sexta-feira, janeiro 01, 2016

GRAMSCI, FERNANDO PESSOA, OCTAVIO PAZ, DOMINIQUE LECOURT & JANEIRO


VAMOS APRUMAR A CONVERSA?  JANEIRO: O ÊXTASE DA VIDA – É primeiro de janeiro e eu me mantenho migrante no êxtase da vida, pronto e apto para a exuberância vital com toda a minha finitude, num voo pelo fluxo da existência com os ciclos de todas as rotações e translações e na sublime pretensão humana de Paz. E como é primeiro de janeiro, para mim, é um primeiro passo na busca por essa Paz que, desde as mais remotas eras, tem sido pretendida no senso de humanismo de todos os povos. A Paz foi e é buscada desde os cultos de Ra ou Thot no antigo Egito, entre os hindus e o Rig-Veda, entre as doutrinas órficas das escolas de mistério gregas e as pitagóricas, desde que o homem se entende por gente e se construir na trajetória de todo inventário humano. Todavia, uma coisa é o que se pensa e deseja; outra coisa é o que se faz e pratica, a velha distância entre o pensar e o agir. Pensa-se de uma forma, age-se de outra. Na verdade, ao longo desses milênios e séculos todos, a gente olha pra tudo e não ver nada – exceto o que nos seduz para a satisfação dos prazeres. O nosso olhar se dirige para todas as direções na nossa ambição de ubiquidade, entretanto não enxergamos com nitidez o que a vida nos quer mostrar em sua profundidade. Preferimos, no entanto, sermos causativos e senhor de que tudo deve ser conformado e submetido à nossa vontade, controlando a natureza na busca cega e desenfreada às maravilhas da vida consumista pra satisfação de todos os nossos desejos. Tais opções tornam-nos condenados aos padrões de medição da cultura, como uma máquina que opera para fazer e gastar recursos como se diante de uma desgraça iminente. Não sabemos ou não queremos saber que a natureza sobrepuja nosso poder de controlá-la e que, indiferente aos nossos caprichos, ela se manifesta intacta e pronta para que possamos desvendar a grandiosidade e profundeza da existência de tudo no planeta. Ao contrário disso, o que fazemos é manifestar agudamente em nós um individualismo excessivo com o distanciamento entre pessoas para formatar relações superficiais e precárias que sucumbem às competições, barganhas, passatempos, tédio e amarguras. Alternam-se momentos felizes e dissabores no meio de lembranças já mortas e a ansiedade do vazio. Para se ter ideia, uma amiga minha costumava dizer: - Se achar o meu eu por aí, me devolve tá? É que perdí-lo faz tempo. Sim. Isso é o efeito de apenas viver entre recompensas e punições, desejos e sofrimentos. É o resultado de enorme dano cultural e espiritual que só dá pra ver a imensa miséria humana, engrossando o caldo dos irremediáveis, desesperançados e ofendidos por não serem contemplados com todas as benesses que o mundo proporciona. Com isso, quase nem nos damos conta de que a vida não serve apenas para satisfação das necessidades triviais e autocentralizadas. Todos, evidentemente, precisamos de segurança material, psicológica e espiritual, bem como do direito aos bens primordiais da terra: alimentação, educação, trabalho digno, habitação, livre expressão, locomoção, vestuário. Não só. É preciso compreender com clareza o misterioso que ocorre e vive dentro de nós e que não se sabe direito como e o que é e que assombra desde o homem mais primitivo da humanidade. É esse interior rico em sentimentos e sensações oriundas de algo inatingível e indestrutível que habita dentro de nós e que nos encoraja, nos inspira, nos faz curioso, tristes, alegres, sonhadores. E isso nos leva a buscar as referencias que transcendem a nossa existência pessoal, vivenciando momentos com a compreensão excitante das descobertas por experiências no aprendizado de si mesmo, na oportunidade do aperfeiçoamento e nas realizações máximas das dádivas de viver, compreendendo as evocações que suscitam sensações fascinantes de apreensão e que servem tanto de admoestação como estímulos revelados que nos fazem refletir e meditar. Essa pedra preciosa dentro de nós é a força viva que nos faz sermos melhores para superarmos todos os desafios, para encararmos com tranquilidade todas as adversidades, para termos a tão buscada Paz interior. Nunca é tarde para tal, tudo tem uma primeira vez. Basta termos o entendimento de que, se estamos vivos, alguma coisa é para ser feita. E não temos que pedir desculpas por estarmos vivos. Pelo contrário, como seres humanos de boa vontade, devemos guiar a nossa vida para a descoberta da nossa missão e satisfação da vida plena. Com isso, Feliz Ano Novo. E quando puder veja mais aqui e aqui.


DITOS & DESDITOS - Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo... Pensamento do poeta e filósofo português Fernando Pessoa (1888-1935). Veja mais aqui e aqui.

ALGUEM FALOU DE ILUSÕES - [...] os inícios de um novo mundo, sempre ásperos e pedregosos, são superiores  à decadência de um mundo em agonia e aos cantos de cisne que ele produz [...]. Trecho extraído de Concepção dialética (Civilização Brasileira, 19066), do filósofo e cientista político italiano, Antonio Gramsci (1891-1937). Veja mais aqui.

O ESTADO - [...] O Estado, tal como o conhecemos, nem sempre existiu. Sem dúvida atual nos pede para inventarmos formas novas de organização política. Mas nada seria mais grave do que esquecer, por cientificismo, as forças propulsoras antropológicas com as quais tiveram sempre de lidar os Estados modernos. Pois essas forças não desaparecerão. Toda transformação da forma estatal consistirá apenas em sua reativação conforme novas regras. E já vemos com nossos próprios olçhos o preço que teríamos de pagar por uma denegação tecnocrática dessa realidade: explosões assasinas de ódio nacionalista e racista em reação ao que apareceria como um puro e simples desmantelament; o desamparo de uma juventude que se entrega à violência destruidora (drogas incluídas) na impossibilidade de adquirir uma identidade e tornar-se alguém; ou ainda, por nostalgia, o efeito bumerangue do que Espinosa chamava “o ódio teológico”, que talvez seja o mais feroz de todos aqueles de que é capaz o ser humano. [...] Trecho extraído de O fim do Estado é inveitável (Zahar, 1999), do filósofo francês Dominique Lecourt.

SOLIDÃO - [...] A solidão, o sentir-se e saber-se só, desligado do mundo e alheio a si mesmo, separado de si, não é característica exclusiva do mexicano. Todos os homens, em algum momento da vida sentem-se sozinhos; e mais: todos os homens estão sós. Viver é nos separarmos do que fomos para nos adentrarmos no que vamos ser, futuro sempre estranho. A solidão é a profundeza última da condição humana. O homem é o único ser que sente só e o único que é busca de outro. Sua natureza – se é que podemos falar em natureza para nos referirmos ao homem, exatamente o ser que se inventou a si mesmo quando disse “não” à natureza – consiste num aspirar a se realizar em outro. O homem é nostalgia e busca de comunhão. Por isso, cada vez que sente a si mesmo, sente-se como carência do outro, como solidão [...]. Trecho extraído da obra O labirinto da solidão (Paz e Terra, 1984), do escritor e diplomata mexicano Octavio Paz (1914-1998). Veja mais aqui e aqui.


TODO DIA É DIA DA MULHER
A campanha Todo Dia é Dia da Mulher traz as homenageadas de Dezembro 2015 aqui.



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