terça-feira, março 19, 2019

CÉSAR VALLEJO, MARIA RITA KEHL, LOUIS MALLE, JULIETA DE FRANÇA & MAURIZIO RUZZI



DE VÍTIMAS & MACHADO! - Gentamiga, na croniqueta de hoje, pelo menos para mim (ninguém escapa à ignorância, há sempre coisas novas por aí), duas novidades: a primeira, incontestavelmente boa demais, risível. Trata-se do livro 13 vítimas da política brasileira, ou seja, a primeira vítima (ou vítimo ou todas as) da vitória de cada um dos presidenciáveis no pleito de 2018. Já pensou? Se fosse eleito presidente o Daciolo do Pode Olê Olá que nasceu do “milagre termodinâmico do foda-se. Ou foi obra do demônio de Maxwell... Mas alguém vai se foder. Disto não se tem dúvida”. Simplesmente arretado, já imaginou? Mas se o eleito fosse o Avaro que Pode Dias espelhando todos os banheiros públicos com as tintas para disfarçar as reivindicações dos doidos todos! Rir é pouco, eu gargalhei! Ou o Amoêdo Novo Banca Velha e o prisioneiro resistente e libertário do sistema que ameaçava as estruturas do poder! Ora, bote engenho! A do Ciro Denorex – esse nunca me enganou! – e a violência grassando tudo. Que coisa! A do Dindin Meirelles que só tinha paulista na porratoda! O vítimo da Marina que afinal rede não é latrina diante do assassinato de um trabalhador por sua mulher! Impagável. Ah, a posse do cristão Ei-ma-é, é? Sim, e a carta branca pro físico ateu que virou ministro do demônio em pessoa! A do Alckmin Walkman e a “péssima combinação de grande poder e pequenos poderes”; a do Goularzinho Pátria Livre – com o cu na mão do Putin e que ninguém quis pagar pra ver! Ah, a da Vera que caiu com a determinação de encerramento das redes sociais! Sim, a do Haddad nos Trinques do estranho Brasil das funkadas e outras umbigadas de respostas embutidas; ou a do Boulos Fofo dos boatos não confirmados; tudo muito bom, até demais. Pense numa narrativa de criação engenhosa, simplesmente: ótima. Só a do Coiso respondendo ao tarado agente X: “No da mulher deus deixa” ficou por menos. Calma lá! Deixa explicar, ora! Claro, não porque pimenta no furico dos outros não seja só refresco, nada disso. A história está boa demais, no grau mesmo! Só que, para mim (deixo isso bem claro), faltou à posse uma milícia com uns skinheads aloprados, uns hooligans fuderosos e um ressurreto Osama bin Laden de pau duro, dançando com panos azuis e rosa, e se passando por Jesus para a ministra atrepar na goiabeira. Aí sim, estava de bom tamanho, tintim por tintim, do mesmo tope, isso pra mim, tá? Mas, considero: mesmo que ele comesse bosta de cigano todo dia ou qualquer unguento adivinhatório das previsões escalafobéticas, quem adivinharia mesmo no que ia dar a posse real? Estava na casa do imprevisível, todo mundo careca de saber, mas deixa isso pra lá, só detalhe de pirraça dum linguarudo cheio das pregas. Destá. Por fim, ainda, a primorosa Carta ao Homem Futuro que, como o próprio autor diz ser um conto bônus, com toda História de Museu que virou “Papel velho e ressecado, foi uma das primeiras coisas a queimar”. Esse o primeiro livro, nada melhor. Já o segundo, Contos do Machado, uma publicação criativamente bem feita: contos medievais com tratamento gráfico competente de historias em quadrinhos, tudo sobre um legendário machado. Do volume, destaco de chapa a primeira narrativa: Da madeira torta que é feito o homem. Muito bom. E a última: O espírito do Machado: “Da batalha por uma vida que olha nos olhos da morte e diz: Leva-me, eu basto”. Li tudo e digo: gostei e muito. Os contos são ótimos e tratam da cobiça e das quedas humanas, excelentes. Aí fui ver o autor, tanto no primeiro como no segundo: Maurizio Ruzzi. Quem? Ele assim se apresenta no primeiro: “Este autor dispensa apresentações. Não por que seja extremamente conhecido (muito pelo contrário), mas porque ele próprio faz questão de dispensá-la”. Não me dei por satisfeito, né? Que se esconda ou não, descobri: trata-se de um bacharel que é doutor em Física com vários livros publicados na área. Certo. Essas publicações que trato aqui são a sua incursão pela Literatura, e digo: começou bem e em dose dupla. Outra coisa, no segundo, ele tem uma parceria: Juno Nedel, um artista gráfico que se apresenta como “Dissidente de gênero, criatura de ficção e realidade social”. Uma parceria feliz que deu um bom e suculento caldo. Parabéns e aplausos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Nas sociedades do espetáculo, só valem os sentimentos que prostram às imagens adequadas do discurso midiático. Os “sentimentos desprovidos de mídia” não tem reconhecimento, não tem expressão. Os sofrimentos normais da vida, os lutos, as perdas, as fases da timidez, de desânimo, os momentos de recolhimento necessários à reflexão e à contemplação não encontram lugar, não são respeitados – ou então se tornam imediatamente alvo da medicina psiquiátrica. [...].
Trecho extraído de O que é o corpo (Itaú Cultural, 2005), da poeta, psicanalista, jornalista, ensaísta e crítica literária Maria Rita Kehl.

A ESCULTURA DE JULIETA DE FRANÇA
A arte da premiada escultora e professora Julieta de França (1870 – 1951), uma das pioneiras da arte no Brasil. Um fato registrado na sua vida foi o de haver sido recusada à participar de um concurso que escolheria um monumento comemorativo à República, o que a revoltou levando a obra para ser submetida aos mestres franceses, entre eles Rodin, todos favoráveis pela técnica e qualidade do trabalho. Com isso ela retornou ao Brasil, solicitando a reconsideração da decisão da comissão de reprová-la, o que gerou um escândalo, por colocar em questão os critérios e decisões da Academia de Belas-Artes, o que foi tida como afronta ao esperado “recato feminino”. A decisão não foi revista, prejudicando a carreira da artista mãe solteira que sustenha sua filha sozinha. A partir disso seu nome caiu em esquecimento. Ela deixou em livro, “Souvenir de ma carrière artistique”, com recortes de jornais, cartas pessoais e fotos de seu trabalho, numa tentativa de documentar uma carreira que carecia de reconhecimento do meio artístico nacional. Texto e imagens recolhidas do estudo Souvenir de ma carrière artistique: Uma autobiografia de Julieta de França, escultora acadêmica brasileira (Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, vol. 15, nº 1, São Paulo, Jan/Jun, 2007) de Ana Paula Cavalcanti Simion. Veja mais aqui.

LES AMANTS, DE LOUIS MALLE
O drama Les Amants (1958), do cineasta francês Louis Malle (1932-1995), conta a história de uma jovem esposa de um diretor de jornal, entediada com a desconfiança de que é traída pelo marido, começa a fazer visitas frequentes a uma amiga de infância e, por meio dela, conhece um playboy que se torna amante. O lançamento à época do filme causou bastante polêmica entre os setores conservadores e a fúria católica em todo mundo, tendo problemas para ser exibido em diversos países, inclusive o Brasil, onde foi alvo de processo criminal promovido pela Confederação de Famílias Cristãs, que conseguiu proibir o filme. Destaque para atuação da atriz francesa Jeanne Moreau. Veja mais aqui e aqui.
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A obra do poeta vanguardista e dramaturgo peruano César Vallejo (1892-1938) aqui, aqui & aqui.