sexta-feira, março 16, 2018

HEIDENSTAM, BOAL, HEIDEGGER, HÉLIO DELMIRO, MASI, CAPDEVILLE, JUAREZ MACHADO, DUBUFFET, MARCUS ACCIOLY & VIOLINOS DE PALMARES

A TAPA & O INFARTO – Imagem: arte do escultor, desenhista, caricaturista, mímico, designer, cenógrafo, escritor, fotógrafo, ator e artista plástico Juarez Machado. - Manhã de sol, quentura escorrendo pelos poros naquela sexta. Ali, no estabelecimento comercial, era maior o calor, enquanto recolhia a assinatura dos sócios. Eis que entra um distinto sujeito, muito bem apessoado, uma finura no trato, foi logo atendido por um dos irmãos do empreendimento, identificando-se como vendedor de uma empresa multinacional, na oferta de produtos do interesse empresarial. A conversa corria nos conformes e, a certa altura, o sócio largou uma piada que, apesar de picante e pejorativa, havia sido bem digerida pelo profissional de vendas que continuou demonstrando por meio de cartazes e folders os inúmeros recursos e avanços tecnológicos de seus produtos. O sócio insatisfeito repetiu a dose com nova pilheria pesada, não conseguindo, mesmo assim, transtornar ou causar nenhum desconforto ao visitante a se manter sóbrio e indiferente às indiretas alfinetadas. Insistente, o sócio ironizava procurando desconcertá-lo, desviando o assunto para desconcentrar o expositor, utilizando de todas as formas possíveis para derrubar-lhe a sobriedade. Até então, tudo ainda mantido socialmente, quando o recalcitrante inquiriu em pé de guerra: Ué, você tem sangue de barata, rapaz? Não entendi, senhor. Estou aqui o tempo todo espinafrando você e suas engenhocas e você não desce dos tamancos, qual que é, você não tem amor-próprio? Ah, meu senhor, sou um profissional de vendas e tenho apreciado suas brincadeiras, o senhor tem muito bom humor. Bom humor, uma porra! Você é covarde ou incapaz de encarar uma briga boa? Ah, meu senhor, sou de paz e estou aqui apenas para satisfazer suas necessidades, apresentando-lhe produtos da mais revolucionária tecnologia. Ah, acho que você é mesmo um cagalhão, um filho da puta qualquer! O senhor realmente tem uma dose alta de bom humor! Não é bom humor não, seu porra! É que estou cheio da sua cara! Pronto. Nessa hora, o sócio partiu para cima com uma tapa bem dada na face do vendedor. Ao estapear, afastou-se e ficou esperando a reação da vítima. Simplesmente, face serena, tranquilo, do mesmo jeito como desde que chegara, expôs a outra face e disse: Dê outra aqui. O sócio enfureceu-se e não só deu uma tapa na outra face como o esmurrou, depois se afastou e se preparou para o revide. Não foi dessa vez. Tranquilo, sereno, sem alterar a voz nem a fisionomia, simplesmente o vendedor arrumou a papelada, reuniu tudo e colocou dentro da sua valise, dirigindo-se ao algoz como se nada tivesse acontecido: Muito obrigado, passe bem. E estendeu a mão para ser apertada, recebendo a negativa e xingamentos: Ora, vá tomar no cu, fresco! Despediu-se dos demais desejando um bom dia para todos e saiu. O ambiente estava tenso e como meu trabalho havia sido concluído ali, finalmente, acompanhei toda a cena e me despedi, saindo logo em seguida. O clima estava tenso entre os familiares. Ainda ouvi quando um dos irmãos censurou o outro por atitude tão descabida: O que foi que ele fez? Nada, ora. E por que agiu daquele jeito? Ah, queria esquentar a mão no maluvido dele, só! Isso não se faz. Por que não? Porque ele não fez nada. Ah, não preciso de nada para fazer alguma, faço porque me deu vontade, está feito e fim de papo. Isso não é certo! Ah, ele não revidou, não quis revidar, saiu apanhado e pronto, fiz e faço, ele não é rei nem melhor que ninguém! Você ainda vai se dá mal com esse seu pavio curto! Destá! Ainda deu pra ouvir os desentendimentos entre os irmãos, mas não quis tomar conhecimento de mais nada. Apenas soube que o ofensor, no dia seguinte, estava acamado com dores por todo corpo. E, horas depois, dera entrada na emergência hospitalar. Já era tarde da noite quando soube do seu falecimento, acometido de infarto agudo do miocárdio. Que coisa! Ainda ontem vi o vendedor saudável e feliz saudando a todos, apresentando seus produtos com a cordialidade e profissionalismo de sempre. É a vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

A ARTE DE JUAREZ MACHADO
A arte do escultor, desenhista, caricaturista, mímico, designer, cenógrafo, escritor, fotógrafo, ator e artista plástico Juarez Machado. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violonista e guitarrista de jazz Hélio Delmiro: Emotiva, Compassos & Repertório Popular; a compositora, pianista e percussionista portuguesa Constança Capdeville (1937-1992): Libera-me, Momento & Renaissance Portuguese; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] O papel do artista é justamente embaralhar as categorias habituais, deslocá-las, e, desse modo,. Restituir à visão e ao espírito sua ingenuidade, seu frescor. [...]. Pensamento do pintor e escultor francês Jean Dubuffet (1901-1985). Veja mais aqui e aqui.

ALGUÉM FALOU: [...] um mundo não é a simples reunião das coisas existentes, contáveis ou incontáveis, conhecidas ou desconhecidas [...] Mundo nunca é um objeto, que está ante nós e que pode ser intuído. O mundo é o sempre inobjectal a que estamos submetidos enquanto os caminhos do nascimento e da morte, da benção e da maldição nos mantiverem lançados no Ser. [...]. Trecho extraído da obra Ser e tempo (Vozes, 1998), do filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

O TRABALHO & OS TEMPOS ATUAIS - [...] A humanidade espera com volúpia novas descobertas: substâncias para debelar definitivamente a dor, sistemas para acabar com o lixo radioativo transformado em matéiras inócias, para eliminar o barulho e a fome e reabsorver a população. Paralelamente, nunca tivemos tantas ferramentas para eliminar as quatro escravidões da escassez, da tradição, do autoritarismo e do cansaço físico. [...] Para nós, homens pós-industriais, há uma terceira alternativa. Sísifo vai construir um mecanismo eletrônico ao qual delegará a canseira do transporte inútil e banal e se sentará no alto do morro para contemplar o seu robô em função, saboreando enfim a felicidade do ócio prazeroso. [...]. Trecho extraído de Em busca do ócio, do sociólogo italiano Domenico de Masi, autor da obra O Ócio Criativo (Sexante, 2000), na qual defende o conceito de viver do ócio através da interseção entre três elementos, vendas, faculdade e raciocínio lógico: Aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre o seu trabalho e o tempo livre […] Distingue uma coisa da outra com dificuldade. Almeja, simplesmente, a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está trabalhando ou se divertindo. [...]. Veja mais aqui.

OS CAROLINOS – [...] Longe, nunca casa que fica à esquina da rua do Padre, em Estocolmo, uma velha senhora solitária segurava o seu livro de sermões; ela esperava e escutava, aguardando  que lhe enfiassem uma carta por baixo da porta, ou se um invalido não subia a escada, trazendo-lhe alguma mensagem dos desertos; perguntava a si mesma se eu não retornaria mais, se eu não estaria morto, meu cadáver entregue à corrupção. Todas as noites eu rezava por ela. Pensara nela no meio do tumulto da guerra, entre as padiolas e os gemidos. Mas, naquele instante, dela não me lembrei. Só via e escutava Feodosova. E contudo torcia-me e lutava contra algo pesado, que me esmagava o coração e que a princípio não pude afastar; mas, pouco a pouco, tive forças para compreender. Inclinei-me para Feodosova, a fim de lhe beijar a mão; ela, porém, murmurou: - S mão do czar; a mão do czar! – Não quero trair minha fé, nem o meu real senhor – disse0lhe com brandura. A face do czar novamente se enrugou e os anões, aterrorizados, puxaram a zaporoga do canto onde ele estava, para que o seu aspecto ridículo fizesse rir o czar. [...] Todos, inclusive os bêbedos, começaram a tremer e a escapulir para as portas. Assustadíssimo, um dos boiardos gritou: - Tragam a mulher! Tragam-na perto! Logo que ele vê a cara bonita e o corpo de uma mulher, acalma-se. Agarraram Feodosova, rasgaram-lhe o corpete desbrindo o seio e, gemendo baixinho, ela foi empurrado passo a passo até o czar. Tudo se escureceu ante mim e, recuando, saí da sala. Parei na rua, sob as estrelas; ouvi que o barulho cessava e que os anões recomeçavam a cantar. Apertei as mãos e lembrei-me da promessa que fizera no campo de batalha [...]. Trechos extraídos da obra Os carolinos: crônica de Carlos XII (Delta, 1963), do escritor sueco Verner von Heidenstam (1859-1940), Prêmio Nobel de Literatura de 1916.

POEMA XXIIVaidade das vaidades (Sísifo / escuta o pregador) tudo é vaidade / que proveito de todo o seu trabalho / tem o homem debaixo deste sol? / (a eterna mesmice) a geração / vai e vem mas a terra permanece / levanta-se o sol e põe-se o sol / e volta ao seu lugar de onde nasceu / o vento vai ao sul e faz seuy giro / para o norte e retorna aos seus circuitos / todos os rios correm para o mar / e o mar nunca se enche com os rios / todas as coisas são canseiras tais / que o homem não as explica com palavras. Poema extraído da obra Sísifo (Quíron/MEC, 1876), do poeta Marcus Accioly (1943-2017). Veja mais aqui e aqui.

AUGUSTO BOAL
[...] Sonhar é humano e não realizar o sonho não é um problema em si. Sonhar é humano. Árvores não sonham. Pedras também não sonham. E mortos já sonharam [...].Que cada um diga o que fez, a que veio e por que ficou. E que cada um tenha a coragem de, não sabendo por que permanece, retirar-se [...].
Homenagem ao dramaturgo, ensaísta e escritor brasileiro Augusto Boal (1931-2009). Veja mais aqui, aqui e aqui.


Workshop Violinistas de Palmares & muito mais na Agenda aqui.
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O que esperar do amanhã, a literatura de José Joaquim da Silva, a música de Montserrat Figueras, a fotografia de Araki Nobuyoshi, a poesia de Angel Popovitz, a arte de Rajkumar Sthabathy & Gerda Wegener aqui.
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Na calçada da tarde, a poesia de Antonio Botto, a escultura de Rosa Bonheu, a música de Yara Bernette, As narrativas memorialísticas de Patricia de Cassia Porto, a arte de Maria Lynch & William-Adolphe Bouguereau aqui.
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O mergulho das manhãs e noites nas águas profundas do amor, a música de Constança Capdeville, o cinema de Luchino Visconti, a Escola Estadual Joaquim Fernando Paes de Barros Neto, a arte de Aubrey Beardsley & Luciah Lopez aqui.