segunda-feira, novembro 25, 2019

ARUNDHATI ROY, MICHÈLE PETIT, ALEXANDRA WHITIGHAM, GEÓRGIA CREIMER, AMANDA LEAR & CARTA AO MEU PAI


CARTA AO MEU PAI – Conversamos muito e era pouco um ou dois dias corridos quase insones, diuturnos. Contamos estrelas, soltamos lorotas e nos embriagamos de ver o Sol nascer ou lembrar os cochilos nas urnas funerárias de Bilaro, a mesa grande e lá tia Arlinda, Nadeje, Lourdes, Conça e a outra que esqueci o nome (ah, lembrei, Angelita! Não podia esquecer os Gilsons...), de uma rua perto da casa de vovó, a bodega de Água Preta. Aprendi muitas e úteis lições, a velhice é sábia, eu sei, vô Arlindo era ele. A gente sempre teve uma relação de igual para igual. Na infância, o meu herói. Eu era o brinquedo de Emanoel, Paulo e Carlos, parceiro de Zito. Também premiado por Pai Lula e Carma, outra mesa enorme para minhas folganças, apreços muitos. Ainda menino, atendeu meu pedido para a responsabilidade laboral e me entregou, aos dez anos, para que eu vivesse sobre o bigodinho ralo como David de Dickens nas mãos do meu Uriah Heep. Foi tudo muito difícil, irrespirável. Fiz o que pude, inescapável. Tanto que no auge da adolescência, escolhas irreversíveis: saí do berço e da asa, assumi a vida e fui pro mundo, carregando o seu jeito no canto do lábio: a reprovação. Diferentemente de Kafka, eu o temia e perdi o medo: era como eu, talqualmente, cara a cara. Coisas que abomino, o fez. Ele lá, eu cá, Gonzagão & Gonzaguinha. Nas horas mais prementes, me dizia: seja o que for, se não tiver coragem, me chame que vou na frente. Não, era a disputa e eu queria ser tão quanto ele: não sou o filho, sou eu – assumia e fiz meu destino, outras escolhas. Perdi a pele, só agora tenho o que contar: tive que mentir e muito para sobreviver às bocarras inexoráveis. Quantas máscaras, todas, eu mesmo: o alter ego. Desde menino permeável às coisas do mundo, curiosíssimo. Não era eu o primogênito – uma irmã outra, antes, morrera eletrocutada. Outras três vieram depois de mim. A chatura da adolescência nos afastou. Só nos reencontramos maduros e aos poucos – afetos além da conta. Eu vivi a parte boa, minhas irmãs que tiveram paciência para aguentar a senilidade: Aninha, empoderada e de beiço virado: o meu apego, efígie, o outro lado que sou; Anginha, na viuvez, a companhia e o meu gesto infantil; e Georgia, a caçula, da mesma idade da minha filha, outra era e minha. Na estrada, desaprendi a família – quase para mim como o visto por Foucault ou as feridas e ausência presente da selva interior de Trevisan, me reduzi à solidão: o espermatozoide e o perdão interior. Só mais de vinte anos depois, nos reencontramos e fui, confesso, a contragosto. Para meu espanto, o ídolo do menino e o amigo se incorporaram e eu plantei minhas raízes perdidas: a vez de renovada interlocução, a verdadeira. Apartados, íntimos. Hoje meu pai se foi com meu filho morto, fiquei só e não seria a primeira vez. É a vida: um dia a gente ri; outro, chora; seguimos nesse tobogã. Abdiquei de títulos e homenagens, nem comemoro aniversário. Todos têm ou tiveram um pai, eu não: o meu pai era meu filho desamparado, telúrico, confirmava a minha predileção pela mãe. Mais conversamos e viramos outras tantas e enluaradas ou chuvosas noites, até me deixar como o Pê de pai de Isabel Martins, o Adios nonino de Piazzolla. O que comove é que esta carta nunca será entregue. Talvez seja covardia, sei que não; nem acerto de contas, não deixei nada sem lhe dizer: nos dissemos tudo e muito mais. Talvez este seja o texto mais frágil do que proponho, é possível, admito. A minha voz é a coragem de amar, me destruam ou não. Não tenho defuntos, vivo com os vivos e todos que se foram também vivem em mim. Morreu menino o meu pai, eu o sou eternamente vivo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo & aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Hoje, é possível dizer que o mundo inteiro é um "espaço em crise". Uma crise se estabelece de fato quando transformações de caráter brutal — mesmo se preparadas há tempos —, ou ainda uma violência permanente e generalizada, tornam extensamente inoperantes os modos de regulamentação, sociais e psíquicos, que até então estavam sendo praticados. Ora, a aceleração das transformações, o crescimento das desigualdades, das disparidades, a extensão das migrações alteraram ou fizeram desaparecer os parâmetros nos quais a vida se desenvolvia, vulnerabilizando homens, mulheres e crianças, de maneira obviamente bastante distinta, de acordo com os recursos materiais, culturais, afetivos de que dispõem e segundo o lugar onde vivem. Para boa parte deles, no entanto, tais crises se manifestam em transtornos semelhantes. [...] Em tais contextos, crianças, adolescentes e adultos poderiam redescobrir o papel dessa atividade na reconstrução de si mesmos e, além disso, a contribuição única da literatura e da arte para a atividade psíquica. Para a vida, em suma. A hipótese parecerá paradoxal em uma época de mutações tecnológicas na qual é a eventual diminuição da prática da leitura o que preocupa. Parecerá mais audaciosa, até mesmo incoerente, visto que o gosto pela leitura e a sua prática são, em grande medida, socialmente construídos [...] Se chegaram a ler, foi sempre graças a mediações específicas, ao acompanhamento afetuoso e discreto de um mediador com gosto pelos livros, que fez com que a apropriação deles fosse almejada. [...]. Trechos de Qual o poder da leitura nestes tempos difíceis?, extraído da obra Arte de Ler ou como resistir a adversidade (34, 2009), da antropóloga francesa Michèle Petit. Veja mais aqui.

A MÚSICA DE ALEXANDRA WHITIGHAM
Comecei a tocar quando tinha 7 anos, apenas fazendo barulhos aleatórios no violão. Eu estava tocando músicas de rock e pop que eu gostava (e ainda estou!). Algumas pessoas se aproximaram de mim para tocar em shows depois de ver alguns dos vídeos. Ao longo de tudo isso, realizar shows solo e de câmara e continuar gravando e gravando vídeos está no topo da minha lista de prioridades.
ALEXANDRA WHITIGHAM – A arte da premiada violonista britânica Alexandra Whitigham, que depois de estudar violão clássico, piano, jazz e composição na Escola de Música de Chetham, estudou na Royal Academy of Music em Londres.
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AS MÚLTIPLAS FACES DE AMANDA LEAR
Eu sou uma mulher como outra qualquer.
AMANDA LEAR – A arte da cantora, compositora, pintora, atriz e escritora francesa, Amanda Lear, que começou sua carreira como modelo de moda nos anos 1960 e tornou-se a musa de Salvador Dalí. Uma curiosidade a seu respeito é encontrada no livro, Odyssey, de April Ashley, em que ela se lembra de um homem chamado Alain Tapp, cujo nome artístico foi Peki d'Oslo, e que possivelmente mais tarde se tornou Amanda Lear. Veja mais aqui.

A ARTE DE GEÓRGIA CREIMER
A arte da artista Geórgia Creimer, que hoje vive na Áustria e atua com esculturas, objetos, pinturas e fotografias. Veja mais aqui.

A OBRA DE ARUNDHATI ROY
Eu acho que fui uma criança bastante crescida e tenho sido um adulto muito infantil.
A obra da escritora e ativista indiana Arundhati Roy. Veja mais aqui, aqui, aquiaqui & aqui.
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A POESIA DE RUBEM DE LIMA MACHADO
Nota de falecimento, por Marcos Alexandre Martins Palmeira.
RUBEM DE LIMA MACHADO (1936-2019) - Com sentimentos de tristeza, pesar e solidariedade ao amigo, poeta e escritor Luiz Alberto Machado, bem como aos familiares, informamos o falecimento do seu pai, o senhor Rubem, mais conhecido como Rubinho do Cartório, ocorrido nesta sexta-feira. Nem sempre os verdadeiros irmãos moram abaixo do mesmo teto, Lula dos Palmares, professor numa sociedade de poetas mortos (Robin Williams). Lula, um grande amigo que me presenteou o hino da minha mãe Manguaba Lagoa. O senhor Rubinho à distância abraçou os amigos e irmãos de seu filho. "O velho", assim chamava o poeta Lula, velho esse que, moldado numa sociedade cão e na poeira chão, precisou seguir sem tempo de chorar a dor do irmão que partiu. O homem e o tempo no tempo de um interior, seguiu a vida mergulhado numa política de coronelistas no ranço dos engenhos de açúcar na cana moeda, no lombo dos burros e na chibata dos açoites, que caracterizam os burros racionais e irracionais. Rubinho desassombrado para o tempo no templo do Grande Arquiteto do Universo, foi estigmatizado pelos homens das casacas pretas numa trilogia: Liberdade, igualdade e fraternidade. Anos após, sua cria Lula escreveu nas Alagoas "O bode" rejeitado numa situação acontecida na maçonaria com decretos internos que foram aos Tribunais da Justiça das Alagoas. Rubinho, meu irmão maçom que aprendemos na ordem a entender a morte do mestre Hiran Abif e andar de luto todo dia e o dia todo. Choro como eterno aprendiz a morte do mestre Rubinho, pai do poeta Lula do Quilombo de meus momentos com essa turma de Lula no meu Pernambuco de outrora. Tive a oportunidade de andar com Luiz nas madrugadas de Palmares, além da companhia de músicos, intelectuais, poetas e essa turma de Lula de Rubinho. Hoje, choro a dor do meu mestre Professor Luiz Alberto Machado. Lula meu irmão... Ao nosso companheiro e grande amigo, transmito sentimentos de solidariedade e que Deus conforte e dê força a você e toda a família nesse momento difícil que deixará saudades eternas. Veja mais aqui e aqui.