sexta-feira, julho 06, 2018

GOETHE, JOÃO DO RIO, CASAIS MONTEIRO, SCHELER, ALBERTO NEPOMUCENO, MÔNADAS DE LEIBNIZ & FABRIZIO CASSETTA


GOETHE, PAIXÃO & ARTE – Imagem: Goethe, art by Fabrizio Cassetta – De um bisavô ferreiro a um avô alfaiate e um pai conselheiro imperial para filho com uma vida de oitenta e três anos. Dizia dever ao pai a perspectiva de vida e a mãe o gosto de contar história. Disso, muitas lendas: se rebelou de Deus aos seis anos, duvidou da justiça dos homens aos sete, compôs aos oito um ensaio comparando a sabedoria dos pagãos aos cristãos, escreveu aos onze uma novela cosmopolita em sete línguas, apaixonou-se pela primeira vez aos quatorze, era ela Gretchen de Francforte, adolescente provinciana do desespero e melancolia como peso horrível no coração. Seria mais fácil influenciar árvores e pedras que chama-lo à razão. Aos dezessete escrevia as imoralidades e adultérios, o sofístico Die Mitschuldigen: “Como quase todos somos culpados, o melhor é perdoarmos e esquecermos”. Intoxicado de juventude, ao invés de douto jurista, preferia o trato com as Musas e a contemplação das formosas moças de Lipsia. Era a vida um redemoinho e, qual Spinoza, tudo era amável e divino em cada pessoa que encontrasse. Vivia para cantar Götz von Berlichingen, o Robin Hood germânico, e se transformava em um egoísta rebelde no jogo do amor - se o matrimônio era uma síntese impossível, as mulheres eram o vaso de eleição onde ainda podia ser colocado o ideal -, o bárbaro do amor para genial na arte. Ao se apaixonar pela jovem dama Lottchen, ela já estava comprometida, lamentavelmente, pensou até em suicidar-se. Era o nascimento de Werther, uma elegia sobre a tristeza da vida e um hino à alegria da morte. Bebeu de Confúcio e foi pra alquimia, o Opus Mago Cabalisticum de Welling, a Aurea Catena Homeri de Paracelso, para entender que “Somente o homem que foi o mais sensível pode tornar-se o mais frio e o mais duro, pois tem que cercar-se de uma couraça dura... e, às vezes, ele mesmo, ressente-se do peso dessa couraça”. Confinou-se aos livros para alimentar o seu rebelde espírito, tornou-se o mais submisso dos cortesãos. E amou, amou Frederica Brion inspirando os lieders de Estrasburgo, amou a delicada Carlota Buff que aumenta o seu pesar, a fascinante Maximiliana de La Roche, a graciosa Lili Schönemann, a virtuosa matrona Mme. Stein a quem escreve mil e quinhentas cartas, a musa amante que morre de ciúmes da atriz Corona Schröter, e transformou o flerte no divertimento da moda: “Nós todos somos um pouco doidos aqui e fazemos o próprio jogo do diabo”. Escreveu Stella, a convivência com a esposa e a amante, sem saída, uma bala na cabeça, até ver-se compondo versos sobre os ombros de morena beleza da florista Cristina Vulpius, o amor e valor do seu diário. Enamorou-se por Minna Herzlieb, apaixonou-se por Mariana de Willemer. Para todas perguntava: “Sentes, em meus poemas / que sou dois em um só?”. Não queria mais destruir o mundo, agora queria compreendê-lo, amava apaixonadamente as criaturas humanas: “Nunca expressei nada que não houvesse sentido... componho canções de amor porque tenho amado muito... como poderei então escrever cantos de guerra sem nunca ter odiado?”. A vida pagã com o culto da beleza. Com Schiller, a rebelião da arte. Aos sessenta e quatro anos apaixonou-se violentamente como a primeira vez pela juventude radiante de Ulrica de Levetzow, a quem desposa e com ela, a Elegia de Marienbad e os sofrimentos de Werther envelhecido: “À boca dadivosa eles me alçaram / E, ao separar-me dela, me arrasaram. Gênio e demônio: “Todos os teus ideais não me impedirão de ser verdadeiro, isto é, de ser bom e mau como a natureza”. Os dois Faustos – o do amor de Margarida salva e a paixão do erro, e o que foi ao paraíso: “Cantemos em coro, Da vitória a palma, O ar está puro: Respire esta alma!”. Também a Ifigênia condenada pelo próprio pai e poupada pela deusa Diana para ser sacerdotisa em Tauride. Depois a Erótica Romana: “A mulher é a eterna salvação do homem”. No fim de certa manhã, queria mais luz: Nem sempre estou disposto para os grandes sentimentos e, sem eles, nada sou”. Depois, registra Emil Ludwig, recostado comodamente na sua poltrona, desapareceu na sua hora natal, ao meio-dia. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do compositor, pianista, organista e regente Alberto Nepomuceno (1864-1920): Série Brasileira, Sinfonia em Sol Menor, Serenata para Cordas & Quarteto e Cordas nº 1 em Si Menor & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui & aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] A alteração deste mundo dos bens modifica o sentido e o significado do bom e do mau. Dado que a história nos mostra que este mundo de bens está submetido a uma alteração constante e a um movimento continuo, o valor moral do querer e dos seres humanos participariam também do destino deste mundo [...] o homem bom, que age espontaneamente realizando aquilo que seu discernimento apontava como bom, coloca-se na defensiva diante de um conteúdo que tome a forma imperativa, resultando daí uma tendência ao mau [...]. Trechos extraídos de Ética: nuevo ensayo de fundamentación de um personalismo ético. (Revista do Ocidente, 1948), do filósofo alemão Max Ferdinand Scheler (1874-1928), autor da frase: Em época alguma foram as opiniões sobre a essência e a origem do homem tão incertas, tão indeterminadas como a nossa... Dentro de uma história de aproximadamente dez mil a nos, somos a primeira época em que o homem se tornou completamente ‘problemático’ para si mesmo; na qual ele não sabe mais o que é, mas ao mesmo tempo sabe que não sabe. Veja mais aqui.

AS MÔNADASAs mônadas, por não terem partes, não podem ser formadas nem desfeitas. Não podem começar nem acabar naturalmente e, portanto, duram tanto como o universo, que será mudado, mas não destruído. Não podem ter figuras; de outro modo, teriam partes. Por conseguinte, uma mônada em si mesma, e no instante, só pode diferençar-se de outra pelas qualidades e ações internas, as quais são tão-só as suas percepções (isto é, as representações do composto, ou do que é exterior no simples) e as suas apetições (isto é, as suas tendências de se mover de uma percepção para outra) que são os princípios da mudança. Pois a simplicidade da substância não impede a multiplicidade das modificações que se devem encontrar juntas nesta mesma substância simples, e devem consistir na variedade das relações com as coisas que fora dela estão. Tal como num centro ou ponto, embora de todo simples, existe uma infinidade de ângulos formados pelas linhas que nele convergem. Tudo na natureza está cheio. Em toda a parte há substâncias simples, efetivamente separadas umas das outras por ações próprias, que modificam, sem cessar, as suas relações; e cada substância simples ou mônada individual, que constitui o centro de uma substância composta (como, por exemplo, de um animal) e o princípio da sua unicidade, está rodeada de uma massa formada por uma infinidade de outras mônadas, que constituem o corpo próprio dessa mônada central; de acordo com as afecções dele representa ela, como numa espécie de centro, as coisas que lhe são exteriores. E este corpo é orgânico, quando forma um espécime de autômato ou de máquina da natureza, que é máquina não só no todo, mas ainda nas mínimas partes que se fizerem notar. E, como em virtude da plenitude do mundo, tudo está ligado e cada corpo age sobre qualquer outro corpo, mais ou menos conforme a distância, e é por ele afetado por reação, segue-se que cada mônada é um espelho vivo, ou dotado de atividade interna, representando o universo segundo o seu ponto de vista, e é tão ordenado como o próprio universo. As percepções das mônadas nascem umas das outras pelas leis dos apetites ou das causas finais do bem e do mal, que consistem nas percepções observáveis, ordenadas ou desordenadas, tal como as mudanças dos corpos e os fenómenos externos nascem uns dos outros em virtude das leis das causas eficientes, ou seja, dos movimentos. Existe assim uma harmonia perfeita entre as percepções da mônada e os movimentos dos corpos, preestabelecida inicialmente entre o sistema das causas eficientes e o das causas finais. E nisso consiste o acordo e a união física da alma e do corpo, sem que nenhum deles consiga alterar as leis do outro. [...]. Trecho extraído da obra Princípios da natureza e da graça (Caleidoscópio, 2001), do filósofo, cientista, matemático, diplomata e bibliotecário alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 – 1716). Veja mais aqui, aqui e aqui.

O HOMEM DA CABEÇA DE PAPELÃO – [...] vivia um homem de nome Antenor. Não era príncipe. Nem deputado. Nem rico. Nem jornalista. Absolutamente sem importância social. [...] Antenor só dizia a verdade. Não a sua verdade, a verdade útil, mas a verdade verdadeira. Alarmada, a digna senhora pensou em tomar providências. Foi-lhe impossível. Antenor era diverso no modo de comer, na maneira de vestir, no jeito de andar, na expressão com que se dirigia aos outros. [...] Entre outras coisas, Antenor pensava livremente por conta própria. Assim a família via chegar Antenor como a própria revolução; os mestres indignavam-se porque ele aprendia ao contrario do que ensinavam; os amigos odiavam-no; os transeuntes, vendo-o passar, sorriam. Uma só coisa descobriu a mãe de Antenor para não ser forçada a mandá-lo embora: Antenor nada do que fazia, fazia por mal. Ao contrario. Era escandalosamente, incompreensivelmente bom. [...]. Antenor começava a pensar na sua má cabeça, quando o seu coração apaixonou-se. [...] Apenas, com pasmo geral, a resposta de Maria Antônia foi condicional. – Só caso se o senhor tomar juízo. – Mas que chama você juízo? – Ser como os mais. – Então você gosta de mim? – E por isso é que só caso depois. Como tomar juízo? Como regular a cabeça? O amor leva aos maiores desatinos. Antenor pensava em arranjar a má cabeça, estava convencido. Nessas disposições, Antenor caminhava por uma rua no centro da cidade, quando os seus olhos descobriram a tabuleta de uma “relojoaria e outros maquinismos delicados de precisão”. Achou graça e entrou. Um cavalheiro grave veio servi-lo. – Traz algum relógio? – Trago a minha cabeça. – Ah! Desarranjada? - Dizem-no, pelo menos. - Em todo o caso, há tempo? – Desde que nasci. – Talvez imprecisão na montagem das peças. [...] – E o senhor fica com a minha cabeça? – Se a deixar. – Pois aqui a tem. Conserte-a. o diabo é que não posso andar sem cabeça... – Claro. Mas, enquanto arranjo, empresto-lhe uma de papelão. – Regula? – É de papelão! [...] Antenor não pensava. Antenor agia como os outros. Queria ganhar. Explorava, adulava, falsificava. Maria Antonia tremia de contentamento vendo Antenor com juízo. Mas Antenor, logicamente, desprezou-a propondo um concubinato que o não desmoralizasse a ele. [...]. Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra. Fique V. com ela. Eu continuo com a de papelão [...]. Trecho do conto extraído da obra Homem da cabeça de papelão (Hedra, 2012), do jornalista, escritor, tradutor e teatrólogo João do Rio (1881-1921). Veja mais aqui.

AURORA - A poesia não é voz - é uma inflexão. / Dizer, diz tudo a prosa. No verso / nada se acrescenta a nada, somente / um jeito impalpável dá figura / ao sonho de cada um, expectativa / das formas por achar. No verso nasce / à palavra uma verdade que não acha / entre os escombros da prosa o seu caminho. / E aos homens um sentido que não há / nos gestos nem nas coisas: / voo sem pássaro dentro. Poema extraído da obra Voo sem pássaro dentro (Ulisseia, 1954), do poeta, ensaísta, crítico literário e professor universitário português Adolfo Casais Monteiro (1908-1972). Veja mais aqui e aqui.

GOETHE (1749-1832)
O verdadeiro amor é aquele que permanece sempre, se a ele damos tudo ou se lhe recusamos tudo.
Quem tem bastante no seu interior, pouco precisa de fora.
Quanto mais um homem se aproxima de suas metas, tanto mais crescem as dificuldades.
Nada é mais repugnante do que a maioria, pois ela compõe-se de uns poucos antecessores enérgicos; velhacos que se acomodam; de fracos, que se assimilam, e da massa que vai atrás de rastros, sem nem de longe saber o que quer.
As pessoas tendem a colocar palavras onde faltam ideias.
Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira.
Pensamentos do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)
Veja mais:

O IV Congresso Nacional de Formação de Professores (CNFP) integrado ao XIV Congresso Estadual Paulista Sobre Formação de Educadores (CEPFE) & muito mais na Agenda aqui.
&
A arte de Fabrizio Cassetta
&
Dia internacional do beijo aqui, aqui, aqui & aqui.
&
A festa dos beijos & muitos beijos, a literatura de Juan Rulfo, Presente do mar de Anne Morrow Lindbergh, a música do Yes, a fotografia de Clarence Hudson White, Luciah Lopez & Marcos Alexandre Martins Palmeira aqui.
&
Ela acolheu meu desterro, Os mímicos de Naipaul, A música de Keith Jarret, Sueli Costa, Eumir Deodato & Rita Lee; a arte de Ewa Ludwiczak & Luciah Lopez aqui.

APOIO CULTURAL: SEMAFIL
Semafil Livros nas faculdades Estácio de Carapicuíba e Anhanguera de São Paulo. Organização do Silvinha Historiador, em São Paulo.