sexta-feira, junho 19, 2015

RUSHDIE, PASCAL, UHLAND, McCARTNEY, OBEID, PAULINA, DERAIN & DORO NO BIG SHIT BÔBRAS.


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? BIG SHIT BÔBRAS: Doro queria ser presidente. Diz ele: depois de Lula, qualquer tem essa ambição. – É só... -, melhor falar dele: fez trejeitos, se amostrou como pôde, esgoelou-se, estrebuchou, estertorou e nada. Percebeu que umbigo não tem ouvidos, tudo só vinga na base da telinha e das vitrines. Foi na TV, os cegos deram-no por invisível; foi pras rádios, tudo mouco. Armou-se dum megafone no meio da feira, nada. Encheu o mundo de pernas, secou os cambitos. O que fazer? Criatividade: jogou um vídeo na rede com suas lorotas; seis meses depois só um acesso, o dele. Nem um mais pra remédio. Insistiu por anos, persistiu. Inovou e botou banca: um sonso com as manguinhas de fora. Perseverou, mas prevalecia condições aversivas. Bateu com a cabeça no muro, entrou na contramão. Restou ficar nu e dar uma de doido: comeu merda e rasgou dinheiro. Ganhou uma camisa de força, uma pecha de lelé e depois do diagnóstico são, mais nada. E como mais nada havia por tentar, questionou-se: que fazer? Desistiu. A indiferença dos outros venceu. Veja mais aqui.

Imagem: The beautiful model, do pintor francês Andre Derain (1880-1954)

Curtindo o álbum duplo e ao vivo Back in the World (Parlophone/EMI, 2003), do cantor e compositor inglês Paul McCartney.

A MISÉRIA DO HOMEM – No livro Pensamentos (Pensées, 1670), do filósofo, físico e teólogo francês Blaise Pascal (1623-1662) encontro o capítulo XXI que trata sobre a miséria do homem: [...] Nada é mais capaz de nos fazer entrar no conhecimento da miséria dos homens do que considerar a causa verdadeira da agitação perpétua na qual passam a vida. A alma é lançada no corpo para ai fazer uma estadia de pouca duração. Sabe que é apenas uma passagem a uma viagem eterna e que só dispõe do pouco tempo que dura a vida para se preparar. Às necessidades da natureza lhe arrebatam uma parte muito grande dela. Só lhe resta muito pouco de que possa dispor. Mas, esse pouco que lhe resta a incomoda tanto e a embaraça de modo tão estranho que ela só pensa em perdê-la. É, para ela, uma pena insuportável ser obrigada a viver consigo e a pensar em si. Assim, todo o seu cuidado consiste em se esquecer de si mesma e deixar correr esse tempo tão curto e tão precioso sem reflexão, ocupando-se com coisas que a impedem de pensar nisso. Eis a origem de todas as ocupações tumultuárias dos homens e de tudo o que se chama de divertimento ou passatempo, nos quais, de fato, não se tem por fim senão deixar neles passar o tempo sem o sentir, ou antes, sem se sentir a si mesmo, e evitar, perdendo essa parte da vida, a amargura e o desgosto interior que acompanhariam necessariamente a atenção que se prestasse a si mesmo durante esse tempo. A alma não acha nada em si que a contente; não vê nada que não a aflija quando medita. É o que a constrange a transbordar-se e a procurar, na aplicação às coisas exteriores, perder a lembrança do seu estado verdadeiro. Sua alegria consiste nesse esquecimento, e basta, para torná-la miserável, obrigá-la a se ver e a estar consigo. Encarregam os homens, desde a infância, do cuidado de sua honra, do seu bem, e ainda do bem é da honra dos seus amigos Atormentam-nos com negócios, com a aprendizagem das línguas e das ciências, e fazem-nos entender que não poderiam ser felizes sem a sua saúde, a sua honra, a sua fortuna e a dos seus amigos estarem em bom estado, e que uma só coisa que falte os tornaria infelizes. Assim, dão-lhes cargos e negócios que os fazem labutar desde o despontar do dia. Eis, direis, uma estranha maneira de torná-los felizes; que se poderia fazer de melhor para torná-los infelizes? Como! que se poderia fazer? Bastaria tirar-lhes todas as suas preocupações: e, então, eles se veriam, pensariam no que são, de onde vêm, para onde vão; e, assim, não se pode ocupá-los e desviá-los tanto; e eis porque, depois de lhes terem preparado tantos negócios, se eles têm algum tempo de folga, aconselham-nos a empregá-lo exclusivamente em diversões, passatempos e ocupações. [...] Daí resulta que os homens gostem tanto do barulho e do reboliço; daí resulta que a prisão seja um suplício tão horrível; daí resulta que o prazer da solidão seja uma coisa incompreensível E, finalmente, que o maior motivo de felicidade da condição dos reis consista em procurar diverti-los sem cessar e proporcionar-lhes todas as variedades de prazeres. Eis tudo o que os homens puderam inventar para tornarem-se felizes. E os que assim se fazem de filósofos, e que acreditam que o mundo seja bem pouco razoável para passar o dia inteiro a correr atrás de uma lebre que não desejassem comprar, não conhecem a nossa natureza. Essa lebre não nos preservaria da visão da morte e das misérias que nos desviam dela, mas a caça nos preserva. E assim, quando acusados de que o que procuram com tanto ardor não poderia satisfazê-los, se respondessem, como deveriam fazê-lo se meditassem bem, que procuram tão somente uma ocupação violenta e impetuosa que os desvie de pensar em si, e que é por isso que se propõem um objeto atraente que os encante e os atraia com ardor, deixariam seus adversários sem resposta. Mas, não respondem isso, porque não se conhecem a si mesmos; não sabem que é somente a caça e não a presa o que procuram. [...] Veja mais aqui.

OS VERSOS SATÂNICOS – O livro Os versos satânicos (Companhia das Letras, 1998), do escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie, conta em sua história de dois indianos muçulmanos que sobreviveram a um atentado a bomba de separatistas sikh em um avião e faz referências a alguns versículos Gharanigh, que são versos do Corão. Da obra destaco o trecho inicial: "Para nascer de novo", cantava Gibreel Farishta despencando do céu, "é preciso morrer primeiro. Ho ji! Ho ji! Para pousar no seio da terra, é preciso voar primeiro. Tat-taa! Taka-thun! Como sorrir de novo, se não se chorou primeiro? Como conquistar o coração da amada, mister, sem um suspiro? Baba, se você quer nascer de novo..." Pouco antes do amanhecer de uma manhã de inverno, no dia de Ano-Novo, ou por aí, dois homens de verdade, adultos, vivos, caíram de grande altura, vinte e nove mil e dois pés, em direção ao canal da Mancha, sem a garantia de pára-quedas nem de asas, caíram do céu limpo. "Tem de morrer, estou dizendo, tem de morrer, tem de morrer", e assim foi, sob uma lua de alabastro, até que um grito alto atravessou a noite: "Pro inferno com essa música", as palavras suspensas, cristalinas, na branca noite gelada. "Nos filmes você usava playback e só mexia a boca, portanto me poupe desse barulho infernal." Gibreel, o solista desafinado, brincava ao luar, cantando seu gazal improvisado, nadando no ar, borboleta, de peito, se enrolava numa bola, abria braços e pernas no quase-infinito do quase alvorecer, adotava posturas heráldicas, rampante, agachado, opondo leveza à gravidade. Ele rolou, feliz, na direção da voz sardônica. "Alô-alô, Salad baba, é você, que bom. Que tal, Chumch?" Ao que o outro, uma sombra meticulosa caindo de cabeça, o terno cinzento com todos os botões do paletó abotoados, braços colados ao corpo, confiante na improbabilidade do chapéu-coco na cabeça, fez uma careta de quem não gosta de apelidos. "E aí, Spoono", Gibreel gritou, provocando uma segunda careta de ponta-cabeça, "A Própria Londres, bhai! Lá vamos nós! Aqueles filhos da puta lá embaixo não vão nem saber o que foi que caiu em cima deles. Se foi meteoro ou raio ou a ira de Deus. Saído do nada, baby. Drrraaammm! Rrram, na? Que chegada, yaar. É ou não é: splat." Saindo do nada: um big bang, seguido de estrelas cadentes. Um começo universal, um eco em miniatura do nascer do tempo... o jato jumbo Bostan, vôo AI-420, desintegrou-se sem aviso prévio, muito acima da grande, podre, bela, branca de neve, iluminada cidade, Mahagonny, Babilônia, Alphaville. Mas Gibreel já a batizou, não devo interferir: Própria Londres, capital de Vilayet, cintilando, piscando, acenando na noite. Enquanto nas alturas himalaias um sol breve e prematuro explodia no ar empoeirado de janeiro, um bip desaparecia das telas de radar, e o ar rarefeito se enchia de corpos, despencando do Evereste da catástrofe para a palidez leitosa do mar. Quem sou eu? Quem mais está aí? [...] Veja mais aqui.

A COROA SUBMERSA NA NOITE DAS NUVENS– Dois poemas do poeta do Romantismo alemão Ludwig Uhland (1787-1862) merecem destaque, o primeiro deles A coroa submersa: No alto daquele monte / Há uma casa pequenina, / Panorama deslumbrante / Da porta se descortina; / Livre e justo lavrador / Lá mora, que ao fim do dia / Cânticos ergue ao Senhor / E o gume da foice afia. / Embaixo um pântano existe / Sombrio, onde jaz no fundo / Coroa, em que já se viram / A glória e o poder do mundo; / Carbúnculos e safiras / Lá estão à noite a brilhar; / Ali ela vive há séculos, / Ninguém ainda foi a buscar. Também o seu Noite Nuvens merece ser mencionado: Nuvens / Completamente mergulhado no mais puro brilho, / Nuvens em luz completamente, / Tinha tão sufocante escurecido.  / Sim! suspeitando meu coração me diz:  / Uma vez que desligá-lo é se tão tarde,  / Quando o sol se põe,  / Me esclarece alma de sombra. Veja mais aqui.

TEATRO CORDEL – Um trabalho meritório de todos os aplausos possíveis é o do escritor, educador e contador de histórias Cesar Obeid, com as atividades de recriação do cordel e do repente na educação, teatro, eventos e literatura. Tenho acompanhado sua trajetória há alguns anos, podendo constatar que ele é autor de diversos livros voltados para o universo infanto-juvenil e, também para as mais diversas faixas etárias, desenvolvendo ainda atividades na União dos Cordelistas e Repentistas do Nordeste (UCRAN), afora escrever regulamente para jornais e revistas sobre a temática, bem como participar de gravações de programas de rádio e televisão. Seu trabalho indubitavelmente é duma relevância ímpar, fato que me legou, algum tempo atrás, a procurá-lo para conceder uma entrevista exclusiva pra gente e que, nada melhor, trazê-la aqui para o conhecimento do excelente material dele. Confira aqui.

 
BLADE RUNNER – O filme de ficção científica Blade Runner (Blade Runner, o caçador de androides, 1982), dirigido pelo diretor e produtor inglês Ridley Scott, baseado no romance Do androids dream of electric sheep?, do escritor de ficção científica estadunidense Philip K. Dick, conta uma história que se passa duma futurista, poluída e decadente cidade no ano de 2019, povoada pelo consumismo exacerbado e num processo de colonização que envolve a aventura de exploração de outros planetas em razão do colapso material e moral da civilização humana. Descreve um futuro em que a humanidade inicia a colonização espacial, para o que cria seres geneticamente alterados - replicantes - utilizados em tarefas pesadas, perigosas ou degradantes nas novas colônias. Esses replicantes são banidos da terra depois de um motim, usados em trabalhos perigosos nas colônias extraterrestres. Alguns deles escapam e retornam à terra para exigir mais tempo de vida. No final, as questões que afligem os replicantes acabam se tornando as mesmas que afligem os humanos. Como diz a personagem de Edward James Olmos (Gaff), quase ao término do filme: "[...] que pena que ela não viverá... mas quem é que vive?" Trata-se de um final catastrófico, deprimente e melancólico do processo de globalização, com clonagem de animais extintos e replicantes humanos que dividem a convivência sombria e desanimadora de uma profusão credos, culturas, costumes e etnias. O destaque do filme é o trabalho da atriz estadunidense Sean Young. Veja mais aqui.

AGENDA DE EVENTOS: EXPOSIÇÃO DE POESIA VISUAL – Acontecerá neste domingo, 21 de junho, no espaço cultural Taller Siglo XX Yolnada Hurtado en Santiago de Chile , a La Exposición Poesía Visual dos artistas Pamela Galleguillos, Hernán Paravic, Carolina André e Leo Lobos, apresentando uma série de trabalhos criativos e de talento nas áreas de desenho, pintura e escultura em metal. II – CONFRARIA: NÓS POETAS - Acontecerá no próximo dia 23 de junho, as comemorações dos 150 anos da Biblioteca Pública Estadual, de Maceió, com uma programação que vai de Varal de Poesias & Confraria: Nós Poetas, bate papo informal com escritores alagoanos, vendas de livros, leituras de poesias, cordel e prosa. A programação se estenderá até o dia 26 de junho na Biblioteca Pública Estadual. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
 
Imagem: Venus Victrix (1805-1808) – A princesa do prazer Paulina Bonaparte -, do escultor, pintor, desenhista e arquiteto italiano Antonio Canova (1757-1822). Estátua que traz a primeira princesa reinante da Guastalla, da França e consorte de Sulmona e Rossano, Maria Paola Buonaparte (1780-1825), em mármore, que causou uma série de escândalos na França e na Itália por sua fama de predadora sexual e por sua promiscuidade na coleção de amantes das mais diversas classes sociais.

Veja mais sobre:
Uma coisa quando outra, A aventura da modernidade de Marshall Berman, a poesia de Adolfo Casais Monteiro, a música de Tom Jobim & Maucha Adnet, Arquiteturas líquidas de Marcos Novak, Renie Britenbucher & Adriana Garambone, a arte de Alyssa Monks & Luciah Lopez aqui.

E mais:
Os vexames dum curau no sul, O absurdo & viver para quê de Thomas Nagel, Voragem de Junichiro Tanizaki, Eu mesmo de Emílio de Meneses, Mão na luva de Oduvaldo Vianna Filho, a deusa Pax, a música de Rosalia de Souza, o cinema de Olivier Assayas & Maggie Cheung, a pintura de Pierre-Auguste Renoir & Suzanne Frie aqui.
Doro & a copa do mundo, a música de Astor Piazzola, a poesia de Adolfo Casais Monteiro, Adriana Garambone, A arte de Roberto Burle Marx & Antônio Miranda aqui.
Desenvolvimento psicossocial de Erik Erikson & Justiça à poesia com Simone Moura Mendes, o ator Chico de Assis e a cantora Wilma Araújo & o violonista Marcão, entre poetas e outros participantes aqui.
Vamos aprumar a conversa,O eu profundo & os outros eus de Fernando Pessoa, Culto da feminilidade de André Van Lysebeth, Psicologia social & Lev Vygotsky, o cinema de Philippe Blasband, as gravuras de Lasar Segall, a música de Guinga & Quinteto Villa-Lobos, a pintura de Luciano Freire & a xilogravura de Manassés Borges aqui.
O espelho de João Guimarães Rosa aqui.
Brincarte do Nitolino & festejos juninos, Guerra & paz de Cândido Portinari, a música de Egberto Gismonti, Platero e eu de Juan Ramón Jiménez, Menino antigo de Carlos Drummond de Andrade, Família composta de Domingos Pellegrini, a pintura de Jamilton Barbosa Correia, Contador de histórias & Maria de Medeiros aqui.
Vamos aprumar a conversa,Simulacro & simulações de Jean Baudrillard, a música de Patricia Glatzl & Lígia Moreno, Um estado muito interessante de Zulmira Ribeiro Tavares. O rato no muro de Hilda Hilst, o cinema de Roger Vadin & Brigitte Bardot,Composição humana de Manabu Mabe, a pintura de Theodore Roussel & Nicolas Poussin aqui.
A rodagem de Badalejo & a bodega de Água Preta, O analista de Bagé de Luis Fernando Veríssimo, a música de Meredith Monk, Iniciação ao teatro de Sábato Magaldi, Narração & narrativas de Samira Nahid Mesquita, o cinema de Hector Babenco, a arte de Vanice Zimermam, a pintura de Robert Luciano & Vlaho Bukovac aqui.
O dono da razão, Canção do exílio de Murilo Mendes, Identidade & etnia de Carlos Rodrigues Brandão, Socioantropologia da educação de Maria Sérgio Michaliszyn, a arte de Francisco Zúñiga, a pintura de Mônica Alves Torres & Jules Pascin, Peace in earth & a música de Jú Martins aqui.
Não era pra ser, nem foi, Entre a vida e a morte de Nathalie Sarraute, a música de Galina Ustvolskaya, Aquarium World de Takashi Amano, o ativismo de Emmeline Parnkhurst, o cinema de Sarah Gravon & Carey Mulligan, as gravuras de Jean-Frédéric Maximilien de Waldeck, a pintura de Paul-Émile Chabas & Carlos Alberto Santos aqui.
A esperança equilibrista, O espaço da cidadania de Milton Santos, Admirável mundo novo de Aldous Huxley, Saberes necessários de Edgar Morin, a música de Vivaldi & Michala Petri, a fotografia de Andreas Feininger, a pintura de Gianluca Mantovani & Jose De la Barra, a arte de Daniele Lunghin & Dave Stevens aqui.
Eita! Vou por ali no que vem e que vai, a literatura de Ítalo Calvino, Os tempos da Praieira de Costa Porto, O efêmero de Louise Glück, a música de Edson Zampronha, Neurofilosofia e Neurociência Cognitiva, Betina Muller, a arte de Laszlo Moholy-Nagy & Anke Catesby aqui.
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