segunda-feira, março 19, 2018

KAFKA, LELOUP, GISELA PANKOW, COUNTEE CULLEN, EUMIR DEODATO & BJÖRK, HUANG YAN, CYANE PACHECO, LAMPIOA & ZÉ BUNITO

LAMPIOA & ZÉ BUNITO – Tudo começou quando ela encarou os matutos pais: Vou perder a virgindade! Teibei. E pra que vocês não sofram a desonra, a partir de agora sou Lampeoa, sem eira nem beira. Ocultarei minha identidade e seguirei errante. Juntou seus trapos num alforje com tudo dentro, inclusive o Asdrubal, seu sapo cururu de estimação e esperança dela de um dia se transformar num príncipe encantado. Tanto é que todo dia beijava o batráquio, tratado com rapadura, cuscuz, rolete de cana e coisas dessas da culinária sertaneja. Foi pro terreiro, amontou-se no toitiço do jumento Aderaldo, que ao rinchar tanto anunciava as horas, como anunciava a hora do ataque; e deu um assobio convocando o guenzo Cheira-peido, a sua principal arma para desancar reputações, pois, vivia de encostar o focinho no furico de qualquer algoz e aí tirava a prova dos nove; e saiu sem rumo com sua trupe. Lá adiante, ainda voltou-se e acenou pros pais que pranteavam sua partida pra nunca mais. No meio do caminho, achou de ajustar umas contas com o coronel Caga-raio: Quais as suas intenções? O homem deitava olhares libidinosos pra cima dela, estalou o dedo e juntou a capangada toda: Agora você vai ver, sua danada! Deu ordem pros cheleleus aprisioná-la, sem esperar pelo ataque do guenzo, das duas uma: ou acendia a fluorescente, ou ia ser desmoralizado pra sempre. Deu a segunda. Do alforje dela, sob a batuta do Asdrubal, saiu uma nuvem com um bando de muriçocas carniceiras, com todo tipo de lacrau, dengue e o escambau. Embate vencido em dois tempos, todo mundo rendido. Chegava a hora do teste: Ou virava rancolho, ou passava para eunuco, era a escolha. Qual que é, hem? Mais da maioria já assumida bandeou pro seu lado, missão cumprida. Foi ter com o coronel Treme-Terra, esse tinha uma conta das grandes por ser responsável pelo descabaçamento de muita donzela: Vamos ver se ele é homem de mesmo! Não era, cagou na vela. E assim foi ela fazendo justiça contra os maiorais abastados de todo lugar. Sua fama chegou longe, em muitas paragens era sinônimo de justiceira, a ponto de anunciar lá vem Lampioa, toda macharia saía com o pé na bunda. E assim era, entrava de sopetão num bar lotado, não ficava ninguém, escapoliam, envultavam-se. De tanto pegar os cabras de surpresa, certo dia, quando entrou pra pegar pra capar, teve um que ficou: Pelo jeito, esse é macho! Como é a sua graça? Engrolando a língua, meio lá, meio cá, disse: Sou Zé Bunito, o pueta do sertão! Mostre cá seus versos! E quanto mais ele virava o copo, mais abusava das estrofes, ela virando os olhos. Não era o que ela esperava, mas dava pro gasto: assentou o bebo na sela do jumento e saiu pra lugar incerto e não sabido pra dar conta da virgindade. Numa das curvas do destino, escondeu-se com o seu amado e ficou esperando que o cara reagisse. Não deu, foi então que a cobra Zefinha entrou em cena, deixou o cabra em ponto de bala, mas de tão bebaço não acertava o lugar, foi preciso que o Cheira-peido desse uma mãozinha, toim, e a muriçoca rainha desse uma ferroada no testículo esquerdo dele, toim, pronto, era uma vez um cabaço e ela no maior vuque-vuque, a coisa pegou no tranco. Não sei direito, nunca mais soube nada deles, mas dizem que foram felizes para sempre. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o pianista, arranjador e produtor Eumir Deodato: Europa Xpress, Super Strut Live, Rapsody In Blue; a cantora, compositora, atriz, instrumentista e produtora islandesa Björk: Live at Royal Opera House, Vulnicultura Live & Voltaic Paris Live; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Uma igrejinha na ilha de Aran, na Irlanda... me lembrou um koan japonês: “Minha casa pegou fogo, nada mais me oculta a Lua deslumbrante”. Minha vida está em ruinas, não há mais obstáculo à visão daquilo que é. À pergunta: “Se sua casa pegasse fogo, o que você salvaria?” – Jean Cocteau respondeu: “O fogo!”. Se o mundo pegasse fogo, o que eu salvaria? Esta chama! Esta centelha de amor, a única coisa que jamais nos será tirada. O amor é o único Deus que não é um ídolo; só o possuímos quando o damos... se minha vida pegasse fogo, o que eu salvaria? Para o céu, nada se leva... a não ser o que se deu. [...]. Pensamento extraído da obra Se minha casa pegasse fogo, eu salvaria o fogo (EdUnesp/UEPA, 2002), do PhD em Psicologia Transpessoal, doutor em Teologia e professor de Filosofia, Jean-Yves Leloup. Veja mais aqui.

O HOMEM & SEU ESPAÇO – [...] Toda dualidade desprovida de ligação entre as duas partes leva à destruição. A partir do momento em que uma parte é rejeitada e que a outra se transforma em todo absoluto, toda e qualquer “comunicação” se torna impossível: resta apenas a destruição, para que o mundo do absoluto seja o único universo [...] Como e por que este homem, tão duramente castigado no corpo e tão fortemente tomado por um pensamento filosófico abstrato, não caiu no abismo do absoluto [...] Utilizar a razão, ter a coragem de pensar sempre foi muito perigoso. [...] Quem quiser viver em paz deve se esforçar por não pensar [...]. Trechos extraídos da obra O homem e seu espaço vivido (Papirus, 1988), da neuropsiquiatria e psicanalista francesa Gisela Pankow (1914-1998).

A METAMORFOSE – [...] Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido por nervuras arqueadas, no topo do qual a coberta, prestes a deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas inúmeras pernas, lastimavelmente finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremulavam desamparadas diante dos seus olhos. – O que aconteceu comigo?, pensou. Não era um sonho. Seu quarto, um autentico quarto humano, só que um pouco pequeno demais, permanecia calmo entre as quatro paredes bem conhecidas. Sobre a mesa, na qual se esplhava, desempacotado, um mostruário de tecidos – Samsa era caixeiro viajante -, pendia a imagem que ele havia recortado fazia pouco tempo de uma revista ilustrada e colocado numa bela moldura dourada. Representava uma dama de chapéu de pele que, sentada em posição ereta, erguia ao encontro do espectador um pesado manguito de pele, no qual desaprecia todo o seu antebraço. [...]. Trecho extraído da obra A metamorfose (Brasiliense, 1985), do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924). Veja mais aqui.

CERTA SENHORA QUE CONHEÇOEla imagina que no céu da sua classe / vão dormir tarde e roncam enquanto os pobres / e pretos querubins acordam às sete / para arrumar a casa celestial. Poeta do poeta estudunidense Countee Cullen (1903-1946).

A ARTE DE HUANG YAN
A arte do artista taoísta multimídia Huang Yan.


Festival de Invento de Garanhuns – FIG 2018 & muito mais na Agenda aqui.
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Aos quatro cantos e ventos minha vida, o pensamento de Jacob Boehme, a música de Esther Scliar, a escultura de Jo Ansell, a pintura de Tamara de Lempicka, a fotografia de Jonathan Charles & Dene Ramos aqui.
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A arte da poeta e artista visual Cyane Pacheco  aquiaqui, aqui,  aqui, aquiaqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. aqui, aqui e aqui.