segunda-feira, junho 30, 2014

ANNE SEXTON, ROSA MONTERO, REBECCA GOLDSTEIN, CALPERNIA ADDAMS & LITERÓTICA

 


LITERÓTICA: O BEIJO REVELADOR – Brincava de namorar, isso pelos doze ou treze anos de idade: um bigodinho incipiente, pelos emergentes pelas pernas, axilas e púbis. Já me sentia um adulto, um de meus tios ministrava ensinamentos de como tratar as mulheres. Vez ou outra ele me levava em suas errantes noites por lugares suspeitos. Era certo aparecer ao seu encontro duas das muitas moças prendadas esperando, argumentando que era para eu colocar em prática tudo que me ensinara nas conversas durante o dia. Via-lhe agarrar uma delas, beijá-la, revistá-la e, a partir disso, nela fungar no maior xambrego. Obrigava-me a fazer o mesmo com a outra que logo se agachava com as pernas abertas num abraço apertado colando-me ao seu corpo. Deitava a minha cabeça entre os seus seios e relava seu ventre em mim aos delírios e sussurros. Olhava pro meu tio e o imitava dando umbigadas nela, ela mais gemia a pedir mais. Daí a pouco ele vinha se ajeitando, dos bolsos sacava umas cédulas e as entregava pras duas, levando-me de volta pra casa com novas recomendações. Era assim. Tinha também uma namorada há uns dois ou três anos, coisas de meninice. Ela era mais nova que eu uns dois anos, mas mais atirada. Levava a sério: queria casar. Entretanto, diante dela era tomado por uma timidez estúpida de não saber o que fazer na horagá! Bastava os pais dela sairem para o trabalho, a empregada pau-mandado já me cochichava que ela estava nua me esperando na cama, insinuando que pra lá fosse. E lá ia: deitada de bruços, nua em pelo, eu me ajeitava do lado e começava a alisá-la. Ela se virava, olhos nos olhos, enroscava suas pernas às minhas e fechava os olhos. Esfregava-se em mim e eu usufruia da sua inquietude de futura esposa. Daí a pouco levantava-se furiosa dizendo que ia tomar banho. A corta-jaca ligada em tudo piscava o olho como se dissesse que fosse atrás dela. Eu ia e à porta presenciava o seu banho, pacientemente. Ao terminá-lo ela saía enrolada numa toalha e passava por mim ronronando algo que não compreendia. Ela trancava-se no quarto. A alcoviteira com ar reprovador me dava a impressão de que era hora de ir embora. Depois fiquei sabendo que a namorada brincava com outros dois ou três, sei lá, era o que diziam os fuxiqueiros que queriam botar caroço no meu angu. Eu só queria casar com ela, não me importava. Até o dia que as risadagens falaram mais alto e resolvi por fim ao namoro sonhado. Passei um tempo desorientado, zanzando solitário e amargando minhas dores. Numa dessas caminhadas topei uma amiga que mal lembrara-lhe o nome, morava ali desde antes e nunca notara: era na última casa do arruado. Era mais velha que eu poucos anos. Chamou-me com firmeza e me levou pro escurinho do terreno baldio por trás da sua casa. Beijou-me repentinamente os lábios, esfregando-se impetuosamente. Tomou uma das minhas mãos para desabotoar sua blusa que logo expôs o espetáculo dos seus seios nus, obrigando-me a acariciá-los: eram deliciosos. A minha outra mão foi levada bruscamente para baixo de sua saia, ao que senti tocando a sua úmida vagina, afogueada, saborosamente. Ela delirava com meus toques involuntários e logo tomou meu pênis por baixo do calção e o amolegava com voracidade, revirando os olhos, arrepiando-se, delírios libidinosos. Ajeitando-o endurecido aos esfregões por todo seu ventre, enfiou-lo, enfim, em sua vulva gulosa, gemendo estertorava. Mais beijava-me remexendo-se toda no meu pênis, até provocar-me uma sensação nunca antes sentida pelo vaivem que ela impunha aos nossos ventres, seu agarrado agitado e uma revolução enlouquecida sem precedentes acontecia dentro de mim e ali, nela, provei daquilo que me tornaria dali por diante um homem de verdade. Foi a primeira vez e com ela aprendi a ser e a lição de que havia mulheres. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Se não compreendermos as nossas ferramentas, existe o perigo de nos tornarmos a ferramenta das nossas ferramentas. Consideramo-nos clientes do Google, mas na verdade somos seus produtos. Se existe progresso filosófico, então porque é que – ao contrário do progresso científico – é tão invisível? O progresso filosófico é invisível porque está incorporado aos nossos pontos de vista. O que foi tortuosamente garantido por argumentos complexos vem da intuição amplamente compartilhada, tão óbvia que esquecemos sua origem. Pensamento da filósofa e escritora estadunidense Rebecca Goldstein. Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Eu escrevo essas palavras em aço, pois qualquer outra coisa que não seja fixada em metal não é confiável... Conseguiríamos sobreviver sem cambistas e corretores da bolsa. Deveríamos achar mais difícil viver sem mineiros, siderúrgicos e aqueles que cultivam a terra... Pensamento da atriz, escritora e ativista estadunidense Calpernia Addams. Veja mais aqui.

 

NUNCA MAIS VER VOCÊ - [...] A verdadeira dor é indescritível. Se você consegue falar sobre o que está te incomodando, você tem sorte: isso significa que não é tão importante. Porque quando a dor te atinge sem paliativos, a primeira coisa que te arranca é a Palavra [...] Quanto mais perto você chega do essencial, menos você consegue nomeá-lo. [...] Todos nós precisamos de beleza para tornar a vida suportável. Fernando Pessoa expressou-o muito bem: “A literatura, tal como a arte em geral, é a demonstração de que a vida não basta”. Não é suficiente, não. É por isso que estou escrevendo este livro. É por isso que você está lendo. [...] Amor é encontrar alguém com quem compartilhar suas estranhezas. [...] Somente sendo absolutamente livre você pode dançar bem, fazer amor bem e escrever bem. Todas elas atividades muito importantes. [...] A felicidade é minimalista. É simples e nua. É quase nada que é tudo. [...] Porque a característica essencial do que chamamos de loucura é a solidão, mas uma solidão monumental. Uma solidão tão grande que não cabe na palavra solidão e que nem imaginamos se não estivemos lá. É sentir que você se desconectou do mundo, que não vão conseguir te entender, que você não tem #Palavras para se expressar. É como falar uma língua que ninguém mais conhece. É ser um astronauta flutuando à deriva na vastidão negra e vazia do espaço sideral. É desse tamanho de solidão que estou falando. E acontece que na dor verdadeira, na dor de avalanche, acontece algo semelhante. Mesmo que o sentimento de desconexão não seja tão extremo, você também não consegue compartilhar ou explicar o seu sofrimento. A sabedoria popular já diz: Fulano enlouqueceu de dor. O luto agudo é uma alienação. Você cala a boca e se tranca. [...]. Trechos extraídos da obra La ridícula idea de no volver a verte (Seix Barral, 2013), da jornalista e escritora espanhola Rosa Montero. Veja mais aqui e aqui.

 

DOIS POEMAS - DEPOIS DE AUSCHWITZ - A raiva,\ negra como um anzol, \ toma conta de mim.\ Todos os dias,\ cada nazista\ pegava, às 8h, um bebê\ e o refogava no café da manhã\em sua frigideira.\ E a morte observa com um olhar casual\ e cutuca a sujeira sob a unha.\ O homem é mau,\ digo em voz alta.\ O homem é uma flor\ que deve ser queimada,\ digo em voz alta.\ O homem\ é um pássaro cheio de lama,\ digo em voz alta.\ E a morte olha com ar casual\ e coça o ânus.\ O homem com seus dedinhos rosados, \ com seus dedos milagrosos\ não é um templo\ mas um banheiro externo,\ digo em voz alta.\ Que o homem nunca mais levante a sua xícara de chá.\ Que o homem nunca mais escreva um livro.\ Que o homem nunca mais calce o sapato. \ Que o homem nunca mais levante os olhos,\ numa noite suave de julho.\ Nunca. Nunca. Nunca. Nunca. Nunca.\ Eu digo essas coisas em voz alta. UMA MALDIÇÃO CONTRA AS ELEGIAS - Oh, amor, por que discutimos assim?\ Estou cansado de toda a sua conversa piedosa.\ Além disso, estou cansado de todos os mortos.\ Eles se recusam a ouvir,\ então deixe-os em paz.\ Tire o pé do cemitério,\ eles estão ocupados morrendo.\ A culpa era sempre de todos:\ o último copo vazio de bebida,\ os pregos enferrujados e as penas de galinha\ que ficavam presas na lama da porta dos fundos,\ os vermes que viviam debaixo da orelha do gato\ e o pregador de lábios finos\ que se recusava a telefonar,\ exceto uma vez. um dia cheio de pulgas\ quando ele entrou pelo quintal\ em busca de um bode expiatório.\ Escondi-me na cozinha, debaixo do saco de trapos.\ Recuso-me a lembrar dos mortos.\ E os mortos estão entediados com tudo isso.\ Mas você - vá em frente,\ vá em frente, volte\ para o cemitério,\ deite-se onde você acha que seus rostos estão;\ responda aos seus velhos sonhos ruins. Poemas da escritora estadunidense Anne Sexton (Anne Gray Harvey – 1928-1974). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

 Imagem:  de Maria Luisa Persson.

Ouvindo: Far Beyond The Sun, do guitarrista sueco Yngwie Malmsteen (nome artístico de Lars Johan Yngve Lannerbäck)


FLORIANO MARTINS – O poeta, ensaísta, tradutor e editor Floriano Martins é autor dos livros Estudos da Pele (2004), Extravio de Noites (2001), Escritura conquistada (1998), Escrituras surrealistas (1998) e Alma em Chamas (1998), Cinzas do Sol (1991), Sábias Areais (1991) e Tumultúmulus (1994), entre outros traduções e antologias. Foi editor do jornal Resto do Mundo (1988/89), revista Xilo (1999) e desde 2001 edita a Banda Hispânica do Jornal de Poesia. Ele tem se dedicado ao estudo da literatura hispano-americana, sobretudo no que diz respeito à poesia. Destacamos Epílogo da sua novela lírica As joias do abismo: “Selma abria um sorriso luminoso na foto. Desses que juramos guardar por toda a vida. Selma era a mulher perfeita para durar a vida inteira. O infinito conhecia seus caprichos. Já não recordo onde encontrei a foto, porém sei que o sorriso ali permanecia. As fotos habitam sítios por vezes incompreensíveis, metem-se em lugarejos da casa que jamais habitamos. Selma era quem melhor conhecia a casa. Ríamos das vezes em que eu não a encontrava em nossos jogos. Fincava a roupa no sorriso. Bordava um labirinto no olhar. Soletrava o espinhaço do abismo em meu rosto. Selma era um delírio incomum. A casa não ia a parte alguma sem ela”. Confira a entrevista dele aqui.


EMILY BRONTË – A escritora inglesa Emily Brontë (1818 – 1848), é autora da vigorosa obra e clássico da literatura mundial O morro dos ventos uivantes que focaliza a vida considerando a morte nem fim nem começo, mas uma metamorfose e uma libertação da essência humana. O título do livro refere-se a denominação de uma fazenda na qual ocorre uma paixão avassaladora entre a bela, ousada e aventureira Catherine e o cigano Heathcliff que são amigos desde a infância e que, por fatalidade do destino, são separados cruelmente tornando-se um amor proibido. Ela se casa com Edgar Linton e ocorrerá todo um processo de vingança. O livro é narrado pela empregada da casa, Nelly, muito tempo depois do ocorrido. Por essa obra ela tornou-se uma das maiores escritoras de língua inglesa. Para se ter ideia do livro, pinço aqui alguns pequenos momentos da narrativa “Só duas palavras poderiam descrever o meu futuro: morte e inferno. A minha vida depois de perdê-la seria um inferno [...] Como posso viver sem minha vida? Como posso viver sem minha alma?”[...] É ele a minha grande razão de viver. Se tudo perecesse, mas ele ficasse, eu continuaria a existir. E, se tudo permanecesse e ele fosse aniquilado, o mundo inteiro se tornaria para mim uma coisa totalmente estranha. Eu não seria mais parte desse mundo. [...] Se o amor dela morresse, eu arrancaria seu coração do peito e beberia seu sangue".

Agora ouvindo Koncert fortepianowy Nr 2 f-moll Op. 21, de Fryderyk Chopin, com o pianista polaco Rafał Blechacz e a Royal Concertgebouw Orchestra, regida por Jerzy Semkow.


JOHN GAY – A Ópera do Mendigo (The Beggar’s Opera), é uma ópera-balada do poeta e dramaturgo inglês John Gay (1685 – 1732), situada no início do séc. XVIII, em Londres e conta a história de um homem corrupto que ganha a vida tirando uma porcentagem do que é roubado pelos ladrões da cidade de Londres. Essa exigência compreendia a proteção dos que fossem presos, quando na verdade manipulava o sistema jurídico para que fossem executados. O casamento de um jogador profissional e ladrão, o capitão Macheath com a bela Polly, traz a preocupação da família de ver destronada toda sua fortuna. É a partir disso que o enredo leva a uma crítica social e política da época denunciando crimes de violações, roubos, arrombamentos e criminosos condenados à deportação ou à forca, além de criticar a ópera da época. Foi este autor que desenvolveu uma ópera cômica intercalada por diálogos e músicas populares do folclore inglês. A ele é atribuída a célebre frase: “Aquela que nunca amou, nunca viveu”.

 Imagem: O pintor e o modelo, 57x76 cm, de Maria Luisa Persson.

MARIA LUISA PERSSON – A artista plástica e professora de artes alagoana radicada na Suécia, Maria Luisa Persson tem desenvolvido um trabalho pictórico digno de nota por sua forma de romper com tradições e modelo predeterminados. Por causa disso, tem realizado exposições na Dinamarca, Alemanha, Estados Unidos, entre outros países. Confira mais de sua extraordinária obra no Baú de Ilusões, no Cyberartes e no Rio ArteCultura.


JULIA CRYSTAL – A belíssima e talentosa cantora Julia Crystal lançou em 2009 o cd To My Little Star, produzido por Lauro C. Q. e arranjado pelo talentoso Alex Vooorhees, apresentando sua riqueza sonora que envolvem suas raízes musicais na mais promissora das misturas rítmicas que vão desde o pop, a new age, o erudito e a música oriental. Agora ela está preparando o seu novo álbum, o A Journey to Shamballa, tendo lançado recentemente deste, duas músicas: The Daughter of the Poet (parceria dela com Alex Voorhees & Leandro Stenland) e Sinos Além dos Campos (uma parceria entreKevin Shortall & Meimei Corrêa), confirmando o maravilhoso talento da cantora que, com certeza, brilhará nas ondas sonoras do planeta. Assevero categoricamente: Julia Crystal é uma artista meritória de aplausos de pé. Vou tentar fazer uma entrevista com ela para que vocês tenham uma ideia dessa que indubitavelmente se consolidará como uma das grandes cantoras da atualidade. E fico aqui ansioso no aguardo do lançamento de seu novo álbum, convidando vocês para conferirem a sua maravilhosa arte no YouTube. Imperdível.

Ouvindo Sinos além dos campos, com Julia Crystal & Mônica Brandão.

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domingo, junho 29, 2014

ÅSNE SEIERSTAD, MUSIDORA, GAUTIER, GIOCONDA BELLI & HELEN GURLEY BROWN

 


AH, MUSIDORA, QUEM É VOCÊ? – Era ela na vera Irma Vap: uma cantora de cabaré, verdadeira femme fatale das Les Vampires de Feuillade. Lá estava sensualmente vestida numa malha preta provocante, colada ao seu corpo escultural, coxas, seios, ventre, ancas – era um erotismo subversivo, verdeiro presente dos deuses. Vi-lhe tigresa, corpo modelado na meia calça escura enquanto tateava pelos telhados, olhos acesos, armando o bote. Aproximou-se furtiva, olfato aguçado. E a sua exótica lindeza era a reencarnação das pinturas de West e Sully, da musa do Summer de Thomson, a The Knight Errant de Millais. De perto logo desvendei: era a heroina do Fortunio de Gautier, a linda do cartaz de Guy Arnoux, que brilhara no elenco de A lououitte de Bruant, no palco do Ba-Ta-Clan, durante os anos sombrios da Grande Guerra. Pude conviver com a sua vida extravagante na companhia das amigas Colette e Germaine Dulac, transformou-lhe na musa surrealista, que já fora Vincenta, a La Vagabonde, outra num episódio d’A revue galante de Folies-Bergère, ou a capitã Alegria, ou uma beldade que estrelou em Le berceau de dieu. Era Diana Monti de Judex, ou a Alegria Kapitaina, a vanguardista que cantava e dançava pela emancipação feminina nos music halls franceses. Logo me embeveci com a sua invulgar formosura, como se me visse enlevado pelos versos de Baker: Ela é bela como Vênus e suave como Aurora, \ discreta como Minerva e jovem como Flora...A intimidade me fizera dela correlato na sobrevoante errância. Ah, Jeanne, li a sua novela adolescente, enquanto flagrava a sua formosura no banho da bela do The Bather de Etty. Saiu enrolada numa toalha diminuta e seus olhos ansiosos reluziam sentada na torre da noite, a me ofertar as flores esplendorosas de sua alma labiríntica na dor inominável de seu desespero poético. Dela soltavam-se as páginas dos escritos de Arabella et Arlequin, as canções e poemas de Auréoles, Paroxysmes , a Mademoiselle Chiffon e os roteiros inéditos. Era a lendária rainha do cinema, a décima musa que se dedicara ao Soleil et Ombre e ao inconcluso Le terre dês Taureaux. O seu doce sorriso me premiou com seus lábios esculpidos num beijo de amor. A ousadia suspirante do seu grande coração envolvia-me como um caramanchão a me refugiar em seu ventre, cortejando minhas entranhas com suas mãos delgadas que escapavam ao alcance do meu sexo premido por seus dotes de rara beleza. Senti o ouro incontável do seu sexo perfumado como uma rosa resplandecente que se despetalava afetuosa a me fazer zéfiro galante na paisagem rara de sua longínqua graça majestosa, a me convidar a amá-la abrindo-se em pétalas para envolvê-la terna aos sussurros inquietos de seus múltiplos gozos, deslizando-se aos orgasmos sobre o meu corpo entregue. Quantas noites, dias e ousado trânsito de horas, até que ela se tornava uma das estrelas imortais no firmamento do meu coração erradio. Veja mais abaixo e aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - A beleza não pode divertir você, mas o trabalho intelectual – ler, escrever, pensar – pode. Garotas boas vão para o céu e garotas más vão para todo lugar. Sentir-se inseguro é bom para você. Isso força você a fazer algo melhor, leva você a usar todos os seus talentos. Se você não é um símbolo sexual, você está em apuros... Pensamento da jornalista e escritora estadunidense Helen Gurley Brown (1922-2012).

 

ALGUÉM FALOU: É vital ser fotogênico da cabeça aos pés. Depois disso, você poderá exibir algum talento... Escolhi o nome da heroína Musidora, recolhida do Fortunio de Gautier e comecei a viver um sonho. Fui movida pela fé: a cena, o subir da cortina, a rampa, a maquiagem e os cenários, toda aquela região do 'inventado'. Queria estar ao seu serviço. E aprendi meu trabalho como artesão... Queria que meu rosto fosse coberto como meu corpo, para que a impressão de ser enterrado fosse genuína. Respirei fundo novamente e procurei a imobilidade total. E dei o sinal: 'Ação…. ' A primeira colherada de terra caiu sobre meu queixo e bochechas... A segunda cobriu meus olhos. A terceira deixou livre apenas a ponta do meu nariz. O último, pesado, escondeu meu rosto completamente. Estava na hora! Tudo isso durou apenas vinte e cinco segundos, mas sufoquei; minha boca comia terra triturada, meus ouvidos estavam entupidos de terra úmida, mantive os cílios fechados, temendo encher os olhos com grãos de areia arranhantes. E foi com a palavra ‘Caramba!…’ que recuperei os meus amigos, o ar, o sol, o calor e a vida... Pensamento da atriz, cineasta e poeta francesa Musidora (Jeanne Roques – 1889-1957).

 

MADEMOISELLE DE MAUPIN - [...] Ser lindo, bonito, significa que você possui um poder que faz com que todos sorriam e o recebam bem; que todos estejam impressionados a seu favor e inclinados a ter sua opinião; que basta passar por uma rua ou aparecer numa varanda para fazer amigos e conquistar amantes entre aqueles que olham para você. Que presente esplêndido, que magnífico é aquele que lhe poupa a necessidade de ser amável para ser amado, que o livra da necessidade de ser inteligente e pronto para servir, o que você deve ser se for feio, e lhe permite dispensar com as inúmeras qualidades morais que você deve possuir para compensar a falta de beleza pessoal. [...] Que mulher bem-educada recusaria seu coração a um homem que acabara de salvar sua vida? Nenhum; e a gratidão é um atalho que leva rapidamente ao amor. [...] Os anos que desperdicei em excitação pueril, indo para lá e para cá, tentando forçar a natureza e o tempo, eu deveria ter passado em solidão e meditação, tentando me tornar digno de ser amado. [...] Independentemente do que tenha sido dito sobre a saciedade do prazer e o desgosto que geralmente segue a paixão, qualquer homem que tenha um pouco de coração e que não seja miseravelmente e desesperadamente blasé sente seu amor aumentado por sua felicidade, e muitas vezes a melhor maneira de manter um amante pronto para partir é entregar-se a ele sem reservas. [...] Muitas vezes fui acusado de falsidade e hipocrisia, mas não existe homem que teria mais prazer do que eu falar a verdade e expor seu coração; mas como não tenho uma idéia, um sentimento em comum com as pessoas que me cercam, como a primeira palavra que eu dissesse com sinceridade causaria um alvoroço geral, preferi ficar em silêncio ou, se falar, proferir apenas lugares-comuns estúpidos nos quais todos concordaram em acreditar. [...] Cada homem é em si toda a humanidade, e se escreve o que lhe ocorre, consegue melhor do que se copia, com a ajuda de uma lupa, objetos colocados fora dele. [...]. Trechos extraídos da obra Mademoiselle de Maupin (Debolsillo, 2008), do escritor, jornalista e critico literário francês Théophile Gautier (1811-1872). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

O LIVREIRO DE CABUL – [...] Enquanto o valor de uma noiva está em seu hímen, o de uma esposa está no número de filhos que ela produz. [...] As três burcas continuam andando, virando a cabeça em todas as direções para olhar ao redor. Mulheres de burca são como cavalos com antolhos: só conseguem olhar em uma direção. No canto do olho, a grade dá lugar a um tecido grosso que impede olhar de lado. Você tem que virar a cabeça inteira. Outro truque do inventor da burca: permite ao homem saber sempre em quem ou no que sua esposa presta atenção [...] A única coisa que sabemos fazer é invocar, rezar e guerrear; mas as orações não servem de nada se as pessoas não trabalharem. [...] O amor não é um idílio normal, mas sim o contrário: pode ser um crime grave punível com a morte. Os indisciplinados são assassinados a sangue frio, e quando apenas um dos dois amantes é punido, é sempre a mulher. [...]. Trechos extraídos da obra O livreiro de Cabul (Record, 2006), da escritora e jornalista norueguesa Åsne Seierstad.

 

UM POEMAMAIO - Os beijos não murcham \ como as flores da malinche, \ cascas duras de sementes não crescem sobre meus braços; \ Estou sempre florescendo \ com essa chuva interna, \ como os pátios verdes de maio \ e rio porque adoro o vento e as nuvens \ e os pássaros cantando que passam por cima, \ mesmo estando emaranhado de lembranças, \ coberto de hera como velhos muros, \ continuo acreditando nos sussurros secretos, \ na força dos cavalos selvagens, \ na mensagem alada das gaivotas. Poema da escritora nicaraguense Gioconda Belli. Veja mais aqui.

 

OUTRAS SACADAS AVULSAS

 

 Imagem: Hesitation, de do pintor e poeta suíço naturalizado alemão Paul Klee (1879 - 1940)

Ouvindo a Symphony nº 1, in B-minor, op. 5, de 1916, de Aarre Merikanto.

AARRE MERIKANTO – O compositor finlandês Aarre Merikanto (1893-1958) era filho do também compositor Oskar Merikanto. Compôs, entre outras obras, diversos concertos para piano, destacando o Concerto para violino nº 2 (1925), Notturno (1929) e Fantasia (1923).


Imagem: Figura Feminina, óleo sobre tela, do pintor, cenógrafo e ilustrador brasileiro Clóvis Graciano (1907 – 1988).

Ouvindo Hold Me, do músico escocês Colin Hay.

SAINT-EXUPERY – Hoje vasculhando o monturo dos meus livros, caiu na minha mão um dos volumes do escritor, ilustrador e piloto francês Antoine de Saint-Exupéry (1900 – 1944), que escreveu, entre outros livros, Voo noturno (1931), Terra dos homens (1939) e o festejado Pequeno Príncipe (1943) – não li os outros livros dele. Este último com uma aparência de livro infantil que encanta ainda hoje pessoas de todas as idades. Entre tantas do livro, essa pequena parte merece destaque: “O pequeno príncipe atravessou o deserto e encontrou apenas uma flor. Uma flor de três pétalas, uma florzinha insignificante... - Bom dia - disse o príncipe. - Bom dia - disse a flor. - Onde estão os homens? - Perguntou ele educadamente. [...] - Os homens? Eu creio que existem seis ou sete. Vi-os faz muito tempo. Mas não se pode nunca saber onde se encontram. O vento os leva. Eles não têm raízes. Eles não gostam das raízes. [...] O pequeno príncipe escalou uma grande montanha. As únicas montanhas que conhecera eram os três vulcões que batiam no joelho. O vulcão extinto servia-lhe de tamborete. "De uma montanha tão alta como esta", pensava ele, "verei todo o planeta e todos os homens..." Mas só viu pedras pontudas, como agulhas. [...] Mas aconteceu que o pequeno príncipe, tendo andado muito tempo pelas areias, pelas rochas e pela neve, descobriu, enfim, uma estrada. E as estradas vão todas em direção aos homens. [...] E ele se sentiu profundamente infeliz. Sua flor lhe havia dito que ele era a única de sua espécie em todo o Universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim! [...] - Procuro os homens - disse o pequeno príncipe. [...] - Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. [...] - Nada é perfeito - suspirou a raposa”. Veja mais aqui.


CRIS BRAUN – Durante a semana que passou tive a gratíssima satisfação de ouvir de uma leva só três álbuns: Cuidado com pessoas como eu (1994), Atemporal (2004) e Fábula (2012). A artista? Cris Braun. Com a primeira audição fiquei embevecido. Com a segunda – como a gente diz aqui na maior sem cerimônia -, bestificado. Nossa! Incrivelmente maravilhoso. Fui logo saber quem era tal, coisa que logo tomei ciência por meio do – nada mais, nada menos – jornalista e crítico musical Arthur Dapieve, tratar-se duma gaucha/alagoana que tem uma trajetória artística digna de nota. Entre saber de quem se tratava e a degustação das músicas, destaco Bom dia (uma parceria dela com o Billy Brandão e com participação especial da Paula Toller), A Viga (parceria dela com o Fernando Fiuza), Contradição (dela com Marcos Cunha e William Magalhães), Ossos (essa do Wado) e Memória da Flor (da dupla Junior Almeida e Zé Paulo). Confesso maravilhado que vocês terão a mesma satisfação de constatar: uma artista!


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