sexta-feira, junho 05, 2020

EDITH AZAM, EMMA AMOS, TAMIKA MALLORY, NINA RIZZI, CHAIRIM ARRAIS & PALLY SIQUEIRA



DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: NÃO CONSIGO RESPIRAR - Nesse tempo indigesto de tanger manada com apito de cachorro, tem quem fique engasgado e em tempo de estuporar a caixa dos peitos, assim como eu, ora, ora. Sei que voltou a ter vigência aquela de que abaixo do queixo tudo é perna, mas não estão livrando nem a cara para a canelada, meu! Está tudo muito irrespirável para quem nunca se enquadrou nos moldes políticos para ocupação de cargos públicos, quanto mais num reino de critérios para lá de escusos como este, que não dá para fungar quanto mais encher o pulmão numa poluição sem precedentes. Ora, basta considerar que para ocupar qualquer ministério do planalto, basta ter farda e dar continência, pois para a pasta da saúde, pelo visto, não precisa de formação médica; para a educação, basta ser escroque que não saiba ler nem escrever; pro meio ambiente, que seja um simples dendroclasta burocrático; que procurador se digne a chalerar na defesa do maioral; que a representação da mulher seja feita por uma machista, ou que o representante dos descendentes palmarinos seja um antipatizante racista. Time deste é o mesmo que premiar predador de motosserra no Dia Mundial do Meio Ambiente, diga lá se não é? Só sendo. Como se, na vergasta do carrasco, a gente repetisse Baudelaire: está-me empurrando, como se eu fosse um boi, com seu duplo aguilhão: "Vai, anda, burrico! Vai, sua, escravo! Vai, vive, maldito!” Assim não tem quem consiga respirar com um joelho desse na goela, né?! DOIS: OU SAI PRA VIDA OU SEGURA A ESPERANÇA PELO RABO – Ficar só no eita com os apupos internacionais e as lapadas do noticiário, não dá em nada. É como se entrar em combate só com nota de repúdio, braços cruzados e bunda na poltrona: xô, pra lá! Nem ficar de queixo caído porque, apesar dos escândalos e arbitrariedades, ninguém faz nada e passa a bola pro outro escapulindo o procto da reta, no cúmulo da desonra. Ah, não, se não tiver iniciativa de ação, nem só com indignação se questiona direito. O pior é a constatação de Lorca martelando no juízo: O mais terrível dos sentimentos é o sentimento de ter a esperança perdida. Olha à direita e à esquerda do tempo, e que o teu coração aprenda a estar tranquilo. Como não me preocupei de nascer, não me preocuparei de morrer. Ao poeta a dor da reação depois de morto. Para mim, viver é ação enquanto é tempo. TRÊS: SE VIVO, NÃO É PARA DEFUNTAR – Cá com meus botões, conversada pelos cotovelos naquela do Rubião: Não morri, conforme esperava. Maiores foram as minhas aflições, maior o meu desconsolo. Muito poderia contar das minhas preferências, da minha solidão, do meu sincero apreço pela espécie humana, da minha persistência em usar pouco cabelo e excessivos bigodes. Mas, o meu maior tédio é ainda falar sobre a minha própria pessoa. Principalmente quando a gente dá de cara ao que foi reduzida uma considerável parcela da humanidade: quem não se arrumar nos ajeitados com o negacionismo de terraplanista, que vá se catar nas quenturas dos quintos dos infernos e passe bem! Tem quem se preste a tal, e como tem! Eu que não vou nessa digo e repito reiteradamente: vamos aprumar a conversa, gente! Até mais ver! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Queria garantir que as vozes das mulheres negras fossem defendidas, exaltadas e que nossos problemas fossem resolvidos, mas isso não poderia acontecer a menos que sentássemos à mesa [...] Eles estão com raiva e existe uma maneira fácil de impedir; prenda os policiais. Denuncie os policiais. Denuncie todos os policiais. Não apenas alguns deles, não apenas aqui em Minneapolis. Denuncie-os em todas as cidades da América onde nosso povo está sendo assassinado [...] Apresentar uma oportunidade para as pessoas não apenas ficarem tristes e frustradas, mas sentirem que há poder em números e em ser organizado [...]. Trechos do discurso da ativista estadunidense Tamika Mallory, que foi uma das principais organizadoras da Marcha das Mulheres de 2017, defendendo o controle de armas, o feminino e o movimento Black Lives Matter.

A POESIA EDITH AZAM
I - Eu morro de amor e pombas, / Eu morro de memória e invenção, / Eu morro das lágrimas de um narciso, / mas o céu uma vez, / mas o céu uma vez ... / Estou cansado das urtigas azuis, cansado das estátuas que suam, / cansado do horror dos porões e dos cheiros dos túneis, / Estou cansado de te amar, especialmente quando você não me ama, / Estou cansado do meu cérebro, estou cansado de não estar. / Eu morro na gargalhada do vento, / Eu morro de mordida e alegria, / Eu morro até perder a cabeça / mas o céu uma vez, / mas o céu uma vez ... / Eu morro em violetas selvagens, / Eu morro no coração de um esquimó, / Eu morro de amor no gelo, / Eu morro e gostaria de me esconder. / mas nas minhas veias, céu. / Rachadura desses sofrimentos que engolimos, desses sofrimentos que nos estrangulam / Eu quebrei nos portões da consciência Eu quebrei meu irmão queimado / e eu morro de tanto medo que tremo / Eu nunca entendo nada sobre o riso de pássaros zombando / crack do meu crack não-suicida em bilhões de lascas / Eu cortei minha respiração em papel carbono / finalmente cortei as âncoras e as tintas meu sangue / Cortei pedaços de vidro e fiz versos amassados, depois esfreguei meu corpo / e eu tenho isso em todo lugar no meu rosto, eu tenho igualmente no meu coração para que você nunca esqueça / e que ninguém cancelará que estou cansado de você. / Eu sinto o céu quebrar ... / Eu morro de amor e pombas, / Eu morro de embriaguez e de invenção, / Eu morro em uma batida de asas, / mas o céu uma vez, mas, / Céu uma vez, mas o, / Céu uma vez, mas céu, / uma vez, mas o céu uma vez, / uma vez, mas o céu uma vez, / mas o céu na cara porque eu não terminei de te amar, / porque a vida das rosas é preciosa para mim; / também por causa das noites nas estrelas, as horas inteiras perto de você: / mas o céu uma vez, / Céu no vazio de seus braços, / Céu todo contra mim: / e nas minhas veias...
II – Um tolo fala por mim sozinho. / um tolo fala só por mim, diz o que sinto falta de dizer - / falar em voz alta tão alta, eu me sinto quadrado - / fale em voz alta e eu repito / Repito suas palavras mandíbulas - / Eu repito - / cuspir ossos - / Eu repito - / cuspir ossos - / agravar - / agravar empurra os limites - / a implicação é tremenda - / tremor perfeito - da falta de dizer - / a falta de dizer - / a falta de dizer que me mantém de pé - / Eu fico em silêncio. / Eu grito o choro branco, a flecha. / esmague o sol nas suas mãos: / a linha da frente cruza - / Repito as palavras mandíbulas - / as palavras, que me dizem tudo sobre mim, / Eu a devolvo em uma mastigação selvagem - / um tolo fala por si mesmo e isso me queima / um louco fala por si e por mim? / e repito por dentro / Repito e tudo dentro de mim, / divisões e quadrados - / o crack é a falta de dizer - / a escassez de dizer me perturba - / Eu queimo dentro da minha cabeça, atrás do meu rosto / há um golpe de bastão - / o grito de um louco que se queima - / sim doloroso - / sim doloroso - / o louco grita, grita - / dentro de mim um louco que explode / que range de deficiência em todo lugar / a falta de dizer / a falta de dizer / a falta de dizer!
III – É um bloco de anotações antigo / Eu levo de volta para você. / Muitas vezes na cabeça: seu nome. / Gire continuamente, / é fofo, / e água Perrier, bolhas - / há esquilos no parque, / esquilos, / o clima… / Eu escrevo, / Eu li poesia e... / Eu tento refletir em boa cópia. / Eu reflito: já é algo. / Então, esse bloco de anotações antigo, / essas coisas que eu quero perto de você. / Eu tenho a marca no meu pulso, / age como um leve sorriso. / Ninguém fala à mesa, / na mesa, não há conversa. / Os almoços à mesa são glaucosos, / e então... é mais profundo que isso - / é o jeito de murmurar oito minutos / a almôndega; / é a cabeça que treme; e depois, / O corpo inteiro; / é quem gagueja / é o outro que provoca; / sou eu ... não estou mais com fome. / Então eu volto a ler - / Eu te amo - / Medicamentos, medicamentos ... / Tenho medo de tomar remédios, / medicamentos, meu estômago cai: / e depois o mesmo quando escrevo para você: me repito 100 vezes / ainda cai em mim: / Perrier em cima da mesa / clique em bolhas de clack. / Eu penso na sua voz: / ao telefone. / Eu acho que, / Eu não penso mais. / Não sei que horas são / não é tarde. / Eu ouço um CD: / de Mauricette - / Eu quero estar perto de você, / também quer carne vermelha / Eu te amo. / Não diga nada, eu sei ... / não diga nada… / As bolhas de Perrier ... / Eu te amo: faz bolhas ... / O que eles chamam de Moise aqui / hoje ele teve visões: / ele me repetiu 5 vezes: / Eu vi um hotel no meu quarto. / Eu vi um hotel / no meu quarto. / Eu vi / um hotel / no meu quarto. / Eu vi um hotel no meu quarto. / Eu vi um hotel no meu quarto. / Cinco vezes ele me disse. / Cinco vezes eu não sabia o que responder - / A mesma coisa no bar: eu não sabia dizer nada. / Quando a menina me contou sobre sua vida: / Eu não disse nada. / Eu não respondo. / Em breve. / Sobras - / Eu avanço na minha cabeça para curar sua queimadura - / Eu digo coisas ao meu psiquiatra, / Perrier em cima da mesa... / Eu tento dizer a ele... / meu psiquiatra tem olhos azuis / ela olha para mim: não ouso. / Eu olho para o pé da mesa. / Eu digo coisas olhando / sempre sempre / o pé da mesa - / meus olhos não têm mais coragem. / Meus olhos estão completamente cheios de eletricidade - / À noite tenho garganta seca. / Medicamentos, medicamentos ... / Levanto-me para desligar o aquecimento, / isso faz meu remédio vacilar. / Clique nas bolhas do clack ... / depois volto para a cama: / Eu te amo - / Para dormir, coloquei os tampões. / Pressione-os bem fundo na cabeça: / é dito… / dizem que eles absorvem os ruídos e então, / pesadelos, / mas ontem à noite eu sei, / meu vizinho olhou para M6, / e na minha cabeça quando eu dormi, / uma mulher atirou machados. / Eu odeio a mulher do parafuso: / Eu sei que está enrolado no meu crânio, / Tenho pena dela, / isso me dá nojo. / Tem um cadeado no coração.
EDITH AZAM - Poemas da escritora francesa Edith Azam, autora de obras como Un objet silencieux (Le suc et l'Absynthe, 2006), Opium le ciel et vent (Le suc et l'Absynthe, 2006). Létika Klinik (Le dernier télégramme, 2007), Mercure (Castell, 2007), Tellement belle garçon belle (Le frisson esthétique, 2007), Tiphasme est Phasme (Inventaire / Invenção, 2007), Amor barricade amor (atelier de l'agneau 2008) e Le Paradis une fois, La voix, Qui passe (edições do soir au matin, 2009).
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DOIS POEMAS DE NINA RIZZI
AINDA A QUEDA DO CÉU - oi, mãe te escrevo do norte, tô na Amazônia / na vinda cruzei o interior do ceará / e passei em frente um rio chamado chorozinho / parece uma metáfora tão triste pra estes tempos / sei que não é boa hora pra falar de tristezas / que deveria te escrever e acalmar seu coração de mãe / que é importante amar e rir e gozar e espalhar flores / eu lembro a vendedora de flores que você foi / ainda sinto o cheiro das roupas da lavadeira que você foi / lembro o cheiro gostoso da doceira que você foi / sim eu sei que a alegria é uma resistência eu sei sim / mas mãe, eu fico aqui olhando as rasuras / eu conto doismilidezenove três anos de golpe / quinhentos e dezenove anos de golpe / eu ouvi aqui que cada dormente é uma alma / dormente, mãe, são aqueles paus que ficam debaixo / dos trilhos das ferrovias e os indígenas iam à noite arrancar / os dormentes porque a estrada de ferro era construída / em suas terras e então os donos do poder colocavam coisas / pra dar choques nos indígenas e de manhã / eles estavam agarrados nos dormentes / todos mortos / cada dormente uma alma, mãe / e agora eu te escrevo essa cartinha e tem uma tv ligada / e o governador tá falando de boca cheia que precisam desapropriar / as terras indígenas porque eles não plantam e as pessoas precisam comer / e ele tem sangue nas mãos e no bigode, mãe / os padres e as caravelas de há quinhentos e dezenove anos / são a bancada evangélica e da bala de hoje / ah sim, mãe vou te contar uma coisa bonita / um feitiço indígena os cabelos de betânia o cheiro dos cabelos de Betânia / todas essas mulheres juntas e nadando fundo contando suas histórias / e foi muita sorte eu ter conseguido ver o rio madeira porque / a construção da hidrelétrica fez tudo desbarrancar / não seria mesmo lindo se o rio lavasse tudo, mãe?
CECILIANA - escorre o óleo do mundo — lima / de rícino, refino / mínima grama ou toda / canteiro, fecundo / a poesia é de quem / precisa, disse o carteiro / lhe ria. além a lama / ternas de exílio e poda / te revisito, o mundo — olha / entre as pernas.
NINA RIZZI - Poemas da historiadora, tradutora e poeta Nina Rizzi, (Campinas/SP, 1983), autora de obras como Tambores pra N'zinga (Orpheu/Multifoco, 2012), Caderno-goiabada (Ellenismos, 2013), Susana Thénon: Habitante do Nada (Ellenismos, 2013), A Duração do Deserto (Patuá, 2014), e Geografia dos ossos (Douda Correria, Portugal). Ela edita o blog NinaaRizzi. Veja mais aqui.

A ARTE DE EMMA AMOS
Estou frustrada pelo fato de estar presa a mais pinturas... Estou produzindo sem motivo. Ninguém nunca os viu.
EMMA AMOS – A arte da pintora e gravadora afro-americana pós-moderna Emma Amos (1937-2020).
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A ARTE DE CHAIRIM ARRAIS
Ui, eu não sou a favor das cotas! Não acho que obrigando editoras a publicar quadrinho nacional é sinônimo de coisa boa no mercado. Mas, a possibilidade de auxílios e outros meios de ajuda às editoras eu acho interessante para editoras que publiquem uma certa porcentagem de produto nacional. O mercado de quadrinhos no Brasil é complicado, até porque, nós mesmo, artistas e leitores não nos ajudamos muito, né? Sempre discuti que quando você vai à banca, vê um quadrinho nacional desconhecido e um americano ou um mangá, com qual deles você gasta seu dinheiro? Não generalizando, mas a maioria deixa o brasileiro criando pó nas bancas. Acho que não apenas o governo deveria fazer algo, mas nós também, nos ajudar mais, apreciar mais o que fazemos, dando valor ao nosso próprio trabalho e de amigos brasileiros.
CHAIRIM ARRAIS - A arte da quadrinista e ilustradora Chairim Arrais, que lançou o RED+18 Além do Vermelho, e edita os blogs Chairim, Chairim-Arrais e Loja Integrada. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
A arte da atriz e artista plástica Pally Siqueira, que estuda psicologia e já atuou no filme Big Jato, de Chico de Assis, e já atuou em novelas da Rede Globo.
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Orquestra de Rua Recife Olinda aqui.
Dicionário Poético Militante (NEP/MMM, 2018), do poeta e jornalista Marcelo Mário de Melo aqui.
Exposição Em-Cantos de Palmares, do artista plástico José Durán y Duran aqui.
A obra de José Arlindo Gomes de Sá aqui e aqui.
Tempo de Resistência: lembranças do período mais negro da História do Brasil (2003), dirigido por André Ristum e baseado no livro homônimo de Leopoldo Paulino (Oswaldo Cruz, 2001) aqui.
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Cambão Torto, Amaraji aqui.