sexta-feira, fevereiro 15, 2019

MURILO MENDES, CARLA SALAZAR, IRENA SENDLER, MATA DE PERNAMBUCO & OUTRA PARA NÃO DIZER NADA


OUTRA PARA NÃO DIZER NADA - Tantos caminhos percorridos e o arrastado de malas deram por perdidas viagens, desencontros de goteiras do teto pingando na cabeça e empoçando o piso escorregadio para desastradas venturas. Quantos meses de chuvas e de sol, a quentura do pulso ao peito para tudo e a frieza das portas e fisionomias. Das tentativas o alvo, a mira e o atoleiro: no balanço das águas só se pode nadar, não há quem se segure de pé. Quem sabe pra onde o dedo alheio no gatilho, não há de ser leso de ficar ali feito imã, plantado no meio de campo, se para escapar tem que estalar os dedos e tomar pé da situação, serei um garrancho qualquer na caligrafia de Deus, então. Mas se falo no escuro, teor do anonimato: se fosse para todos seria premiado, um de cada vez, todos; mas não, a implicância dos sonâmbulos tira vantagem de tudo, se ajeita como pode e nem adianta vinte e quatro horas de vigília se às quedas quarenta e oito vezes o aprendizado de dias e noites que se foram para nunca mais. Nem adianta vinte e quatro sonhos se eram apenas um dia a cada dia, refeitos tantas quantas vezes diante da boa vontade de se aprumar para vida e muita má vontade de sobra na má-fé para que nada desse certo nem fosse feito. Dos caminhos percorridos, lições de sobra do cabelo em pé e frio na barriga com as espalhadas nas curvas e as sobradas de nunca chegar a lugar algum, guardando no quengo e toitiço uma após outra cada lapada da vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS
[...] índices pouco usuais de concentração fundiária refletem-se em precárias condições de acesso a terra e asseguram às usinas, principalmente, uma situação de quase monopolistas controladores da propriedade do solo, donde derivam relações econômicas e sociais bastante assimétricas. Por outro lado, vale observar que diante do elevado nível de endividamento das usinas para com os bancos oficiais, atualmente existentes, esse elevado índice de concentração de terras entre as usinas pode facilitar, por mais paradoxal que seja, um processo de negociação de dívidas em troca de terras para fins de reforma agrária. [...] Afora isso, boa parte das usinas de açúcar e álcool apresentam hoje problemas de endividamento que já levaram ao fechamento de algumas delas e impedem a recuperação de outras tantas.
Trechos extraídos da publicação Zona da Mata de Pernambuco; estudo de alternativas de geração de emprego e renda no meio urbano (Sebrae/Série Reflexões sobre a Zona da Mata, 1995), coordenado por João Policarpo Rodrigues de Lima, Abraham Benzaquem Sicsú, Osmil Torres Halindo Filho, José Biondi Ney da Silva e Maria Amália Albuquerque Almeida. Veja mais aqui.

A POESIA DE MURILO MENDES
UMA MULHER – Ela estava no círculo familiar como as outras, / folheando um livro de gravuras: / a noite nos cercava com seus abismos azuis / e a ideia de quase uma floresta próxima. / Alguém acendeu um candeeiro de petróleo, / as pessoas presentes recuaram no tempo. / Ela se levantou para abrir uma vidraça, / e muito branca, toda vestida de preto, / seus movimentos ao mesmo tempo lentos e velozes / fizeram nascer um começo de dançarina ou de gaivota, / hélices mexendo, mãos a correr no teclado. / Quando sentou-se era outra vez a mulher.
MULHER – Mulher / ora opaca ora translúcida / submarina ou vegetal / assumes todas as formas, / desposas o movimento. / Sinal de contradição / posto um dia neste mundo / tu és o quinto elemento / agregado pelo poeta / que te ama e te assimila / e é bebido por ti. / Tu és na verdade, mulher, / construção e destruição.
CERTA MULHER – A linha do horizonte / passa pelos teus cílios / tua fonte a inquietação murmura / a alta lâmpada do templo balançou / porque não brincaste nunca mais com o arco / nos lânguidos terraços / a onda vai e volta / na esperança de te ver / o trevo de quatro folhas / achou-te. / Estrelas gêmeas suspiram.
A MULHER ANÔNIMA – Lembra-te daquela mulher / que um dia te acenou do alto de uma varanda, / daquela forma admirável mas sem nome / que uma tarde te disse adeus / enquanto o automóvel parou um minuto na estrada. / Lembra-te da mulher pouco decorativa, mulher simples / que não tiveste coragem de arrancar violento ao espaço / e que certamente nunca mais tornarás a ver: / lembra-te da bela mulher que estremeceu por ti / e sê-lhe fiel até o último dia da tua vida.
Poemas extraídos da obra As metamorfoses (Record, 2002), do poeta e prosador do Surrealismo brasileiro, Murilo Mendes (1901-1975). Veja mais aqui.

A ARTE DE CARLA SALAZAR
A arte da ilustradora chilena Carla Salazar. Veja mais aqui.
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As ações da enfermeira e ativista polaca Irena Sendler (1910-2008) aqui.
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