Imagem: arte da saudosa
Derinha Rocha.
O FREVO
Luiz Alberto Machado
Não disfarço: sou amarrado em frevo! Tanto é que além de pular - porque dançar, sempre fui ruim das
pernas -, inventei de compor alguns. Isso porque o frevo é uma das expressões
mais marcantes da pernambucanidade e nela está enraizada a empolgação de um
ritmo musical fogoso e alegre que, normalmente, aparece durante o carnaval.
Coisa de louco mesmo. Quando se avizinha o carnaval, logo se destabocam as folias e,
inevitavelmente, a liberdade come no centro. Numa breve abordagem histórica, o frevo nasceu em Pernambuco no
século XIX e guarda até hoje uma polêmica: quem nasceu primeiro, a música ou a
dança? Conforme Valdemar de Oliveira: "Foi, de fato, no Recife dos fins do século XIX, começos deste, que a
música foi aparecendo, conduzindo a dança, ou a dança foi tomando corpo,
sugerindo a música. É impossível distinguir bem: se o frevo, que é a música,
trouxe o passo ou se o passo, que é a dança, trouxe o frevo. As duas coisas
foram se inspirando uma na outra - e completam-se". Tanto é que levou José Ramos Tinhorão ao mencionar na sua
"Pequena história da música popular" que: "Tal como no caso do maxixe, o frevo do Recife surgiu da interação entre
música e dança, a ponto de não se poder distinguir - como tão bem ressaltou o
estudioso pernambucano Valdemar de Oliveira [...] Os estudiosos do frevo pernambucano, embora discordando em vários
pontos quanto a pormenores de sua história, são unânimes em concordar que as
origens do passo (nome atribuído às figurações improvisadas pelos dançarinos ao
som da música) se prendem à presença de capoeiras nos desfiles das duas mais
famosas bandas de músicas militares do Recife da segunda metade do século XIX". Por causa disso, o melhor mesmo é curtir a música e ver se, ao
ouvi-la consegue ficar parado num canto. Para mim, isso é impossível. Uma outra questão interessante é quanto a origem da denominação
frevo, que, segundo Tinhorão, o nome serve "[...] para designar a visão dos milhares de recifenses caindo no passo: os
saltos da dança, vistos de longe, davam à multidão o aspecto de uma superfície
líquida fervendo, e na linguagem popular pernambucana ferver sempre fora frever". Daí a explicação: o nome frevo vem de ferver, de quentura,
agitação, efervescência. E, na verdade, não é outra coisa senão tudo isso junto
no maior rebuliço. Sim, com o seguinte detalhe: pelo vício de linguagem, ferver era
pronunciado "frever", como em "frebento", da expressão
"frebe-do-rato", passando, assim, a se denominar frevo à música de
composição ligeira, execução vigorosa e, invariavelmente, estridente que,
segundo o maestro e estudioso Guerra Peixe, é "[...] a mais importante expressão musical popular", a ponto de levar
Carlos da Fonte Filho, no seu livro "Espetáculos populares de
Pernambuco", a considerar ser então o ritmo uma alegre mistura de polca e
dobrado, com influência do maxixe, do galope, da quadrilha, da marcha e, até do
tango brasileiro. Verdadeiro amontoado de coisas. Além do mais, há uma tipologia muito peculiar ao frevo: o
frevo-de-rua, que é instrumental, sem letra, que sai levando o povo pelas ruas
e tem sua maior representantividade no "Vassourinhas", de Matias da
Rocha. Já a marcha de bloco que, segundo Carlos Fonte Filho: "[...] é executada por uma orquestra composta por
instrumentos de corda, como violão, cavaquinho e banjo", tem, como exemplo
dessa modalidade, a "Evocação n. 1", de Nélson Ferreira e
"Saudade", dos irmãos Valença. E, enfim, o frevo-canção que se
assemelha às marchinhas cariocas onde são cantadas as letras compostas de rara
poesia, como os compostos por Capiba e cantados pela voz do legendário
Claudionor Germano, ou mesmo o "Hino do Elefante", de Clídio Nigro. Tudo isso sem contar com o repertório vastíssimo da dança que hoje
comporta mais ou menos cento e vinte passos, entre volteios, pulos,
gesticulações e até acrobacias, com a maior liberdade na indumentária. Mais outro detalhe: é exatamente na apresentação das mulheres
quando o frevo assume uma sensualidade marcante pela utilização de blusas
curtinhas e minissaias rodadas, deixando os marmanjos de queixo-caído, levados,
pelo entusiasmo a pular cada qual ao seu modo e jeito. Tudo em nome da folia e
da liberdade. Pelo visto, não é à toa que o frevo é uma das marcas
pernambucanas: bastando aparecer os seus primeiros acordes para todo mundo
remexer o esqueleto, caindo solto na frevada e se preparando para se esbaldar
com o ritmo que já passou a ser popularmente conhecido como levanta-defunto. E
tem essa alcunha porque, para quem conhece, é impossível não mexer nenhum
músculo quando executado na rua, nos salões, ou onde eclodir. Realmente o frevo é uma dessas formas musicais contagiantes que
leva todo folião ao êxtase no passo, na dança e na folia toda. Mesmo fora do
carnaval, quando os acordes introdutórios soam de longe, qualquer desavisado
corre logo para ver o que está acontecendo, por isso que também é logo
entendido como ajunta-gente, tal seu poder de arregimentar
adepto-até-de-um-olho-só. Não posso me furtar a dizer que o frevo já vem no sangue do
pernambucano desde seu nascimento, mesmo que seja alheio a esse fato, mas que,
indubitavelmente, ao ouvi-lo sentirá nas entranhas a revolução provocadora da
música. Veja
mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS – Uma: quem dorme e acorda todo dia e nunca
vê o espetáculo do Sol, nada demais, por isso indiferença é coisa besta. Outra:
Existe demente pra tudo. Tem até quem não sente nem a mordida da ocasião – uma
facada a mais ou de menos, nada demais -, só se vê mesmo o estrago só muito
tempo depois, ora. (LAM).
ALGUÉM FALOU – Com o
tempo, qualquer amigo muito próximo e querido acaba se tornando tão inútil
quanto um parente. Expressão do humorista e dramaturgo estadunidense George Ade (1866-1944).
O UNO & O HOMEM – [...] O desejo de reencontrar essa unidade perdida
que constrangeu o homem a conceber os opostos como aspetos complementares de
uma realidade única. É a partir de tais experiências existenciais, despoletadas
pela necessidade de transcender os contrários que se foram articulando as primeiras
especulações teológicas e filosóficas. Antes de se tornarem conceitos
filosóficos por excelência, o Uno, a Unidade, a Totalidade constituíram
nostalgias que se revelavam nos mitos e nas crenças, e cumpriam-se nos ritos e
nas técnicas místicas. O mistério da totalidadetraduz o esforço do homem para
aceder a uma perspetiva na qual oscontrários se anulam. [...]. Trecho extraído da obra Métiphsitophélès et l'androgyne (Gallimard, 1964), do
filósofo, professor, cientista das religiões, mitólogo e romancista romeno Mircea
Eliade (1997-1986). Veja mais aqui e aqui.
A EDUCAÇÃO – [...] Um dos
grandes méritos deste século, sem dúvida, é o fato de os homens terem
despertado para a consciência da importância da educação como necessidade
preeminente para viver em plenitude como pessoa e como cidadão envolvido na
sociedade. Pensar na Educação, implica refletir sobre os paradigmas que
caracterizaram o século XX e sobre a projeção das mudanças paradigmáticas no
século XXI. [...]. Trecho extraído da obra O paradigma emergente e a prática pedagógica (Champagnat, 1999), da
pedagoga e professora Marilda Behrens.
BILLY ELLIOT – O filme Billy Elliot (2000), de Stephen
Daldry, conta a história de um menino filho de mineiro ingles que mora numa
pequena cidade e que detesta esportes, principalmente box, que é obrigado a
praticar. Um dia, descober as aulas de dança dadas para as meninas da escola.
Fascinado pelos movimentos, pede que a professora permita-lhe frequentar o
curso. Sabendo que sua família operaria não aceitaria sua escolha, mantém aulas
e ensaios em segredo. Trabalha arduamente pois seu corpo tem de desaprender o
condicionamento dado pelos esportes para adquirir e a flexibilidade e a leveza
necessárias à dança. Quando seu descobre o que está fazendo, instala-se um
violento conflito em que são revelados inúmeros preconceitos em relação à
dança, à sexualidade de quem dança, dando margem a discussões sobre rótulos e
papeis sociais tradicionais. O filme aborda questões éticas e estéticas.
DIÁRIO DE UM LOUCO – II – Sonhei
com Susie. Repetia-se a cena do filme com mudanças abruptas: primeiro era um
quarto de asilo onde nos despíamos e amávamos ternamente depois da Emergência
comos loucos aplaudindo e um menino batendo no meu ombro e perguntanto “mamãe
vem hoje, mamãe vem hoje” em seguida, Susie vomitando sangue no meu peito: e
Manuel Bandeira recitando: A vida, não vale a pena e a dor de ser vivda. Os
corpos se estendem mas as almas não. A única coisa a fazer é tocar um tango
argentino. Acordei irritadíssimo. Fora enfeitiçado pelo cavalo branco andando
na neve lentamente e me envolvera como corpo em êxtase espiritual de Susie. A
cabeça me doía. A boca seca. Decidi não ir ao refeitório para o café da manhã.
[...]. Trechos extraídos da obra Os
extremos do arco-íris (Bagaço, 1993), do premiado escritor, crítico, editor e
jornalista pernambucano Raimundo Carrero. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
CAPOEIRA DO ARNALDO - Eu sai da minha terra / Me deu lição verdadeira / Por ter
sina viageira / Coragem num tá no grito / Com dois meses de viagem / E nem
riqueza na algibeira / Eu vivi uma vida inteiraE os pecado de domingo / Sai
bravo, cheguei manso / Quem paga é segunda-feira / Macho da mesma maneira / Estrada
foi boa mestra. Música do zoólogo e compositor Paulo Vanzolini.
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Amor
imortal na Folia Tataritaritatá, Manuel
Bandeira, Pedro Nava, Carlo Goldoni, Cacá Diégues, Carybé, SpokFrevo Orquestra, Luís Bandeira, Ana Paula Bouzas, Tatiana
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