma flor silvestre esperando por mim. \ Verei a flor branca e ela será minha, \ minha!, ​​e terei, chorando, de arrancá-la \ do fundo do meu ser, pequena e quente, \ do alto do cume, pura e branca. \ Meu! E as lágrimas correm pelo meu rosto \ para que eu mereça sua fragrância. PRECE - Não te posso nomear. Não tens nome. És o que se sente. Nunca o que se explica. Oh meu Amado Absoluto, a quem descubro agora sem que nenhuma forma o limite! Perdoa-me a antiga reflexão. \ Não és o que se pensa. És o que se ama. Não és conhecimento, mas apenas estupefação. Não és o perfil, mas o assombro. Não és a pedra, mas o inaudito. Não és a razão, mas o amor.\ Pela mão do Anjo, ascendi ao teu encontro, que nunca é um tesouro concreto, mas continuamente uma descoberta inenarrável. O Anjo, ao meu lado, também sentiu intensamente, mais intensamente do que nunca, mais intensamente do que com algo ou alguém, essa visão de imensidão. Como com ninguém, não porque cada caso é singular, mas porque aquele ato foi mais profundo do que todos os seus, como se recebêssemos de repente um advento de infinito.\ E é inútil pensar em te encarnar. És o que nunca se pode encarnar ou nomear, porque apenas nos fazes juntar as mãos e dobrar os joelhos.\ Deixa-me sentir-te, oh infinitude, oh zona imensa, dimensão sobre-humana, oh meu Deus, sempre com a pele deslumbrada a ponto de o corpo se tornar luz! Deixa-me perplexa, arrebatada, e permite-me vibrar para sempre com a minha palpitante e íntima pulsação.\ Quisera ser aquela que permanece, atônita, diante de ti. A que não conhece o teu nome, a que não conhece a tua forma, uma ignorante estremecida. E que assim seja. Poema da escritora, dramaturga e jornalista venezuelana Ida Gramcko (1924-1993).

 

PSICOTERAPIA & HUMOROUTRAS DICAS

 

A PSICOTERAPIA DE ALAN WATTS - Sou um daqueles que acreditam que não seja uma virtude necessária do filosofo o passar a vida defendendo uma mesma posição. É certamente uma espécie de orgulho espiritual evitar pensar alto e não desejar que uma tese seja impressa até que se esteja em condições de defendê-la até a morte. A filosofia, como a ciência, é uma função social, pois um homem não pode pensar corretamente sozinho e o filósofo deve publicar seu pensamento, ainda que seja somente para aprender, através da crítica, a contribuir com uma parcela para a sabedoria. Se, portanto, algumas vezes faço afirmações autoritárias e dogmáticas, é com o propósito de contribuir para a clareza e não com o desejo de parecer um oráculo. (Alan Watts, Suprema Identidade). A VIDA CONTEMPLATIVA – O livro A vida contemplativa: um estudo sobre a necessidade da religião mística, pelo guia espiritual da juventude moderna, do filósofo e escritor britânico Alan Wilson Watts (1915-1973), aborda temas como a época do espírito, a dádiva da união, a realização da união, a existência e o coração de Deus, a vida de ação, a vida contemplativa. [...] O homem, queira ele ou não – ou melhor, a sua inteligência consciente -, deve, portanto, governar o mundo. Tal coisa constitui uma conclusão surpreendente para um ser que pouco sabe sobre si mesmo e até mesmo admite que ciências da inteligência, como a psicologia e a neurologia, não são mais que um estágio preliminar, superficial. Se nem mesmo sabemos como proceder para sermos conscientes e inteligentes, mais temerário seria admitir que sabemos qual a finalidade da inteligência consciente e muito mais ainda que a mesma tem condições de dirigir o mundo. [...] A natureza e o homem natural são ambos um objeto que é sempre estudado de acordo com uma técnica que os torna exteriores e, portanto, diferentes para um observador subjetivo. [...] Ao mesmo tempo, mesmo sob o ponto de vista intelectual mais frio, torna-se cada vez mais claro que não vivemos em um mundo dividido. As rígidas divisões entre espírito e natureza, mente e corpo, sujeito e objeto e controlador e controlado são vistas, mais e mais, como inadequadas convenções de linguagem. São termos grosseiros e ilusórios de descrição de um mundo em que todos os eventos parecem ser mutuamente interdependentes – um complexo imenso de relações sutilmente equilibradas que, como um nó sem fim, não tem uma ponta que permita desfazê-lo a fim de colocá-lo em suposta ordem. [...] Premissas defeituosas somente podem ser abandonadas por aqueles que vão às raízes de seu próprio pensamento e conseguem descobrir o que realmente são. (Alan Watts, O homem, a mulher e a natureza). O HOMEM, A MULHER E A NATUREZA – O livro O homem, a mulher e a natureza, de Alan Watts, trata de temas como o homem e a natureza, Urbanismo e Paganismo, a ciência e a natureza, a arte do sentimento, o mundo como êxtase, o mundo sem sentido, o homem e a mulher, espiritualidade e sexualidade, amor sagrado e profano, consumação, entre outros temas. [...] os Estados totalitários sabem o perigo do artista. Corretamente – se bem que por motivos errados – eles sabem que toda a arte é propaganda, e que arte que não apoia o sistema deve ser contra ele. Eles sabem intuitivamente que o artista não é um excêntrico inofensivo, mas uma pessoa que sob o disfarce de irrelevância cria e revela uma nova realidade. [...] Da mesma forma não se ouve um som. O som é o ouvir; fora disso, fica sendo simplesmente uma vibração no ar. Os estados do sistema nervoso não precisam, como supomos, ser vigiados por alguma coisa mais, por um homenzinho situado dentro da cabeça e que os registra. Não precisaria esse homenzinho de ter outro sistema nervoso, e outro homenzinho na cabeça [...] A sociedade está convencendo o indivíduo a fazer o que ela quer mediante o recurso de fazê-lo crer que as ordens dela são ordens do ser interior do indivíduo. [...] A ciência e a psicoterapia já fizeram muito também para nos libertar da prisão que nos isolava da natureza, prisão na qual tínhamos de renunciar a Eros, desprezar o organismo físico e depositar todas as nossas esperanças em um mundo sobrenatural – que viria depois. [...] Sempre que o terapeuta se coloca ao lado da sociedade, ele interpreta o seu trabalho como sendo ajustar o indivíduo e encaminhar os seus “impulsos inconscientes” para a respeitabilidade social. Mas essa “psicoterapia oficial” carece de integridade e se transforma em instrumento obediente de exércitos, burocracias, igrejas, empresas e de toda instituição que exija lavagem cerebral dos indivíduos. Por outro lado, o terapeuta interessado em ajudar o indivíduo é forçado à crítica social. Isso não quer dizer que ele tenha de se empenhar diretamente em revolução política; significa que ele tem de ajudar o indivíduo a se libertar de várias formas de condicionamento social, libertá-lo inclusive do ódio contra esse condicionamento – pois odiar é uma forma de se escravizar ao objeto odiado. [...] (Alan Watts, Psicoterapia oriental e ocidental). O BUDISMO ZEN –O livro O budismo zen, de Alan Wats, aborda temas como a filosofia do Tao, as origens de Budismo, Budismo Mahayana, origem e desenvolvimento do Zen, princípios e práticas, vazio e maravilhoso, sentado tranquilamente nada fazendo, Za-Zen e Koan, o Zen das artes, entre outros assuntos. Tal como o verdadeiro humor é rir de si mesmo, a verdadeira humanidade é o conhecimento de si mesmo. As outras criaturas talvez também amem e riam, falem e pensem, mas a peculiaridade especial dos seres humanos parece ser seu raciocínio: pensam sobre o pensamento e sabem que sabem. [...] A consciência de si mesmo conduz à admiração e a admiração à curiosidade e à investigação, de maneira que nada interessa mais às pessoas do que as pessoas, mesmo que seja apenas a própria pessoa de cada um. Todos os indivíduos inteligentes desejam saber o que é que os faz funcionar e, apesar disso, sentem-se fascinados e frustrados pelo fato de que seu próprio ser é o que existe de mais difícil para conhecer. [...] Aqueles a quem somos tentados a chamar de estúpidos ou chatos são, justamente, os que nada encontram de fascinante em serem humanos; sua humanidade é incompleta, já que nunca os surpreendeu. Também há algo de incompleto naqueles que nada encontram de fascinante em ser. O leitor poderá dizer que isto é um preconceito profissional de filósofo – que as pessoas são defeituosas por não terem o sentido do metafísico. Mas qualquer pessoa que pense tem de ser um filósofo – bom ou ruim – pois é impossível pensar sem premissas, sem suposições básicas (e, neste sentido, metafísicas) sobre o que é sensato, o que é a vida adequada, o que é a beleza e o que é o prazer. Ter tais suposições, consciente ou inconscientemente, é filosofar. (Alan Watts, Tabu – o que não deixa saber quem você é?). Veja mais aqui e aqui.

REFERÊNCIA
WATTS, Allan. O homem, a mulher e a natureza. Rio de Janeiro: Record, 1958.
______. A vida contemplativa: um estudo sobre a necessidade da relição mística, pelo guia espiritual da juventude moderna. Rio de Janeiro: Record, 1971.
______. O budismo zen. Lisboa: Presença, 1979.
______. Tabu – O que não o deixa saber quem você é? São Paulo: Três, 1973.
______. Psicoterapia Oriental & Ocidental. Rio de Janeiro: Record, 1961.

TODOS OS BRASIS DO BRASIL!!!!


AFINAL QUEM ELEGEU DILMA PRESIDENTE??? – O professor Livio Lavergetti trouxe para aula de Estatística o trabalho desenvolvido pelo mestrando em Economia da Unicamp, Thomas Victor Conti, se posicionando contra o preconceito deflagrado pelo resultado das eleições presidenciais. O trabalho dele deixa claro uma coisa:



VOTOS PRÓ-DILMA NORTE/NORDESTE

24,8 milhões de votos (inclusive o meu que está nessa tuia).



VOTOS PRÓ-DILMA SUL/SUDESTE

26,7 milhões de votos



Resultado: qual a conclusão que podemos tirar desses dados? Dá pra entender ou quer que eu desenhe? Vamos aprumar a conversa & tataritaritatá!!!!! E cantando Querelas do Brasil, de Maurício Tapajós & Aldir Blanc.



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