sábado, junho 20, 2015

EAGLETON, DAZAI, HERMILO, OFFENBACH, ADJANI, BONNAT, JORNALISMO & PSICOLOGIA


AS ILUSÕES DA PÓS-MODERNIDADE – A obra As ilusões do pós-modernismo (The Illusions of Postmodernism, 1996 – Zahar, 1998), do filósofo e crítico literário britânico Terry Eagleton, tratando da temática sob a perspectiva dos primórdios, ambivalências, histórias, sujeitos, falácias e contradições. Da obra destaco o trecho inicial: A palavra pós-modernismo refere-se em geral a uma forma de cultura contemporânea, enquanto o termo pós-modernidade alude a um período histórico específico. Pós-modernidade é uma linha de pensamento que questiona as noções clássicas de verdade, razão, identidade e objetividade, a ideia de progresso ou emancipação universal, os sistemas únicos, as grandes narrativas ou os fundamentos definitivos de explicação. Contrariando essas normas do iluminismo, vê o mundo como contingente, gratuito, diverso, instável, imprevisível, um conjunto de culturas ou interpretações desunificadas gerando um certo grau de ceticismo em relação à objetividade da verdade, da história e das normas, em relação às idiossincrasias e a coerência de identidades. Essa maneira de ver, como sustentam alguns, baseia-se em circunstâncias concretas: ela emerge da mudança histórica ocorrida no Ocidente para uma nova forma de capitalismo — para o mundo efêmero e descentralizado da tecnologia, do consumismo e da indústria cultural, no qual as indústrias de serviços, finanças e informação triunfam sobre a produção tradicional, e a política clássica de classes cede terreno a uma série difusa de "políticas de identidade". Pós-modernismo é um estilo de cultura que reflete um pouco essa mudança memorável por meio de uma arte superficial, descentrada, infundada, autorreflexiva, divertida, caudatária, eclética e pluralista, que obscurece as fronteiras entre a cultura "elitista" e a cultura "popular", bem como entre a arte e a experiência cotidiana. O quão dominante ou disseminada se mostra essa cultura — se tem acolhimento geral ou constitui apenas um campo restrito da vida contemporânea — é objeto de controvérsia. Embora essa distinção entre pós-modernismo e pós-modernidade me pareça útil, não lhe dediquei especial atenção neste livro. Optei por adotar o termo mais trivial "pós-modernismo" para abranger as duas coisas, dada a evidente e estreita relação entre elas. Como aqui interessam-me mais as idéias do que a cultura artística, não me detenho em obras de arte isoladas. Tampouco analiso teóricos específicos, o que pode causar estranheza a alguns. Minha preocupação reside menos nas formulações rebuscadas da filosofia pós-moderna do que na cultura, no meio ou mesmo no modo de ver e reagir do pós-modernismo. Tenho em mente menos os vôos filosóficos mais elevados sobre o assunto do que aquilo em que um tipo específico de aluno provavelmente acredita hoje; e embora considere muitas das coisas que eles crêem falsas, tentei dizer isso de uma forma tal que pudesse convencê-los de que não era assim que pensavam originalmente. Ao fazê-lo, acuso vez por outra o pós-modernismo de fabricar alvos imaginários, de caricaturar as posições de seus adversários, acusação esta que bem poderia retirar por conta própria. Mas isto se dá, em parte, porque aspiro precisamente a essas marcas "populares" do pensamento pós-moderno, e, em parte, porque o pós-modernismo constitui um fenômeno tão híbrido, que qualquer afirmação sobre um aspecto dele quase com certeza não se aplicará a outro. Portanto, pode acontecer de um determinado teórico haver, em sua obra, questionado ou mesmo rejeitado algumas das visões que atribuo ao pós-modernismo de um modo geral; todavia, elas constituem um tipo de sabedoria reconhecida, e nesse sentido não me considero culpado de paródia excessiva. Ao contrário, embora predomine uma análise negativa do tema, tentei admitir o lado bom do pós-modernismo sempre que possível, chamando atenção tanto para seus pontos fortes como para os fracos. Não se trata apenas de se posicionar a favor ou contra o pós-modernismo, conquanto, na minha opinião, haja mais motivos para se opor a ele do que para apoiá-lo. Da mesma forma que se dizer "pós-modernista" não significa unicamente que você abandonou de vez o modernismo, mas que o percorreu à exaustão até atingir uma posição ainda profundamente marcada por ele, deve haver algo como um pré-pós-modernismo, que percorreu todo o pós-modernismo e acabou mais ou menos no ponto de partida, o que de modo algum não significa que não tenha havido mudanças. [...] Uma palavra, enfim, que sirva de consolo aos adversários. Tentei criticar o pós-modernismo sob o aspecto político e teórico, em vez de simplesmente apelar ao senso comum. No entanto, parece-me inevitável que conservadores que invectivam o pós-modernismo por razões que considero as mais indignas endossem alguns dos meus argumentos. Os radicais e os conservadores, afinal de contas, necessariamente compartilham um terreno comum, caso contrário haveria entre eles um conflito sobremaneira mais grave. Os radicais, por exemplo, são tradicionalistas, assim como os conservadores; o que os distingue é que eles aderem a tradições inteiramente diferentes. Conviria àqueles pós-modernistas que sustentam que os radicais devem abster-se de criticar uns aos outros para não acirrar o ânimo dos reacionários lembrar as limitações de uma política baseada mais no oportunismo que na verdade, por mais que prefiram o último termo posto entre alarmantes aspas. Se, com efeito, os leitores conservadores se virem apoiando sinceramente a transformação socialista da sociedade depois de lerem este livro, ficarei muito satisfeito. [...] Veja mais aqui.

Imagem: Nude orientalista, do pintor francês Léon Bonnat (1833-1922)

Curtindo dvd da ópera-bufa Orphée aux Enfers (Pioneer Classics, 1997), do compositor e violoncelista do Romantismo franco-germano Jacques Offenbach (1819-1880), performed in French conductor Marc Minkowski & Orchestre de l'Opéra national de Lyon & Orchestre de chambre de Grenoble Chorus & Choeur de l'Opéra national de Lyon Pluton-Aristée.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA: PSICOLOGIA & JORNALISMO – Dando andamento às atividades do Projeto de Extensão Infância, Imagem e Literatura: uma experiência psicossocial na comunidade do Jacaré – AL, realizado pelos graduandos dos cursos de Psicologia, Jornalismo e Publicidade do Centro Universitário Cesmac e orientado pelo Professor Ms Cláudio Jorge Morais Gomes, realizou-se nesta sexta-feira, dia 19, visita à comunidade Recanto da Ilha - Jacaré -, na cidade de Marechal Deodoro, Alagoas. Na ocasião ocorreram diversos contatos com moradores no sentido de viabilizar um evento voltado para as crianças da localidade, cumprindo o cronograma de atividades do projeto. Na ocasião diversos moradores foram contactados, os quais manifestaram satisfação na realização do evento e, ao mesmo tempo, expressaram a sua realidade destacando a presença de alguns problemas que estão ocorrendo no local. Veja detalhes aqui.

PRIMEIRO CADERNO DE MEMÓRIAS – O livro Não humano (1948- Eucleia, 2011), do escritor japonês Osamu Dazai (1909-1948), é um romance autobiográfico narrando sobre os sentimentos da geração jovem à margem da sociedade, individualizada e tecnológica. O protagonista da história enfrenta desde a infância a solidão extrema pela incompreensão a respeito dos seres humanos, temendo e se escondendo de todos, tornando insuperável e tormentosa a inadequação a uma vida normal, carregada de desespero e de conturbadas relações com mulheres para despontar na alienação com consequências trágicas. Da obra destaco o trecho inicial: Vi três fotografias do homem. A primeira, a que se pode chamar uma fotografia da infância, mostra-o com cerca de dez anos de idade, um pequeno rapaz rodeado por muitas mulheres (as suas irmãs e primas, suponho). [...] O rosto na segunda fotografia é assustadoramente diferente do primeiro. Nesta foto, ele é estudante, embora não seja claro se a imagem remonta ao ensino secundário ou à faculdade. De qualquer modo, ele é, agora, extraordinariamente atraente. Mas, mais uma vez, o rosto não consegue, inexplicavelmente, dar a impressão de pertencer a um ser humano vivo. Veste um uniforme de estudante e um lenço branco espreita do bolso de peito. Está sentado numa cadeira de vime com as pernas cruzadas. Mais uma vez, sorri; porém, desta vez não com o sorriso de macaco encarquilhado, mas com um sorrisinho bastante astuto. [...] A fotografia que resta é, de todas, a mais monstruosa. Nesta é completamente impossível adivinhar a idade, embora o cabelo pareça estar parcamente listrado com cinzento. Foi tirada num canto de uma sala extraordinariamente suja (podes ver, nitidamente, na imagem, como a parede está a desfazer-se em três sítios). [..] A minha vida tem sido vergonhosa. Não consigo sequer imaginar como deve ser viver como um ser humano. Nasci numa aldeia no nordeste, em Tohoku, e já era bastante crescido quando vi o meu primeiro comboio. Subia e descia a ponte da estação, desconhecendo que a sua função era permitir às pessoas atravessarem de uma via para outra. Estava convencido que a ponte fora feita para dar um toque exótico e fazer do recinto da estação um local de agradável diversão, como um parque estrangeiro. Andei assim iludido durante bastante tempo e para mim era, de fato, um enorme divertimento subir e descer a ponte. Pensava que fora um dos serviços mais elegantes proporcionados pelos caminhos-de-ferro. Quando, mais tarde, descobri que a ponte nada mais era do que uma estrutura prática, perdi todo o interesse nela. [...] Veja mais aqui.

APRESENTAÇÃO DO BUMBA-MEU-BOI – O livro Apresentação do Bumba-meu-boi (Guararapes, 1982), do escritor Hermilo Borba Filho (1917-1976), é dividido em duas partes: a primeira trata acerca da história e da formação do espetáculo folclórico; e na segunda, a apresentação do espetáculo O boi misterioso de Afogados, com seus personagens. O livro é rico em informações, fotos, partituras e explicações a respeito do folguedo. Da obra destaco o trecho inicial: Auto ou drama pastoril ligado à forma de teatro hierático das festas de Natal e Reis, o Bumba-meu-boi é o mais puro dos espetáculos populares nordestinos, pois embora nele se notem algumas influencias europeias, sua estrutura, seus assuntos, seus tipos e a música são essencialmente brasileiras. [...] A origem do Bumba-meu-boi perde-se no passado. Não resta dúvida de que se trata de uma aglutinação de reisados em torno do reisado principal que teria como motivo a vida e a morte do boi. O reisado, ainda hoje, explora um único assunto proveniente do cancioneiro, do romanceiro, do anedotário de determinada região, mas no caso do nosso espetáculo, eles se juntaram para a formação de cenas isoladas, culminando com a apresentação do Boi, mantendo uma linha muito tênue, a do Capitão, que é servido em suas peripécias por Mateus, Bastião e Arlequim; os diálogos – mistura de improvisação e tradicionalismo – assemelham-se à técnica empregada pelos comediantes da velha comedia popular italiana [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

VIAGEM DO CORAÇÃO – O drama filme Viagem do coração (Bom vouyage, 2003), dirigido pelo cineasta e cenarista francês Jean-Paul Rappeneau e com música de Gabriel Yared, conta a história de um acontecimento ocorrido no início da Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha invade a França e ocupa Paris. Intelectuais, parlamentares, médicos e jornalistas se refugiam num hotel em Bordeaux, uma cidade livre do nazismo, quando estes se vêem obrigados a conviver com espiões e criminosos, surgindo toda espécie de intrigas e alianças políticas, bem como tórridos romances, como o vivido por um jovem que precisa escolher entre uma atriz famosa e uma estudante, enquanto se posiciona frente a questões políticas. O destaque da película fica por conta da lindíssima atriz francesa Isabelle Adjani. Veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Desenho da desenhista e artista plástica pernambucana Silvia Pontual (In. Poemas de Ascenso Ferreira. Nordestal, 1981).

Veja mais sobre:
Quando tudo é manhã do dia pra noite, Agonia da noite de Jorge Amado, Posthuman bodies de Halbertam & Livingstone, a música de Bizet & Adriana Damato, Folclore musical de Wagner Ribeiro, a pintura de Aleksandr Fayvisovich & Bryan Thompson, a fotografia de Christian Coigny, a arte de Mirai Mizue & Luciah Lopez aqui.

E mais:
As astúcias do juiz Teje-Preso aqui e aqui.
Preconceito, ó! Xô pra lá, Diários de viagem de Franz Kafka, Cantos de Giacomo Leopardi, A revolta de Atlas de Ayn Rand, a música de Leoš Janáček & Cheryl Barker, o cinema de Alessandro Blasetti & Sophia Loren, Jacques Lacan & Maguerite Anzieu: o caso Aimée, a arte de Liliana Castro, a pintura de Helmut Breuninger & Hermann Fenner-Behmer aqui.
Todo dia é dia da mulher, O processo de Franz Kafka, a música de Leoš Janáček, a pintura de Anna Chromý, a arte de Ibys Maceioh & Karyme Hass aqui.
O trânsito e a fubica do Doro aqui.
O dia da criação de Vinícius de Morais aqui.
Lagoa da prata, Conheço o meu lugar de Belchior, O folclore no Brasil de Basílio de Magalhães, Chão de mínimos amantes de Moacir da Costa Lopes, Culturas e artes do pós-humano de Lucia Santaella, a fotografia de Tatiana Mikhina, a arte de Joseph Mallord William & Wesley Duke Lee aqui.
A lenda do açúcar e do álcool, Educação não é privilégio de Anísio Teixeira, História da filosofia de Wil Durant, a música de Yasushi Akutagawa, Não há estrelas no céu de João Clímaco Bezerra, Cumade Fulôsinha de Menelau Júnior, Maria Flor de João Pirahy & a arte de Madison Moore aqui.
Cruzetas, os mandacarus de fogo, Concepção dialética da história de Antonio Gramsci, O escritor e seus fantasmas de Ernesto Sábato, Sob os céus dos trópicos de Olavo Dantas, a pintura de Eliseo Visconti & Benício, a fotografia de Rita-Barreto & a arte de Rosana Sabença aqui.
O passado escreveu o presente; o futuro, agora, Estudos sobre teatro de Bertolt Brecht, Sociolinguistica de Dino Preti, a música de Adriana Hölszky, Nunca houve guerrilha em Palmares de Luiz Berto, a pintura de Dimitra Milan & Vera Donskaya-Khilko, a escultura de Antonio Frilli & a arte de Thomas Rowlandson aqui.
O feitiço da naja: a tocaia & o bote, Sistemas de comunicação popular de Joseph Luyten, Palmares & o coração de Hermilo Borba Filho, Porta giratória de Mário Quintana, a música de Vanessa Lann, o teatro de Liz Duffy Adams, a pintura de Joerg Warda & a arte de Luciah Lopez aqui.
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(Imagem: Leitora nua, do artista plástico Kim Roberti).
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