domingo, novembro 26, 2017

AGRIPPINO DE PAULA, PAUL AUSTER, ROBERT KURZ, SIDNEY WANDERLEY, LISA YUSKAVAGE, GEORGE BURNS, DRAGICA MICKI FORTUNA, LITERÓTICA, CANTARAU & CRÔNICA DE AMOR POR ELA

A arte da artista estadunidense Lisa Yuskavage. Veja mais aqui.

LITERÓTICA - ESSA MENINA – Essa menina é feita de lua. Ela voa na rua prontinha querubin. E me apronta tlin tlin no alto da campina onde tudo é cantina feita só de si. Ah, essa menina que dança com jeito, somente a gingar. Qual estrela lá mansa na unha matutina, desde sonsa ilumina onde antes supunha nunca existir. Ela está sempre aqui como chama na retina, como a grama que mina todo o quintal. E se faz de vestal de todos os presságios. Ela alucina ao contágio. E ela só vale ágio na sina do apelo a brilhar nos cabelos toda magia. O que eu mais queria: roubar o seu cheiro, seu secreto terreiro de tangerina. Ah, fulmina iminente – ela não é gente – é deusa a mendigar. Essa menina é feita de mar, intensa, quiçá, real mais divina. Quando vem cabotina só me desmantela. Ela vira a janela pronta pr´eu abrir. Essa menina chega com o olhar ardendo de vida. Quase desvalida com a boca nas asas que vaza e é guia perdidas esquinas, toda emoção repentina com o sopro de aguerrida na pele. O paladar que repele na maior febre, que tudo se quebre ao sol posto - a saliva com gosto de boa cajuína. Ela é tão traquina: o seio da boca sedenta. E venta maior ventania. E, todavia, se põe a chover: o corpo queimando o prazer. Essa menina é feita do rio que escorre ao quadril pra me afogar. Patati, patatá, é ela que me abriga como se eu fosse a viga que ela quer sustentar. Essa menina, bailarina da noite, em carne viva, vitalina, essa flor menina a me servir sucessivas entregas, peças que prega nos meus cinco sentidos. Essa menina é feita de peso: a coxa tatua o desejo que as pernas eqüinas rolam sobejo do sexo azul. Eu todo taful com seus pés nos meus braços que o abraço fulmina e lateja, água que poreja tão pequenina e vira ribeirão na luz feminina. Vingo-lhe a nuca que me ilumina e ela me sorri encantada, franzina com a gula que vai da glória à ruína. Essa menina e a mão culpada de amor. Ela brota, ereta, me socorre, me empesta. Salta da grota, na greta, virada na breca, capeta, na alvura exalta, cristalina. E tudo se arrasta, arrebata, contamina. E me larga no sopro. Meu corpo oficina. Maior serpentina de carnaval. E me faz imortal. Vem e ilumina a vida toda esquecida no meio da paixão. É quando, então, ela cisma do mundo e reduz quase tudo na palma da mão onde ela mais que altaneira me deita na esteira e me nina um milênio de paixão. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.


DITOS & DESDITOS Os livros nunca vão morrer. É impossível. É a única hora em que de fato entramos na mente de um estranho e descobrimos nossa humanidade em comum. Assim sendo, o livro não pertence apenas ao escritor, mas também ao leitor, e juntosd vocês fazem do livro o que ele é. Pensamento do escritor estadunidense Paul Auster. Veja mais aqui e aqui.

ALGUÉM FALOU: Na realidade, basta um drinque para me deixar mal. Mas nunca sei se o 13º ouo 14º. Frase do comediante e escritor estadunidense George Burns (1896-1996).

COLAPSO DA MODERNIZAÇÃO - [...] Os recursos humanos e materiais (força de trabalho, instrumentos, máquinas, matérias-primas e materiais) deixam de ser simples componentes do "metabolismo entre os homens e a natureza ", que serve para a satisfação das necessidades. Passaram a servir apenas para a auto-reflexão tautológica do dinheiro como "mais dinheiro". Necessidades sensíveis somente podem ser satisfeitas, portanto, pela produção não sensível de mais-valia, que se impõe cegamente como produção abstracta, em empreendimentos industriais, de lucro. A troca no mercado deixa de servir para a mediação social de bens de uso, servindo, ao contrário, para a realização de lucro, isto é, para a transformação de trabalho morto em dinheiro, e a mediação dos bens de uso passou a constituir somente um fenómeno secundário desse processo essencial que se realiza na esfera monetária. Todo o processo vital social e individual é assim submetido à banalidade terrível do dinheiro e de seu automovimento tautológico, cuja superfície apresenta-se, em diversas variações históricas, como a famosa economia de mercado moderna. Atrás da ligeira subjectividade da troca no mercado esconde-se o pesado homem trabalhador, que apenas em sua forma mais grosseira aparece como um Stachanov; mesmo atrás da fachada mais brilhante da embalagem colorida dos valores de uso oculta-se a qualidade de capital fetichista dos produtos que faz deles "coágulos de trabalho" fantasmagóricos (Marx). Sua forma de existência sensível torna-se algo secundário, e um mal necessário para o processo do trabalho abstracto e do dinheiro. A submissão do conteúdo sensível do trabalho e das necessidades à auto-reflexão cega do dinheiro é de carácter monstruoso. Essa monstruosidade manifesta-se, durante a evolução da modernidade, em escala historicamente crescente, nas crises em que enormes quantidades de recursos humanos e materiais ficaram paralisadas por não poderem mais cumprir, por motivos incompreensíveis, aquela finalidade absoluta de transformar trabalho vivo em dinheiro. Por outro lado, foi precisamente esse desenvolvimento que, num processo contraditório em si mesmo, fez nascer as forças produtivas modernas e criou uma ampliação enorme das necessidades e possibilidades dos indivíduos. Os efeitos colaterais não intencionais do moderno sistema produtor de mercadorias ocultaram, durante muito tempo, em sua fase de ascensão histórica, o conteúdo negativo com elementos positivos. Enquanto cumpria essa "missão civilizatória" (Marx), esse sistema funcionava perfeitamente, vencendo todas as relações de reprodução estamentais, estáticas, pré-modernas. As crises eram apenas interrupções em seu processo de ascensão e pareciam, a princípio, superáveis. [...]. Trecho extraído de Lógica e ethos da sociedade de trabalho, extraído da obra O Colapso da modernização - da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial (Paz e Terra, Brasil, 1993), do filósofo alemão Robert Kurz (1943-2012), propondo uma leitura inesperada dos fatos que levaram à derrocada dos países socialistas, fornecendo um novo arsenal de idéias para a compreensão de tão importante fenômeno. Segundo o autor, esse movimento representaria o início da crise do próprio sistema capitalista e não a decadência do socialismo. É o impasse em que o sistema capitalista encontra-se que o autor  de forma arguta analisa.

PANAMÉRICA – [...] Os atores entraram no cenário e começaram a representar uma família americana classe-média. Eu sorria com a cena que transcorria no palco e me sentia feliz. Os atores representavam uma família feliz, e eu via na porta da casa um vaso de flores, e eu me sentia feliz de ver aquela família classe-média americana, o pai conversando com a filha, o filho conversando com a mãe e os irmãos. A harmonia e felicidade da cena se transmitiam para mim, e eu sorria imaginando que eu futuramente poderia formar uma família exatamente igual àquela. [...] Eu e ela estávamos ali encostados na parede. Ela estava em silêncio e eu estava em silêncio. Eu sentia o corpo dela junto ao meu, os dois seios, o ventre, as pernas, e os seus braços em envolviam. Eu pensei que ela deveria sentir o calor que eu estava sentindo. Nós dois estávamos imóveis encostados à parede, eu não me recordo quanto tempo, mas nós estávamos abraçados e encostados ali há muito tempo. Eu não me recordava se eram horas, dias, meses. [...].Eu tocava o corpo dela de leve com meu corpo e ela tocava de leve o meu corpo com o corpo dela. Nós permanecemos nessa oscilação e toques leves durante longo tempo. Marilyn Monroe tocava as pontas dos seios no meu peito e eu segurava de leve a sua barriga e acariciava os pelos dela com os dedos. [...] Nós permanecemos nesse toque mútuo longo tempo enquanto eu ouvia a sua respiração leve e ritmada. [...] Eu e ela deitamos no chão vestidos e nos agarramos um ao outro excitados. Eu via o rosto dela avermelhado nas faces, e na fronte pequenas gotículas de suor. De instante a instante eu ela fechávamos os olhos e nos beijávamos. [...] Eu subi sobre o corpo dela e eu ela estávamos vestidos. Eu introduzi as mãos sob o vestido e retirei a calcinha [...]. Eu voltei a subir sobre o corpo dela e nós nos mantivemos esfregando um corpo ao outro. [...] Eu via o sexo dela úmido e semi-aberto para mim. Eu aproximei a boca do pequeno lábio vermelho e úmido e beijei introduzindo a língua. Marilyn tremeu, soltou um gemido e girou o corpo bruscamente. [...]. Trechos extraídos da obra PanAmérica (Papagaio, 2001), do escritor, dramaturgo e cineasta José Agrippino de Paula (1937-2007).

CIDADECidade, / cada um inventa a sua. / Há quem a descreva rubra, / negra, lilás, gris, solar, / repleta ou despovoada, / punhal ou regaço / - quase sempre encoberta / pela densa pátina que enevoa a memória / ou pelas cores febris da fantasia. / Cidade é tão só um jeito / de se ber e de ber-se / um jeito de esquecer / e de lembrar. Poema extraído da obra Em dias de sim (Imprensa Oficial, 2012), do professor e poeta Sidney Wanderley. Veja mais aqui e aqui.

A arte da artista estadunidense Lisa Yuskavage. Veja mais aqui.

TODO DIA É DIA DA MULHER
Leitora Tataritaritatá

 
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Art by Dragica Micki Fortuna