LERO POLIÉDRICO – Vou
além do 8 ou 70, mais até que os limites do plano cartesiano. Pronde vou tantos
passos, quantos caminhos. Se há ladeiras, diversas ribanceiras. O que vejo: zis
horizontes, uma diversidade de cores, gente, flores, sinais reluzentes,
multiplicidade de ângulos, lados e atalhos. Quando não becos, matagais, vielas,
mata-burro, ou estada aberta, currais, rieiras e chãs, canaviais. Tantas renas,
muitas curvas. As faixas e acostamentos, pontes e pinguelas, rios e brejos,
perigos e bonanças. Quando não chove, não só estia como ensolara ou vai na
somra, brisa mansa ou ventania, senão mormaço e gastura de monotonia. Quando não
é Sol a pino em pleno meio dia, é torrencial chuvada, alagadiços, gente que só
atrepadas para não morrer de afogamentos, senão vem a fumaçada que chega no
leirão e vem lá das queimadas. Para comer cardápio tanto na mesa, ou no
quintal, até mesmo no pomar, há de tudo pra todos os gostos. E não é só doce ou
salgado, amargo ou insosso, tem misturado, até coisa sem gosto pra qualquer que
seja o paladar. Afora isso tem os beijos e as mordidas, tem chupadas e
lambidas, quando não hálito agradável ou fedor mais cantigado. Se tem pra
andar, tem pra carregar nos ombros, nas mãos ou entre as pernas, ou onde se
amparar, ou aos abraços, até mesmo se pegar com golpe ou tomada, com ajeitado
ou bofetada, tudo pode rolar da cabeça, tronco e membros. Tirante boa pisada,
também pernada a três por quatro ou cinco por seis, quanto querer, tem gostosa
encoxada, ou mesmo umbigada, sovaco e rebolado, passos de dança, ou ajeitado do
muito e cada vez mais no ritmo cadenciado. Tem lado pra tudo quanto é tempo, desde
jogar conversa fora ou mentir descaradamente do cu apitar, apelar pro aloprado
ou pro que quiser inventar, sair à francesa ou volta já, cai na função, maior
trupé, até romper a barra do dia e botar todo mundo de casa pra fora, que
amanhã é dia de branco, todo mundo no trampo, ou enrolar no horário, esconder-se
no armário ou curtir a ressaca braba, ou cochilar na rede depois da sesta, ou
se esgueira pé na bunda depois de uns bons bregues, afinal tem muita coisa e
não só duas ou três, quatro ou o tanto mais repasto quanto mais ingresia, seja
noite pelo dia, ou vice-versa, de cabeça pra baixo, aos pinotes, plantando
bananeira ou aos remelexos, seja lá o que for, o que há de dias há de coisas e
esse mundão é infinito de possibilidades. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Cada um faz o que
pode para evitar pensar. A preguiça é a característica humana mais básica. As
pessoas não querem pensar – elas não conseguem fazer a ligação entre
entretenimento e pensamento, elas querem diversão imediata. As pessoas não
serão humanas até que sintam prazer com o pensamento. Somente uma pessoa que
pensa pode ser uma pessoa plena. Você realmente não
começa a trabalhar criativamente até chegar a um ponto em que não sabe.
Pensamento da cineasta tcheca Věra Chytilová
(1929-2014). Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Tenho tantas ideias e histórias que quero
contar. Mas sentar-se para escrever é uma coisa difícil de fazer. Meu caminho
para tudo foi através do teatro. Há tantas peças que eu vi crescendo que me
fizeram perceber que eu queria estar no palco fazendo isso. Então foi
definitivamente através de balé, e depois palco, e depois teatro e atuação. E
então eu meio que fiz o meu caminho para o cinema. Pensamento da atriz, cineasta e escritora franc0-estadunidense Pauline
Chalamet.
AS ARMAS
DE AGOSTO – [...] Tão lindo foi o espetáculo na manhã de maio de 1910, quando nove reis
cavalgaram no funeral de Eduardo VII da Inglaterra, que a multidão, esperando
silenciosa e vestida de preto, não conseguiu conter suspiros de admiração. Vestidos de escarlate, azul, verde e
roxo, três a três, os soberanos atravessaram os portões do palácio, com
capacetes emplumados, tranças douradas, faixas carmesim e ordens de joias
brilhando ao sol. Depois deles vieram cinco herdeiros
aparentes, mais quarenta altezas imperiais ou reais, sete rainhas - quatro
viúvas e três reinantes - e vários embaixadores especiais de países sem coroa. Juntos, eles representaram setenta
nações na maior reunião de realeza e posição já reunida em um só lugar e, desse
tipo, a última. A língua abafada do Big Ben badalou
nove horas quando o cortejo deixou o palácio, mas no relógio da história era
pôr-do-sol e o sol do velho mundo estava se pondo num esplendor moribundo que
nunca mais seria visto. [...] Os seres humanos, tal como os planos, revelam-se falíveis na presença dos
ingredientes que faltam nas manobras – perigo, morte e munições reais. [...] A língua abafada do Big Ben badalou nove horas quando o
cortejo deixou o palácio, mas no relógio da história era pôr-do-sol e o sol do
velho mundo estava se pondo num esplendor moribundo que nunca mais seria visto. [...] no meio da guerra e da crise nada é tão claro ou tão
certo como parece em retrospectiva [...] Argumentos sempre podem ser encontrados para transformar
o desejo em política [...]. Trechos
extraídos da obra The Guns of August (Scribner, 1962), da escritora e historiadora estadunidense Barbara
Tuchman (1012-1989).
DOIS POEMAS – I - Meu querido coração, subitamente agredido. E tudo porque adorei mais do que é permitido. Tudo porque um cigarro fica na boca e umedece gradualmente em sua sedosidade. Porque uma provocante marca de camiseta, O escudo muito afiado de seu peito, e um braço forte da manga se projeta. Tudo porque um par de pernas, de pernas perfeitas dentro das calças mais apertadas, espalhadas diante de mim. Eles se espalharam diante de mim II - Havia um homem aparafusado em um v.5 Era uma figura mascarada superlativa. era o próprio Falo, vivo, era uma grande torre desembainhada, foi uma ereção tão ousada que até perderia a barriga de vista, fonte de cipreste tão inoportuna, uma proa pertinaz, sempre ereta. Não faça nenhum kit de engenhosidade ou prudência, porque seria uma loucura exigir inteligência de um Tarzan bem dotado, ou sensibilidade e vontade de um King Kong; já que até o anorangutan atende à necessidade de satisfazer um desejo impaciente. Poemas da escritora espanhola Ana Rossetti. Veja mais aqui.