terça-feira, julho 16, 2019

GRAMSCI, PIERRE CLASTRES, DENISE MILAN, WAYNE WANG & ALAGOINHANDUBA


ERA ASSIM MESMO EM ALAGOINHANDUBA - Quando o juiz Teje-Preso tomou o poder, o alvo era pegar Zé Peiúdo que não era besta nem nada de esperar por tempo ruim e escapuliu, ficou escondidinho – todo mundo sabia, só o magistrado fez que não sabia aonde. Aí achou por bem meter Zé-Corninho na cadeia. Ué, fiz o quê? Tenho certeza que você é ladrão! Mas, mas, mas... Tenho convicção! Provas? Não adianta recorrer, você está fodido. E estava mesmo, coitado. Com isso, o povo ficou em polvorosa, quase meio a meio: os cheleleus, caboetas e oportunistas que eram a maioria de certa forma, na maior claque; os outros, os indignados, com o rabinho entre as pernas. Fazer o quê? Para se garantir, o togado inventou uma eleição extemporânea, assim, no vexame do capricho e sumiu. Ao reaparecer dias depois, estava legitimado com o dobro de votos dos eleitores. Vôte! Foi. Quem votou que não vi? Num sei. Duvidasse não, um panfleto pregado nas portas, esquinas e postes, serviço de som alardeando e carros volantes anunciavam a vitória esmagadora: agora era mais que autoridade, era o Imperador Teje-Preso I. Não deu tempo nem de piscar os olhos, recebeu na lata uma pesquisa: Como é que é? A cidade é doente, só tem doente. Como assim? Tem mais farmácia e igreja que gente! Aonde? No município, ora! Danou-se! Ah! No sopapo, a excelência achou por bem dividir todo território em dois: à direita, um complexo predial enorme. Para quê isso? Reunir a polícia e o Estado Maior; ao lado, outro edifício imenso comportando a escola, isso da educação infantil à universidade: Quero os acadêmicos com os generais das forças armadas, para detectar qualquer problema nas águas, na terra e nos ares. Comigo não escapa nada! Do outro lado, à esquerda, fez construir um arranha-céu maior que a doidice dele e que não tinha mais tamanho para juntar todos os hospitais, públicos e privados, com toda especialidade médica, enfermagem, psicólogos, religiosos de todo tipo – não sei quantos centros espíritas e um bocado de terreiro dos pais e mães de santo foram sacudidos dentro, junto com as clínicas, ambulatórios e laboratórios - e até advogados que estariam lotados num anexo suntuoso, no qual estava o Fórum com todos os cartórios, varas judiciais e escritórios advocatícios. Tudo junto e misturado! No acesso às edificações fez instalar num galpão quilométrico todos os supermercados e farmácias e, do outro lado da rua, todos os templos de todas as crenças se engalfinhando no maior pega pra capar. Tudo para agradar o freguês! No centro fez construir uma torre feito um panóptico, com faróis para inspecionar todas as atividades da cidade. Decretou o toque de recolher a partir das 21 horas, suspensão da energia elétrica a partir das 22 – com ordem de atirar em quem estivesse premiado zanzando fora de hora -, e aboliu todo tipo de arte, admitindo-se apenas a da guerra. Para tanto, reuniu-se com todas as manifestações religiosas para erradicar qualquer memória: fizeram um monturo e queimaram todos os álbuns de recordações familiares. Nenhuma lembrança mais – tanto que o fotógrafo do local, seu Uiço, foi instado a inventar uma foto que só durasse 24 horas, sob pena de ver seu negócio quebrado no pau! Por conta das escapulidas noturnas, o cemitério ganhou proporções latifundiárias, fato que o fez transformar-se em espaço agrícola público para manutenção da localidade, obrigando-se a todo morador a dar um expediente de no mínimo 6 horas diárias, e compulsoriamente os estudantes e professores ministrarem aulas duas vezes por semana sobre o desenvolvimento de culturas agricultáveis no local. Com tudo em ordem, sentenciou Zé Corninho à pena de prisão perpétua; Peiúdo aparecesse não, pena capital, mas estava soltinho para lá e para cá, armando das suas. O negócio ganhou na fuxicagem de bater em Brasília como reboliço. O rei Coiso temendo concorrência desleal, entrou logo em contato, atendido na hora: Aí quem manda é você, aqui quem manda sou eu; se der as caras por estas bandas, vai ser preso também e saiba: bala é bicho que faz um buraco medonho e pode borrar sua maquiagem. Tenho dito, Teje-Preso I. Estava prestes a maior quebra-de-braço, de não se saber como vai parar. Porém, para a autoridade alagoinhandubense, viverão todos felizes para sempre. Foi nada, ôxe, o tempo passa e a coisa dá um giro do dia pra noite de virar tudo de pernas pro ar. Quer ver? Destá. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] se por economia de subsistência não nos contentamos em entender economia sem mercado e sem excedentes – o que seria um simples truísmo, o puro registro da diferença –, então com efeito se afirma que esse tipo de economia permite à sociedade que ele funda tão-somente subsistir, afirma-se que essa sociedade mobiliza permanentemente a totalidade de suas forças primitivas para fornecer a seus membros o mínimo necessário à subsistência. Existe aí um preconceito tenaz, curiosamente coextensivo à ideia contraditória e não menos corrente de que o selvagem é preguiçoso. Se em nossa linguagem popular diz-se ‘trabalhar como um negro’, na América do Sul, por outro lado, diz-se ‘vagabundo com um índio’. Então, das duas uma: ou o homem das sociedades primitivas, americanas e outras, vive em economia de subsistência e passa quase todo o tempo à procura de alimento, ou não vive em economia de subsistência e pode, portanto, se proporcionar lazeres prolongados fumando em sua rede. Isso chocou claramente os primeiros observadores europeus dos índios do Brasil. Grande era sua reprovação ao constatarem que latagões cheios de saúde preferiam se empetecar, como mulheres, de pinturas e plumas, em vez de regarem com suor as suas áreas cultivadas. Tratava-se, portanto, de povos que ignoravam deliberadamente que é preciso ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Isso era demais e não durou muito: rapidamente se puseram os índios para trabalhar, e eles começaram a morrer. Dois axiomas, com efeito, parecem guiar a marcha da civilização ocidental, desde a sua aurora: o primeiro estabelece que a verdadeira sociedade se desenvolve sob a sombra protetora do Estado; o segundo enuncia um imperativo categórico: é necessário trabalhar. Os índios, efetivamente, só dedicavam pouco tempo àquilo a que damos o nome de trabalho. E apesar disso não morriam de fome. Os cronistas da época são unânimes em descrever a bela aparência dos adultos, a boa saúde das numerosas crianças, a abundância e variedade de recursos alimentares. [...] o que se constata no mundo dos selvagens é um extraordinário esfacelamento das ‘nações’, tribos, sociedades em grupos locais que tratam cuidadosamente de conservar sua autonomia no seio do conjunto do qual fazem parte, com o risco de concluir alianças provisórias com seus vizinhos, se as circunstâncias – guerreiras em particular – o exigem. Essa atomização do universo tribal é certamente um meio eficaz de impedir a constituição de conjuntos sócio-políticos que integram os grupos locais, e , mais além um meio de proibir a emergência do Estado que, em sua essência é unificador. [...] Na sociedade primitiva, sociedade essencialmente igualitária, os homens são senhores de sua atividade, senhores da circulação dos produtos dessa atividade [...] Tudo se desarruma, por conseguinte, quando a atividade de produção se afasta do seu objetivo inicial, quando, em vez de produzir apenas para si mesmo, o homem primitivo produz também para os outros, sem troca e sem reciprocidade. Só então é que podemos falar em trabalho: quando a regra igualitária de troca deixa de constituir o ‘código civil’ da sociedade, quando a atividade de produção visa a satisfazer as necessidades dos outros, quando a regra de troca é substituída pelo terror da dívida. Na verdade, é exatamente ali que se inscreve a diferença entre o selvagem amazônico e o índio do Império Inca. O primeiro produz, em suma, para viver, enquanto segundo trabalha, de mais a mais, para fazer com que os outros vivam – os que não trabalham, os senhores que lhe dizem: cumpre que tu pagues o que nos deves, impõe-se que tu eternamente saldes a dívida que conosco contraíste. [...]
Trechos extraídos da obra A sociedade contra o Estado (Francisco Alves, 1988), do antropólogo e etnógrafo francês Pierre Clastres (1934-1977). Veja mais aqui e aqui.

CHINESE BOX
Da sua vida você me dá um momento e eu sei que apesar do passado e apesar do futuro esse instante que é a nossa vida é o momento em que você me ama .
O drama Chinese Box (Último entardecer, 1997), dirigindo por Wayne Wang, conta a história de um jornalista que vive em Hong Kong e é secretamente apaixonado por uma chinesa hostess de um bar. Durante o período de apreensão e ansiedade que precede o Ano Novo, três vidas ligam-se intimamente, de forma exótica e passional. O filme e baseado no romance Kowloon Tong (1997), de Paul Theroux e foi ambientado e feito na época da entrega de Honk Kong à República Popular da China, em 1997. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE DENISE MILAN
Quero arte - essa pedra é o testemunho de união e separação, isto é, o que pode ser comum a dois continentes distintos, Africa e América, que antes da Grande Divisão, há 750 milhões de anos atrás, formavam uma só terra. Esta é a metáfora dessa pedra, que desperta a consciência da possibilidade de unificação.
A arte da escultora, pintora, artista multimídia e interdisciplinar Denise Milan, que usa em sua arte a pedra como eixo criativo, executando obras nas áreas de arte pública, escultura, artes cênicas, poesia, impressão e vídeo-arte. Veja mais aqui.

A OBRA DE GRAMSCI
O desafio da modernidade é viver sem ilusões, sem se tornar desiludido.
A obra do filósofo e cientista político italiano, Antonio Gramsci (1891-1937) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
&
Culto da Rosa no Rondonotícias aqui.