sexta-feira, agosto 28, 2020

CZESŁAW MIŁOSZ, GOETHE, LILIANE DARDOT, RYANE LEÃO & ITAMARACÁ


DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... CORAÇÃO PAÍS, PAÍS CORAÇÃO... - Quando só coração, sou mortal e apenas uma certeza no meio de emoções, afetos, epiderme e vísceras, sístoles, diástoles. Ademais, interrogações demais. Assim seja. Ouço Czesław Miłosz: A voz da paixão é melhor do que a voz da razão. Quem não tem paixão não pode mudar a história. E sobrevivo três refeições do dia, paixões demais, sono incontrolável, sede, esperas e previsões, dias livres e fartos, senão felizes ou não, diferente que seja destes tão deprimentes, horrores e ameaças. Lá fora talvez algum consolo, ninguém sabe pior ou melhor, valho-me do que sou: duas mãos, braços, pernas, olhos, músculos, ossos, ah quem tem um não tem nenhum, melhor três, assim tudo era melhor, por que não quatro ou mais, não sei, desperdiçam até o que tem de pouco e querem mais só por querer, talvez tédio ou insatisfação do possuído, só pelo maravilhamento da posse, ou lembrar do que tem ou não, afinal para alguma coisa serve a memória ao que do coração e o insondável, a inevitável catábase para que saiba da sujeição e resistência, interstícios e totalidade, a queda para as dores da tirania e depressão, abandono e torpor. É a vida e seja como for eu vou.

DOIS SUPAPOS & UM SUSTOImagem: Arte da pintora, desenhista, gravadora e professora Liliane Dardot. - Quando não só coração entre notícias e alarmes, avisos de que a vida passa e eu sozinho entre músicas para alegrar o âmago e ver que a vida não é tão grave assim. E Goethe me diz que: Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira. E da felicidade que sei eu além dos instantes a cada semáforo para saber aonde fui ou onde estive, o rio corre solto ali enquanto preciso de recursos para me dizer quando seguir ou parar, segurança e prevenção. O verde diz estar livre, talvez por isso desmatem ou queimem tantas matas e florestas; o amarelo diz atenção, talvez por isso a riqueza não seja para todos, careça de cuidado para não se empanturrar e enlouquecer; o vermelho diz do perigo, tudo tão iminente agora, talvez por isso o sangue da vida não valha nada, razão pela qual se lavam honras e abatem-se vivos, quantos mortos que não são só estatísticas, um a mais e a dói fundo na alma. E tudo se faz de silêncios, barulhos, choros e risos, açodamentos e preocupações, suspeitas e danos. Entre otimismo e pessimismo vivo, eu sei mais: acho que nem tudo é só péssimo e ótimo, cada qual suas diversas formas de percepção e gradação, na verdade era só necessário um pouco mais de compaixão, eu sei e a dor é grande.

TRÊS VERSOS & MEIA PROSA – De coração para coração, eu aqui e outro ausente, são confusões sem ter nem pra quê, coisa do vai ou racha, e acelerar, frenar, debrear, seguir adiante, paralisar, não quero nada disso, só quero amar. Ih! E agora? Muitos contrariados esbravejam, poucos contemplados seguem felizes e a vida é essa corda bamba ou sorteio de loteria. O poder está louco, eu sei, e enlouquecemos juntos nessa meritocracia, mera dissimulação, escolhas escusas, eu sei e tudo vai escorrendo e descendo a ladeira, escapo o que posso para não ser levado de roldão e naufragar na areia movediça desse tempo louco. Então abro os olhos e parte do que posso compreender me é revelado, ainda bem. Ao fechá-los, o universo acontece em mim: clausura e voo entre o lírico e o épico, mansardas de antinomias, falar ou não, ter o que dizer, lembrar ou fazer e eu vencido num canto da sala. Até que tudo nela brilha e queima & ela, Ryane Leão: ouça suas cicatrizes só elas sabem o segredo da sua cura. Preciso curar minhas dores e já. Ao ver-me escurecido, quase inválido ali aos trapos, ela me disse um verso amável: meu corpo enredo pedindo o seu carnaval. Quase salto aos olhos, já nem sei quem governa o tempo porque nunca soube, ninguém sabe, nem quero saber, porque assim vivo quase sem saber de nada que acontece do outro lado da rua nem da esquina em diante, essa vida entre a vontade e a loucura, entre os instantes de gozo e o que há de tanta espera. Assim sou e há muito mais, combatente ou ambulante, sigo e voo. Até mais ver.

ITAMARACÁ, UMA CAPITANIA FRUSTRADA
[...] a freguesia da ilha de Itamaracá, que compreendia tanto a ilha como uma porção do continente que ficava limítrofe com Igarassu, já em Pernambuco. Na ilha, a vila da Conceição, com a matriz de Nossa Senhora, Casa da Câmara, candeia e pelourinho, era o principal centro, enquanto à beira mar ficavam duas povoações, a de Nossa Senhora do Pilar e a de Nossa Senhora do Ó. Na ilha existiam três engenhos de açúcar e várias salinas [...]. No continente localizava-se o povoado de Pasmado [...]. As facas fabricadas em Pasmado foram famosas até as primeiras décadas do século XX. A importância desta freguesia era grande, de vez que, além das atividades artesanais, da produção de açúcar dos seus cinquenta e um engenhos, da produção de sal, da criação de gado, da pesca, de variadas lavouras, dispunha de cinco mil e seiscentos e trinta e cinco fogos e vinte e quatro mil e trinta e quatro pessoas de desobriga. [...].
Trecho extraído da obra Itamaracá, uma capitania frustrada (CEHM-Coleção Tempo Municipal, 1999), do escritor, historiador, geógrafo, advogado e professor Manuel Correia de Andrade (1922-2007). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.