terça-feira, outubro 27, 2020

SYLVIA PLATH, DYLAN THOMAS, JEAN ACKER, GRACILIANO, ROSE NOGUEIRA, JOSÉ BARBOSA & A SEREIA DO ROBIMAGAIVER


  

TRÍPTICO DQC: PALÁVORA METAFÁBULA - Estradafora passadopasso futuronde errânbulos vidoutráfego. Realizarpar precisora, adivinhanando portabertas & realsonhalizar velacesa desertormentas. Volvouver, voltainda, vamboramanhã, desdontem jagora! Feridoída, saravento. Dylan Thomas: A bola que lancei quando brincava no parque ainda não tocou o chão. A lição de Graciliano Ramos: É o processo que adoto: extraio dos acontecimentos algumas parcelas; o resto é bagaço. E faço e refaço, torno a refazer, sempre. O que foi e o que irá: todos. O que não me mata me faz viver. O que não me atiça não me falta nem existe. Quem não tem audácia não vive. Quem não se arrepende não faz.

 


A SEREIA DA LOROTA - Imagem: Art Deco handmade Sculpture nude beauty Mermaid Bronze copper Statue. - Depois do Pipoco da porra, da paixonite do besouro doido, da presepada com a culpa no cartório e das emboanças malsucedidas no Big Shit Bôbras, Robimagaiver havia desaparecido fazia tempo e, de repente, deu as caras para lá de lívido e às carreiras. Que foi que houve? Escapei fedendo! Como assim? Arfante, não dizia coisa com nexo. Aí Zé Corninho sapecou: Esse cabra mente que o cu apita! Todos concordaram e juntando curioso ao redor dele, só de mutuca para apurar a pinoia. Foi de mesmo, cara! A gente já saca tua pacutia, fidapeste! Foi mesmo! Vai-te! Vou contar. Então, conta. Seguinte: uma reboculosa daquelas que não é pro meu bico, sei o trampo que carrego, meu carrinho de mão e coisa e tal, e pelo jeito ela deu mole! Espia só: o sujeito juízo curto, mulher bonita, só dá merda! E deu. Passo o rodo, caiu na rede é peixe. E era. Foi só me abestalhar nuns xambregos bons e ineivados e lá pras tantas findar na beira do rio. Pega aqui, pega acolá. Nem aí, depois do sarro era a hora do vamos ver e ela timbungou, tirou a roupa e ficou só me atiçando. Sou lá de refugar na horagá, desvesti tudo num mergulho só. Dali a pouco no meio dos agarrados e umbigadas, um peixão passou pela batata da perna: Tem peixe grande na área! E ela se ria toda não me toques e vem e vai. Passou de novo, pelo volume, vôte, é dos grandões. Tá doido, quero lá ser devorado por jacaré ou sei lá o quê, pulei fora. Oxe, ela danou-se a cantar e a vista escureceu, tonteei e apaguei. Quando dei fé depois de num sei quanto tempo, ela era a peixa. Pode? Aí, foi pior, tive um troço com o pega-pega e só me acordei num lugar desconhecido em que ela não era mais uma peixa, era uma ave com cara de mulher! E queria me pegar. Onde já se viu? Dei uma carreira, nadei num sei quantos dias, ela atrás, grasnando, eu tome braçada, pelo jeito acho que rodei o mundo até despistá-la e chegar em casa. Ufa! Escapei fedendo, meu! Como é? A tropa toda deu sinal de lorota: E quando foi que aprendesse a nadar, desgraçado? A necessidade ensina! Ah, não! Nessa hora ia passando o doutor Zé Gulu que foi atrapalhado pela mangação e teve de ouvir todo relato do dito cujo. Ah, sim, se é verdade ou não, pela descrição do lugar que você deu, não resta dúvida que é a Ilha das Sereias. Como? Sim, é uma ilha incerta do Mediterrâneo e que muitos autores falaram deste lugar: a Odisseia de Homero, a Argonáutica de Apolônio de Rodes, a Die Lorerei de Henrich Heine e o Ulisses do James Joyce, reza a lenda: com seu canto melodioso, as Sereias atraem os marinheiros que, inconscientes do perigo, naufragam nos rochedos da ilha. Êpa! A turma com o mestre pelo canto do olho: Ô doutor, diga cá uma coisa: como é que um frebento desse passa por uma dessa e sai ileso, me diga? A turma do qual é: Nem nadar o bexiguento sabe! Onde já se viu um embola-bosta desse todo topetudo pra bancar o bonzão pra cima da gente, ora! Com todo respeito, doutor, mas não dá para acreditar numa lorota dessa!

 


ELA ENCENA & O AMOR É REAL - Imagem: arte da atriz estadunidense Jean Acker (1893-1978) – Adentrou seminua na noite e disse: Sou Rose. A jornalista e defensora dos direitos humanos, Rose Nogueira. E passou o texto: “Sobe depressa, Miss Brasil’, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente. Eram os ‘40 dias’ do parto. Na sala do delegado Fleury, num papelão, uma caveira desenhada e, embaixo, as letras EM, de Esquadrão da Morte. Todos deram risada quando entrei. ‘Olha aí a Miss Brasil. Pariu noutro dia e já está magra, mas tem um quadril de vaca’, disse ele. Um outro: ‘Só pode ser uma vaca terrorista’. Mostrou uma página de jornal com a matéria sobre o prêmio da vaca leiteira Miss Brasil numa exposição de gado. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido. Picou a página do jornal e atirou em mim. Segurei os seios, o leite escorreu. Ele ficou olhando um momento e fechou o vestido. Me virou de costas, me pegando pela cintura e começaram os beliscões nas nádegas, nas costas, com o vestido levantado. Um outro segurava meus braços, minha cabeça, me dobrando sobre a mesa. Eu chorava, gritava, e eles riam muito, gritavam palavrões. Só pararam quando viram o sangue escorrer nas minhas pernas. Aí me deram muitas palmadas e um empurrão. Passaram-se alguns dias e ‘subi’ de novo. Lá estava ele, esfregando as mãos como se me esperasse. Tirou meu vestido e novamente escondi os seios. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco. No meio desse terror, levaram-me para a carceragem, onde um enfermeiro preparava uma injeção. Lutei como podia, joguei a latinha da seringa no chão, mas um outro segurou-me e o enfermeiro aplicou a injeção na minha coxa. O torturador zombava: ‘Esse leitinho o nenê não vai ter mais’. ‘E se não melhorar, vai para o barranco, porque aqui ninguém fica doente.’ Esse foi o começo da pior parte. Passaram a ameaçar buscar meu filho. ‘Vamos quebrar a perna’, dizia um. ‘Queimar com cigarro’, dizia outro”. E chorava com todos os poros, vísceras & sangue, estirada no chão e a mencionar nomes perdidos, Heleny, Marilena, Helena, Labibe, Alceri: sou todas elas e elas são em mim o último suspiro de vida. Levantei-me até ela e, num abraço, soluçava. Disse-me Sylvia Plath: Acho que criei você no interior da minha mente. Quando você entrega todo o coração a uma pessoa e ela não aceita, não dá para pegar de volta. Você o perde para sempre. Disse-lhe apenas: vivocê! E nos beijamos para a eternidade. Até mais ver.

 

O MUNDO DE JOSÉ BARBOSA

A arte do escultor, entalhador, pintor, desenhista, ilustrador e gravador José Barbosa da Silva, que organizou o Movimento Arte Ribeira, em 1963, e participou do início da Tropicália, do Cinema Novo e da Nova Figuração de artes plásticas, tendo participado de individuais e coletivas em países como Alemanha, França, Espanha, Chile, Inglaterra, USA, Suíça, entre outros. Veja mais aqui e aqui.