ALEGRIA DE POBRE DURA MUITO POUCO... – Doro andava nas nuvens, maior folga. Parecia mais que a coisa ia dar
certo definitivamente daquela vez, mesmo. Pois é. Marcialita, a sua pegajosa cônjuge,
virou de vez beata de todos os dias. Isso era um prêmio. Contudo, suspeitas
precavidas fizeram-no conferir no amiudado. Furtivo, foi lá na paróquia, de
soslaio. Aliviou-se: um vestuto pároco ministrando o evangelho pra regozijo
dela, acompanhada da escadinha dos cabelinhos de milho. Dos oito bruguelos, até
a caçula pirrototinha de mãos postas, prostrada, acompanhando as orações da
mãe. Para onde ela ia, a mundiça deles atrás. Por perto, o melhor: nenhum
aventureiro ameaçando sua prole nem cornice. Tudo nos conformes até ele botar o
pé fora da paróquia e dar de cara com Delicídia requisitando-o aflita. Pensou
consigo: uma frochosa dessa dando mole, tô dentro! E foi: botou a cara pro perigo
e a zebra que endoide! Não perderia uma dessa jamais. Levado à residência da
distinta, de cara cheio de pernas e sem saber onde botar as ventas. Mas logo
aprumou a coisa e consertou o troço que deu na TV dela, justo na hora da
novela. Uma tragédia pra coitada, não perdia um capítulo. Enquanto dava jeito naquilo
com todo cabedal de zis experiências de faz-tudo, aproveitou para tirar uma
brechada nas intimidades da gostesuda e, ao mesmo tempo, ardilosamente já
programar outras visitas, detectando defeitos nisso e naquilo. A reboculosa
mais que assustada foi caindo na lábia dele: as antevisões problemáticas do
distinto, deixou-la mais rendida que presa fácil coagida, tornando-se dali por
diante a pessoa mais grata, principalmente quando perguntou quanto seria o
conserto e ele, mais que categórico, sapecou: Nada não. Como? Ele enrolou no
papo e reiterou que o serviço seria gratuito e, se ela quisesse, na noite
seguinte voltaria para fazer as caranhas necessárias nos utensílios que ele,
visivelmente afetado, antecipou problema a vista. Tudo grátis! Ela até esqueceu
a novela e ficou acompanhando o ar doutoral do sujeito sobre as instalações
elétricas e hidráluicas, o funcionamento deste e daquele equipamento, a forma
inadequada de utilização dos ventiladores, o ar condicionado com vestígios de
sujeiras e que ela tivesse cuidado com o uso de tais recursos. Oxe! Estava no
papo! Olhos arregalhados, não deu outra. Ela mais alarmada que atenta, já o
contratou para começar o serviço ali mesmo e ele saiu desparafuzando coisas,
martelando outras, sempre com uma explicação na ponta da língua pela má
utilização de tais coisas. Testou tudo, funcionava. E o melhor: Quanto é? Nada.
Como assim? A senhora é só me chamar e estarei aqui pronto pra consertar o que
precisar. Ela ficou boquiaberta de olhos esbugalhados com a presteza do rapaz
em consertar as coisas que logo dedicou toda atenção aos seus conselhos: É de
um homem desse que preciso aqui em casa! Não diga? Meu marido me deixou por uma
mais jovem. Sujeito traste, hem? Conversa vai, papo vem, era hora do ardiloso
puxar o carro e sair fora para deixar a porta aberta, antes que fizesse uma
besteira, como de costume. Precavido, orientou da melhor maneira possível e já
deixou apalavrado que na noite seguinte voltaria. Daí pras noites seguintes misturando
pernas e beijos nos lençóis da beldade, o cabra só no regalo da mancebia, foi
em cheio: acertou na mosca. Nunca foi tão fácil na vida dele. Marcialiata que
nunca desconfiasse, inferno pronto. Passaram-se meses e uma dia lá, era de
manhã, ele resolveu passar pela casa da já dada por ele como amásia. Ele sabia
que ela não estaria, pois era funcionária pública e, àquela hora, estava dando
expediente. Na veneta, passou por sei lá cargas d’água e qual não foi a
surpresa: Florizita atendeu-lo e com todo requinte de visitante assíduo à
residência. Você me conhece? Ora, se. Nunca tinha visto aquela boniteza por ali.
Logo viu-se dono da casa tomando ciência de que se tratava da doméstica que
deixava tudo nos trinques pra visita dele à noite. Uau! Ela nunca falou nessa
pessoa, ora! Pensou ele: Empregada dessa é acertar na loteria! Caraminholas no
quengo enquanto conferia os glúteos proeminentes que rebolavam ritmadamente na
sua frente para providência de sucos e outros quitutes pro seu bel prazer, no
bem bom. Encarou firme o par de seios no decote da moça, conferiu as curvas
onduladas da jovem e gelou lívido quando flagrou a graciosa acompanhando seus
olhares e lambidas de beiços. O senhor deseja mais alguma coisa? Ele endoidou e
não teve como esconder a sobressalência que se fazia notar na sua região
púbica. Ela não se fez de rogada: O senhor tá de pau duro? Ele procurou um
buraco no chão pra se socar, aliviando-se porque a bonitona logo avançou a mão
e começou a alisar seu membro incontrolável. Ele abriu os olhos e viu-se
surpreendentemente aliviado: Ah, assim tá. Bocas, sexo, coxas, abraços, tudo
misturado ali na hora. Não olvidou, partiu pra cima e fez barba, cabelo e
bigode nos trabalhos de cama, mesa e banho dela. Era o que precisava! Mais
sortudo que nunca, meses na melhor gestão da vida: apascentando Marcialita, de
noite lavando a jega na Delicídia com todos os requintes de campeão e, durante
o dia, usufruindo das providentes gentilezas da égua no cio, Florizita. Queria
mais o quê? Todo dia e o dia todo ele lá, seis ou sete meses depois a bomba: a
empregada estava prenha dele e o pipoco com estilhaços além dos limites
territoriais. Pense num estouro, perto disso bomba atômica era pinto! O que
teve de gente para zoar em seus ouvidos não estava no gibi: padre, juiz,
promotor, conselho tutelar, polícia e tudo o mais no seu juízo noite e dia.
Florizita era de menor. Fodeu. E bucho já à mostra. Lascou-se. Pensou várias
vezes em dar um tiro no pingulin pra ver se resolvia. Melhor logo um suicidio,
pronto. Peraí. Pensou melhor: merda por bosta, melhor que ser capado por mim
mesmo, pagar a pena é o de menos. Bronca safada, problema mesmo só presta
quando esfola e enraba o sujeito de fodê-lo a alma sem saída. Simbora nos
peitos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Você se sente miseravelmente desamparado e
quer se rebelar? Rebele-se contra as ideias de seus professores. O amor é a
nossa resposta aos nossos valores mais elevados – e não pode ser outra coisa. Deus…
um ser cuja única definição é que ele está sozinho com o poder da compreensão
humana. Pensamento da escritora, dramaturga,
roteirista e filósofa estadunidense Ayn Rand (1905-1982). Veja mais aqui
e aqui.
ALGUÉM FALOU: Nunca peça desculpas, nunca explique. Se você vai fazer algo, você deve
fazê-lo minuciosamente... Pensamento da dramaturga
e poeta britânica Muriel Spark (2918-2006). Veja mais aqui e aqui.
JUNTOS
SOZINHOS – [...] Bizarramente, quanto mais conectado você
está, mais você está isolado. [...] Esperamos mais da tecnologia e menos uns dos outros. [...] A tecnologia é sedutora quando o que ela oferece atende
às nossas vulnerabilidades humanas. E acontece que somos realmente muito
vulneráveis. Estamos sozinhos, mas com medo da
intimidade. As conexões digitais e o robô
sociável podem oferecer a ilusão de companheirismo sem as exigências da amizade. Nossa vida em rede permite que nos
escondamos uns dos outros, mesmo quando estamos amarrados uns aos outros. Preferimos enviar mensagens de texto
do que conversar. [...] As
mensagens de texto oferecem a quantidade certa de acesso, a quantidade certa de
controle. Ela é uma Cachinhos Dourados modernos: para ela, enviar mensagens de
texto coloca as pessoas não muito perto, nem muito longe, mas na distância
certa. O mundo agora está cheio de Cachinhos Dourados modernos, pessoas que se
confortam em estar em contato com muitas pessoas que também mantêm afastadas. [...] As pessoas estão sozinhas. A rede é sedutora. Mas se estivermos sempre
ligados, podemos negar a nós mesmos as recompensas da solidão. [...]. Trechos extraídos da obra Alone
Together – Why We Expect More From Technology and Less From Each Other (Basic, 2012), da socióloga e psicóloga estadunidense Sherry
Turkle, autora que expressa: As relações humanas são ricas, confusas e exigentes. E nós os limpamos com tecnologia. Enviar mensagens de texto, enviar
e-mails, postar, todas essas coisas nos permitem apresentar a nós mesmos como
queremos ser. Podemos editar, e isso significa que
podemos excluir, e isso significa que podemos retocar o rosto, a voz, a carne,
o corpo - nem muito pouco, nem muito, na medida certa.
ABASTECENDO-SE – O
que estou perdendo? \ Uma porta de banheiro,\ uma vidraça\ na porta do
banheiro,\ uma haste de cortina de chuveiro,\ a janela entre minha cozinha e a
varanda de serviço,\ uma lâmpada fluorescente,\ painéis solares,\ um terço\ do
controle deslizante da varanda frontal\ , um apêndice e duas amígdalas – uma
história antiga\ (verificação do útero)\ ( e dois seios)\ um carinho\ as
crianças\ descontam\ um cartão de crédito…\a grade enfeita\ minha antena\ minha
tampa de combustível. Poema da escritora israelense Janice Rebibo (1950-2015).
OUTROS DITOS INAUDITOS!