quinta-feira, julho 05, 2018

POE, COCTEAU, MIA COUTO, MERTON, LEILA MICCOLIS, HIROMI UEHARA & TOMMASO PINCIO


OS AMORES DO CORVO POE – Imagem: Portrait of Edgar Allan Poe, art by Tommaso Pincio. - Das tantas e muitas que soube, uma das mais singulares foi a do órfão aos dois anos de pais atores fracassados, para ser adotado na afeição de Francisca e brincar com a afilhada dela, Catarina Isabel. Afeiçoado com as travessuras pelos jardins e trelas às macieiras, ah Catarina, aquela que foi interrompida por ricas viagens que lhe facultaram o aprendizado do grego, latim, francês, espanhol e italiano, e o primeiro amor sucumbia. E surgiu a bela senhora majestosa Joana, mãe do amigo que lhe festejara a proeza de nadar seis milhas contra a corrente do rio James. Ah, Joana, bela e enlouquecida, a morte e ao seu túmulo o poema Helena: “à luz de ônix, teu vulto se revela”. Com o Tamerlão, “Doce consolação nesta hora extrema!”, a jovem delicada Mira – Sara Elmira - às juras de amor para casar, abandona a universidade ao jogo e depois expulso por falta às aulas, segue vida nômade e inconstante, desavenças com o tutor e o pai da moça que lhe cerceiam o idílio, ela casada em acordo com outro e a sinfonia de amor inacabada: “Em tua festa de núpcias eu te vi, ardendo de rubor”. Pra ela o poema: “o néctar dos lábios teus meu trouxe / fragrância tão balsâmica e tão doce, / dando o primeiro beijo apaixonado”. Vieram os Poemas na água-furtada e os cachos dos cabelos de Maria de Devereaux aos escândalos do chicote na paixão desenfreada rompida na marra. Com o Manuscrito encontrado numa garrafa, demitido por abuso de bebida, também A queda da casa de Usher com seus restos desmoronados e o nebuloso casamento com Virginia, a musa de tantos e muitos versos entre a miséria e a doença. E todos os Contos do grotesco e do arabesco com a tia-sogra viúva Maria Clemm sempre disposta a ser mãe e a ele servir entre os mais belos e puros amor, e Os crimes da rua Morgue a se referir à sua maneira de negar o que é e explicar o que não é, e O escaravelho de ouro e quem nos dirá desaparecessem todos que sabiam do segredo, se no barril do Amontillado, ou jogador de xadrez de Mawlzel, os mistérios de Marie Roget ou a carta roubada, o poço e o pêndulo ou de Berenice e quantas vieram ao coração: a compassiva e atenciosa Virginia, Os sinos para a prudente Luisa, a feminilidade frágil da poeta Francisca, a alma irmã da poeta misteriosa Helena “Vi-te uma vez, só uma, há vários anos..”; e queria morrer nos braços de Anita. E Mira enviuvara, era a sua vez. Com ela, O corvo e o reencontro com Catarina Isabel, portas fechadas não lhe atendem, vai embora até retornar a Richmond noivo de Mira e o fantástico das exacerbações: alucinações, neuroses, o duplo, cenários de fatalidade e morte, pavor e mistério. Eis, finalmente, diante de Catarina, nem se demora, quando voltará a vê-la? Nunca mais, até ser encontrado inconsciente poeta maldito numa rua de Baltimore: “Senhor, amparai minha pobre alma”. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da pianista e compositora japonesa Hiromi Uehara: Time control, Brain, Spiral & Estival Jazz Lugano & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui & aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] seja qual for a intenção dos analistas, suas análises tendem a possuir uma qualidade azeda: tendem a acusar, secularizar, ironizar, satirizar, alienar o conteúdo intrínseco da crença ou ponto de vista confessado. O que estes sistemas de análise têm em comum é a prática de descartarem o valor nominal das declarações, das crenças e dos sistemas de idéias, reexaminando-os dentro de um contexto novo que proporciona o 'significado real’ [...] Numa sociedade em que a desconfiança recíproca encontra expressões populares tais como 'quanto ele vai ganhar por isso' [...] em que a defesa contra as desilusões traumáticas talvez consistam em estarmos permanentemente desenganados, reduzindo as expectativas sobre a integridade de outros, dando  por descontados de antemão seus motivos e talentos; - numa sociedade assim, a análise sociológica sistemática e uma sociologia do conhecimento derivada assumem uma pertinência e convicção socialmente fundamentadas [...]. Trechos extraídos da obra Sociologia: teoria e estrutura (Mestre Jou, 1968), do sociólogo estadunidense Robert Merton (1910-2004).

VELHICE - A importância dos velhos tem a ver com o fato de que somos sociedades orais, e portanto os velhos são espécies de bibliotecas vivas, são detentores do saber. Cabe aos velhos essa missão de reprodução da moral, da ética. Nos sistemas religiosos monoteístas, há um julgamento, depois que morremos temos que prestar contas do que fizemos em vida. Nas religiões africanas, nós prestamos contas em vida, em nossa relação de viventes com os mortos. Não há essa coisa do Juízo Final, e portanto há disponibilidade para se estar vivo. Trecho extraído de Fronteiras do Pensamento (2014), do premiado escritor e biólogo moçambicano Mia Couto. Veja mais aqui e aqui.

A VOZ HUMANAUm ato, um quarto, uma personagem, o amor e o acessório banal das peças modernas, o telefone: O autor gosta de fazer experiências. Tendo o hábito de perguntar a si mesmo o que é que pretendia fazer depois de ter visto o que fez, talvez seja mais simples dar algumas informações em primeira mão. Vários motivos o incentivaram a escrever este ato: 1.º O motivo misterioso que leva o poeta a escrever mesmo quando todas as suas mais profundas preguiças se recusam a fazê-lo e, sem dúvida, a recordação de uma conversa surpreendente ao telefone, a singularidade dos timbres, a eternidade dos silêncios. 2.º Criticam-no dizendo que age de acordo com estruturas maquinais, que instrumentaliza demasiado as suas peças, que conta demasiado com a encenação. Importava, por isso, partir do mais simples: um ato, um quarto, uma personagem, o amor e o adereço banal das peças modernas, o telefone. 3.º O teatro realista está para a vida como estão para a natureza as telas do Salão de Belas Artes. Era preciso pintar uma mulher sentada, não uma certa mulher, uma mulher inteligente ou estúpida, mas uma mulher anónima, e afastar-se do virtuosismo, do diálogo “tu falas e eu respondo”, das palavras de mulher apaixonada tão insuportáveis quanto as palavras das crianças, enfim, de todo aquele teatro que de forma venenosa, pastosa e sorrateira substitui o teatro tout court, o teatro verdadeiro, as álgebras vivas de Sófocles, de Racine e de Molière. O autor tem consciência da dificuldade da tarefa. Por isso mesmo, e de acordo com o conselho de Victor Hugo, relacionou a tragédia e o drama com a comédia, sob os auspícios dos imbróglios que o aparelho menos indicado para tratar dos assuntos do coração permite. 4.º Finalmente, e porque é muitas vezes criticado por exigir aos intérpretes uma obediência prejudicial ao seu talento, reclamando sempre prioridade, o autor quis escrever uma peça ilegível que, tal como o seu Roméo se intitula pretexto para uma encenação, seria um pretexto para uma atriz. Por detrás da interpretação, a obra apagar-se-ia, o drama ofereceria a possibilidade de desempenhar dois papéis, um quando a atriz fala, outro quando ouve e circunscreve o carácter da personagem invisível que se exprime através de silêncios. Apresentação da peça teatral A voz humana (1930 -Assírio & Alvim, 1989), do escritor, cineasta, dramaturgo, desenhista e ator surrealista francês, Jean Cocteau (1889-1963). Veja mais aqui e aqui.

CONFISSÃO - Dizem que o amor é cego, / não nego, / por isso te abro os olhos: / não tenho bens nem alqueires, / eu não sou flor que se cheire, / nem tão boa cozinheira, / (bem capaz que ainda me piches / por só comer sanduíches), / minha poesia é fuleira, / tenho idéias de jerico, / um cio meio impudico / como as cadelas e as gatas, / às vezes me torno chata / por me opor ao que comtemplo, / sei que sou péssimo exemplo, / por pouca coisa me grilo, / talvez por mim percas quilos, / eu não sei se valho a pena, / iguais a mim, há centenas, / desejo te ser sincera. / Mas no fundo o amor espera / que grudes qual carrapicho: / são tão grandes meu rabicho / e minha paixão por ti, / que não estão no gibi... / Ao te ver, viro pamonha, / sem ação, e sem vergonha / o meu ser inteiro goza. / Por isso, pra encurtar prosa, / do teu corpo, cada poro / eu adoro adoro adoro... Poema da escritora, editora, professora, promotora cultural e artista performática Leila Miccolis. Veja mais aqui e aqui.

EDGAR ALLAN POE: LOVE, DEATH AND WOMEN
O documentário Edgar Allan Poe: love, death and women ( Edgar Allan Poe: Amor, Morte e Mulheres, 2010), produzido pela BBC inglesa, incursiona nas histórias por trás dos textos do genial escritor, revelando as sensaborias femininas e vivenciais que inspiraram alguns dos mais aterrorizantes e influentes contos do século XIX, contando as relações entre Poe e as mulheres de sua vida - mãe, esposa, amante e musa - eram muito tênues, desastrosas na pior das hipóteses, por outro lado forneceram inspiração e estimulo para alguns dos mais influentes e aterradores contos, por viagens em Nova York, Virginia e Baltimore, para desvendar as tortuosas e peculiares relações de Poe, interligando os acontecimentos, a mente e suas mulheres através das próprias cartas, diários e escritos publicados.
Veja mais:

O Congresso de Educação do Vale do Sapucaí (2º CEVS) & muito mais na Agenda aqui.
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A arte do escritor e artista visual italiano Tommaso Pincio
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Viver é tão pouco, é preciso sonhar, a dificuldade de ser de Jean Cocteau, a música de Egberto Gismonti, a escultura de Texeira Lopes & a arte de Gil Teixeira Lopes aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.