terça-feira, maio 21, 2019

KEATS & FANNY, LAING, JANE CAMPION & ALEXANDER ARCHIPENKO


FANNY, O TESTEMUNHO DERRADEIRO – Agora o meu testemunho derradeiro: compartilho definitivamente meu sofrimento com esta ode, para que meu sangue seja a vida na corrente do seu coração que esvoaça ubíquo por todo meu corpo e lugar. Você mudou a minha vida e aliviou meu coração com sua presença para começar meu sonho. A sua beleza é a música que respira a alegria brilhante na queimadura amorosa do meu peito e rechaça a minha dor sufocante na esperança do seu amor. Eu sei, um homem apaixonado é a mais triste figura do mundo, estou à sua mercê, deslumbrado com a sua confessa mão macia a premiar minha vida subjugada, tudo é gracioso em seus movimentos, voa em todas as direções dos meus sentidos. Sou apenas um aprendiz de cirurgião que desistiu da saúde para ser poeta, um pobre poeta que vive do nosso grande segredo e dele sobrevivo a enlouquecer, minha doce Fanny. Para você, a miniatura do meu retrato e todos os meus poemas e cartas que são seus, porque os seus mil beijos estarão sempre comigo. Só você é o meu prazer, minha docê Fanny, minha bela dama Sans Merci, a vida do meu amor confinado, cavaleiro desmontado pelos infortúnios, desassossegado, não há nada no mundo tão delicado, meu credo é o amor e você é seu único princípio, na paixão submetida a uma quarentena, chafurdando desesperado em autopiedade. Com a minha partida as autoridades sanitárias queimarão toda minha mobília, rasparão as paredes do meu quarto para novas portas, janelas e chão, meus poemas entre labaredas, minhas cartas incendiadas, ah, meus olhos se fecharão com você em mim, doce Fanny, que plantem margaridas sobre minha sepultura! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] A existência é uma chama que constantemente ataca e revivifica as nossas teorias. O pensamento existencial não oferece qualquer segurança,nenhum abrigo ao sem-abrigo. Não se dirige a ninguém, salvo a vocês e a mim. Encontra a sua justificação quando, por cima do abismo das nossas linguagens, dos nossos erros, dos nossos devaneios e das nossas perversidades, fazemos, na comunicação com outrem, a experiência de uma relação estabelecida, perdida, destruída ou reencontrada. Esperamos partilhar a experiência de uma relação, mas o único ponto de partida honesto (e talvez o único fim) é talvez partilhar a experiência da ausência de relação. [...].
Trecho extraído da obra A psiquiatria em questão (Presença, 1972), do psiquiatra escocês Ronald David Laing (1927-1989), que na sua obra O eu dividido (Vozes, 1978), expressa que: [...] o principal agente na integração do paciente, no fazer com que as peças se reunam de modo coerente, é o amor do médico, um amor que lhe reconhece o ser total e o aceita sem quaisquer limitações. [...]. Ele também é autor de obras tais como A política da experiência: a ave do paraíso (Vozes, 1978), Fatos da vida (Nova Fronteira, 1982), Laços (Vozes, 1977), O eu e os outros: o relacionamento interpessoal (Vozes, 1989), Percepção interpessoal (Eldorado, 1972), A política da família (Martins Fontes, 1983), entre outros. Veja mais aqui e aqui.

BRIGHT STAR
Fosse eu imóvel como tu, astro fulgente!
Não suspenso da noite com uma luz deserta,
A contemplar, com a pálpebra imortal aberta,
– Monge da natureza, insone e paciente –
As águas móveis na missão sacerdotal
De abluir, rondando a terra, o humano litoral,
Ou vendo a nova máscara – caída leve
Sobre as montanhas sobre os pântanos – da neve,
Não! mas firme e imutável sempre, a descansar
No seio que amadura de meu belo amor,
Para sentir, e sempre, o seu tranquilo arfar
Desperto, e sempre, numa inquietação-dulçor,
Para seu meio respirar ouvir em sorte,
E sempre assim viver, ou desmaiar na morte.
(Soneto Bright Star, de John Keats)
O drama Bright Star (Brilho de uma Paixão, 2009), da cineasta neozelandesa Jane Campion, é baseado nos três últimos anos de vida do poeta do Romantismo inglês John Keats (1795-1821), focando seu relacionamento amoroso entre os anos de 1818-1821, com a inglesa Fanny Brawne (1800-1865), interpretado pela atriz australiana Abbie Cornish. O poeta por ela se apaixonou e se casaram em 18 de outubro de 1819, mantendo o enlace em segredo, porque ele havia desistido de sua carreira na medicina e passou a se dedicar somente à poesia, fato que levou a família dela a se opor. Separados por conta das dificuldades financeiras e saúde precária do poeta, eles trocaram correspondências mútuas. Veja mais aqui e aqui.

A ESCULTURA DE ALEXANDER ARCHIPENKO
A arte do escultor e artista plástico ucraniano Alexander Archipenko (1887-1964). Veja mais aqui.
&
A OBRA DE JOHN KEATS
Eu sou a morte, trilhada sob os pés de uma bela dama.
A obra do poeta do Romantismo inglês John Keats (1795-1821) aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.