TRÍPTICO DGF – AQUELA DE... ENTRE A MODORRA
DA INAÇÃO GERAL & OS DEVIRES - Há muita má
vontade por todo lado e eu voo entre descerebrados, os tais cafos celerados! Por sorte, no meio
dessa contraproducência, guardo os ensinamentos dos cínicos, ouço Diógenes: Só é
verdadeiramente livre quem está sempre pronto a morrer. Assim me
vejo e grato, porque tudo que é vida anda de mãos dadas com a morte, por isso
mesmo, eternamente grato, como Antístenes:
A gratidão é a memória do coração. E o
meu nas mãos. Quanto mais mesquinharia percebida no trânsito das idas e voltas,
mais ouço os estoicos, como Epicteto: Nada de
grande se cria de repente. Eu sei, de um em um, passo a passo, brandura
e paciência. Afinal, já ensinava Sêneca:
O amor não se define; sente-se. Viver
significa lutar. Sim, trago comigo
o que disse Antonio Negri: Há
sempre em nosso resgate do passado um anseio pelo devir. A verdadeira luta é
sobre quem vai organizá-la. Sim. Se das picuinhas, o horror dos acéfalos, navego o
horizonte e brinco de seguir o Sol e a Lua. Vamos nessa.
DOIS VERSOS: O MUNDO GIRA & EU ESCAPANDO
AOS PINOTES – Imagem: ilustração do livro Vida aberta (Penaluz, 2019), do
escritor, cordelista, ator e artista plástico Waldemar José Solha - As páginas do que sou nas folhas espalhadas
pelo chão. Ouso versos, intuo o olhar: se a noite é desesperadora, recrio o dia
esplendoroso; se há sangue na língua, invento o elixir dos prazeres, entre
páginas, folhas&flores. Uma frase e a prateleira das estantes, um passo e
as matas da minha infância. Cruzo Jan
Morris e me sorri com o que faço: Os amantes de livros vão
me entender, e eles vão saber também que parte do prazer de uma biblioteca está
em sua própria existência. Ao seu lado, Petra
Kelly reitera com seu terno sorriso aquiescente: Todos querem voltar à natureza, mas ninguém
quer ir a pé! Manifesto meu gesto de agradecimento a ambas com o Excerto 1 do premiado Trigal dos corvos (UBE-Rio, 2005), de W. J. Solha: Mas / pense nessas fotos em que não se sabe se é o caso / de aurora ou
de ocaso. / Pense em diamantes entre pedras de gelo. / Pense em Herodes
perdendo a cabeça por Salomé e lhe concedendo a de Batista. / Pense em
homens-rãs usando seus pés-de-pato. / Pense em pássaros assombrando-se com os
espantalhos mais tolos / e cobrindo as estátuas mais ferozes de cocô. / Pense
no fato de que o Este demais é Oeste / de que toda subida é descida / toda
entrada / saída / e de que quanto mais você se orienta / mais pode se
desnortear / ou de que quanto mais se norteia / mais pode se desorientar. E não me resta nada além de poetar, xexéu poeta vou lá por
aí.
TRÊS CAMINHOS & OUTROS TANTOS PARA
ANDEJAR – Na encruzilhada a nudez de Clio acende a vida e sou argonauta a
enfrentar as voltas do tempo na assimetria de sua escultural compleição. Reviro
sua corporatura enquanto ela revela de suas entranhas tudo o quanto há de belo
e maravilhoso no universo. E me sirvo e refaço até me exaurir para ela, aos
regalos, rememorar contando histórias de ontens e jamais, proclamando o que
lembrar e esquecer, a dizer de Vernor
Vinge: A vida é uma loucura verde agora, tentando espremer
o último pedaço de calor da temporada. A política pode ir e vir, mas a ganância
continua para sempre. Mesmo a maior avalanche é desencadeada por pequenas
coisas. Tanta tecnologia, tão pouco talento. Eu digo, vamos aprender mais e
depois especular. E agora cada segundo era tão longo quanto antes. Vê-la assim austera
até me assustou e ela logo me lembrou de Hobsbawn:
Palavras são testemunhas que muitas vezes falam mais alto
do que documentos. Sim. Dela todos os prazeres do céu e da Terra, e para ela
o meu coração e alma para sempre. Até mais ver.
O BRASIL HOLANDÊS
A obra O Brasil e os holandeses (Espaço Cultural Bandepe, 2000), coordenado por Maria Clara Rodrigues, registra a exposição que reúne obras de Barleus, Frans Post, Vingboons, Golijath, Jan Luiken, Theodor Matham, George Macgrave, Claes Janz Vooght, com textos de Anton Berden, Ulysses Pernambucano de Mello, Leonardo Dantas, Paulo Reis e Liana Mesquita. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.