terça-feira, julho 17, 2018

DRUMMOND, PRIGOGINE, CLARA SCHUMANN, PAULO MENDES CAMPOS, EMMELINE PANKHURST, PALADE, MARIE-HÉLÈNE SIROIS & FESTIVAL DE CURTA


CLARA, ÚNICO AMOR - Imagem: Clara Wieek, arte da artista visual canadense Marie-Hélène Sirois. - Clara de todas as teclas nos exímios dedos, talento de berço, nutria paixão infantil pelo aluno saxão de seu pai, teimando em não saber se ele seguia pelas leis ou tons na indecisão da vida em Lipsia. Tudo era apaixonante naquele estranho jovem órfão com seus olhos de sonhos e poucas palavras na sensibilidade melancólica aos devaneios insatisfeitos improvisados de poesia exaltada. Ele se decide por Leipzig e depois Heidelberg formar-se advogado e, ao encontrar Thibaut, as hesitações da mãe dele são vencidas e retorna a Lipsia para novos pesares atormentadores, misturando desencorajamento com a ânsia de glória, bebida e crises depressivas, o fumo e a incerteza, tudo desabonava sua reputação. Clara orgulho de pai sabia dos salões por viagens de recitais nas partituras, empolgada pela genialidade poética daquele jovem aluno de seu pai, agigantando o seu prodígio nas entrelinhas do diário com um presente de sua composição musical prometido praquele estranho que morava na sua casa. Eis que ele se enamora da Ernestina no desejo de esposá-la, todavia é pra Clara que ele destina os tesouros de sua alma transbordante num intenso amor. O velho professor Wieek tinha outros planos pro futuro da filha, afastando-a para Dresden. Golpe duro no coração daquele enamorado, e ele pede, então, a mão dela ao pai pela primeira vez e foi negado o amor agora sofrimento incessante de saudade noitedia. Na distância ela arranja um namorado, o que o faz explodir de ira até conseguir desfazer aquele idílio e as pazes por apaixonadas juras de amor. Ele pede a mão dela ao pai pela segunda vez e o amor lhe foi negado outra vez para desespero da alma daquele poeta que compõe febrilmente canções. Afastada daquele apaixonado, novamente ela encontra outro amor para desastre da paixão que parte para Viena com todas as dores da plangente Humoreske, a ela dedicada. Aí pela terceira vez pede a mão dela e o amor negado agora em excursão por Paris, recorre aos tribunais sob calúnias e abjeções, e o casamento enfim a glória, as oito gestações não a permitiam compor nem colaborar com o marido divulgando sua arte. Mesmo assim abdicou de sua criação, agora ela própria em segundo plano, para se dedicar integralmente na promoção da dele. Enquanto ela adorava turnês, ele o silêncio e as crises nervosas da melancolia psicótica, a nota lá dominante martelando seus ouvidos aonde quer que fosse. Seguiam a desconhecer da asa negra da tragédia na estridente monotonia dos tímpanos que o leva à tortura das alucinações, à loucura e tentativa de suicídio. Ao interná-lo com depressão crônica num manicômio de Endenich, ela seguia sozinha pelo caminho de Düsseldorf que deu Johannes o seu sustentáculo pro resto da vida. O amigo alisa seus seios na intimidade e um pacto de fidelidade ao doente é selado, enquanto os excessivos treinos do tratamento multimodal levavam-na à síndrome de dor crônica, dela quase sucumbir junto com marido à sepultura. Enviuvou e manteve-se fiel à sua memória, respeitada por Johannes. Ela era até os seus últimos dias a única musa nas harmonias imortais de um único amor. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da pianista e compositora alemã Clara Schumann (1819-1896): Piano Works, Piano Concert in A minor Op. 7, Klaviertrio in G moll Op. 17 & Piano Trio in G minor – em sua homenagem foi realizado o drama musical Clara (2008), dirigido por Helma Sanders Brahms & muito mais nos mais de 2 milhões & 500 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] O que sei? Minha resposta é clara: muito pouca coisa [...] A visão clássica associava a ciência a certeza. A suprema glória da razão humana parecia ligada à possibilidade de atingir a certeza. Muito pelo contrário, creio que a ideia de certeza conduz a contradições. [...]. Pensamento do químico russo Prêmio Nobel de Quimica de 1977, Ilya Prigogine (1917-2003), Veja mais aqui.

NÃO PARAMOS DE PERGUNTAR - A questão “o que não sei?”, participa estreitamente da vida de todo pesquisador. Cada descoberta nova – o que significa cada elemento novo de conhecimento – constitui uma etapa que obriga a nos interrogarmos uma vez mais. O processo científico é uma longa cadeia de interrogações. Cada questão que encontrou sua resposta abre novo campo de investigação a explorar. O programa avança lentamente em direção a uma resposta final ainda desconhecida. Se todos os cientistas fazem perguntas específicas no quadro de seu programa de pesquisa, raros são os que se arriscam a ampliar suas investigações a um campo ou a um ramo da ciência. Os pesquisadores de hoje são formados para avançar passo a passo, com lentidão e precaução, a fim de evitar fazer perguntas de ordem geral, exceto se possuem boas razões e bons instrumentos para isso. No entanto, os que estendem suas interrogações ao domínio geral se encontram muitas vezes na origem das aberturas científicas maiores. Não paramos de nos perguntar quais eram as coisas que não sabíamos e que queríamos compreender. [...] Ao mesmo tempo conseguimos fornecer inúmeras respostas assumidas e aceitáveis. No entanto, muitas coisas permanecem ainda na sombra. Gostaríamos de saber como as células e seus componentes se adaptam a novas circunstâncias e como elas corrigem os desequilíbrios. Estima-se entre 100 e 200 mil números de genes que formam o genoma humano – o código genético que condiciona nosso desenvolvimento e nossas particularidades. Mesmo nos pequenos mamíferos de laboratório, esse número é considerável. Gostaríamos de saber quantos genes são necessários para construir uma célula pancreática e quantos para construir um pâncreas. E, na mesma ordem de ideias, gostaríamos de saber quantos genes são necessários para fabricar um rim ou um cérebro. O número de perguntas sem respostas que nos fazemos é infinito. No entanto, responder a essas questões equivaleria a privilegiar o conhecimento por amor ao conhecimento. Mas em um futuro mais ou menos próximo poderíamos chegar a identificar os genes que condicionam um desenvolvimento normal. Trecho extraído do artigo Não paramos de perguntar (Folha de S. Paulo, em 26 de março de 1995.), do biólogo romeno e prêmio Nobel de Medicina em 1974, George Palade (1912-2008). Veja mais aqui.

O MÉDICO E O MONSTRO - Avental branco, pincenê vermelho, bigodes azuis, ei-lo, grave, aplicando sobre o peito descoberto duma criancinha um estetoscópio, e depois a injeção que a enfermeira lhe passa. O avental na verdade é uma camisa de homem adulto a bater-lhe pelos joelhos; os bigodes foram pintados por sua irmã, a enfermeira; a criancinha é uma boneca de olhos cerúleos, mas já meio careca, que atende pelo nome de Rosinha; os instrumentos para exame e cirurgia saem duma caixinha de brinquedos. Ela, seis anos e meio; o doutor tem cinco. Enquanto trabalham, a enfermeira presta informações: – Esta menina é boba mesmo, não gosta de injeção, nem de vitamina, mas a irmãzinha dela adora. O médico segura o microscópio, focaliza-o dentro da boca de Rosinha, pede uma colher, manda a paciente dizer aaá. Rosinha diz aaá pelos lábios da enfermeira. O médico apanha o pincenê, que escorreu de seu nariz, rabisca uma receita, enquanto a enfermeira continua: – O senhor pode dar injeção que eu faço ela tomar de qualquer jeito, porque é claro que se ela não quiser, né, vai ficar muito magrinha que até o vento carrega. O médico, no entanto, prefere enrolar uma gaze em torno do pescoço da boneca, diagnosticando: – Mordida de leão. – Mordida de leão? – pergunta, desapontada, a enfermeira, para logo aceitar este faz-de-conta dentro do outro faz-de-conta. – Eu já disse tanto, meu Deus, para essa garota não ir na floresta brincar com Chapeuzinho Vermelho... Novos clientes desfilam pela clínica: uma baiana de acarajé, um urso muito resfriado, porque só gostava de neve, um cachorro atropelado por lotação, outras bonecas de vários tamanhos, um Papai Noel, uma bola de borracha e até mesmo o pai e a mãe do médico e da enfermeira. De repente, o médico diz que está com sede e corre para a cozinha, apertando o pincenê contra o rosto. A mãe se aproveita disso para dar um beijo violento no seu amor de filho e também para preparar-lhe um copázio de vitaminas: tomate, cenoura, maçã, banana, limão, laranja e aveia. O famoso pediatra, com um esgar colérico, recusa a formidável droga. – Tem de tomar, senão quem acaba no médico é você mesmo, doutor. Ele implora em vão por uma bebida mais inócua. O copo é levado com energia aos seus lábios, a beberagem é provada com uma careta. Em seguida, propõe um trato: – Só se você depois me der um sorvete. A terrível mistura é sorvida com dificuldade e repugnância, seus olhos se alteram nas órbitas, um engasgo devolve o restinho. A operação durou um quarto de hora. A mãe recolhe o copo vazio com a alegria da vitória e aplica no menino uma palmadinha carinhosa, revidada com a ameaça dum chute. Já estamos a essa altura, como não podia deixar de ser, presenciando a metamorfose do médico em monstro. Ao passar zunindo pela sala, o pincenê e o avental são atirados sobre o tapete com um gesto desabrido. Do antigo médico resta um lindo bigode azul. De máscara preta e espada, Mr. Hyde penetra no quarto, onde a doce enfermeira continua a brincar, e desfaz com uma espadeirada todo o consultório: microscópio, estetoscópio, remédios, seringa, termômetro, tesoura, gaze, esparadrapo, bonecas, tudo se derrama pelo chão. A enfermeira dá um grito de horror e começa a chorar nervosamente. O monstro, exultante, espeta-lhe a espada na barriga e brada: – Eu sou o Demônio do Deserto! Ainda sob o efeito das vitaminas, preso na solidão escura do mal, desatento a qualquer autoridade materna ou paterna, com o diabo no corpo, o monstro vai espalhando terror a seu redor: é a televisão ligada ao máximo, é o divã massacrado sob os seus pés, é uma corneta indo tinir no ouvido da cozinheira, um vaso quebrado, uma cortina que se despenca, um grito, um uivo, um rugido animal, é o doce derramado, a torneira inundando o banheiro, a revista nova dilacerada, é, enfim, o flagelo à solta no sexto andar dum apartamento carioca. Subitamente, o monstro se acalma. Suado e ofegante, senta-se sobre os joelhos do pai, pedindo com doçura que conte uma história ou lhe compre um carneirinho de verdade. E a paz e a ternura de novo abrem suas asas num lar ameaçado pelas forças do mal. Crônica do escritor e jornalista Paulo Mendes Campos (1922-1991). Veja mais aqui e aqui.

PROCURA DA POESIANão faças versos sobre acontecimentos. / Não há criação nem morte perante a poesia. / Diante dela, a vida é um sol estático,/ não aquece nem ilumina. / As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. / Não faças poesia com o corpo, / esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica. / Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escuro / são indiferentes. / Não me reveles teus sentimentos, / que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem. / O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia. / Não cantes tua cidade, deixa-a em paz. / O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas. / Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma. / O canto não é a natureza / nem os homens em sociedade. / Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam. / A poesia (não tires poesia das coisas) / elide sujeito e objeto. / Não dramatizes, não invoques, / não indagues. Não percas tempo em mentir. / Não te aborreças. / Teu iate de marfim, teu sapato de diamante, / vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família / desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável. / Não recomponhas / tua sepultada e merencória infância. / Não osciles entre o espelho e a / memória em dissipação. / Que se dissipou, não era poesia. / Que se partiu, cristal não era. / Penetra surdamente no reino das palavras. / Lá estão os poemas que esperam ser escritos. / Estão paralisados, mas não há desespero, / há calma e frescura na superfície intata. / Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. / Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. / Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. / Espera que cada um se realize e consume / com seu poder de palavra / e seu poder de silêncio. / Não forces o poema a desprender-se do limbo. / Não colhas no chão o poema que se perdeu. / Não adules o poema. Aceita-o / como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada / no espaço. / Chega mais perto e contempla as palavras. / Cada uma / tem mil faces secretas sob a face neutra / e te pergunta, sem interesse pela resposta, / pobre ou terrível que lhe deres: / Trouxeste a chave? / Repara: / ermas de melodia e conceito / elas se refugiaram na noite, as palavras. / Ainda úmidas e impregnadas de sono, / rolam num rio difícil e se transformam em desprezo. Poema extraído da obra A rosa do povo (Record, 1989), do poeta, contista e cronista Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Veja mais aqui e aqui.

AS SUFRAGISTAS
Nós não queremos quebrar as leis. Nós queremos fazer as leis
Frase da ativista britânica Emmeline Pankhurst (1858-1928), que embasa o drama longa-metragem As sufragistas (2015), dirigido por Sarah Gravon, delicado por apresentar defeitos que ferem a luta por um feminismo interseccional e respeitoso quanto ao lugar de fala de cada mulher dentro da pirâmide social. Trata-se de um grito por representatividade, marcando o início da luta do movimento feminista e os métodos incomuns de batalha, a história das mulheres que enfrentaram seus limites na luta por igualdade e pelo direito de voto, resistindo à opressão de forma passiva, mas, a partir do momento em que começaram a sofrer uma crescente agressão da polícia, decidiram se rebelar publicamente. Veja mais aqui e aqui.

Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo & muito mais na Agenda aqui.
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A arte da artista visual canadense Marie-Hélène Sirois.
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Domingo na Massagueira, a literatura de Moacyr Scliar, O envenenamento mental de Harvey Spencer Lewis, a arte de Henry Yan, a música de Cláudia Telles, Elis Regina, Al Di Meola & Felipe Coelho aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo. Fone: 11 98499-2985.