segunda-feira, dezembro 17, 2012

VICTORIA CAMPS, SANTIAGO KOVADLOFF, MOACYR SCLIAR, BAUDELAIRE, GOTTHELF & O NATAL DE POPÓ


O NATAL DE POPÓ




Popó é o papagaio do Doro. Um psicitaciforme piouníneo, mais apropriadamente um Amazona aestiva, com colorido predominantemente verde, encontros das asas vermelhas e a fronte tingida de azul, numa plumagem atraente, brilhante e colorida.

Popó? 

Eita, tagarela! Fala pelos cotovelos. Só vive mexendo com tudo e com todos. Mora ali já desde anos, tendo, segundo dizem, percorrido toda árvore genealógica dos Doros.

É um bicho peralta, gosta de dar bicada na cabeça dos desavisados que se insinuam por seu território.

Gente, com aquele bico, adunco, curto e bojudo ele proporciona uma dor indesejável em quem quer que seja.

Quando não é isso, todo folgadão, num deixa de participar do converseiro familiar. Maior tititi.

Para se ter uma idéia, Popó acorda o povo solfejando o hino nacional: pãrã pãrã pãrã pãrã pãrã pãrãaaaaã pãrã… É, na vera. Maior barulhada! E em tempo de copa do mundo, danou-se, aí é que ele se mostra brasileiro da gema, a ponto de se vestir a rigor, com camisa, tênis, calção, boné, todo paramentado de verde-amarelo, e de sair narrando o jogo o dia inteiro, feito locutor endiabrado, principalmente os lances de gol.

E os pitacos na hora do jogo? Nossa, parece mais peru que fica dizendo faz assim, faz assado, vai porra, num deixa a peteca cair, desgraçado, vai, vai, vai!… até quando o gol sai e ele ginga solto dando bundacanasca no ar. Brasil!!!!!!

- Eita, esse tomou da água de chocalho! -, reclamam costumeiramente.

Ninguém vê nada, ninguém ouve nada, só dá ele na cabeça! Maior amostramento. E bote adiantado nisso.

- Qualquer dia desses, eu faço esse papagaio ficar mudo! -, ameaça Doro.

Outra: não pode ver chuva, ocasião que não dá o menor pio possível e quando alguém constata o seu silêncio, chega lá onde o mudo está e encontra o danado a postos, com máscara, pés-de-pato e respirador, pronto para manobras de sobrevivência. Pode?

- Esse é o papagaio mais cheio de munganga, mais cheio de pantim que já vi na vida -, diz Doro mangando da ave.

Ôxe, isso não é nada, ele gosta de soltar assobio para as mocinhas e mulheres que passam, dele ficar berrando:

- Eita cacarejado bom! Sou bom nisso! Sou bom nisso!

Isso sem contar uma paixão platônica por uma cracatua branca da vizinhança e das paqueras insolentes por uma arara doutro quarteirão, que, invariavelmente, levam-no a expressar sua dor-de-cotovelo por canções de roedeira braba. Tome lubrificação de gaia, larari, larará.

- Esse Popó é corno, tenho certeza! Vai gostar de brega assim na casa de caixa-pregos, vai! -, mais uma reclamação vinda de alguém.

Quando Doro mesmo chega em casa, ele logo diz:

- Eita, macacada, chegou o corno-mor!

Ôxe, Doro fita o folgado pelo canto do olho, prometendo providências para muito em breve. Ah, ele nem aí.

E quando todos se sentam para o café da manhã, ou almoço ou jantar, ele começa o enredo, descobrindo podres de um ou de outro dos ocupantes da mesa.

- Esse papagaio deve ser da turma da Candinha, vai gostar de fofoca assim na casa da puta da tua mãe, enredeiro!

Nem, nem. Vôte!

Mas de quem ele mais tem verdadeira ojeriza é do vizinho: o Jardenildo. Quando o cabra aparece, ele solta maior caboetagem das atitudes salafrárias do desafeto. Tudo isso, porque certo dia, Jardenildo entrou na casa e insinuou que o Popó era viado, porque tinha pra mais de 50 anos e jamais vira dizer que ele havia acasalado qualquer arara, cracatua, periquita ou tuin.

- Esse papagaio deve acasalar uma brachola! -, insinua Jardenildo.

- Rapaz, mas num é qui é mermo, parece que esse papagaio quebra na munheca! -, assevera na zombaria o Doro.

- Nunca que ouvi dizer que um papagaio pudesse ser tão fresco. Ai, veja o jeitão dele! É ou num é pirobo?

- Rapaz, mas num é qui é mermo que ele tem todas as ferramentas!?

O quêeeeeee? Popó virou na porra! Ôxe, ingicou-se de ficar imóvel por horas e horas. E o pior: lá prás tantas, o Jardenildo cheio dos quequéos, achou de, ninquém sabe por que razão, pegar o bicho desprevenido e tascar uma dedada no furico dele. Menino, foi aí que ele se indignou e prometeu revide na maior desforra. Hum, ficou invocado de formas a não querer jamais dirigir a palavra pro apaideguado. E lá se vai tempo, remoendo, remoendo.

Dia desse finalmente chegara o natal, Popó lá, solto: “Jingle bell, jingle bel, acabou papel, não faz mal, não faz mal, limpe com meu pau!”.

O bicho era desbocado mesmo. Parodiava as músicas natalinas com insinuações sacanas de fudelança e cornagem na redondeza. Não escapava ninguém. Depois dele soltar meio mundo de insulto, Doro arretou-se, já alterado pela carraspana, pegou Popó pelo gogó, deu-lhe uns bregues e fez com ele bebesse aguardente. Destá, hã! Popó fez ar de maior repugnância, mas, no frigir dos ovos, gostou. Gostou tanto que até hoje cultiva o hábito de se aventurar numa cachaçada boa, enrolando a língua e soltando lorota à toa.

Pois bem, foi nesse natal que ele sentiu que podia se vingar de quem guardava maior rancor. E foi, vez que lá pras tantas chega Jardenildo mostrando algo.

- Doro, vê só o presente que papai Noel me deu! -, era Jardenildo não se contendo de felicidade.

- Rapaz, isso foi papai Noel que deu, foi?

- Foi, rapaz.

- Tu tem certeza?

- Tenho. Minha mulher agarantiu que papai Noel deixou isso lá em casa para mim.

- Rapaz….

- Verdade. Eu confio na minha mulher. Ela é a mais honesta do mundo.

- Rapaz….

- Tá duvidando da honra da minha mulher, é? Se ela disse que foi papai Noel, disse por que foi! Pronto!

Aí Popó se vingou:

- A-há! Esse papai Noel é um sujeito pintudo que dá uns amasso na madame mulher dele, toda vez que ele não tá em casa. O cara é só socavando nela. Pronto. Não tá mais aqui quem falou, câmbio, desligo!

Bum!!!!!  

Era uma vez… © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS -  A decadência não implica um retorno ao passado; implica uma condenação ao presente. A política é um exercício moderado do mal, mas ao mesmo tempo é essencial porque sem ela não há organização social. A morte não é algo que vai acontecer. Um vivente continua morrendo e para de morrer quando expira. Para morrer, você tem que estar vivo. Pensamento do escritor argentino Santiago Kovadloff. Veja mais aqui.

 

ALGUEM FALOU: Pois onde mora a crença, a aranha não pode se mexer, nem de dia nem de noite. Pensamento do escritor suiço Jeremias Gotthelf (1797-1854).

 

EDUCAÇÃO – [...] Educar emocionalmente implica determinar o que deve nos excitar e até que ponto devemos nos excitar. [...] A razão não tem capacidade de nos convencer de que somos decentes. [...] O caráter nos dispõe para a ação. [...] As emoções mostram a vulnerabilidade essencial do homem. [...] A verdade nunca é transparente, clara ou fácil de transmitir. [...]. Trechos extraídos da obra El gobierno de las emociones - Pensamiento Herder (Tapa blanda, 2011), da filósofa a espanhola Victoria Camps, que também é autora da obra El siglo de las mujeres (1998), no qual expressa que: [...] Assim como os homens desenvolveram uma ética de Justiça, as mulheres sempre estivemos mais perto de uma ética de cuidado e da responsabilidade. Não significa que temos que desistir da justiça para nos dedicarmos a eles, porque isso é insuficiente enquanto cuidamos dos outros [...] As violações. assédio sexual, as péssimas ofertas mostram que, na verdade, a mulher ainda vive mais o objeto que o sujeito [...], observando que o acesso das mulheres a cargos de maior responsabilidade progride muito lentamente, tornando-se numa reflexão sobre ambos os obstáculos, as causas e razões pelas quais eles ainda estão lá e, acima de tudo, como superá-los. Já na obra La búsqueda de la felicidad (Arpa, 2019), ela observa que: [...] Hoje, cabe aos poderes públicos do Estado de Direito esforçar-se para colocar em prática as condições que possibilitem a cada indivíduo alcançar a felicidade. [...], enquanto que no livro Breve historia de la ética (RBA, 2017), ela trata que: Reescrever a história da ética é repensá-la a partir do presente, à luz dos problemas e circunstâncias específicas que nos oprimem hoje [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

JOANA, A LOUCA – A Raínha de Castela, Aragão e Leão, Joana I (1479-1555), era conhecida como Joana, a Louca, foi responsável pela formação da Espanha, em 1516, pelo domíniod a Casa de Habsburgo. Era considerada pelas cortes como doente mental e acabou confinada juntamente com sua filha pequena, Catarina de Áustrioa, no castelo de Tordesilhas, até que um dia o filho arrumou um casamento para a irmã e ela passou o resto de seus dias solitária. No geral, foi uma rainha apenas em título, pois aqueles que ela mais amava não permitiram que governasse. A mulher que entrou para a História como louca tem em sua trajetória de vida momentos muito marcantes, principalmente durante o período em que viveu como infanta de um dos reino mais poderosos da Europa, em plena transição do feudalismo para o renascimento cultural. Desde pequena, Joana era considerada a filha mais bonita dos reis católicos. Possuía um rosto oval, cabelos castanhos acobreados e olhos verdes, seguidos de um elegante semblante. Mesmo ainda donzela, a jovem adolescente possuía o corpo de uma mulher formada. Desde pequena, ela foi uma menina inteligente e conforme foi crescendo, aprendeu suas primeiras tarefas, como fiar e bordar com sua mãe Isabel, que a ensinou a manejar a roca e fiar a lã e às vezes, dependendo de seu tempo livre, até divertia-se em jogos e brincadeiras menos formais com seus filhos. Joana também era muito boa dançarina e sabia tocar o clavicórdio. Além disso, a infanta possuía fluência no francês e latim. Tinha também acesso à biblioteca privada da mãe, que era composta por mais de 200 títulos, tratando de assuntos referentes a leis, política, religião, entre outros. Joana recebeu uma educação extremamente requintada e cuidadosa, seguindo os preceitos humanistas e típica para mulheres da alta nobreza do século XV. Joana e suas irmãs também aprenderiam outra lição muito importante com sua mãe e que mudariam suas vidas para sempre: os conselhos maritais. A infanta tinha vontade de tornar-se freira, porém sua insistência não foi o bastante para os pais, pois estes já tinham um futuro reservado para Joana. A ideia de seus pais era casá-la com um príncipe europeu, com a intenção de conseguir um herdeiro que aliaria vários países ao reino espanhol. Conscientes das aptidões de Joana e do seu possível desempenho em outra corte, bem como da necessidade de reforçar os laços com o império romano-germânico, ofereceram Joana ao seu filho, Filipe. Em troca deste casamento, os Reis Católicos pediram a mão da filha de Maximiliano, Margarida para o príncipe João. Curiosamente, Joana tinha sido considerada pelo delfim Carlos, herdeiro do trono francês; tal proposta foi imediatamente recusada em consequência do desprezo que os espanhóis nutriam pelos franceses, e em 1489 ela foi pedida em matrimônio por Jaime IV da Escócia, mas o pedido também foi recusado. Em agosto de 1496, a futura arquiduquesa partiu da praia de Laredo e, para demonstrar o esplendor da coroa castelhana às terras do norte, e o seu poderio ao hostil rei francês, a frota também incluía outros 131 navios com uma tripulação de 15.000 homens. Joana despediu-se de sua mãe e irmãos e iniciou a viagem para a longínqua e desconhecida terra flamenga, lar do futuro esposo. A travessia teve alguns contratempos que, em primeiro lugar, obrigaram a frota a refugiar-se em Portland, Inglaterra. Quando finalmente a frota pôde chegar a Middelburg, Zelândoa, uma carraca genovesa que transportava 700 homens, o guarda-roupa de Joana e muitos dos seus haveres pessoais, encalhou num banco de pedras e areia e afundou-se. Filipe encontrava-se na Alemanha e não foi receber a sua noiva, devido à oposição dos conselheiros francófilos, que tencionavam convencer Maximiliano da inconveniência de uma aliança com a Coroa de Castela, e das virtudes de uma aliança com a França. O ambiente da corte no qual Joana se encontrou era radicalmente oposto ao que viveu na Coroa de Castela. Por um lado, a sóbria, religiosa e familiar corte castelhana contrastava com a festiva, desinibida e individualista corte flamengo-brabantina. Em Bruxelas se valorizava o luxo, requinte nas vestes, boa comida, música e dança. Era o verdadeiro cenário de um ambiente da renascença. Apesar dos futuros cônjuges não se conhecerem, houve inicialmente um bom entendimento entre eles. Filipe era conhecido por ser um rapaz muito bonito, e Joana também chamava atenção por sua beleza. Pode-se dizer que houve uma paixão um tanto inflamada, tanto que os cônjuges quiseram casar-se o mais rápido possível para consumar logo a união. A cerimônia foi realizada em Lier, em 1496. Entretanto o arquiduque Filipe era um homem sedutor, cujos instintos carnais eram bastantemente aflorados. O casamento não impediu Filipe de ter aventuras amorosas com outras damas, o que fez nascer em Joana ciúmes patológicos. Falava-se de violentos confrontos do casal, e reza uma lenda que Joana chegara mesmo a agredir uma dama com uma tesoura, cortando seus cabelos, suspeitando ser uma das amantes do marido. Joana recusou viver em Arévalo, onde estivera encerrada a sua avó materna, Isabel. Em 1506, dia de finados, a Rainha Joana deu ordens para abrir o caixão do marido, sepultado no esplêndido Panteão Real da Cartuja de Miraflores, onde morrera. Durante oito frios meses por terras castelhanas, a rainha Joana não se separara por um momento do caixão, acompanhada por um grande número de pessoas, entre as quais religiosos, nobres, soldados e diversos criados. Nas povoações por que passavam, aumentavam os rumores da sua loucura. Ao fim de alguns meses, os nobres "obrigados" pela sua posição a seguir a rainha, sentiam-se a perder tempo com esta "loucura" em ver de se ocuparem como deveriam das suas terras. A demência da rainha agravava-se. Não queria trocar de roupa nem lavar-se. Joana viveu lá durante 46 anos, sem sair do seu palácio. A literatura fez dela a figura enlouquecida por ciúmes, mas herdara da avó a esquizofrenia. Joana de Castela, a Doida da Espanha reivindicou o trono de Rainha de Castela, que a ela estava destinado. O Rei Fernando, o seu próprio pai, não queria que Joana reinasse. Então, decidiu-se que ela estava louca. E trancou-a. Louca ou prisioneira dos interesses, não se sabe ao certo.

 

RÁPIDO, RÁPIDO - [...] “O que o incomoda, amigo?”, pergunta, depois de alguns minutos – meses. Nu que estou, mostro0lhe a pena. A ferida agora está preta, exala um mau odor terrível. É a gangrena, reconheço. Nunca ouvi esse nome, mas sei perfeitamente que se trata de uma gangrena. “Gangrena”, diz o doutor, abaixando-se, “Interessanmte... progéria, gangrena...” “Interessante...”, diz o doutor, e isso me dá raiva. Interessante, duas doenças juntas: não vai um cancerzinho também? Que tal um derramezinho, hein? [...]. Trecho extraído da coletânea O anão no televisor (Globo, 1979), do escritor e médico gaúcho Moacyr Scliar (1927-2011). Veja mais aqui e aqui.

 

OS OLHOS DOS POBRESAh! Você quer saber por que eu a odeio hoje. Será, certamente, menos fácil para você compreender do que1 para mim, explicar; porque você é, creio, o mais belo exemplo da impermeabilidade feminina que se possa encontrar. Tínhamos passado juntos um longo dia que me parecera curto. Nós nos tínhamos prometido que todos os nossos pensamentos seriam comuns a um e ao outro e que nossas duas almas não seriam mais do que uma só — um sonho que nada tem de original, uma vez que, afinal, é um sonho sonhado por todos os homens, mas nunca realizado por nenhum. À noite, já um pouco fatigada, você quis sentar-se em frente a um café novo, na esquina de um bulevar também novo, ainda cheio de cascalhos, mas já mostrando gloriosamente seus esplendores inacabados. O café brilhava. Mesmo as simples tochas de gás revelavam todo o ardor de uma estréia e iluminavam, com todas as suas forças, as paredes de uma brancura ofuscante, exibindo a seqüência de espelhos, o ouro das molduras e dos frisos, mostrando pagens rechonchudos arrastados por cães nas coleiras, senhoras rindo com os falcões pousados em seus punhos, ninfas e deusas trazendo frutas em suas cabeças, patês e caças diversas, as Hebes e Ganimedes apresentando, com os braços estendidos, a pequena ânfora com creme bávaro ou o obelisco bicolor de sorvetes coloridos; enfim, toda a história e a mitologia postas a serviço da glutonaria. Bem em frente de nós, na calçada, estava plantado um homem de bem, de uns quarenta anos, de rosto cansado, barba grisalha, tendo numa das mãos um menino e sobre o outro braço um pequeno ser ainda muito frágil para andar. Ele cumpria o papel de uma babá e trazia seus filhos para tomar o ar da noite. Todos em farrapos. Esses três rostos estavam extremamente sérios e seus seis olhos contemplavam fixamente o novo café com igual admiração, mas, naturalmente, com as nuances devidas às idades. Os olhos do pai diziam: “Que beleza! Que beleza! Dir-se-ia que todo o ouro do pobre mundo fora posto nessas paredes.” Os olhos do menino: “Que beleza! Que beleza! Mas é uma casa onde só podem entrar pessoas que não são como nós!” Quanto aos olhos do menor, eles estavam fascinados demais para exprimirem outra coisa senão uma alegria estúpida e profunda. Os cancioneiros dizem que o prazer torna a alma boa e amolece o coração. A canção tinha razão nesta noite relativamente a mim. Não somente eu estava enternecido por esta família de olhos, como me sentia envergonhado por nossos copos e nossas garrafas, maiores que nossa sede. Virei meus olhos para os seus, querido amor, para ler neles o “meu pensamento”; mergulhei em seus olhos tão belos e tão bizarramente doces, nos seus olhos verdes, habitados pelo Capricho e inspirados pela Lua, quando você me disse: “Não suporto essa gente com seus olhos arregalados como as portas das cocheiras! Será que você poderia pedir ao maîttre do café para afastá-los daqui?” É tão difícil o entendimento, meu caro anjo, e tão incomunicável é o pensamento mesmo entre as pessoas que se amam. Texto do escritor, tradutor, crítico de arte e poeta francês, Charles Baudelaire (1821 - 1867). Veja maisaqui e aqui.


 

TRÊS POEMAS (PARA LAM) - AMOR ESPLÊNDIDO: Sinto em minha boca teu sabor, / Vibra meu corpo ao teu contato, / E me transporto prazerosa, / A sentir a fonte que me alucina, / Em coreografia íntima e alucinadora. / Minha língua a procurar teu paladar, / Enquanto a doce cavalgada inicia / O transporte da loucura no prazer, / Expressando o sentimento em carícias, / E a escuridão inconsciente a dominar. / Tua mão a me massagear é delírio, / Buscando em meu corpo o refúgio, / Dessa paixão tão imensa a flutuar, / Forte, incompreensiva, maravilhosa, / Dominando nossas vidas no mistério / Desse amor esplêndido e enlouquecedor. EU TE ESPERO: Eu te espero nas manhãs ensoloradas, / Nos dias que se arrastam dolentes, / Nas noites frias, lentas e estreladas, / Em que sinto tua presença premente. / Eu te espero com o coração apaixonado, / Sonhando em imagens ternas e coloridas, / Imaginando teu olhar quente e extasiado. / E te procurando em sensações transtornadas. / Eu te espero com o sorriso meigo e iluminado, / Nas vigílias pelas madrugadas em tormento, / No arrebol surgindo ao longe com suavidade. / Eu te espero com o corpo arrepiado de desejo, / Fantasiando o momento fascinante e terno, / Que nos abraçaremos em ardorosa felicidade. CARÍCIAS: Quando me acaricias, / Em horas esparsas da noite, / Segredando em sussurros, / Palavras loucas de amor, / Tudo para mim se refaz. / Abraçada contigo me soergo, / Beijo teus lábios em delírio / A paixão recrudesce e procura, / No teu corpo amenizar sensações / E a calma salvadora encontro. / Quando entre doces murmúrios, / Tua mão suaviza minha sede, / Percorrendo-me doce e lentamente, / Reconheço que tudo o mais não existe, / Nesse momento de tépido desejo. / E quando então nos envolvemos, / A lua projetando-se em clarão, / Teu anseio a me pedir alento, / Vejo o quanto és mágico, / Na escalada íngreme e gentil. Poemas de Vânia Moreira Diniz. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 


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