domingo, novembro 25, 2012

ISABELLE DE CHARRIÈRE, TARIQ ALI, REX STOUT, FELISBERTO HERNÁNDEZ, ALFRED DOUGLAS & LITERÓTICA

QUANDO ELA É TODA SONSA NA PAIXÃOToda sexta-feira, meio-dia em ponto, ela agarra no tronco e me diz: toda sua. E se esfrega já nua, anjo e demônio. Maior pandemônio, maior ventania. Faço pontaria nela oferecida a me dá por guarida suas cercanias. Vou pra montaria e nela me atrepar e sem blá, blá, blá, no seu alvo alado. Apruma o rebolado com manha de sonsa, a me dá por responsa seus segredos guardados. E todo malcriado e perito artesão, predador e pagão, batizo os pecados. Nesse campo minado me faz candelabro esfregando o escalavro do seu poço imenso. E já me convenço de sua alma mundana que a safada sacana deixa descoberta. E mais inquieta me dá suas minas que queima a retina e cobiça o capacho. Se atreve o meu cacho, minha flecha na maçã, nem até amanhã não apaga o meu facho. O céu vai abaixo e não há nada igual. Nesse manancial o prazer não tem preço. Ela vira do avesso, o dedo na tomada, que atrevida e aprumada sobe todas as alturas. E cai na fundura me faz seu arrimo, me cobrindo de mimo e toda afogueada. Mais afeiçoada no nosso escambo, ela geme ao meu mando, toda ruidosa. E mais que gulosa arreia atiçada, toda engatilhada dos desejos maiores. E com garras piores, e doido varrido vou impor-lhe o castigo das ousadas vontades. E vou com alarde e com toda ganância vasculhar as instâncias ignotas do corpo. E vou com escopo na entrega gostosa a roubar seu cheiro de rosa e toda a sua essência. Vai fazer diferença pegá-la escrava, como enxada que cava seu lombo e costado. Eu puxo e puxado, arranco ferrolho, e descasco o repolho, do seu dorso o penhor. Eu me faço senhor a fincar as bandeiras nas entradas fagueiras do seu território. Sou dono meritório dessa graça opulenta, mais de oito ou oitenta, sou explorador. E ela só: sim, senhor! Rendida fremindo com tudo tinindo, maior sacolejo. E me enche de beijo a quedar minguada, lambida e chupada até o último gole. E seu jeito me bole como bem a merece, me faz sua prece, seu altar e pastor. E do seu alcandor no fogo da paixão, me aperta um tempão a suspirar de amor. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui, aqui, aqui e  aqui.
 


DITOS & DESDITOS - Como vivemos nossas vidas não depende, infelizmente, apenas de nós. Circunstâncias, boas ou ruins, intervêm constantemente. Uma pessoa próxima a nós morre. Uma pessoa não tão próxima de nós continua vivendo. Todas essas coisas afetam a forma como vivemos. Pensamento do escritor, roteirista e cineasta paquistanês Tariq Ali. Veja mais aqui e aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Nenhum pensamento carregava sentimentos: eu podia pensar, com calma, em coisas tristes: eram apenas pesadas. Agora as lembranças me vinham como se eu estivesse deitado debaixo de uma árvore e as folhas caíssem sobre mim: eu as via e me lembrava delas porque caíram sobre mim e porque estavam sobre mim... Pensamento do escritor uruguaio Felisberto Hernández (1902-1964), autor da obra Cavalo perdido e outras histórias ( Cosac & Naify, 2004), do qual destaco o trecho: [...] Agora se passaram alguns momentos em que a imaginação, como um inseto da noite, saiu do quarto para recordar os sabores do verão e voou distâncias que nem a vertigem nem a noite conhecem. Mas a imaginação também não sabe quem é a noite, quem escolhe lugares na paisagem dentro dela, onde um escavador revira a terra da memória e a semeia de novo. Ao mesmo tempo, alguém faz pedaços do passado aos pés da imaginação e a imaginação escolhe às pressas com uma pequena lanterna que move, sacode e mistura as peças e as sombras. De repente a pequena lanterna cai na terra da memória e tudo se apaga. Então a imaginação volta a ser um inseto que voa esquecendo as distâncias e pousa no limite do presente.[...].

 

OUTRAS FALAS: Somos todos mais vaidosos de nossa sorte do que de nossos méritos. Um pessimista não consegue nada além de surpresas agradáveis, um otimista nada além de desagradáveis. Quem não lê não consegue pensar. Ele pode ter bons processos mentais, mas não tem nada em que pensar. Você pode sentir pelas pessoas ou fenômenos naturais e reagir a eles, mas eles não são ideias. Você não pode pensar sobre eles. Quanto mais você coloca em seu cérebro, mais ele aguenta - se você tiver um. Pensamento do escritor estadunidense Rex Stout (1886-1975). Veja mais aqui.

 

AS TRÊS MULHERES - [...] Não há dias verdadeiramente felizes, exceto aqueles em que a imprevidência é total. O prazer em si não é tão doce prever que é ainda mais doce não prever nada. [...] Cogitans dubito: Pensar é duvidar. Considere que desde o nosso nascimento estamos no mundo ao mesmo tempo espetáculo e espectadores, julgados e juízes, constantemente misturando a ideia do que nos convém que nossos semelhantes sejam e façam, com a do que 'convém a eles que nós ser e fazer; para que se crie em nós uma consciência da qual nos é impossível reconhecer os elementos. [...] Ninguém faz tudo o que deveria. [...] Trechos extraídos da obra Les trois femmes (Âge d'homme, 1997), da escritora neerlandesa Isabelle de Charrière (1740-1805).

 

DOIS AMANTESSonhei estar no alto de uma pequena colina / E diante de mim abria-se o terreno, análogo / a um jardim baldio, que a seu alvitre produzia / botões e flores. Havia sonhadores lagos / de breu sereno e lírios de cor inocente, / flores de açafrão e violetas rubras e brancas, / e os lilases com aparência de serpente / mal eram vistos sobre a relva e a verde trama. / Olhos azuis de pervincas ao sol piscavam; / havia flores pitorescas, antes incógnitas, / tingidas pela lua, ou que do caprichoso / espírito da Natureza se sombreavam, / enquanto esta outra bebeu a nota transitória / de um breve momento do entardecer radioso. / Folhas de grama que em cem primaveras foram / nutridas por estrelas, primorosamente; / e banhadas no mesmo orvalho perfumado / que a taça dos lírios enche, e que vislumbraram / pelos raios de sol a glória de Deus, tão somente, / pois o amanhecer não torna o Céu maculado. / Mais além, brusco, erguia-se um muro de pedra / sob musgoso veludo. Ali fiquei, perplexo / a observar lugar tão bonito e doce e estranho. / Enquanto me assombrava, da parte oposta a esta / chegou um jovem, que levantou a palma num gesto / contra o sol, suas madeixas em desarranjo / ao vento ornadas de flores; na mão levava / um cacho roxo de uvas roliças; seus olhos / eram claros de cristal. Branco como a neve / intacta dos montes gelados, nu ele estava./ Lábios da cor do vinho que caíra no soalho / de alabastro; de calcedônia era sua pele. / De mim se aproximou, amáveis lábios cindidos, / Segurou minha mão e minha boca beijou, / deu-me de comer suas uvas e disse: “Vem, / te mostrarei imagens da vida, doce amigo, / e as sombras do mundo. Repara desde o sul / como o espetáculo sem fim previsto vem. / E — oh! — vi caminhar nos jardins do meu sonho / duas figuras na luz dourada da campina / fulgurante. O que parecia lindo, risonho / e exuberante ecoava doce melodia / cujo refrão enaltecia as damas mais galhardas / e o jovial amor de um menino e uma menina. / Com olhos brilhantes, sobre a grama dourada / dançante, seus pés trotavam com alegria. / Trazia nos braços um alaúde de marfim, / as cordas de ouro como o cabelo das moças, / e  cantava com voz de harmonioso clarim. / Em volta do pescoço, três cordões de rosas. / Mas havia um colega caminhando ao seu lado, / terno e lastimoso, com olhos esquisitos / pois eram tão assombrosamente iluminados. / Destarte me olhou e suspirou vários suspiros / que me comoveram. Possuía lábios rubros / feito papoulas; e suas faces eram pálidas / como os lírios. As mãos se crispavam em punhos, / mas vez ou outra se rendiam. De flores da lua alva / era a sua coroa, na cor dos lábios da morte. / Sua túnica rubra ostentava o áureo bordado / de uma grande cobra de hálito flamejante. / Quando o vi, para ele gritei, desconsolado: / “Amável jovem, dize-me por qual razão / andarilhas por este reino encantador / tão triste e suspirante? Conta de antemão, / qual é teu nome?” E ele diz: “Meu nome é Amor.” / De imediato, o primeiro se voltou pra mim / e gritou: “Ele mente, pois Vergonha é seu nome! / Amor sou eu, e estava habituado a neste jardim / andar sozinho, até que ele veio sem que a noite / o invitasse. Sou a chama do amor verdadeiro, / que mutuamente o rapaz e a moça consome.” / E diz o outro, suspirante, “Pois como queiras, / eu sou o amor que não se atreve a dizer seu nome. Poema do poeta e tradutor britânico Alfred Douglas (1870-1945), poema que é referente à famosa frase de Oscar Wilde: O amor que não ousa dizer seu nome.

 

PROGRAMA DOMINGO ROMÂNTICO – O programa Domingo Romântico que vai ao ar todos os domingos, a partir das 10hs (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação deste domingo aqui. Na edição deste 25/11 do programa Domingo Romântico, apresentação da radialista e poeta Meimei Correa e produção de Luiz Alberto Machado, conta na sua programação as atrações: Guerra Peixe, Eugène Ionesco, Cora Coralina, Claudio Santoro, Eça de Queiroz, Cecilia Meirelles, Raduan Nassar & Raul Cortez, Cruz e Souza, Silvio Back, Mário Lago, Walter Lima Junior, Gregório de Matos Guerra, Dalmo Medeiros, Grande Otelo, Milton Nascimento, Adoniran Barbosa & Demônios da Garoa, Queen, Chico Buarque, Alceu Valença, Djavan, Gal Costa, Martnália & Caetano Veloso, Jimi Hendrix, Zé Rodrix, Altay Veloso, Tina Turner, Takanori Arisawa, Paulinho Moska, Zeca Baleiro, Chico Cesar, Roupa Nova, Lucinha Lins, Mariana Moraes & Clevane Pessoa, Ju Mota, Leureny & Zé Barros, Marquinhos Cabral, Lalo Guanaes & Ana Paula Fumian, La Cicciolina, Ira, The Fevers, Carlinhos Brown, Paulynho Duarte, Lelo Praxedes, Cantor Pitanga, Jorge Medeiros, Tim Max, tudo isso muito mais!! Veja mais aqui.
 


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