quarta-feira, maio 01, 2019

MODIGLIANI & HÉBUTERNE, ACHILLE MBEMBE, SUELI GUERRA & AMANCEBADO


OS OLHOS DE JEANNE - Os teus olhos são meus, Jeannette, com toda ventura que me espanta do teu ser, porque és vasta e desmedida em cada gesto desordenado. Tu és minha desde Meaux, nunca mais descascarás batatas, criando tuas próprias roupas e pintando teus sonhos. Serás sempre a minha Livorno com a tua índole amante e o teu incondicional amor. E se eu não morrer, Jeannette, farei melhor que Foujita porque és minha desde aquele dia no Café de La Rotonde, em que vieste como uma luminária com teus turbantes exóticos, tua capa marrom, todas altas botas, pronta para me guardar. Desde quando te vi na Academia Colarossi, minha Noix de Coco, com tua palidez esplêndida, teus intrigantes e grandes olhos azuis, tua timidez de virgem veneziana nas ruas de Montparnasse, passaste a ser minha para me perseguires na grande lua da tua brandura e não mais calar a sobra dos desejos. Sou teu, Jeannette, não direi mais que não temos sorte e te acordarei todas as manhãs a repetir mais de mil vezes que sou feliz por te amar bem mais do que devia na minha autodiegese e nos eternizaremos no que somos de amor, como se fosse sempre a primeira vez e edulcorados entre os lençóis com cheiro de vinho e latas de sardinhas, celebrando nossa pequena Jeanne e o nosso filhinho que virá. Se eu não morrer, que eu morra em ti porque em mim habitas maior que o merecimento das nossas palmas nas linhas das mãos entrecruzadas como uma teia caótica, porque te quero para não me perder perigosamente, porque me amas mais que a ti mesmo, porque te amo mais que a mim mesmo. E serás sempre minha na chama dos beijos para assegurarmos a felicidade eterna no infinito inexprimível do teu gozo, a tua na minha carne inundada, o meu no teu sexo em chamas e Deus se realizará enquanto o tempo se consuma e a vida será pouca para guardar no meu peito para sempre a mecha do teu cabelo, o teu suspiro agonizante, o teu hálito faminto de amor. Tudo morre com o tempo, companheira devotada, não há nem haverá mais ninguém, o amor é um só na lenda do Père-Lachaise. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] As desigualdades continuarão a crescer em todo o mundo. Mas, longe de alimentar um ciclo renovado de lutas de classe, os conflitos sociais tomarão cada vez mais a forma de racismo, ultranacionalismo, sexismo, rivalidades étnicas e religiosas, xenofobia, homofobia e outras paixões mortais. A difamação de virtudes como o cuidado, a compaixão e a generosidade vai de mãos dadas com a crença, especialmente entre os pobres, de que ganhar é a única coisa que importa e de que ganhar – por qualquer meio necessário – é, em última instância, a coisa certa. [...] Nenhuma das alternativas acima é acidental. Em qualquer caso, é um sintoma de mudanças estruturais, mudanças que se farão cada vez mais evidentes à medida que o novo século se desenrolar. [...] O principal choque da primeira metade do século XXI não será entre religiões ou civilizações. Será entre a democracia liberal e o capitalismo neoliberal, entre o governo das finanças e o governo do povo, entre o humanismo e o niilismo. [...] Apoiado pelo poder tecnológico e militar, o capital financeiro conseguiu sua hegemonia sobre o mundo mediante a anexação do núcleo dos desejos humanos e, no processo, transformando-se ele mesmo na primeira teologia secular global. Combinando os atributos de uma tecnologia e uma religião, ela se baseava em dogmas inquestionáveis que as formas modernas de capitalismo compartilharam relutantemente com a democracia desde o período do pós-guerra – a liberdade individual, a competição no mercado e a regra da mercadoria e da propriedade, o culto à ciência, à tecnologia e à razão. Cada um destes artigos de fé está sob ameaça. Em seu núcleo, a democracia liberal não é compatível com a lógica interna do capitalismo financeiro. É provável que o choque entre estas duas ideias e princípios seja o acontecimento mais significativo da paisagem política da primeira metade do século XXI, uma paisagem formada menos pela regra da razão do que pela liberação geral de paixões, emoções e afetos. Nesta nova paisagem, o conhecimento será definido como conhecimento para o mercado. O próprio mercado será re-imaginado como o mecanismo principal para a validação da verdade. Como os mercados estão se transformam cada vez mais em estruturas e tecnologias algorítmicas, o único conhecimento útil será algorítmico. Em vez de pessoas com corpo, história e carne, inferências estatísticas serão tudo o que conta. As estatísticas e outros dados importantes serão derivados principalmente da computação. Como resultado da confusão de conhecimento, tecnologia e mercados, o desprezo se estenderá a qualquer pessoa que não tiver nada para vender. [...] Se a civilização pode dar lugar a alguma forma de vida política, este é o problema do século XXI. [...].
Trecho do artigo The age of humanism is ending (Mail & Guardian, 2016 – tradução de André Langer), do historiador, filósofo e cientista político camaronês Achille Mbembe, autor de obras, tais como Crítica da razão negra (Antigona, 2014), abordando sobre a evolução do pensamento racial na Europa, resgatando o conceito de Negro e de homem-mercadoria, do racismo global tecido pelo capitalismo selvagem; de Necropolítica (N-1, 2018), tratando sobre dominação, sofrimento, destruição e sobrevivência na falência da política; de Sair da grande noite (Pedago, 2014), um ensaio sobre a África descolonizada, a modernidade afropolitana, demonstrando novas sociedades que emergem com a concretização da síntese a partir da reconstituição, da distribuição das diferenças entre si e os outros e da circulação dos homens e das culturas; e de Políticas da inimizade (Antígona, 2017), ensaio sobre a hostilidade e as formas que ela assume nas sociedades contemporâneas.

A ARTE DE SUELI GUERRA
A arte da coreógrafa, intérprete criadora, bailarina e diretora artística Sueli Guerra, que se formou no Ballet Dalal Aschar e é especialista no método Royal pela Washington School of Ballet e graduada em Dança pela UniverCidade (RJ), tendo sido bailarina em diversas companhias, ter fundado a Cia da Ideia, além de ter coreografado para diversos filmes e programas de TV. Ela é integrante da Cia de Teatro Aberto e desenvolve o projeto social Oficina da Criação na ONG Palco Social, além de integrar o corpo docente da Casa das Artes de Laranjeira (CAL) e do curso de pós-graduação da UNIRIO. Veja mais aqui.

AMANCEBADO
[...] Um sertanejo cearense queria dar aos filhos um desses nomes de encher a boca. O vigário sugeriu vários nomes de santos, sem conseguir sua concordância. Passou aos nomes profanos. E nada! Daí a pergunta: “Mas que espécie de nome o senhor quer?” Resposta: “Senhor vigário, queria alguma coisa assim como Amancebado!”. [...].
Trecho extraído da obra O sertão e o mundo (Leite Ribeiro, 1923), do advogado, professor, museólogo, folclorista e escritor cearense Gustavo Barroso (1888-1955). Veja mais aqui.
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A OBRA DE MODIGLIANI
Quando conhecer sua alma, pintarei seus olhos. A felicidade é um anjo de rosto grave.
A obra do artista plástico e escultor italiano Amedeo Clemente Modigliani (1884-1920) aqui, aqui, aqui e aqui.
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A OBRA DE JEANNE HEBUTERNE
Você sabe o que é o amor? Amor de verdade? Você já amou tanto que se condenou à eternidade no Inferno. Eu amei. A luta travada com a morte é dada através dos mesmos gestos contidamente torturados e, não obstante, cheios de força.
A obra da pintora francesa Jeanne Hébuterne (1898-1920), a eterna musa de Modigliani aqui.