sexta-feira, julho 31, 2015

SEARLE, ANTONIO MACHADO, IGNÁCIO LOYOLA, ARRABAL, BOB DYLAN, KUSTURICA, MARELEMBAUM & A FESTA DOS MAIS DE 500 MIL ACESSOS!!!!


VAMOS APRUMAR A CONVERSA: ZINE NASCENTE – Com o resultado das edições anteriores do Zine Nascente, mais se ampliaram os horizontes de relacionamentos. Tanto é que na edição nº 5 – Abril-Maio/1997 -, dedicada à cidade de Penedo, cidade histórica alagoana e monumento nacional e com o editorial Missiva para o menino – em resposta as indagações feitas sobre os meus livros Falange, Falanginha, Falangeta (Nascente, 1995), Para viver o personagem do homem (Nordestal, 1992) e Primeira reunião (antologia – Bagaço, 1992), feitas pelo então jovem autor integrante das edições da antologia Bricarte, hoje advogado Diogo Palmeira -, traz o intercambio realizado com as mais diversas publicações, a exemplo da recepção do Sagrações do meio de Leontino Filho (RN), O Nordeste em Poesia de João Lourenço (AL), publicação da UBE seccional de Sergipe enviada por Edmo Raimundo (SE), poemas de Alba Granja (AL), Clipe de Suely Correia Gomes (RS), Literarte de Arlindo Nóbrega (SP) e Curupira de Antônio Cabral, bem como a publicação de poemas de Ana Cristina Quixabeira (AL), Maria Fátima Dias (MS), Leila Míccolis (RJ), Leontino Filho (RN), Cileide Alexandre (PE), Elita Afonso Ferreira (PE), Edmo Raimundo de Albuquerque (SE), Jorge L. Escudeiro (Argentina), Rolando Revagliati (Argentina), Leonilda Silva (PE), João Lins (PE), João Lourenço (AL) e Glenda Maier (RJ). Na edição nº 6 – Junho/Julho-1997, dedicada ao amigo alagoano Marcos Palmeira e com o editorial Devaneio Factível, registro a recepção de publicações, tais como KoisaLinda de Oefe Souza (SP), Poemas de Wilmar J. Matter (RS), Alternativo Cultural Reviravolta Poesia de Cecília Fideles (SO), Dicionário de Poetas Contemporâneos de Sérgio Jeronimo (RJ), Associação Profissional dos Poetas do Estado do Rio de Janeiro de Glenda Maier (RJ), O Literário de Osael Carvalho (RJ), Espaço Menor de Edmo Menor (SE), 1000 Páginas do Sebo Badaró (SP), Viramundo de Carlos Costa (SP), Poster e Pefil de Glenda Maier (RJ), Prelidio de Jorge Luiz (AL), Fábula de Eno Teodoro Wanke (RJ), Anuário da Poesia Brasileira de Laís Costa Velho (MG) e Correio da Poesia de Luiz Fernandes da Silva (PB), destacando poemas de Ernande Bezerra de Moura (AL), Cecilia Fideli (SP), Felisbelo Silva (CE), Ziney Santos Moura (SP), Tadeu Wanderley (AL), Gladstone Silva (RJ), Emanoel Fay (AL), Jorge Luiz (AL), Osael de Carvalho (RS), Jaime Vieira (PR), Luiz Balthazar, Arlindo Nóbrega (SP), Leone Cvalcante (AL), Lais Costa Velho (MG), Ziney Santos Moura (SP), Maria Ligia Silva (SP), Wilmar Matter (RS), Alba Granja (AL) e Beatriz E. Chacon (RJ). O que era sonho foi virando realidade & vamos aprumar a conversa aqui.
 Imagem: Cassandra - Green, cantor, compositor, escritor e artista plástico estadunidense Bob Dylan. Veja mais aqui.

Curtindo o álbum Berimbaum (Universal, 2004), da cantora Paula Marelembaum.

A ESTRUTURA DA CONSCIÊNCIA – No livro A redescoberta da mente (Martins Fontes, 2006), do filósofo estadunidense John R. Searle aborda temas como o que há de errado com a Filosofia da Mente, a historia recente do materialismo e a repetição do mesmo erro, a psicologia popular, rompendo o domínio: cérebros de silícios e robôs conscientes & outras mentes, consciência e seu lugar na natureza, reduicionismo e irredutibilidade da consciência, o inconsciente e sua relação com a consciência, intencionalidade e o background, a critica da razão cognitiva, entre outros assuntos. No capítulo 6 da obra, encontrei A estrutura da consciência: uma introdução, da qual destaco os trechos a seguir: [...] Dois tópicos são cruciais para a consciência, mas terei pouco a dizer sobre eles porque ainda não os compreendo suficientemente bem. O primeiro é a temporalidade. Desde Kant, estamos cientes de uma assimetria no modo como a consciência se relaciona com o espaço e com o tempo. Embora experimentemos objetos e eventos tanto espacialmente extensivos como de duração temporal, nossa consciência em si não é experimentada como espacial, embora seja experimentada como temporalmente extensiva. Na verdade, as metáforas espaciais para a descrição do tempo parecem, da mesma forma, praticamente inevitáveis para a consciência, como quando falamos, por exemplo, do fluxo de consciência. Sabidamente, o tempo fenomenológico não corresponde exatamente ao tempo real, mas não sei como explicar o caráter sistemático das disparidades. O segundo tópico negligenciado é a sociedade. Estou convencido de que a categoria de outras pessoas desempenha um papel especial na estrutura de nossas experiências conscientes, um papel diferente daquele de objetos e estados de coisas; e acredito que essa capacidade é atribuir um status especial a outros loci de consciência é tanto biologicamente fundamentada como uma pressuposição de background para todas as formas de intencionalidade coletiva. Mas ainda não sei como demonstrar essas asserções, nem como analisar a estrutura do elemento social na consciência individual. [...] Acredito que ao menos dois, e talvez todos os três equívocos tenham uma origem comum no cartesianismo. Os filósofos na tradição cartesiana em epistemologia queriam que a consciência fornecesse uma base para todo conhecimento. Mas, para que a consciência nos dê uma certa base para o conhecimento, temos que ter primeiro um certo conhecimento dos estados conscientes; daí a doutrina da incorrigibilidade. Para conhecer a consciência com segurança, temos que conhece-la por meio de alguma faculdade especial que nos dê acesso direto a ela; daí a doutrina da introspecção. E – embora eu esteja menos seguro sobre isto enquanto um diagnóstico histórico -, se o ego deve ser a fonte de todo conhecimento e significado, e estes devem estar fundamentados em sua própria consciência, então é natural crer que existe uma conexão necessária entre consciência e autocoensciência; daí a doutrina da autoconsciência. [...] Veja mais aqui.

NÃO VERÁS PAÍS NENHUM – O romance Não verás país nenhum: memorial descritivo (Codecri, 1981), do escritor e jornalista Ignácio de Loyola Brandão, conta a história pessimista e apocalíptica de um Brasil no futuro dominado por um governo de mediocridade e totalitário. Da obra destaco o trecho inicial: [...] Mefítico. O fedor vem dos cadáveres, do lixo e excrementos que se amontoam além dos Círculos Oficiais Permitidos, para lá dos Acampamentos Paupérrimos. Que não me ouçam designar tais regiões pelos apelidos populares. Mal sei o que me pode acontecer. Isolamento, acho. Tentaram tudo para eliminar esse cheiro de morte e decomposição que nos agonia continuamente. Será que tentaram? Nada conseguiram. Os caminhões, alegremente pintados em amarelo e verde, despejam mortos, noite e dia. Sabemos, porque tais coisas sempre se sabem. É assim. Não há tempo para cremar todos os corpos. Empilham e esperam. Os esgotos se abrem ao ar livre, descarregam em vagonetes, na vala seca do rio. O lixo forma setenta e sete colinas que ondulam, habitadas, todas. E o sol, violento demais, corrói e apodrece a carne, em poucas horas. O cheiro infeto dos mortos se mistura ao dos inseticidas impotentes e aos formóis. Acre, faz o nariz sangrar, em tardes de inversão atmosférica. Atravessa as máscaras obrigatórias, resseca a boca, os olhos lacrimejam, racha a pele. Ao nível do chão, os animais morrem. Forma-se uma atmosfera pestilencial que uma bateria de ventiladores possantes procura inutilmente expulsar. Para longe dos limites do oikoumenê, palavra que os sociólogos, ociosos, recuperaram da antiguidade, a fim de designar o espaço exíguo em que vivemos. Vivemos? Virei-me assustado. Adelaide nunca tinha dado um grito em trinta e dois anos de casados. Treze para as oito. Em quatro minutos devia estar no ponto, ou perderia o S-7.58, minha condução autorizada. Estranho, ela sabia. E por que então resolvia me atrasar ainda mais? — O que foi? — O paletó. Esqueceu? — Não aguento esse paletó. Passo o dia suando. — Mas sem ele não te deixam trabalhar. — Tomara. Adelaide me olhou, arisca. Inquieto, encarei o rosto dela e me perguntei. Pergunta que não tenho coragem de enfrentar. Se eu admitir, ela se desvenda. Toma forma, cristaliza, revela. Será que depois de tantos anos compensa ver? Reagir agora? Penso: e se valesse a pena? Tomávamos o café da manhã juntos, todos os dias. Depois ela me acompanhava até a porta. Eu colocava o chapéu (voltou o seu uso), acariciava seu ombro esquerdo (nem sei mais se há prazer nisto) e consultava o relógio. Ficava angustiado se não estivesse dentro do horário. [...] Veja mais aqui.

SONHO, CANTARES, UMA NOITE DE VERÃO – No livro - presente do meu amigo José Duran y Duran – Antologia Poetica (Salvat, 1969), do poeta e dramaturgo espanhol Antonio Machado (1875-1939), destaco inicialmente o poema Sonho: Lá do umbral de um sonho me chamaram… / Era a suave voz, a voz querida. / — Diz-me: virás comigo a ver a alma?… / Veio a meu coração uma carícia. / — Contigo sempre… E segui em meu sonho / por uma larga, precisa galeria, / sentindo o roçar da veste pura / e o palpitar suave da mão amiga. Também o poema Uma noite de verão...: Uma noite de verão / – estava aberta a varanda / e a porta de minha casa – / a morte na casa entrou. / Foi-se acercando a seu leito / – nem sequer me percebeu –, / com uns dedos muito finos, / algo mui tênue rompeu. / Silenciosa e sem me olhar, / a morte outra vez passou / ante a mim. “O que fizeste?” / A morte não respondeu. / A filha ficou tranquila / sofrido meu coração, / Ai, o que a morte quebrou / era um fio entre nós dois! Por fim, o belíssimo poema Cantares: Tudo passa e tudo fica / porém o nosso é passar, / passar fazendo caminhos / caminhos sobre o mar / Nunca persegui a glória / nem deixar na memória / dos homens minha canção / eu amo os mundos sutis / leves e gentis, / como bolhas de sabão / Gosto de vê-los pintar-se / de sol e grená, voar / abaixo o céu azul, tremer subitamente e quebrar-se… / Nunca persegui a glória / Caminhante, são tuas pegadas / o caminho e nada mais; / caminhante, não há caminho, / se faz caminho ao andar / Ao andar se faz caminho / e ao voltar a vista atrás / se vê a senda que nunca / se há de voltar a pisar / Caminhante não há caminho / senão há marcas no mar… / Faz algum tempo neste lugar / onde hoje os bosques se vestem de espinhos / se ouviu a voz de um poeta gritar / “Caminhante não há caminho, / se faz caminho ao andar”… / Golpe a golpe, verso a verso… / Morreu o poeta longe do lar / cobre-lhe o pó de um país vizinho. / Ao afastar-se lhe viram chorar / “Caminhante não há caminho, / se faz caminho ao andar…” / Golpe a golpe, verso a verso… / Quando o pintassilgo não pode cantar. / Quando o poeta é um peregrino. / Quando de nada nos serve rezar. / “Caminhante não há caminho, / se faz caminho ao andar…” / Golpe a golpe, verso a verso. Veja mais aqui.

A BICICLETA DO CONDENADO – A peça teatral em um único ato A bicicleta do condenado (1959), do escritor, dramaturgo e cineasta espanhol Fernando Arrabal, conta a história de tocador de piano que manifesta o amor por uma mulher carregando sua bicicleta no corredor da morte. Da obra destaco o trecho inicial: (Tasla ao centro do palco imita a estátua da justiça, sem a venda nos olhos; à direita, por trás do muro, dos Homens com características de policiais, e à esquerda, sentado no banco do piano, Viloro encara a platéia. Depois de algum tempo vê-se surgir das costas de Viloro, como se fosse parte dele, Paso que ostenta uma coroa na cabeça. Black-out. Palco pouco iluminado. À direita, muito ao fundo, um pequeno muro de 1,30 m por 3 m. À esquerda, um piano. Viloro toca piano apenas com um dedo, muito desajeitadamente. Ensaia a escala musical — Dó, ré, mi, fá, lá. Gesto de contrariedade. Silêncio. Tenta recomeçar a escala. Toca muito lentamente para não se enganar. — Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó. Grande alegria. Viloro esfrega as mãos de contentamento, mas apesar de tudo, um pouco timidamente. Silêncio. Recomeça a tocar cheio de confiança.. — Dó, ré, mi, fá, sol. Trejeito de contrariedade. Ouvem-se risos ao fundo. Viloro volta-se receosamente. Ao fundo distinguem-se dois homens por detrás do muro. Viloro olha para eles. Os homens tornam-se bruscamente sérios. Olham também para Viloro. Silêncio. Viloro recomeça a tocar: — Dó, ré, mi, fá, sol, ré. Trejeito tímido de contrariedade. Risos dos dois homens por detrás do muro. Viloro volta-se e timidamente olha para o fundo. Os homens deixam de rir. Viloro olha para eles. Os homens olham para Viloro seriamente. Silêncio. Viloro tenta ainda fazer a escala: — Dó, ré, mi, fá, si, ré. Trejeito tímido de contrariedade. Os homens riem. Viloro olha para eles. Os homens param de rir e olham-se muito seriamente. Silêncio. Viloro prepara-se para recomeçara tocar. Ao fundo, próximo aos dois homens e igualmente por detrás do muro, aparece um terceiro homem. É Paso – um homem de cabelos ruivos. Paso indica Viloro descaradamente com o dedo e ri ruidosamente. Os três homens riem Viloro volta-se receosamente e contempla os homens. Os três deixam de rir. Encaram muito seriamente Viloro, que tenta de novo fazer a escala: — Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si. Os três homens riem por detrás do muro e apontam descaradamente com o dedo. Paso, principalmente, ri muito alto. Viloro volta-se receosamente e contempla os três homens. Cessam de rir. Encaram-no seriamente. Silêncio. Viloro toca mais uma vez: — Dó, ré, mi, fá, si, sol. Os dois homens riem por detrás do muro. Viloro volta-se para eles com ar zangado mas com timidez. Os dois homens param de rir. Encaram-no muito seriamente. Silêncio. Pela esquerda entra uma mulher – TASLA – montada numa bicicleta que transporta à maneira de reboque uma gaiola de madeira. A gaiola tem três pequenas rodas e transporta um homem ruivo. É PASO, com as mãos atadas. Traz uma mordaça. Tasla desce da bicicleta. Dirige-se para Viloro. Os dois homens olham descaradamente para Tasla) TASLA – Bom dia, Viloro. (Viloro com gesto de fadiga aponta o muro) VILORO – Não fale. Eles estão ali. TASLA – (Olha receosamente para os homens) – Ainda! (Silêncio. Risos dos homens. Tasla e Viloro voltam receosamente o olhar para o muro. Os dois homens calam-se. Silêncio. Viloro e Tasla olham um para o outro. Os homens desaparecem. Silêncio) VILORO – Vê se eles ainda estão lá. TASLA – Olha você. Tenho medo. VILORO – Eu também. (Silêncio. Viloro olha receosamente para o fundo) VILORO – (muito contente) – Eles já foram embora. (Tasla olha. O seu rosto ilumina-se) TASLA – Finalmente estamos tranqüilos. VILORO – Temos que esperar. Não vão eles voltar daqui a pouco como fazem algumas vezes? TASLA – (Após um silêncio) – Progrediste? VILORO – (Muito contente) – Oh! Sim. Fiz enormes progressos. TASLA – Toca para eu ouvir. VILORO – Tenho um pouco de vergonha. TASLA – Coragem! Não há motivo para ficar vermelho de vergonha. VILORO – (Entusiasmado) – É sem querer. TASLA – De repente? VILORO – Não é bem de repente. . . mas quase. TASLA – Toca um bocadinho. (Viloro toca piano: Dó, ré, mi, fá, lá. – Gesto contrariado de Viloro) TASLA – Muito bem, Viloro. Você fez um progresso espantoso! VILORO – Enganei-me no fim. Não percebeste? — Dó, ré, mi, fá, si, sol. Os dois homens riem por detrás do muro. Viloro volta-se para eles com ar zangado mas com timidez. Os dois homens param de rir. Encaram-no muito seriamente. Silêncio. Pela esquerda entra uma mulher – TASLA – montada numa bicicleta que transporta à maneira de reboque uma gaiola de madeira. A gaiola tem três pequenas rodas e transporta um homem ruivo. É PASO, com as mãos atadas. Traz uma mordaça. Tasla desce da bicicleta. Dirige-se para Viloro. Os dois homens olham descaradamente para Tasla) TASLA – Bom dia, Viloro. (Viloro com gesto de fadiga aponta o muro) VILORO – Não fale. Eles estão ali. TASLA – (Olha receosamente para os homens) – Ainda! (Silêncio. Risos dos homens. Tasla e Viloro voltam receosamente o olhar para o muro. Os dois homens calam-se. Silêncio. Viloro e Tasla olham um para o outro. Os homens desaparecem. Silêncio) VILORO – Vê se eles ainda estão lá. TASLA – Olha você. Tenho medo. VILORO – Eu também. (Silêncio. Viloro olha receosamente para o fundo) VILORO – (muito contente) – Eles já foram embora. (Tasla olha. O seu rosto ilumina-se) TASLA – Finalmente estamos tranqüilos. VILORO – Temos que esperar. Não vão eles voltar daqui a pouco como fazem algumas vezes? TASLA – (Após um silêncio) – Progrediste? VILORO – (Muito contente) – Oh! Sim. Fiz enormes progressos. TASLA – Toca para eu ouvir. VILORO – Tenho um pouco de vergonha. TASLA – Coragem! Não há motivo para ficar vermelho de vergonha. VILORO – (Entusiasmado) – É sem querer. TASLA – De repente? VILORO – Não é bem de repente. . . mas quase. TASLA – Toca um bocadinho. (Viloro toca piano: Dó, ré, mi, fá, lá. – Gesto contrariado de Viloro) TASLA – Muito bem, Viloro. Você fez um progresso espantoso! VILORO – Enganei-me no fim. Não percebeste? [...] Veja mais aqui.


A VIDA É UM MILAGRE – O filme A vida é um milagre (Život je čudo, 2004), do cineasta e músico sérvio cirílico Emir Kusturica – que também compôs a música do filme com Dejo Sparavalo -, conta uma história que se passa na Bósnia de 1992, quando um engenheiro se instala num vilarejo com sua família - sua esposa é uma cantora lírica e seu filho um adolescente -, sem dar ouvidos a uma ameaça de guerra que quando eclode,  leva sua vida a sofrer mudanças drásticas: sua esposa foge com um músico e seu filho é convocado para a guerra. O filme é belíssimo e conta reviravolta que se dá na vida de um pai de família, numa região ameaçada pela guerra e que, almejando alcançar seus objetivos se põe obstinadamente na luta pela conquista dos seus objetivos, quando em pleno andamento de seu planejamento se vê sem a mulher e sem o filho, tendo, por isso, a sua família destroçada. Imperdível. O destaque do filme vai para a belíssima atriz sérvia Nataša Tapušković. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
 Homenagem à atriz alemã do teatro, cinema e televisão Lil Dagover - Marie Antonia Siegelinde Martha Seubert (1887-1980).


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Some Moments com a festa comemorativa dos mais de 500 mil acessos daqui, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial de Meimei Corrêa & Verney Filho. Para conferir online acesse aqui.

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quinta-feira, julho 30, 2015

QUINTANA, ANÍBAL, CAGE, SOURRIAU, GNERRE, BERTOLUCCI, VISTONTI, TRÍPLICE DEUSA INCA & CIRCO ITINERANTE!




Nude Woman with Veil, do pintor ítalo-brasileiro Eliseu Visconti (1866-1944). Veja mais aqui.


Curtindo Sonatas and Interludes for Prepared Piano + A Book of Music for Two Prepared Pianos (1946-48), do compositor, teórico musical, escritor e anarquista John Cage (1912-1992), performance de Joshua Pierce ao piano (Tomato Records). Veja mais aqui.

LINGUAGEM, PODER E DISCRIMINAÇÃO – O livro Linguagem, escrita e poder (Martins Fontes, 2009), do antropólogo e linguísta Maurizio Gnerre, aborda temas como perspectiva histórica e linguística, gramatica normativa e discriminação, considerações sobre o campo de estudo da escrita, as crenças e dúvidas sobre a escrita, escritas alfabéticas e não-alfabeticas, a escrita e o estudo da linguagem, posições teóricas e contribuições de psicólogos e antropólogos. Do livro destaco o trecho: No quadro defiticitário e deformado da educação brasileira, é lugar-comum alarmar-se diante da fragilidade do desempeno verbal – sobretudo, escrito – do conjunto de seus protagonistas, não apenas discentes. Entretanto, raras vezes esse alarme evolui claramente para uma avaliação crítica séria e abrangente dos problemas de diferentes ordens manifestados nessas área. Geralmente, ele tende a diluir-se nas fórmulas bem conhecidas do conformismo didático de técnicas supostamente motivadoras e criativas. A evitar atitudes desse tipo, é preciso atentar, pelo menos, para uma exigência básica: a adoção de um ponto de vista não-convencional sobre a linguagem, sua natureza, seus modos de funcionamento, suas eventuais finalidades, suas relações com a cultura e as implicações complexas que ela mantem com a ideologia. É preciso partir de uma concepção de linguagem que não a confine a uma coletânea abritária de regras e exceções, e, tampouco, a um rígido bloco formalizado, imune às variações e diferenças existentes nas situações concretas em que a linguagem se torna, de fato, um processo de significação [...]. Veja mais aqui.

A MORTE DA PORTA-ESTANDARTE – No livro A Morte da Porta-Estandarte e Outras Histórias (José Olympio, 1969), do escritor, professor e homem de teatro Aníbal Machado (1894-1964), encontro o conto homônimo do qual destaco o trecho a seguir: [...] O crime do negro abriu uma clareira silenciosa no meio do povo. Ficaram todos estarrecidos de espanto vendo Rosinha fechar os olhos. O preto ajoelhado bebia-lhe mudamente o último sorriso, e inclinava a cabeça de um lado para outro como se estivesse contemplando uma criança. Uma Escola de Samba repontava no Mangue. Ainda se ouviam aclamações à turma da Mangueira. Quando o canto-foi-se aproximando, a mulata parecia que ia levantar-se. E estava sorrindo como se fosse viva, como se estivesse ouvindo as palavras que o assassino agora lhe sussurra baixinho aos ouvidos. O negro não tira os olhos da vitima. Ela parecia sorrir; os curiosos é que queriam chorar. A qualquer momento ela poderia se erguer para dançar. Nunca se viu defunto tão vivo. Estavam esperando esse milagre. Ouvia-se uma canção que parece ter falado ao criminoso: Quem quebrou meu violão de estimação? Foi ela... Ainda apareceram algumas mães retardatárias rondando de longe a morta. A morta não tinha mãe nem parentes, só tinha o próprio assassino para chorá-la. É ele quem lhe acaricia os cabelos, lhe faz uma confidencia demorada, a chama pelo nome: - Está na hora, Rosinha... Levanta, meu bem.... É o “Lira do Amor” que vem chegando... Rosinha, você não me atende! Agora não é hora de dormir... Depressa, que nós estamos perdendo... O que é que foi? Você caiu? Como foi?... Fui eu? Eu?... Eu, não! Rosinha... Ele dobra os joelhos para beijá-la. Os que não queriam se comover foram-se retirando. O assassino já não sabe bem onde está. Vai sendo levado agora para um destino que lhe é indiferente. É ainda a voz da mesma canção que lhe fará alguma coisa ao desespero: Quem fez meu coração seu barrão,  foi ela...  [...] Veja mais aqui e aqui.

A TERRA, NOTURNO & AH, SIM, A VELHA POESIA – No livro Nova antologia poética (Codecri, 1981), do poeta, tradutor e jornalista Mário Quintana (1906-1994), destaco, primeiramente, o seu poema A Terra: As fronteiras foram riscadas no mapa, / a Terra não sabe disso: / são para ela tão inexistentes / como esses meridianos com que os velhos sábios a recortavam / como se fosse um melão. / É verdade que vem sentindo há muito uns pruridos, / uma leve comichão que às vezes se agrava: / ela não sabe que são os homens… / Ela não sabe que são os homens com as suas guerras / e outros meios de comunicação. Também o belíssimo Noturno: Nem tudo está / mudado: / durante o sono / o passado / em cada esquina põe um daqueles lampiões. / E os autos, minha filha, esses ainda nem foram inventados... / Só essa velha carruagem rodando rodando / sobre as pedras irregulares do calçamento. / Essa velha carruagem que passa, noite alta, pelas ruas, ... / E ao fundo do teu sono há uma lamparina acesa / - das que outrora havia ao pé de alguma imagem. / Ela arde sem saber como a parede é nua. / Mas / há um cigarro que se fez em cinza à tua / cabeceira – sem simbolismo algum – um toco / de cigarro apenas... Por fim, Ah, sim, a velha poesia: Ah, sim, a velha poesia.../ Poesia, a minha velha amiga... / eu entrego-lhe tudo / a que os outros não dão importância nenhuma... / a saber: / o silêncio dos velhos corredores / uma esquina / uma lua / (porque há muitas, muitas luas...) / o primeiro olhar daquela primeira namorada / que ainda ilumina, ó alma, / como uma tênue luz de lamparina, / a tua câmara de horrores. / E os grilos? / Não estão ouvindo lá fora, os grilos? / Sim, os grilos... / Os grilos são os poetas mortos. / Entrego-lhes grilos aos milhões um lápis verde um retrato / amarelecido um velho ovo de costura os teus pecados / as reivindicações as explicações – menos / o dar de ombros e os risos contidos / mas / todas as lágrimas que o orgulho estancou na fonte / as explosões de cólera / o ranger de dentes / as alegrias agudas até o grito / a dança dos ossos... / Pois bem, / às vezes / de tudo quanto lhe entrego, a Poesia faz uma coisa que / parece que nada tem a ver com os ingredientes mas que / tem por isso mesmo um sabor total: eternamente esse / gosto de nunca e de sempre. Veja mais aqui, aqui e aqui.

O ESPAÇO TEATRAL – No livro Chaves da estética (Civilização Brasileira, 1973), do filósofo francês Étienne Souriau (1892-1979), encontro o texto O cubo e a esfera, do qual destaco o trecho seguinte: Tenho a intenção de pôr, em poucas palavras, o princípio de uma discussão possível, apresentando, a proposito do espaço teatral, duas concepções diferentes, não só da realidade cênica, mas até de toda a arte teatral. Talvez, até, estas duas concepções revelem duas formas de espírito diferentes; e se esta morfologia dos espíritos teatrais (espectadores, atores, autores) me leva a falar de espíritos esféricos ou espíritos cúbicos, peço desculpa, antecipadamente, desta terminologia bizarra. [...] Parto do princípio de que em todas as artes, sem exceção, mas singularmente na arte teatral, trata-se de apresentar, de por em patuidade, todo um universo: o universo da obra. Em patuidade: uso de um termo filosófico um tanto raro que não deve perturbar-vos: designa a existência brilhante, que se manifesta poderosamente nos espíritos. Um universo em presença brilhante... um universo apresentado no seu pleno poder de nos emocionar, de nos transtornar, de nos impor a sua realidade, de ser, para nós, durante uma ou duas horas, toda a realidade. [...] Portanto, uma vez mais, deve ser-nos presente todo um universo, mas posto, sustentado, evocado por um núcleo central, por essa pequena porção de realidade realizada, se assim pode dizer-se, que se nos coloca sob os olhos e de que o punctum saliens, o coração batendo vivo, o centro ativo, é o grupo momentâneo dos atores em cena. Mas como obter essa presença total, essa vida comum de todo o universo da obra, a partir desse pequeno coração palpitante, desse ponto central presente e atuante de que o essencial é uma mínima constelação de personagens? É aqui que se apresenta, dois processos (evidentemente, estilizo, simplifico, tomo os dois casos mais puros e mais extremos, na sua mais evidente oposição). Primeiro processo: o que chamo de cubo. [...] E passemos, agora, ao princípio esférico. Ver-se-á que é completamente diferente. É outro o seu dinamismo prático e estético (bem entendido que uma vez mais estilizo, exagero até o caso piro e extremo). [...] Veja mais aqui.

OS SONHADORES – O drama Os sonhadores (The Dreamers, 2003), do cineasta e roteirista italiano Bernardo Bertolucci, é baseado no romance The Holy Innocents (Os inocentes sagrados), de Gilbert Adair, contando a história de um jovem estudante americano que está na Fraça em 1968, num intercâmbio e que, em suas idas à cinemateca, conhece um casal de gêmeos que compartilham da mesma paixão pelo cinema. O casal convida o jovem para um jantar quando descobre que eles possuem um relacionamento estranho, quando os pais viajam e eles iniciam um triângulo que envolve jogos psicológicos e sexuais sobre a temática do cinema. O destaque do filme fica por conta da belíssima atriz e modelo francesa Eva Green que ficou internacionalmente com este filme. Veja mais aqui, aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
 
Hoje é dia da Tríplice Deusa Inca: Mama Kila, Mama Ogllo e Mama Cocha.


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa SuperNova, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial de Meimei Corrêa. Para conferir online acesse aqui.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
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quarta-feira, julho 29, 2015

JOSÉ J. VEIGA, DAMATTA, MOACIR SANTOS, JOAQUIM CARDOZO, JOUVET, GHOBADI, TOCQUEVILLE, CACCURI, BRINCARTE & NASCENTE.



VAMOS APRUMAR A CONVERSA? ZINE NASCENTE – A receptividade obtida com o lançamento do número inaugural do Nascente Poético com sua tiragem de 5 mil exemplares mantida nos números subsequentes e o segundo número do zine, fez com que chovesse tanto poemas como publicações de todos os estados brasileiros. Exemplo disso foi que no número 03, com o editorial A festa do caleidoscópio e dedicado à poetamiga Leila Míccolis e o seu trabalho mantido até hoje com o Blocos, que na seção de intercâmbios fiz veicular o material recebido do Correio do Pessoal editado por Luiz Fernando da Silva (João Pessoa-PB), o Notas Literárias, do poetamigo Ary Lins Pedrosa (Maceió-AL), o Fanal da Casa do Poeta (São Paulo-SP), A Voz da Poesia do Movimento Poético Nacional (São Paulo-SP), Inspirações e Poesias de Maria de Fátima Dias (Campo Grande-MS), Momento Lítero-Cultural do Jornal Alto Madeira, editado pelo poetamigo Selmo Vasconcellos (Porto Velho-RO), O Tudo é Poesia (Campo Grande – MS) e a publicação de Mercedes Vasconcelos. Já no número 04, com o editorial Retorno de Férias, dedicado ao amigo cantor e compositor Zé Ripe e suas canções da Mata Sul de Pernambuco, com poemas de Juareiz Correia (PW), Henriqueta Lisboa (MG), Orley Mesquita (PB), Claudio Feldman (SP), Roberto de Vastro Del1Sechi (ES), Nelayne Abdo (MG), Osael Carvalho (RJ), Carlos Moreira (PB), Jaci Bezerra (PE), Elizeu Pereira de Melo (PE), Novais Neto (BA), Ascenso Ferreira (PE), Paulo Profeta (PE), Sandra Lustosa (PE), Clotildes Tavares (RN) e Beatriz Escórcio Chacon (RJ), bem como as publicações recebidas: Feminilidade em gotas de Cileide Alexandre (PE), Rudo é Poesia de Mariana Fatima Dias (MS), Koisalinda de Oeste Souza (Rio Preto-SP), O que nário não disse de Eno Teodoro Wanke (RJ), KÇYW de Eno Teodoro Wanke (RJ), Poemas de Rolando Revagliati (Buenos Aires-Argentina), Libros de Rolando Revagliati (Buenos Aires-Argentina), Maria Mulher de João Lins (PE) e Sueños del bosque de Daniel R. Mourelle (Argentina). Pelo visto o nosso zine havia chegado em terras portenhas além Brasil o que virou uma festa com os hermanos argentinos participando de nossas atividades. E vamos aprumar a conversa clicando aqui.


Imagem sem título da artista plástica e professora Vilma Caccuri.


Curtindo o álbum duplo cd/dvd Ouro Negro (Biscoito Fino, 2001), do maestro, compositor, arranjador e multi-instrumentista Moacir Santos (1926-2006).

BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia da reprise do programa Brincarte do Nitolino, nos horários das 10hs e das 15hs, no blog do Projeto MCLAM, com a simpática apresentação de Isis Correa Naves. No blog, entre outras movidades, também conferir as imagens da edição especial do tabloide Nascente sobre o lançamento da primeira edição da antologia Brincarte, 1998, registrando os autores selecionados na obra, depoimentos de presentes, o destaque da cobertura da imprensa alagoana, com destaque para página inteira do Caderno C da Gazeta de Alagoas, e para o registro dos jornais Tribuna de Alagoas e O Jornal, a arte da turma do Tio Beto e muito mais. Para conferir acesse aqui ou aqui.

O QUE FAZ O BRASIL? – O livro O que faz o Brasil? (Rocco, 1986), do antropólogo e sociólogo Roberto DaMatta, aborda a questão da identidade, o trabalho, a casa e a rua, a ilusão das relações sociais, comidas e mulheres, o carnaval, teatro e prazer, festas da ordem, o modo de navegação social, a malandragem e o jeitinho, entre outros temas. Da obra destaco o trecho: [...] Devo começar explicando o meu enigmático título. É que será preciso estabelecer uma distincão radical entre um “brasil” escrito com letra minúscula, nome de um tipo de madeira de lei ou de uma feitoria interessada em explorar uma terra como outra qualquer, e o Brasil que designa um povo, uma nação, um conjunto de valores, escolhas e ideais de vida. O “brasil” com o b minúsculo é apenas um objeto sem vida, autoconsciência ou pulsação interior, pedaço de coisa que morre e não tem a menor condição de se reproduzir como sistema; como, aliás, queriam alguns teóricos sociais do século XIX, que viam na terra–um pedaço perdido de Portugal e da Europa– um conjunto doentio e condenado de raças que, misturando-se ao sabor de uma natureza exuberante e de um clima tropical, estariam fadadas à degenerarão e à morte biológica, psicológica e social. Mas o Brasil com B maiúsculo é algo muito mais complexo. É país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos internacionalmente, e também casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos, lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial, única, totalmente sagrada. É igualmente um tempo singular cujos eventos são exclusivamente seus, e também temporalidade que pode ser acelerada na festa do carnaval; que pode ser detida na morte e na memória e que pode ser trazida de volta na boa recordação da saudade. Tempo e temporalidade de ritmos localizados e, assim, insubstituíveis. Sociedade onde pessoas seguem certos valores e julgam as ações humanas dentro de um padrão somente seu. Não se trata mais de algo inerte, mas de uma entidade viva, cheia de auto-reflexão e consciência: algo que se soma e se alarga para o futuro e para o passado, num movimento próprio que se chama História. Aqui, o Brasil é um ser parte conhecido e parte misterioso, como um grande e poderoso espírito. Como um Deus que está em todos os lugares e em nenhum, mas que também precisa dos homens para que possa se saber superior e onipotente. Onde quer que haja um brasileiro adulto, existe com ele o Brasil e, no entanto – tal como acontece com as divindades –, será preciso produzir e provocar a sua manifestação para que se possa sentir sua concretude e seu poder. Caso contrário, sua presença é tão inefável como a do ar que se respira, e dela não se teria consciência a não ser pela comparação, pelo contraste e pela percepção de algumas de suas manifestações mais contundentes. Os deuses, conforme sabemos, existem somente para serem vistos em certos momentos e dentro de certas molduras. O mesmo ocorre com as sociedades. Geralmente, estamos habituados a tomar conhecimento das sociedades – e, sobretudo, da nossa sociedade – por meio de suas manifestações mais oficiais e mais nobres. Tal como ocorre às divindades, que só são encontradas nas igrejas, também as sociedades só são normalmente percebidas quando surgem nas suas vozes mais “cultas”. Para os tradicionalistas, aqueles que têm olhos e não vêem, os deuses se acham nos sacrários, nas capelas e nos livros sagrados de reza e devoção. Para os observadores menos imaginativos e sensíveis, uma sociedade está nas suas ciências, letras e artes. A visão oficial contradiz a voz, a visão do povo e, ainda, a experiência da condição humana que, generosamente, enxerga Deus em toda parte: no rito pomposo e solene da catedral e na visão tresloucada do místico, nu e faminto em sua cela de preocupações com o destino dos homens e sobrecarregado pelo peso fantástico dos múltiplos sentidos desta vida. [...] Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

A DEMOCRACIA NA AMÉRICA – O livro Democracia na América - Leis e Costumes: de certas leis e certos costumes políticos que foram naturalmente sugeridos aos americanos por seu estado social democrático (Matins Fontes, 2005), do historiador e cientista político francês Alexis de Tocqueville (1805-1859), aborda temas como a configuração exterior da América do Norte, motivos de algumas singularidades que as leis e os costumes dos anglo-americanos, Estado social, conseqüências políticas do estado social, do princípio da soberania do povo na América, do sistema comunal, da administração na Nova Inglaterra, idéias gerais sobre a administração, os poderes e de outros poderes concedidos aos juizes americanos, modo de eleição, das vantagens do sistema federativo em geral e da sua utilidade especial para a América, partidos, da liberdade, da associação política, do governo, voto universal, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] Um homem acaba de nascer; seus primeiros anos transcorrem obscuramente entre os prazeres ou os trabalhos da infância. Cresce; começa a virilidade; as portas do mundo se abrem enfim para recebê-lo; entra em contato com seus semelhantes. Estudam-no então pela primeira vez e acredita- se ver formar-se nele o germe dos vícios e das virtudes de sua idade madura. Temos aí, se não me engano, um grande erro. Voltem atrás; examinem a criança até nos braços da mãe; vejam o mundo exterior refletir-se pela primeira vez no espelho ainda escuro de sua inteligência; contemplem os primeiros exemplos que chegam ao olhar dela; ouçam as primeiras palavras que nela despertam os poderes adormecidos do pensamento; assistam enfim às primeiras lutas que ela precisa travar - somente então compreenderão de onde vêm os preconceitos, os hábitos e as paixões que vão dominar sua vida. O homem está, por assim dizer, inteiro nos cueiros de seu berço. Algo análogo acontece no caso das nações. Os povos sempre se ressentem de sua origem. As circunstâncias que acompanharam seu nascimento e serviram para seu desenvolvimento influem sobre todo o resto de sua carreira. Se nos fosse possível remontar até os elementos das sociedades e examinar os primeiros monumentos de sua história, não duvido de que pudéssemos descobrir aí a causa primeira dos preconceitos, dos hábitos, das paixões dominantes, enfim de tudo o que compõe o que se chama caráter nacional. Poderíamos encontrar a explicação de usos que, hoje em dia, parecem contrários aos costumes reinantes; de leis que parecem em oposição aos princípios reconhecidos; de opiniões incoerentes que aparecem aqui e ali na sociedade, como esses fragmentos de correntes rompidas que às vezes ainda vemos pender nas abóbadas de um velho edifício e que não sustentam mais nada. Assim se explicaria o destino de certos povos, que uma força desconhecida parece arrastar para um fim que eles mesmos ignoram. Mas até aqui faltaram fatos para tal estudo; o espírito de análise só alcançou as nações à medida que elas envelheciam e, quando elas enfim pensaram em contemplar seu berço, o tempo já o havia envolvido numa nuvem, a ignorância e o orgulho haviam-no rodeado de fábulas, atrás das quais se escondia a verdade. A América é o único país em que se pôde assistir aos desenvolvimentos tranqüilos e naturais de uma sociedade e em que foi possível precisar a influência exercida pelo ponto dé partida sobre o futuro dos Estados. [...] Veja mais aqui.

A ILHA DOS GATOS PINGADOS – No livro Os cavalinhos de platiplanto (Civilização Brasileira, 1959), do escritor do realismo fantástico brasileiro José J. Veiga (1915-1999), encotrei o conto A ilha dos gatos pingados, do qual destaco o trecho a seguir: Já sei o que vou fazer. Se Cedil não voltar até o fim do ano, vou-me embora para o sítio de minha avó. Lá eu vou ter uma bezerra pra tirar cria, um cavalinho pra montar e muitas coisas pra fazer o dia inteiro. É melhor do que ficar aqui feito bobo, pensando toda a vida na ilha, nos brinquedos que a gente brincava, nas coisas que Cedil e Tenisão diziam, e até nos sustos que passávamos, como no dia que a jangada quase afundou com nós três. Camilinho ainda anda atrás de mim; mas não sei se é influência de Tenisão, eu não gosto muito de brincar com ele. Ele tem umas ideias bobas, chora por qualquer coisa, e tudo que a gente faz de meio estouvado ele acha de linguarar. Agora eu compreendo mais por que Tenisão implicava com ele: ele sempre foi chorão e enredeiro. Toda vez que a gente queria ir em algum lugar precisava combinar escondido, sair sem Camilinho ver, e às vezes nem assim adiantava. Quando a gente ia longe, lá vinha Camilinho correndo atrás, chorando e pedindo pra esperar. Tenisão xingava, jogava pedra, mas ele não desistia. Era preciso parar e esperar. Aí o brinquedo perdia a maior parte da graça porque ele era pequeno e não dava conta de acompanhar, não sabia pisar em espinho sem espetar o pé, à toa à toa chorava. Era bobinho que só vendo, tinha medo de tudo. Não engolia semente de jenipapo para não virar barata na barriga, não comia rolinha assada pra não dar fome canina, não jogava pedra na casa de João Benedito porque ele furava um ovo com agulha e a gente ficava cego (eu só joguei uma vez e de longe, porque todo mundo dizia que ele era feiticeiro infalível). De entoado um de nós, ou nós três, estava apanhando por causa de Camilinho. [...] Veja mais aqui.

IMAGENS DO NORDESTE – No livro Poemas (Agir, 1947), do poeta, dramaturgo, engenheiro civil, desenhista, professor e editor Joaquim Cardozo (1897-1978), encontro o seu poema Imagens .do Nordeste, o qual transcrevo a seguir: Sobre o capim orvalhado / Por baixo das mangabeiras/ Há rastros de luz macia: / Por aqui passaram luas, / Pousaram aves bravias. / Idílio de amor perdido, / Encanto de moça nua / Na água triste da camboa; / Em junhos do meu Nordeste / Fantasma que me povoa. / Asa e flor do azul profundo, / Primazia do mar alto, / Vela branca predileta; / Na transparência do dia / És a flâmula discreta. / És a lâmina ligeira / Cortando a lã dos cordeiros, / Ferindo os ramos dourados; / – Chama intrépida e minguante / nos ares maravilhados. / E enquanto o sol vai descendo / O vento recolhe as nuvens / E o vento desfaz a lã; / Vela branca desvairada, / Mariposa da manhã. / Velho calor de Dezembro, / Chuva das águas primeiras / Feliz batendo nas telhas; / Verão de frutas maduras, / Verão de mangas vermelhas. / A minha casa amarela / Tinha seis janelas verdes / Do lado do sol nascente; / Janelas sobre a esperança / Paisagem, profundamente. / Abri as leves comportas / E as águas duras fundiram; / Num sopro de maresia / Viveiros se derramaram / Em noites de pescaria. / Camarupim, Mamanguape, / Persinunga, Pirapama, / Serinhaém, Jaboatão; / Cruzando barras de rios / Me perdi na solidão. / Me afastei sobre a planície / Das várzeas crepusculares; / Vi nuvens em torvelinho, / Estrelas de encruzilhadas / Nos rumos do meu caminho. / Salinas de Santo Amaro, / Ondas de terra salgada, / Revoltas, na escuridão, / De silêncio e de naufrágio / Cobrindo a tantos no chão. / Terra crescida, plantada / De muita recordação. Veja mais aqui.

O EDIFICIO DRAMÁTICO – No livro O comediante desencarnado (Arcádia, 1964), do ator e diretor de teatro Louis Jouvet (1887- 1951), encontrei o texto Notas sobre o edifício dramático, do qual destaco o seguinte trecho: Em todos os tempos se falou e discutiu acerca do Teatro. Não há ninguém, autor, ator, espectador, que não seja ao mesmo tempo critico e esteticista. Professor de literatura ou de dicção, moralista, decorador ou cabeleireiro, cada qual tem opiniões sobre teatro, cada qual tira as suas conclusões. Acústica, fonética, ótica, pintura, escultura, música, dança ou mímica, leis dos gêneros, leis das três unidades, tudo que se refere ao teatro é julgado diariamente, tudo serve para edificar teorias ou sistemas, para explicar e classificar. Cada qual julga como entende, cada qual pensa ter a última palavra. Mas tudo isso não passa de variações de circunstâncias ou de estudos de pormenor. A arte dramática não se baseia sobre uma ou varias ciências. Apologetica, exegese, critica, psicologia ou filosofia são muito uteis, mas não passam de jogos de espirito e não são verdadeiro conhecimento. Cada civilização, cada época tem o seu teatro, que lhe é particular com os seus textos, a sua arte de exprimir, pela dança, o canto ou a palavra; cada época tem os seus públicos, os seus modos de representar, os seus ritos, os seus usos, as suas regras, as suas observações, as suas buscas. Mas o problema essencial está para além destes debates: é o ato drmatico, efusão inanalisável, indissociável entre três participantes, que satisfaz a um instinto indestrutível, inseparável da existência humana, faculdade inata de dramatizar e de ser dramatizado e só pelo que o teatro pode ser considerado. Só, na minha opinião, o edifício dramático pode dar uma ideia do teatro, só o edifício pode permitir meditar, aprender e compreender o que é o teatro a partir deste gosto, desta particularidade essencial a todo o individuo, qualquer que seja a época ou a civilização a que pertence. Veja mais aqui.

TURTLES CAN FLY – O filme Turtles can fly (Tartarigas podem voar, 2004), escrito, produzido e dirigido pelo cineasta iraniano Bahman Ghobadi, o primeiro filme feito no Iraque depois da queda de Saddam Hussein, ambientado no campo de refugiados iraqueano, contando uma história que se passa na fronteira entre Irã e Iraque, semanas antes da invasão do Iraque pelas tropas norte-americanas, num acampamento de refugiados curdos, local onde as pessoas se reúnem para ouvir as notícias da guerra. A figura central desse grupo é Satélite (Soran Ebrahim), um garoto que exerce a liderança entre crianças, jovens e adultos. O filme registra o caos em que essas pessoas vivem, o isolamento e a completa falta de informações relativas à guerra. Agrin (Avaz Latif), uma garota de 14 anos, chega à região com seu irmão e um filho pequeno. Eles, que encontram dificuldade em se relacionar com os outros refugiados, também acabam de passar por uma experiência traumática. Satélite tenta a aproximação, mas quase não há diálogo entre eles. Agrin entra em conflito também com o irmão, que pede que esperem mais um tempo antes de procurarem novo abrigo. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Foto do lançamento da antologia Brincarte II, 1999. Veja mais aqui e aqui

 Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Quarta Romântica, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial de Meimei Corrêa. Para conferir online acesse aqui.

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