quarta-feira, maio 22, 2019

BRECHT, ESTHER SOLANO, YOUNGSIL KIM, MENIRES APAIXONADOS & O DIA E A MARAVILHA VIVER


O DIA E A MARAVILHA VIVER - Ainda ontem não sabia o que pensar, fazer o que não fiz, dizer o que não disse. Coisas e lembranças perdidas ou jogadas fora; aventuras adiadas, festas que passaram, rugas do que restam, destroços e monturos. Sigo entre o flagra e divagar. O que era guerra ainda hoje é iminente. Anteontem a quimera do futuro, hoje horagá. A vida passa depressa, senão corro, eu vou devagar. Havia tanta incerteza, farsas, ratatá. Ainda muito que aprender. Aqui há muito mais além de possibilidades, consequências, o que é que há? Houve um tempo em que tudo era factível, isso na infância, quase na adolescência, ah, não mais, só o impossível a se desvelar abrindo o breu e tudo raiar. Afinal, o que já foi saiu da moldura, desbotou, quase sumiu e não cabe mais nem sequer cogitar, ou o que vai, se já não foi; o que terá de ser, será! Ou não, o que se sabe é quase nada, fiapinho dagora, cabelinho de sapo, o triz, já fora de moda, o perene descartável. Valho-me ainda do aperto de mão, do abraço amigo, ah, o eflúvio das rosas, a luz, o luar. Melhor a surpresa e tudo passar ou desandar, correr ou parecer que para tudo e tudo não para, deslizes, acomodações, continuações. Melhor é saber que nasce o dia e que é lindo o amanhecer, como é maravilhoso viver seguir adiante pro imprevisível. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] A democracia em crise é uma afirmação que a ninguém mais surpreende. Uma crise multi-facetada que tem como consequência o declínio das estruturas representativas tradicionais e um mal-estar geral com o funcionamento democrático atual. Vivemos em tempos nos quais a política nos é apresentada como algo prescindível, inclusive sujo, vergonhoso e é desejável a não profissionalização do político. Nossas possibilidades eleitorais, com frequência, são reféns ou de uma tecnocratizacão da política ou de uma política demagógica que manipula medos, emoções e afetos. [...] O primeiro passo para combater posturas antidemocráticas, que colocam em risco o avanço nos direitos e garantias fundamentais, é entender este processo em toda sua complexidade e multidimensionalidade.
Trecho extraído do artigo Crise da Democracia e extremismos de direita (Friedrich-Ebert-Stiftung, 2018), da pesquisadora e professora espanhola Esther Solano.

MENIRES APAIXONADOS
Há muitos e muitos anos, na ilha da Bretanha, os druidas eram poderosos e respeitados. Eles celebravam as cerimônias religiosas, diziam conhecer os segredos da Terra e do Céu e cuidavam de tudo. Jean vivia em Belle-Île e os antigos druidas da ilha gostavam muito dele: achavam que o jovem possuía “a bela palavra”, aquela capaz de se comunicar tão bem com as pessoas como com as forças invisíveis da Natureza. Jean, muito cedo, tornou-se um bardo, o primeiro degrau a se galgar na hierarquia dos druidas. Mas Jean não se preocupava muito com o que esperavam dele. A única coisa que lhe importava de fato era seu amor por Jeanne. A moça era filha de um pobre pescador, homem que aos olhos dos druidas não valia nada. Eles achavam que a menina era indigna de seu protegido. No entanto, Jean amava Jeanne, e Jeanne amava Jean. Os druidas tentaram argumentar com o garoto, chegaram até mesmo a ameaçá-lo com sua cólera. Jean somente disse:– De que valem seus argumentos contra o meu amor? Devo me casar com aquela que escolherem ou com aquela que meu coração escolher? Onde está a dita sabedoria de vocês, se ela se limita ao que as pessoas possuem ou não possuem? Esse pescador de mãos vazias tem o mais belo tesouro da ilha, pois, na sua pobre casa, brilha o sorriso de Jeanne!– Que afronta a deste Jean! – rosnaram os druidas. – Ele realmente acha que pode ir contra nossa vontade?No entanto, Jean amava Jeanne, Jeanne amava Jean, e o amor é cego às ameaças.Naquele dia, Jean se encontraria com a sua bem-amada num descampado. No pôr do sol, os arbustos de violetas ficavam ainda mais rosados. Jean estava decidido a pedir a mão de Jeanne em casamento no fim do verão. Seu coração batia mais forte, mesmo sabendo que era quase certo que Jeanne aceitaria...Por que Jean não percebeu o ar pesado daquela noite? Por que não escutou o barulho de passos furtivos por detrás da duna? Por que não viu as sombras rastejando pelo chão? Por quê? Porque ape-nas percebeu, escutou e viu Jeanne correndo em sua direção, tão leve na luz rasante do sol!Ela corria em direção a ele. Eles estavam a apenas vinte passos um do outro. Queriam se chamar, mas de repente a garganta dos dois se tornou tão áspera que nenhum som saiu de suas bocas. Eles queriam se abraçar, mas seus passos se tornaram pesados como chumbo. Eles endureceram enquanto trocavam olhares aterrorizados, impotentes. Atrás da duna, eles escutaram subir vozes salmodiando um canto inquietante, surdo e ameaçador. Os pés se perderam na areia. Os braços se soldaram a seus troncos, o rosto se crispou e seus corpos se petrificaram pouco a pouco. Jeanne e Jean se tornaram duas pedras, eretas, frias e silenciosas. De repente, o canto cessou.Os druidas, um por um, saíram de seu esconderijo e contemplaram sua obra. Sobre o descampado, dois menires se erguiam face a face, a vinte passos um do outro. O feitiço, nesse dia, foi muito mais forte que o amor. Os druidas impuseram sua lei. No entanto, não completamente. O amor de Jeanne e de Jean não se deu por vencido. A cada lua cheia, desde o dia em que os dois amantes teriam se unido, os dois menires se mexem no pedestal de pedra. Com esforços incríveis, eles se aproximam um do outro. O que acontece, então, entre os dois amantes de pedra?Ninguém sabe dizer, mas, cada ano, no descampado, aparecem sempre pequenos e novos menires.– São os filhos desse belo amor! – afirmam os habitantes de Belle-Île. E é nesse grande campo que se encontram hoje todos os menires da ilha, desafiando o tempo e o poder dos homens. As pessoas vêm de longe para admirá-los, especialmente nas noites de verão, quando o descampado fica violeta e os raios do pôr do sol acariciam a luz rosada dos menires.
Conto da Bretanha, extraído da obra Volta ao mundo dos contos nas asas de um pássaro (SM, 2007), de Catherine Gendrin e Laurent Corvasier. Veja mais aqui.

A DANÇA DE YOUNGSIL KIM
A arte da bailarina japonesa YoungSil Kim. Veja mais aqui.
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A OBRA DE BERTOLT BRECHT
Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.
A obra do dramaturgo, encenador e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.