terça-feira, dezembro 02, 2014

RONELDA KAMFER, ALEXANDRA MARININA, LÍDIA JORGE & EKATERINA SAMUTSEVICH

 


DIAS DE ESPERA – Esperava ele impaciente pelo retorno da vizinha com notícias de uma prima distante que morava nos cafundós de Judas, quinhentas léguas adentro do inferno afora e uns catombos a mais. Ao contrário, era o marido dela, estranho de sempre, ali peiticando com suas manias esquisitas às insatisfações disso ou daquilo, principalmente reclamando da sua esposa que saíra sem dizer nada e, ainda por cima, soube que ela se indispusera um dia desse, com uma moça da loja da esquina, a ponto de puxarem cabelos e arrancarem as saias, um escândalo e com um montão de gente testemunhando o pandemônio. Que coisa! Acontece que a comerciária indigesta era parente duma malvada tranca-rua, daquelas de descer dos tamancos e fechar o quarteirão num escarcéu de gasguita sem precedentes. Indubitavelmente chegaria toda encrenqueira, puxando seu marido pelas arreatas das calças, aquele tocador de clarinete que só fazia número ao seu lado, vez que se fazia de desentendido pelo tumulto da famigerada consorte frutiqueira, alheio a tudo e reduzido ao seu mutismo perturbador. Pense numa bronca! Esta megera era capaz de ameaçar sua esposa com um despacho de catimbó dos bem-feitos, daqueles de enfiar o nome na boca costurada dum sapo cururu bem raçudo, acrescentando de todos os azares de pedras jogadas no telhado e vidraça da sua santificada residência com malefícios aziagos, domicílio este, aliás, tido por ele mesmo como o mais invejado por todos da comunidade, por ser contrito fiel de domingo a todos os dias de joelhos no culto evangélico ruidoso da vizinhança e, ainda, por ser a mais aquinhoada moradia entre todos dali. Era só de intrigas e disse-me-disse sem fim e a vizinha não aparecia com as notícias da prima distante que, suspeita-se, pinotou pros estrangeiros depois de um escandaloso namorico, com um certo agenciador de finanças virtuais, que andara vitimando tantos crédulos com propostas de investimentos lucrativos e, no final, gorara o negócio da China, deixando-o com nome malquisto na praça, estampado nas maledicências do noticiário popular de pé de ouvido e xingamentos despudorados dos costumeiros investidores lesados que ambicionavam amealhar fortunas inesperadas. Bem feito! É certo, dizem fuxiqueiros, que a coitada prima foi pras lonjuras por estar pressionada a pagar o pato ao opróbrio popular, sendo cobrada dia e noite pelo que fez seu desavergonhado namorado. Ah, logo ela que já fora tão simpática aos seus afetos, a ponto de se tornar uma paixão recolhida de décadas e mantida em segredo embaixo de sete chaves no seu coração. O pior: a vizinha não dava sinal de vida e o seu marido chato-de-galocha não parava o badalo, atormentando seu juízo com litígios das suas escaramuças com o dono da padaria e mais um monte de gente, como o garçom do bar da outra rua, o gerente da loja de frente, o mecânico da oficina do outro lado, o caixa do banco dali de perto, o chefe do clube do bairro e um tanto de outros desafetos que colecionava, encolerizados com sua antipática pessoa. Era um desassossego ter de aguentar aquela ladainha toda, logo ele que morria de saudades da vulnerável família deixada no povoado de seus ancestrais, para cair no mundo e parar naquela insuportável situação. Era o que dava: esperar. E se nutria desta expectativa porque era refém do passado e deixara mãe e filhos no campo por conta de ameaças de morte alardeada pelo mandão que reivindicava suas terras e, para evitar o pior e ser tornar gente na vida, zarpou dali com uma mão na frente e outra atrás, para sobreviver pendurado numa periferia de cidade mais ou menos grande, sem parente nem aderente por perto, sem ter quem socorra ou minimize sua solidão de noites e dias acumulados de constrangedora miséria, a ponto de dali sequer poder arredar os pés por conta das dívidas do aluguel, da caderneta na mercearia, da valsa no crediário e de tudo que tolhia sua existência mantida pela desgraça e ter que enfrentar todos sem um mínimo gesto a favor. Não fosse isso a vida seria um paraíso, mesmo tendo que acordar todo santo dia, esperar condução sempre cheia, levar esporros do patrão, segurar o emprego como podia e obrar o milagre de se sustentar com um salário mínimo que se acabava, toda vez, dez dias antes do fim do mês, tendo que se virar com bicos e outras informais aptidões, como a que dependia daquela vizinha para saber notícias da prima e receber dela o trocado acertado pelo conserto que fizera arranjando no seu automóvel que pifara e não queria funcionar. Esperava também com as graças dos céus por dias melhores, apostava nisso dia sim e outro também, a sorte grande bater-lhe à porta e dali mudar voltando pródigo pro convívio dos seus, como um vencedor laureado. Assim sonhava a todo instante de olhos abertos, devaneava esperançoso. Era mais um dia de aguardamento e resignação. E a vizinha não dava as caras, já era para ter regressado para aliviá-lo. Já estava impaciente e olhava prum lado e outro, conferia os ponteiros do relógio, o tempo passava e aguentava o tanto além do que podia. Ao invés disso, era o marido dela no maior teitei, ô biziga dos mil demônios piorando o seu dia, a paciência nos limites, um dia a mais entre outros tantos que viraram semana e até meses sem fim, mais de ano, por certo, no meio das últimas décadas iguais de espera desde que saíra de casa e enfrentava o mundo naquele confim e expectava, assim, quem sabe, um dia tudo mudasse porque precisava da paz perdida, esperançava. E como esperava... Veja mais aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - É estranho quando você é inocente, você deveria pedir perdão ao juiz que está pronto para prendê-lo por vários anos? Não, isso nem foi discutido... As punições contra nós nos mostraram que conseguimos... Sou feminista e defensora do direito das mulheres à autodeterminação. Quero uma sociedade em que as mulheres possam expressar as suas opiniões políticas. Mostrámos que mulheres como nós podem realizar atos de coragem. Ao fazê-lo, estamos a destruir a imagem predominante das mulheres na Rússia. Não somos o sexo fraco. Nem sempre ficamos apenas sentados em casa, cozinhando e cuidando das crianças. Pensamento da ativista política russa Ekaterina Samutsevich (Yekaterina Stanislavovna Samutsevich), membro do Pussy Riot, grupo de punck rock anti-Putinista. Em 17 de agosto de 2012, ela foi condenada por vandalismo motivado por ódio religioso por uma apresentação performática na Catedral de Cristo Salvador, Moscou, denunciando as ligações da igreja com o poder de Putin, sentenciada a dois anos de prisão. Foi reconhecida como presa política pela União de Solidariedade aos Presos Políticos e pela Amnistia Internacional. Ela foi libertada com pena suspensa por um juiz de apelações de Moscou, em 10 de outubro de 2012, após um argumento de seu advogado de que ela havia sido parada por guardas da catedral antes que pudesse tirar seu violão do estojo. Nos anos após sua libertação, ela desapareceu dos olhos do público e se manteve discreta, mudando regularmente seu endereço de e-mail e número de telefone. As sessões do tribunal contaram com a presença de seu pai, Stanislav Samutsevich, com quem ela morava antes de sua prisão, que afirmou estar "orgulhoso de quão firme e preparada ela está para enfrentar a punição em vez de trair suas crenças". Ela também é membro do coletivo Voina, desde 2007.Em 2010, Samutsevich estava entre os ativistas Voina que tentaram libertar baratas vivas no Tribunal de Tagansky. Mais tarde, ela foi processada no mesmo prédio por envolvimento na "oração punk" do Pussy Riot. Ela também participou de uma série de ações, Operação Kiss Garbage , de janeiro a março de 2011. Este protesto incluiu mulheres beijando policiais nas estações de metrô de Moscou e nas ruas. Foi principalmente um protesto antigovernamental, mas também polêmico.

 

ALGUÉM FALOU: A escrita é redentora. A escrita faz com que o autor, independentemente do reconhecimento, tenha uma história de vida magnífica. A ortografia não é uma pele artificial da expressão verbal, é uma estrutura profunda que se revela na imagem grafada... Só onde não há amor não há culpa... Pensamento da escritora portuguesa Lídia Jorge. Veja mais aqui e aqui.

 

O SONHO ROUBADO - [...] Todos os coros são diferentes, mas são pós-pvat de acordo com origens diferentes. Muitos de nossos problemas foram causados ​​por tova - opitvame eis que medimos outros coros com suas próprias medidas. [...] E com o mesmo temor e breve momento, o sinal sonoro de tudo limpo soou. [...] É prejudicial e está mais vivo, está morrendo por causa disso [...]. Trechos extraídos da obra El sueño robado (Booket, 2001), da escritora ucraniana Alexandra Marinina (Alekseyeva Marina Anatolyevna), autora dos livros A Face Radiante da Morte (Geração, 2003), O Dono da Cidade (Editorial Presença, 1999), Sonho Roubado (Editorial Presença, 2002), No Segredo dos Mortos (Editorial Presença, 2004) e Os Últimos Morrem Primeiro (Editorial Presença, 2004).

 

DOIS POEMAS - ONDE EU FICO - Agora estou sentado em volta da mesa com os inimigos dos meus antepassados \ Eu aceno e saúdo com consideração, \ mas \ em algum lugar no fundo \ eu sei onde estou \ Meu coração e cabeça estão abertos \ e como pessoas bem-educadas \ rimos e comemos juntos \ mas \ em algum lugar no fundo \ eu sei onde eu estou. UMA MANHÃ DE SEGUNDA-FEIRA AZUL COMUM - era uma manhã de segunda-feira azul comum \ em algum lugar uma mãe foi identificar o cadáver de seu filho \ eu lavei, escovei os dentes e terminei meu trabalho de biologia \ na geladeira havia um bilhete da minha mãe \ me pedindo para não deixar o breyani muito picante esta noite \ minha irmãzinha estava procurando as meias dela e às sete e meia tranquei a porta da frente \ e escondi a chave no lugar de costume \ do café comprei dois cigarros soltos \ e os escondi na minha meia \ na esquina da Wildflower com a Rose Street \ uma garota fez piadas com ela futuros assassinos \ na minha cabeça Dylan Thomas gritou \ não seja gentil naquela boa noite, raiva, raiva contra a morte da luz\ na aula de educação sexual minha melhor amiga grávida começou a sangrar \ lá fora na rua alguns tiros soaram. Poemas da poeta sul-africana Ronelda Kamfer, autora de obras tais como Noudat slapende honde (2011) e grond/Santekraam (2011)

 

A PSICOLOGIA E A FENOMENOLOGIA DE EDMUND HUSSERL - O filósofo e matemático alemão Gustav Albrecht Edmund Husserl (1859-1938) foi o fundador da fenomenologia. Ele estudou nas universidades de Leipzig, de Berlim e de Viena, iniciando a carreira de professor em 1883, abandonando o posteriormente e se dedicando a escrever seus ensaios. Quando ele morreu em 1938, em Freiburg, deixou uma vasta gama de ensaios que foram posteriormente reunidos como Arquivos Husserl. O método de investigação filosófica denominado de fenomenologia foi formulado, segundo Cotrim (2006), por Edmundo Husserl, com desenvolvimento na matemática, psicologia e na filosofia. Esse método consistia na observação e descrição rigorosa do fenômeno, analisando como se forma o campo da experiência humana. Acrescenta Rafaelli (2004) que essa filosofia propunha um caminho paralelo entre a fenomenologia e a psicologia. A fenomenologia, conforme Chauí (1980), Goto (2013) e Moreira (2010), encontra-se embasada na analise de manifestação da experiência, considerando a forma (noesis) os atos e como o sentido dado pela sensibilidade ao objeto apreendido; a matéria (a hýle) como os dados sensíveis; e a noema como o significado ideal da coisa e aquilo que é visado pelos atos. Assim, conforme expresso por Chauí (1980), a fenomenologia é a disciplina que fundamenta a lógica, estudando as essências da região da consciência, suas estruturas e atos, tornando-se, por isso, eidética. Nesse sentido, a eidética procura essências ou significados, sendo, pois, a investigação que define a essência e estrutura necessária ao estudo do objeto. Acrescentam Padovani e Castagnola (1978, p. 479) que: O papel da fenomenologia é unicamente o de conhecer e descrever o mundo eidético (o mundo das puras essências universais contidas nos dados = fenômenos), prescindindo de todos os elementos referentes ao sujeito psicológico, à existência individual, à subjetividade empírica.  [...] pode servir à metodologia da ciência, à lógica matemática e harmonizar-se com algumas teorias próprias do Neopositivismo [...]. Foi na sua obra Investigações Lógicas (1900-1901) na qual ele definiu sua filosofia como a análise da experiência que está por trás de todo o pensamento formal. É nela onde aparecem os primeiros sinais do método fenomenológico que se envolveu com as questões clássicas da filosofia desde Descartes, quando Husserl travou uma discussão da obra do filósofo francês: Meditações Cartesianas. A partir disso, a fenomenologia passa a servir de fonte para vários filósofos, em especial aos ligados ao existencialismo, chegando-se, inclusive, a se falar de uma sociologia, uma psicologia e uma teoria literária fenomenológicas. Isto porque o método voltou-se principalmente para as artes, nas quais proporciona um novo modo de consideração das obras artísticas. Depois, lança as bases sólidas da teoria da fenomenologia. A partir de uma revisão na literatura, há que se entender, antes porem, que a Fenomenologia é uma corrente iniciada por Husserl (1980), ao pretender o estabelecimento de um método de fundamentação da filosofia e da ciência, baseada no conceito de fenômeno, ou seja, aquilo que é percebido pela consciência, no sentido de proceder a investigação da vida perceptiva, defendendo que a percepção tona possível a consciência dos objetos do mundo, como o juízo, a memória e os atos subjetivos. Estes, segundo ele, podem ser submetidos ao exame pela faculdade superior da consciência, entendia pelo autor como o eu transcendental, que é responsável pela síntese que torna possível a apreensão de objetos. Muitas transformações ocorreram no pensamento fenomenológico até chegar em reorganizações conceituais que redundaram na formulação programática feita por Husserl no começo do século XX, quando, conforme Lyotard (1986), Critelli (1996), Giles (1989) e Martins e Dichtchekenian (1984),  a fenomenologia tornou-se mundialmente bem–aceita e tem influenciado discussões teóricas até hoje; ela introduziu uma forma prática no domínio teórico da filosofia, assim como no campo das ciências humanas e naturais. A partir das investigações lógicas de Husserl, segundo Salanskis (2006), ficou estabelecido por ele que a investigação deve ater-se ao modo como as coisas aparecem ao homem, como ele unifica a multiplicidade de aparições e como projeta significações sobre os objetos percebidos. Para o fenomenólogo, não existe a consciência pura, mas sempre a "consciência de alguma coisa". Esse conceito, fundamental para a fenomenologia, é chamado de intencionalidade. Além disso, a atenção dispensada ao olhar, à percepção, à imaginação, às coisas e ao outro faz o método fenomenológico ir além das fronteiras da filosofia. A fenomenologia faz uso de uma série de instrumentos metodológicos próprios que possibilitam a análise criteriosa dos fenômenos. Um deles é a redução, dividida nas seguintes modalidades: a epoché, a redução eidética e a redução trancendental. O termo epoché vem do grego e significa estado de dúvida. Consiste na suspensão do juízo a respeito de qualquer opinião; com o propósito de buscar unicamente os fatos, "pomos fora de ação a tese geral própria da atitude natural e pomos entre parênteses tudo o que ela compreende". Para ilustrar o método referido, tomemos o exemplo de como uma cor é percebida: a experiência pessoal da cor é o fenômeno puro, que se atinge mantendo-se em suspensão os dados científicos a respeito da composição da cor e os dados advindos da comparação com outras cores. A partir da leitura de Chauí (2002), observa-se que a atitude natural, segundo husserl, compreende a aceitação do mundo em que vivemos, formado de coisas, bens, valores, ideais, pessoas, conforme ele nos é dado.A fenomenologia pretende se desvencilhar dassa atitude natural, por meio de um questionamento radical sobre o modo de existência do mundo, que consistiria no ponto inicial da pesquisa filosófica. A redução eidética analisa a apresentação do objeto a nossa á nossa (representação) de forma pura, prescindindo da existência do sujeito que conhece, assim como do objeto conhecido. Trata-se da forma do objeto no espírito, ou seja, trata- se de analisar a representação sem levar em conta o âmbito psicológico.Tomando como exemplo uma planta, podemos afirmar que, levando a cabo tal redução, os seus componentes básicos seriam a cor, as formas que a compõe e a textura. Na redução transcendental, o fenomenologista considera apenas o que foi imediatamente apresentado á consciência; todos os outros elementos, Husserl sugere que sejam excluídos do julgamento. Retomando o exemplo da cor : uma página impressa em verde é apenas verde, não é feita da mistura de amarelo e azul, que é um dado cientifico. O interessante de Husserl está na cor como fenômeno pessoal e subjetivo, que depende de fatores complexos, como as diferenças de concepção dos sentidos. O que é mais relevante para os defensores da fenomenologia é aquilo que pode ser experimentado pelos sentidos. Depois de realizada a redução, o que resiste é o individuo efetivamente sabe e passa a conhecer, transcendendo os dados científicos: é o que se designa resíduo fenomenológico. Vê-se, portanto, que Husserl contribui para a filosofia com a formulação rigorosa e estruturada de um método fenomenológico, que propõe estudar o objeto do conhecimento de forma livre e pura, para alcançar a sua essência. Em outras palavras, a fenomenologia procura tratar do que é dado imediatamente como conteúdo conhecido, sem abordar as possíveis implicações e desdobramentos, que pertencem a uma construção posterior do saber. Assim, no processo de conhecimento, ou seja, na relação que se estabelece entre o sujeito e o objeto, Husserl distingue os seguintes elementos fundamentais : a noésys ("forma"), a h ‘yle ("matéria") e o nóema ("conceito"). A noésys consiste no pensamento considerado um evento psíquico individual; é o conteúdo subjetivo do pensamento que confere sentido ao objetivo conhecido.A h’ yle trata do dado sensível, do contato físico com o objeto, que em si mesmo não comporta nenhum significado, a não ser quando alcançado pela noésys.Por fim, temos o nóema ,totalmente distinto do objeto físico. É com isso que Husserl (1980) faz uma distinção entre o pensamento como um evento psíquico individual (noese,ou faculdade do pensar ou inteligência ) e o pensamento como conteúdo ( noema, ou pensamento, intenção).Na operação 2 + 2 = 4 existe uma atividade de natureza psíquica, ao mesmo tempo que há um conteúdo pensado, que se expressa no conteúdo de sentido ideal independentemente do sujeito pensante.Esse segundo sentido revela que a estrutura da consciência é intencional e conduz o sujeito na direção do objeto pensado. O filosofo distinguiu a essência, entendida como a parcela ideal de significação do objeto, dos aspectos que constituem a nossa experiência, ou seja, do que designou como conteúdo objetivo do pensamento.Portanto, no seu método de análise do fenômeno, a essência é a sua dimensão mais relevante. Segundo Husserl (1980) existe uma intuição da essência, que é o ato ideador , uma espécie de apreensão imediata da essência juntamente com o fenômeno ; desse modo, conheceríamos o fato e sua essência, simultaneamente. O conhecimento ocorreria por semelhanças, que é própria da essência e não da existência; para Husserl (1980), pensar é, antes de tudo pensar na essência. O passo seguinte a redução é a análise cognitiva, que consiste na comparação detalhada entre fenômeno, tal como é apresentado á consciência, é a universal do fenômeno. A fenomenologia busca conciliar aquilo que experimentamos com aquilo que supomos saber teoricamente. Há aqui implícita uma diferenciação entre o fenômeno experimentado e o fenômeno apreendido, que Husserl compara com a relação entre a aparência e aquilo que aparenta. Recorrendo mais uma vez ao exemplo da cor com o reconhecimento científico que temos sobre ela. De acordo com Husserl (1980), através da redução, cada sujeito pode tornar-se observador de si mesmo, consciente de si. Assim adquirimos conhecimento e podemos aprender sobre nós mesmos e sobre a nossa volta. Pressupomos a existência de outras pessoas com a mesma capacidade para conhecer, mas é impossível provar que, de fato, elas estejam conscientes de si. Não observamos os pensamentos alheios, vemos apenas as ações do comportamento dos outros. É o que denominamos observação da "coisa" enquanto fenômeno. Assim, da mesma maneira que aprendemos sobre o mundo observando fenômenos externos, aprendemos sobre nós mesmos por meio dos outros. A única forma de observarmos os resultados de nossas emoções e pensamentos é através das respostas das outras pessoas. É a vida no mundo, que Husserl denominou Lebenweslt, e que nos permite ver e experimentar sem as limitações impostas pelas fórmulas e equações do conhecimento científico. Uma coisa é saber que a água é formada por átomos de oxigênio e de hidrogênio, outra bem diferente é ver, sentir, sorver a água. A análise cognitiva nos permite conciliar o conhecimento científico e a observação ; entretanto, só realizamos essa análise quando nos é solicitado, não se trata de um processo involuntário. O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) utilizou a fenomenologia em sua maior obra, Ser e Tempo (1927), para estudar a essência do ser, a temporalidade e o sujeito sempre em um contexto. Os filósofos franceses Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) usaram o método para o estudo das estruturas da percepção, da consciência e da imaginação. Para Chauí (2002), o filosofo privilegia a consciência reflexiva ou o sujeito do conhecimento, isto é, afirma que as essências descritas pela Filosofia são produzidas ou constituídas pela consciência, enquanto um poder para dar significação à realidade. HUSSERL E A PSICOLOGIA - Conforme Chauí (1980), o filósofo que se autodenominava neocartesiano, entende a psicologia como uma teoria do conhecimento, demonstrando tratar-se de uma descrição do comportamento do sujeito na atividade de conhecer. Já a fenomenologia é uma descrição da estrutura especifica do fenômeno como um fluxo imanente de vivências que constitui a consciência e também a descrição da estrutura da consciência enquanto constituinte, sendo, pois, a condição a priori do conhecimento. Pretendia Husserl (1980) que a psicologia se aproximasse e se mantivesse próxima da fenomenologia na análise e estudo da consciência, entendendo que a consciência empírica é o que interessa para a psicologia, enquanto que a consciência pura interessa à fenomenologia. A consciência, para Husserl (1980), é uma atividade constituída por atos, denominado por ele de noesis, e que envolvem a percepção, imaginação, volição, paixão, entre outras. Em vista disso, a fenomenologia, no dizer de Husserl (1980) é a ciência fundamental para todas as coisas. Assim, para ele, a psicologia possui por objeto o estudo do ser humano em seu mundo. Com isso, ele concebeu a Psicologia Fenomenológica com o objetivo de tratar da vida interior, descrevendo as estruturas psíquicas na busca do fundamento para a subjetividade. Suas ideias tornaram-se importante para a psiquiatria e psicologia clinica, requerendo a subjetividade como fonte originária da vida humana. Para Husserl (1980), a psicologia fenomenológica é uma ciência a priori e universal da vida anímica, que se ocupa exclusivamente das estruturas internas entendidas por ele como as estruturas subjetivas puras, ou estruturas proto-originárias da própria vida. Desse modo, observa Goto (2007, p. 187) que, para Husserl “[...] a psicologia não deve se ocupar de experiências externas como faz a psicologia científica, seguindo o modelo da física e da fisiologia, mas ao contrário, deve orientar-se exclusivamente para a vida interna, experiência anímica interna, constituídas pelas vivencias intencionais”. Ao criticar a metafísica e o positivismo, conforme Fonseca (2014), Husserl constituiu uma abordagem ontológica e epistemológica fundamentada na vivência da consciência pré-reflexiva do sujeito cognoscente correlacionado intrinsecamente com o mundo. Por conta disso, contribui diretamente com a psicologia e com a psicoterapia trazendo alternativas aos modelos comportamentais e psicanalíticos. A crítica de Husserl, segundo Raffaelli (2004) e Silva (2009), é contra o positivismo científico que se inseriu na Psicologia e de que esta não possui nenhuma necessidade das ciências da natureza, podendo trilhar seu próprio caminho na compreensão do ser humano e isso por meio da investigação transcendental psicológica. De acordo com o pensamento do filósofo, entende Silva (2009) que a Psicologia deve se voltar para a subjetividade como seu próprio objeto. Dessa forma, o filósofo fazia restrições aos sistemas psicológicos da época, inclusive a Gestalt por desconsiderarem a consciência como fenômeno originário dos processos psíquicos. Há que considerar que a Gestalt foi fundada por alunos de Husserl e foi o sistema psicológico que mais se aproximou dos seus ideais, consagrando-se ao estudo experimental da percepção humana, relacionando a experimentação com a interpretação fenomenológica. A psicologia, segundo Goto (2013), foi a maior tributária das ideias fenomenológicas, permitindo a constituição de seu método e fundamento. Com isso, a psicologia se definia no conteúdo e método como uma psicologia apriorística pura ou fenomenológica, embasada na eidética, dirigindo-se genuinamente à vida psíquica em si mesma e a suas estruturas. O filósofo, segundo Fonseca (2014), inspirou-se nas propostas psicológicas de Franz Bretano, buscando captar a essência mesma das coisas, descrevendo a experiência tal como se processa de modo a que se atinja a realidade tal como ela é. A tarefa efetiva da fenomenologia está em analisar as vivências intencionais da consciência para perceber como aí se produz o sentido dos fenômenos, o sentido desse fenômeno global que se chama mundo. Por isso, ela busca ultrapassar as experiências reais, atendo-se aos elementos ideais, considerados como a essência da experiência. A influência da fenomenologia husserliana, no dizer de Fonseca (2014) contribuirá diretamente para a criação de um conjunto de abordagens psicológicas e psicoterápicas originais, incluindo-se, nessa reunião, a Gestalt de Kohler, Koffka e Wertheimer. Em vista disso, é a Gestalt que desenvolverá uma psicologia fenomenológica. Assim sendo, observa-se que a fenomenologia husserliana vai se tornar fundamento epistemológico e metódico para a psicologia no que concerne à introdução da subjetividade no seu contexto, permitindo que haja um avanço na constituição do objeto psicológico na criação do conhecimento psicológico. Vê-se, pois, que não só contribuiu para a Filosofia, como para Psicologia Terapêutica. Veja mais aqui e aqui.

REFERÊNCIAS
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2002.
______. Husserl. In: HUSSERL, Edmund. Investigações lógicas: elementos de uma elucidação fenomenológica do conhecimento. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: sistema e grandes temas. São Paulo: Saraiva, 2006.
CRITELLI, D. M. Analítica do sentido: uma aproximação e interpretação do real de orientação fenomenológica. São Paulo: EDUC Brasiliense, 1996.
FONSECA, Afonso. Apontamentos para uma histórica da psicologia e psicoterapia fenomenológico-existencial organísmica – dita humanista. Disponível em http://www.apacp.org.br/wp-content/uploads/2012/03/art063.html. Acesso em 10 mar 2014.
______. A experimentação psicológica e o experimental na tradição da psicologia fenomenológica de Bretano. Disponível em http://www.apacp.org.br/wp-content/uploads/2012/03/art040.html. Acesso em 14 mar 2014b.
GILES, Thomas Ranson. História do Existencialismo e da Fenomenologia. São Paulo: EPU, 1989.
GOTO, Tommy. A (re)constituição da psicologia fenomenológica em Edmund Husserl. Campinas: PUC, 2007.
______. Fenomenologia e psicologia: a constituição da psicologia fenomenológica em Edmundo Husserl. V Congresso de Fenomenologia da Região Centro-Oeste, maio 2013.
HUSSERL, Edmundo. Investigações lógicas. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
_____. A Ideia da Fenomenologia. Lisboa: Edições 70, 1986.
LYOTARD, J.-F.. A fenomenologia. Lisboa: Edições 70, 1986.
MACHADO, Luiz Alberto. Hurssel & a fenomenologia. Tataritaritatá. Disponível em http://blogdotataritaritata.blogspot.com.br/2013/03/husserl-fenomenologia.html. Acesso em 14 mar 2014.
MARTINS, Joel e DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda S.F. Beirão. (Orgs.) Temas Fundamentais de Fenomenologia. São Paulo: Moares, 1984.
MERLEAU-PONTY, M.. Ciências do homem e fenomenologia. São Paulo: Saraiva, 1973.
MOREIRA, Virginia. Possíveis contribuições de Husserl e Heidegger para a clínica fenomenológica. Psicologia em Estudo, vol. 15, nº 4, Maringá, out/dez, 2010.
PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luís. História da filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
RAFAELLI, Rafael. Husserl e a psicologia. Estudos de Psicologia, vol.9, nº2, Natal, mai/ago, 2004.
SALANSKIS, Jean-Michel. Husserl. São Paulo: Estação Liberdade, 2006.
SILVA, Fernando. Fenomenologia e psicologia: uma relação epistemológica. Psicologia Em Foco, vol. 2 (1), Aracaju, jan./jun 2009.


PROGRAMA TATARITARITATÁ – O programa Tataritaritatá que vai ao ar todas terças, a partir das 21 (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação desta terça aquiLogo mais, a partir das 21hs, acontecerá mais uma edição do programa Tataritaritatá – agora com 2 horas de duração -comemorando os mais de 410 mil acessos do blog, apresentação da querida Meimei Corrêa e com as seguintes atrações na programação: Maria Callas, Toninho Horta, Lenine, Rildo Hora, Luiz Vieira, Accioly Neto, Martinho da Vila, Seu Jorge & Caetano Veloso, Beth Carvalho, Leila Pinheiro, Petrúcio Amorim, Santana o Cantador, Juareiz Correya, Mazinho, Ozi dos Palmares, Marcelo Café, Nelly Furtado, Zenima, Britney Spears, Paulynho Duarte, Fundo de Quintal & muito mais! Veja mais aqui.

SERVIÇO:
O que? Programa Tataritaritatá
Quando? Hoje, terça, 02 de dezembro, a partir das 21hs
Onde? No MCLAM 
Apresentação: Meimei Corrêa


O BACANAL DO BOECHAT – Aproveitando o embalo do desabafo do jornalista Ricardo Boechat na manhã desta segunda-feira, uma constatação: pagar a gente paga todos os patos e nem que seja na marra ou subliminarmente, também todos os impostos. Se há sonegação é porque tem barnabé que ao invés de autuar e fazer vingar a lei (que são tantas por sinal, valha-me!), prefere contribuir para disfunção burocrática e, pior que isso, dificulta todo acesso chantageando o contribuinte para cair com a espórtula institucionalizada nesse nosso Brasilzão véio, arrevirado e de porteira escancarada. E se a gente precisa do Judiciário, somos pessimamente atendidos, mesmo sendo requerentes de Justiça e contemplados com todas as garantias fundamentais consagradas constitucionalmente, afora sermos intimidados para ficarmos obedientes e resignados com a plenitude da injustiça. Precisamos do Legislativo, só somos bem recepcionados em época eleitoral, afora isso, ninguém nunca acha ou é atendido por um vereador, deputado ou senador que sequer quer saber da tragédia das nossas comunidades. Precisando do Executivo, piormente somos pendurados nas filas de espera para nos decepcionar na hora de nunca vermos atendido o que pleiteamos e, quando atendidos, só depois de meses e meses a rogar pela boa vontade. Desprotegidos e indignados, vamos adiante, enquanto muitos ficam só de tocaia para participar do bacanal. Vamos aprumar a conversa & tataritaritatá! Veja mais aqui.


DOR DE CABEÇA - Sentir dor de cabeça com frequência é preocupante em que medida? O que motiva as crises? Em crises de enxaqueca a dor de cabeça é um dos sintomas, há pelo menos outros 60; quais serão? Existem curas para enxaquecas e dores de cabeça crônicas para crianças, adultos e idosos? Para debater este universo, a 15ª edição de “Dr. Maurício Convida: educação + saúde” receberá o médico neurologista Dr. Luiz Antonio M. Moreira para um bate-papo com tricordianos sobre prevenção, diagnóstico e tratamento de dores de cabeça e enxaquecas. ONDE E QUANDO Dor de Cabeça c/ Dr. Luiz Antônio Mendes Moreira (médico neurologista) Data: 04/12 (quin) Hora: 19h00 - 21h45 Local: Escola do Legislativo da Câmara Municipal. Acesso: livre e gratuito, local com acessibilidade: *Av. Quinto Centenário do Brasil, 1010 – Santa Tereza – prédio anexo ao da Câmara Municipal. (Info: Meimei Corrêa). Veja mais aqui.


JACQUES DEMOLAY E O FIM DA ORDEM DO TEMPLO – Acontecerá no próximo dia 6 de dezembro, a partir das 20:30hs, no Teatro da EsSa, em Três Corações (MG), a apresentação da peça teatral Jacques DeMolay e o fim da Ordem do Templo, um espetáculo instigante e dramático apresentado pelo ator John Vaz. Imperdível (Info: Meimei Corrêa).


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