quarta-feira, julho 04, 2018

BORGES, HESSE, KHLÉBNIKOV, RICOEUR, NAGEL, PIAZZOLLA & NÉSTOR SARMIENTO


OS LABIRINTOS DE BORGES - Imagem: La biblioteca Borges en París (1995), do pintor argentino Néstor Sarmiento - Foi pelas mãos de HermilAfonso que soube quase menino homem feito da velha dama e outros duelos do encontro do indigno e da intrusa do Informe de Brodie, para me dar conta dos anacronismos deliberados e suas atribuições errôneas nos alicerces da inexistente História Geral dos Labirintos do igualmente irreal Herbert Quain. Marinheiro de primeira viagem, fui obrigado a refazer as rotas até chegar lá longe onde o heresiarca de Tlön, Uqbar, Orbis Tertius abominava a cópula e os espelhos, para poder entrar no sonho do homem que sonhava e o sonhado despertou caminhando contra as línguas de fogo das Ficções mais ambíguas, disseram seus detratores, quando a ambiguidade era uma riqueza com o desvario laborioso e empobrecedor de compor vastos livros, menos tautológicos que outros não menos imaginários que o livro cíclico que é Deus. Não foi à toa que encontrei o premiado poeta maluco Carlos Argentino no Aleph a me apresentar das astúcias do descortês mestre-de-cerimônias Kotsukê No Suké a me contar do homem da esquina rosada e etcétera da História Universal da Infâmia com todo virtuosismo literário de coisas sérias e jocosas pela imaginação desenfreada, em que heréticos foram queimados e entraram no céu, e quem perdeu foi condenado à multa penosa na Loteria, só porque quem ganha pode presidir a vida e os tecidos do acaso povoado pelo monstro Aqueronte que é o inferno, o pássaro que traz a chuva, o galo celestial, o mirmecoleão, a serpente óctupla, as nagas, lêmures, fadas, sereias e valquírias e tantos seres do satírico e mistificador no infindável e impalpável Livro de Areia e o dos Sonhos manipulando as diversas línguas e épocas de coisas que nunca existiram nem foram escritas, coisas inventadas do gênio pelo universo indefinido e infinito da Biblioteca de Babilônia, com suas escadas e galerias hexagonais repletas de livros e livrinhos e livrões mortos para ninguém encontrar o que procura no meio do incompreensível das ruínas circulares com o pesadelo matemático de um sonho fantástico em que as paralelas se encontram no infinito coerentemente absurdo e poético. E ter-se com o imortal rejeitado entre a fama e a cegueira que vinham graduais, porque o mundo de Russel nasceu há poucos instantes e o tempo inteiro já passou e somos recordações do passado, e só brincou com um menino como quem brinca com algo próximo e misterioso de João, I, 14 no que É, Foi e Será do Elogio da Sombra: o dia regido pela divindade que nas selvas os corpos amantes entretece. Porque não há mandamento que não possa ser infringido e também os que digo e os que os profetas disseram, não exageres o culto da verdade; não há homem que ao fim de um dia não tenha mentido com razão muitas vezes nos Fragmentos de um evangelho apócrifo. Por fim, pôs a palavra em liberdade com o seu Ultraísmo celebrando Buenos Aires como se fosse as paisagens da europeias sonhadas e autobiografou seus perfis olvidando da fama e do fracasso na demasiada ambição de amar e ser amado. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do compositor e bandoneonista argentino Ástor Piazzolla (1921-1992): Libertando, Mas cuatro estaciones porteñas, Live at the Montreal Jazz Festival & Concierto para Bandoneon & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Onde houve situação, haverá horizonte suscetível de se estreitar ou se ampliar. [...] significa que não vivemos nem em horizontes fechados, nem num horizonte único [...] O que pretendemos compreender não é o evento, na medida que é fugidio, mas sua significação que permanece [...] É na linguística do discurso que evento e sentido se articulam um sobre o outro. [...]. Trechos extraídos da obra Interpretação e ideologias (Francisco Alves, 1990), do filósofo francês Paul Ricoeur (1913-2005). Veja mais aqui.

ÚLTIMA PALAVRA - [...] As reduções comportamentais e as suas descendentes não são operativas na filosofia da mente porque as características fenomenológicas e intencionais que são evidentes a partir do interior da mente não são adequadamente explicadas da perspectiva puramente externa a que as teorias redutoras se limitam, devido à impressão errada de que só uma perspectiva externa é compatível com uma mundividência científica. [...] Para usar alguns exemplos grosseiros mas conhecidos, a única resposta possível à acusação de que uma moralidade dos direitos individuais não é senão uma carga de ideologia burguesa, ou um instrumento de dominação masculina, ou que a exigência de amar o próximo é afinal uma expressão de medo do próximo, ódio e ressentimento, é considerar de novo, à luz destas sugestões, se as razões para respeitar os direitos individuais ou para cuidar dos outros podem ser sustentadas, ou se disfarçam algo que não é de modo algum uma razão. E esta é outra questão moral. Não se pode pura e simplesmente sair do domínio da reflexão moral: está simplesmente aí. Tudo o que podemos fazer é levá-la por diante à luz de sejam quais forem as novas provas históricas ou psicológicas disponíveis. É o mesmo em todo o lado. Os desafios à objetividade da ciência só podem ser enfrentados usando mais raciocínio científico, os desafios à objetividade da história só pela história, e assim por diante [...]. Trechos extraídos da obra A última palavra (Gradiva, 1999), do filósofo estadunidense Thomas Nagel. Veja mais aqui.

O PRINCÍPIO DO FIM - [...] Só nos últimos dias de outono é que fui enviado á frente de combate. A princípio, e apesar das sensações do combate, senti-me defraudado. Antes me havia perguntado muitas vezes por que eram tão poucos os homens que conseguiam viver por um ideal. Agora percebia que todos os homens eram capazes de morrer por um ideal. Mas não por um ideal seu, livremente escolhido, mas por um ideal comum e transmitido. Contudo, ao fim de algum tempo, tive de confessar-me que havia julgado os homens abaixo do que realmente valiam. Apesar da uniformidade que lhes impunha o serviço militar e o perigo comum, vi muitos se aproximarem arrogantemente à vontade do destino, em plena vida ou a ponto de morrer. Muitos mostravam a todo momento, e não só no ataque, aquele olhar firme, distante e alheado que não sabe de fim nenhum e implica uma completa entrega ao monstruoso. Fossem quais fossem suas opiniões ou idéias, aqueles homens estavam prontos, eram aproveitáveis e podiam servir para dar conformação ao futuro. Não importava que o mundo parecesse continuar obstinadamente fixo em seus antigos ideais, em seu conceito tradicional da guerra, do heroísmo e da honra, e que toda voz de verdadeira humanidade soasse mais longínqua e irreal do que nunca. Tudo isso era apenas superfície, igual aos fins exteriores e políticos da guerra. Sob ela, no fundo, formava-se algo novo. Algo como uma nova humanidade. Pois havia muitos homens, e alguns deles morreram a meu lado, para os quais era evidente que o ódio e a fúria, a matança e a destruição não se achavam ligados aos objetos. Não; os objetos, bem como os fins, eram puramente casuais. Os sentimentos primordiais, inclusive os mais violentos, não iam contra o inimigo; sua obra sangrenta era apenas uma irradiação do interior, da alma dissociada e dividida, que queria enfurecer-se e matar, aniquilar e morrer, para nascer de novo. Uma ave gigantesca rompia a casca. A casca era o mundo, e o mundo havia de cair feito em pedaços. Numa noite de primavera eu estava de sentinela diante de uma granja que havíamos ocupado naquele dia. Um vento sutil soprava em ondas caprichosas, e sob o alto céu de flandres cavalgavam exércitos de nuvens, atrás dos quais resplandecia indefinido um prenuncio de lua. Durante todo o dia me sentira já inquieto; uma preocupação indeterminada me agitava. Agora, em meu sombrio posto, pensava com fervor nas imagens de minha vida passada, em Eva e em Demian. Apoiado no tronco de um álamo, contemplava fixamente o céu inquieto, cujos resplendores, secretamente palpitantes, se converteram de súbito numa ampla série fluente de imagens. Na debilidade singular de minhas pulsações, na insensibilidade de minha pele para o vento e a chuva, e na vibrante vigília interior, senti que em torno de mim havia um guia. Via-se nas nuvens uma grande cidade, da qual fluíam milhares de homens que se espalhavam como enxames pelas amplas paisagens. Em meio a eles caminhava uma poderosa divindade, o cabelo semeado de estrelas reluzentes, alta como uma montanha. O rosto era o de Eva. Em seu interior entraramos homens em grupos como numa caverna gigantesca e lá desapareceram. A deusa sentou-se no chão. Em sua fronte o sinal resplandecia. Parecia sofrer o domínio de um sonho; fechou os olhos e o amplo rosto contraiu-se num gesto de dor. De repente, lançou um grito agudo e de sua fronte saltaram estrelas, muitos milhares de estrelas resplandecentes, que voaram para o negro céu em curvas magníficas. Uma das estrelas vinha, com vibrante cântico, em minha direção. Parecia procurar-me... De repente, explodiu com estrondo em milhares de estilhaços, elevou-me nos ares e arrojou-me novamente ao solo, enquanto o mundo caía fragorosamente sobre mim. Encontraram-me perto do álamo, coberto de terra e com muitas feridas. Estava estendido numa cova. [...]. Trecho extraído da obra Demian (Civilização Brasileira, 1972), do escritor alemão Hermann Hesse (1877 – 1962). Veja mais aqui.

POEMA - Herdades noturnas, gengiscantem! / Crepitai, bétulas azuis! / Albas da noite, zaraturvem / Ao céu cerúleo mozarteante! / Goyam trevas como nuvens! / Roops é um cirro soturno! / Voa uma tromba de risos, / Enfrento firme o verdugo, / Gargalham garras de gritos, / E em torno o silêncio escuro. / A mim convoco os valentes, / Saem dos rios os afogados, / O miosótis, estridente, / Declama a velames pardos, / Gira o eixo cotidiano, / Move-se a massa vespertina, / Nas águas da noite vogando / (Sonho) uma carpa-menina. / Mamáj – pinhos ao vento! / Nuvens nômades de Báti! / Como cains do silêncio / Palavras santas se abatem. / Passo tardo, cercado de tropas, / Asdrúbal azul vai ao baile das rochas. Poema do poeta da vanguarda russa Vielimir Khlébnikov (1885-1922). Veja mais aqui.

OS LABIRINTOS DE BORGES

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Recuerdos de un arlequín do pintor argentino Néstor Sarmiento
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A paz que ninguém vê, Certo & errado de Thomas Nagel, o teatro de Nelson Baskerville, a música de Flora Purim, a escultura de Pietro Baratta & a arte de Tchello d'Barros aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.