TRÍPTICO DQP – O que não foi nem nunca aconteceu... - Ao som dos álbuns Louise
Farrenc (Paulus, 1999) & Vol. 2
(Paulus, 2001), do Quinteto D’Elas,
composto pela violinista Betina Stegmann, a violista Adriana Schincariol
Vercellino, a violoncelista Marialbi Trisolio, a contrabaixista Ana Valéria
Poles e a pianista Helena Scheffel. – Em plena vigência do genocídio duplamente
sindêmico do Fecamepa, tudo isso era
real e lá estava eu às voltas com as insólitas aventuras no espelho de Wang Tu. Pelo menos, ao me encontrar
envolto pelos labirintos da loucura, aliviava a crueldade premeditada da
trágica realidade do cotidiano. Passei por
tudo: desde a descarga de um raio no cocuruto até o esfacelamento de veias numa
transfusão vampírica do mandatário Coisonário.
E toda vez que ele passava a trupe dele gritava: Mico! Mico! Mico! Fico na qual
é ou será outra a piada? Não foram poucas e o pior: a constatação de que o país
não aconteceu nunca, a reboque do umbigocentrismo dos mamelucos sesmeiros que
implicam suas questiúnculas coloniais, uns aos outros, para ver quem mais
poderoso na preação fedorenta, só para depois barrunfarem desavergonhados os
coprólitos de legítimos cucarachas entre os primeiro-mundistas. Triste
constatação e maior cara lisa. Estaria eu pior, não fosse, certa feita, assim
do nada, emergir a compreensiva observação de Einstein: Todos somos muito ignorantes. O que acontece é que nem todos ignoramos
as mesmas coisas. Eita! Que coisa! Chega arriava entre escombros
noitadentro, maior desalento. Vez em quando assediado pela esperança quando
quase amanhecia com a presença inopinada da novelista e abolicionista
estadunidense Harriet Beecher Stowe
(1811-1896): A primeira hora da manhã é o
leme do dia. As lágrimas mais amargas derramadas sobre os túmulos são pelas
palavras que não foram ditas e coisas que não foram feitas. Uma mão amiga
no meio da escuridão em pleno raiar do dia. Ao despertar percebi algo tão estranho
e não conseguia identificar. Paredes, teto, cama, lençóis, móveis, objetos,
tudo muito familiar. Ah, inadvertidamente percebi, estava lá: era o Travesseiro de Chen-Tsi-Tsi.
Duas badaladas
do sonho múltiplo... - Os sonhos vinham e se misturavam uns aos outros
atravessados por pesadelos terríveis do dia-a-dia, acompanhando a trilha sonora
agradabilíssima, até ser interrompida por alguém apressado que nunca vira. Era
o maestro estadunidense Julius Fifer:
Não
precisamos de alguém balançando os braços para entendermos uma frase! Não entendi, mas dizia como se aplaudisse a eloquente apresentação
do quinteto. Logo saiu para me sacudir numa espiral vertiginosa de tombar
estendido no matagal de uma chã. Em meu socorro apareceu Che Guevara (1928-1967): Sonha e serás livre de espírito... luta e
serás livre na vida. Derrota após derrota até a vitória final. Ofereceu-me a sua mão, puxou-me e ajudou-me a ficar de
pé. Apontou-me ladeira abaixo alguém que confidenciava para uns presentes. Quem era? O jornalista e
advogado francês Jules Ferry
(1832-1893): O importante é aprender
verdadeiramente aquilo que não se pode ignorar. Prestei atenção e logo
notei a presença de alguém querendo saber o que se passava. Dei de cara com Dalton Trevisan: O que não me contam eu escuto atrás das portas. E abri o jogo: a
viagem onírica compensava a dolorosa ciência de existir naquele momento tão
nefasto, para mim, como para todos os meus. Em todo planeta já se começava a
respirar; aqui, não, roubavam o oxigênio e nos empurravam para as emergências
indigentes e lotadas, quando não para o sepultamento em covas anônimas. É tudo
muito triste.
Três tons para enganar a dor... – As surpresas não foram
poucas: sobre o travesseiro repousava o volume
Maracatu Atômico: Tradition, Modernity,
and Postmodernity in the Mangue Movement and New Music Scene of Recife,
Pernambuco, Brazil (1999), tese de doutoramento do etnólogo estadunidense Philip Galinsky, tratando sobre o
movimento dos mangueboys Chico Science
& Cia inspirados no Josué de Castro
& a lama recifense & a poeira das faces matagrestelitor&sertão. Se
o coração inchava satisfeito, logo passou a bumbar retumbante: os tons
familiares e efervescentes que buliam nas veias, vísceras e interstícios. Era o
cantor Gonzaga Leal com o seu E sentirás o meu cuidado (Autor, 2004)
com os tons de Capiba noutras vozes
especiais: Naná Vasconcelos, Teca Calazans, Francis & Olívia Hime, Dalva Torres, Kelly Benevides, e eu só
solfejando Lá vai na serra Quando se vai um amor Cem anos de choro Depois
Relembrando Nazareth pela Valsa Verde e Azul, Sem pressa de chegar no Cais do
Porto ou na Nação Nagô Cantando sem saber cantar Duas janelas da Casinha
pequenina porque Tu
que me deste o teu cuidado. Isso me faz crer que vale a pena viver. E lá vou eu aos expulso do paraíso aos trancos e
barrancos entre inferno e purgatório. Até mais ver.
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aqui.