TERÇA-FEIRA
Luiz Alberto Machado
Toda noite ali na minha visão esquálida
de poeta amotinado eu vou sozinho cortejando a vida na catarse de Gismonti
Todas as noites tal como o mar que nunca
dorme a perseguir um grande amor eu voo todas as noites no cálice da agonia
onírica dos casais dançando no menir do navio e seus namorados contornando o
dólmen das fadas
E eu vou só a remover do labirinto febril
a meio caminho da loucura
Todas as noites ali no meio da lua cheia
que é tão fêmea eu vou sozinho e voo
Ah, como é tão imprudente semear o
insopitável amor perdido que a esta hora é tão pernicioso e não se pode evitar
nem repelir, ah eu vou sozinho e voo
Ah, todas as noites nesta longa noite
longa onde é maior a solidão - um cobertor de inefável sonho onde eu vou
sozinho e voo
Ah! Quantos sonhos eu vi acabar e valeram
iludir por que não sei agora nem de mim nem de nada, muito menos de mésons, de
pobres rhesus, não sei nada da cidade perdida de Nko, no meio da selva
africana, onde feiticeiros mortos reencarnam no corpo de gorilas amestrados, eu
vou sozinho, pra quê exceder às necessidades coletivas, não sei, não sei nada e
vou sozinho qual neurótico homo faber a renunciar da vida e pra que viver se
vou sozinho e voo só
Ah! Como eu vivo sonhando no interior das
aberrações de Fellini sigo itinerante e só amaldiçoado e só por amor e é por
este desejo que passo as noites em claro todas as noites nesta noite e vou só no
inventário de quem sorri, na vigilância de quem ama, na insônia de amar.
Veja
mais no Trâmite da Solidão.
DITOS & DESDITOS - Uma:
tem gente que pinta e borda, vira e mexe, faz e acontece, tudo em nome da
mudança. Vai ver quase nem saiu do lugar, só andou pra trás. Eu, hem? Outra: um
ai aqui, um ui ali, gemido que só. Saúde que é bom, feito negócio: desembolse o
que tem e reze secando os cambitos na fila ou na sala de espera alguns meses.
Pergunto: isso é direito? (LAM)
ALGUÉM FALOU – [...] Ser
feminina é mostrar-se impotente, fútil, passiva, dócil. A jovem deverá não
somente enfeitar-se, arranjar-se, mas ainda reprimir sua espontaneidade e
substituir, a graça e encanto estudados que lhe ensinam as mais velhas. Toda
afirmação de si diminui sua feminilidade e suas possibilidade e suas probabilidades
de sedução [...]. Trecho extraído da obra O segundo sexo (Nova Fronteira,
1949), da escritora, filósofa existencialista, ativista política, feminista e
teórica social francesa Simone de Beauvoir (1908-1896). Veja mais aqui.
MINHA LÂMPADA E MEU PAPEL EM BRANCO – [...] Lembrando-se
de um longínquo passado de trabalho, reimafinando as imagens tão numeroas mas
também monótonas do trabalhador obstinado, lendo e meditando sob a lâmpada,
fica-se preso a um vbiver como sendo o único personagem de em quadro. Um quarto
de paredes delicadas e como que apertado sobre seu centro, concentrado em torno
do meditante sentado diante da mesa iluminada pela lâmpada. Durante uma longa
vida, o quadro recebeu mil variantes. Porem, guardasua unidade, sua vida
central. É agora uma imagem constante em que se fundem as lembranças e as
fantasias. O ser sonhando concentra-se aí para lembrar o ser que trabalhava. Que
reconforto, que nostalgia lembrar-se dos quartos pequenos onde se trabalhava,
onde se tinha energia para trabalhar bem. O verdadeiro espaço do trabalho
solitário é dentro de um quarto pequeno iluminado pela lâmpada. [...] O trabalhador sob a lâmpada é assim uma
primeira gravura, válida para mim em mil lembranças, válida para todos, pelo
menos é o que imagino. O desenho, tenho certeza, não precisa de legenda. Não se
sabe o que o trabalhador sob a lâmpada pensa, mas sabe-se que pensa, que está
só, a pensar. A primeira gravura traz a marca de uma solidão, a marca
característica de um tipo de solidão. [...] Como trabalharia melhor, como trabalharia bem se pudesse me reencontrar
em uma ou outrra de minhas “primeiras” gravuras! [...] Trechos extraídos da
obra A chama de uma vela (Bertrand
Brasil, 1989), do filósofo, crítico literário e epistemólogo francês Gaston
Bachelard (1884-1962). Veja mais aqui.
ILHA DAS FLORES – O premiado documentário curta-metragem Ilha das Flores (1988), de Jorge Furtado, traz em linguagem
pseudocientífica, a tragerória de um tomate, do momento do plantio até chegar
ao consumidor final, quando apodrece e é descartado, indo para um depósito lixo
na Ilha das Flores, Porto Alegre – RS, em roteiro por agricultores, vendedores,
dona-de-casa, dono do lixão, até os miserável que se alimentam dos detritos
rejeitados pelos animais. Tarata da imensa diferença socioeconômica no Brasil,
discutindo as políticas liberais e suas consequências e debate ético sobre a
condição humana.
O CORAÇÃO DOS HOMENS - [...] Comecei
a vê-la de longe, quando despontou na rua. Conheci-lhe a blusa [...] Eu estava inocente nela. E procurei mesmo os
seus olhos, durante todo o tempo em que veio vindo. Um simples sentimento
amistoso se apossava de mim e me impelia ao gesto tristemente fraterno de
abrir-lhe os braços [...] Ela estava
cada vez mais perto. Já podia ver-lhe os olhos, os mesms e belos olhos de
sempre. [...] Eu olhei sua boca,
porque era sempre em sua boca que as coisas aconteciam. Qualquer acontecimento
de sua alma (de triste ou alegra) foi sempre na boca que transpareceu. Como uma
criança. [...] Seus olhos sabem
esconder, omitir, mentir. A boca não sabe. E foi sempre por ela que me guiei.
Sempre diante dela, quando fremiu, que desci, pesadamente, a todo o meu
sofrimento. [...] Seu olhar mendigo,
nos meus olhos. Sua boca de criança cujo ricro eu gostaria de desmanchar com as
mãos, porque sentia, que, dali em diante, começaria a sofrer. [...] Crênica
extraída da obra Crônicas (Paz e
Terra, 1996), do poeta, radialista e compositor Antônio Maria
(1921-1964). Veja mais aqui.
Veja mais sobre:
Cheiro da felicidade & Segunda feira
do Trâmite da Solidão aqui.
E mais:
Caboclinhos aqui.
O frevo aqui.
Martin Buber, Julio Verne, Rick Wakeman,
Pier Paolo Pasolini, Abelardo & Heloisa, Vangelis, Gustave Courbert &
Arriete Vilela aqui.
Empreendedorismo & o empreendedor aqui.
Uma cachaçada e uma casa no meio da rua aqui.
O trânsito e a fubica do Doro aqui.
A obra de Pedro Abelardo, Projeto Carmin
& Cruor Arte Contemporânea aqui.
Recontando Caetano Veloso & Podres
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Recitando Castro Alves & O Navio
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&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA;
Leitora Tataritaritatá
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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Terra:
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Musical Tataritaritatá - Fanpage.
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