Art by Fulvio de Marinis
DEPOIS DUMA NOITE
CHUVOSA – UMA: LER & EDUCAR – Todas as
noites, chuvosas ou não, aliás, todos os dias eu mantenho a leitura em dia. Afinal,
o livro é uma companhia sempre agradável, até dos livros chatos a gente pode
tirar algum ensinamento para o aprendizado. E digo isso empolgado com o que
disse a educadora estadunidense, Bev Perdue
certa vez: A educação mudou fundamentalmente
a minha vida. É talvez a missão da minha vida. Estou casada com ela de uma
forma muito poderosa e pessoal. E escolhi o caminho que acredito que poderia me
tornar o mais importante na mudança dos resultados que vemos agora... Sim,
comigo também a leitura e o processo de me educar foram de suma importância
para chegar até onde cheguei, fazendo apenas o que quero e gosto. E dela mais
uma frase: Eu sempre fui eu. Eu sempre
fui muito direta e disse a verdade e estou muito disposta a me levantar e falar.
É isso aí (e veja mais sobre Educação aqui e aqui). DUAS: VIVER & FAZER O QUE GOSTA – Sobre essa de
apenas fazer o que quer e gosta, sempre a tônica de minha toda existência. Consegui,
foi difícil, mas cheguei ao ponto (e já faz tempo) de apenas aceitar a fazer o
que quero e gosto. A esse respeito a atriz e dramaturga estadunidense Holland Taylor tem uma
frase sintomática e que muito me diz respeito: Levei muito tempo para chegar ao ponto em minha carreira onde eu
poderia escolher o que queria fazer. Eu sempre tive uma fome de me realizar
através da minha carreira... Assim eu fiz e enfrento as adversidades da
vida com mais tranquilidade e determinação. TRES:
UM PÉ NA FRENTE & OUTRO ATRÁS – Claro que para seguir vivendo não é fácil,
mar de rosas não existe. Principalmente depois que eu li algumas páginas do
médico e filósofo franco-gabonês, Albert Schweitzer (1875-1965), recolhendo delas alguns ensinamentos
preciosos como: Vivemos
em uma época perigosa — o homem domina a natureza antes que tenha aprendido a
dominar a si mesmo... A tragédia da vida é o que morre dentro do homem enquanto
ele vive... Assim como o sol derrete o gelo, a gentileza evapora mal
entendidos, desconfianças e hostilidade... Por isso, mesmo
confiante e determinado, nada mais salutar que a cada passada saber um pé na
frente & outro atrás. Vamos aprumar a conversa!
DITOS &
DESDITOS - A percepção não passa da soma dos nossos mal-entendidos... Quando se faz
algo incomum, as cenas cotidianas se tornam um pouco diferentes do normal. Mas
não se deixe enganar pelas aparências. A realidade é sempre única. Se a morte
não significa o descanso eterno, qual seria a salvação para as nossas vidas tão
imperfeitas, tão cheias de incertezas? Pensamento do escritor japonês Haruki
Murakami. Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: O
reconhecimento, por meio da noção de gênero, da dimensão histórica e social dos
antagonismos sexuais, nos estimula a pensar a consciência de classe e a
consciência de gênero não como resistências paralelas e mutuamente exclusivas,
mas sim como convergentes em uma aliança estratégica conflituosa. A mulher é o
futuro do fantasma. E vice versa... Pensamento do filósofo francês Daniel
Bensaïd (1946-2010). Veja mais aqui.
EMMA OUTRA, A
HAMILTON – Eu era jovem. Eu me curei rapidamente. Aprendi
francês e italiano, música e dança. E um dia, eu tive mais do que jamais
sonhei. Tornei-me sua esposa... Emma, Lady Hamilton... De origem pobre, Emma nasceu como Amy Lyon, há mais de 200 anos, filha de um ferreiro que
nem chegou a conhecer. Sua mãe e sua avó a criaram, mas sem condições de dar
educação básica ou luxo. Aos 17 anos, com uma beleza inegável, Amy adotou o
nome de Emma Hart e se mudou para Londres,
para tentar a sorte. Havia poucas possibilidades fora do casamento para
mulheres: ser doméstica, atriz ou prostituta eram as opções e todas foram
tentadas por Emma. Aos 12 anos começou como empregada, mas não conseguiu se
manter na casa por muito tempo. Aos 17 anos, se tornou amante de Charles Francis Greville. A essa altura já tinha uma
filha que foi criada por sua avó. Com ele, ganhou um banho de loja e educação,
afora conhecer artistas como George Romney,
que se encantou com seus traços e a elegeu como sua musa. Em pouco tempo, Emma
estava famosa em Londres, com vários quadros e gravuras. Infelizmente, Greville
não tinha boas intenções. Além de ganhar em cima dos quadros da amante, ele a
convenceu que se casaria com ela, e por isso Emma viajou para Nápoles, onde se
uniriam oficialmente. Porém, sem seu conhecimento, Greville a vendeu para seu
tio, Sir William Hamilton, um
viúvo rico e bem mais velho, que colecionava quadros e estátuas de mulheres
bonitas. A ideia era que Sir William ficasse com Emma como amante por um
período, antes que Greville retomasse o caso. No entanto, Sir William gostou da
aquisição e se casa oficialmente com Emma, a tornando Lady Hamilton. Em
Nápoles, Emma fica amiga dos reis e se torna uma das mulheres mais influentes
locais. Para Emma, Sir William não negava nada e ela viveu feliz nesse arranjo
até conhecer o herói naval Sir Horatio
Nelson, que veio à Nápoles pedir auxílio a Sir William. Os dois se
entendem imediatamente, com Emma sendo crucial para ajudá-lo em sua missão. Os
dois ficaram 5 anos sem se ver e, quando se reencontraram, Nelson já estava sem
um braço, envelhecido e com problemas de visão. Nada que impedisse a Emma a
continuar apaixonada, aparentemente. Os dois embarcaram abertamente em um
romance, aceito pelo marido dela, nem tanto pela esposa dele, Fanny. Quando
Nelson foi chamado de volta para Londres, Emma o acompanhou. A essa altura,
todos sabiam do romance e não ajudou o fato de que Emma tenha engravidado. A
infelicidade de Fanny chegou ao ponto em que o fez escolher entre as duas,
claro, perdendo no processo. Sir William faleceu sem dinheiro, e Emma não herdou
nada de significativo como sua viúva. Estava tudo bem, pois a ideia de Nelson
era se casar com o amor de sua vida. Porém, ele morreu em uma batalha, antes de
mudar seu testamento. Sem os dois homens que a sustentavam, Emma logo decaiu
financeiramente. Na verdade, nunca se recuperou emocionalmente da morte de
Nelson. Alcoólatra, endividada e envelhecida, Emma fugiu para França onde
morreu, aos 49 anos, praticamente mendiga. Uma história trágica, triste e
extremamente, romântica. A sua beleza ficou imortalizada no cinema, na
literatura e nas Artes. Sua incrível história de amor com o herói britânico, Lord Horatio Nelson, foi imortalizado no filme Lady Hamilton,
a Divina Dama e estrelado por Vivien Leigh
e Laurence Olivier. Também foi tema do
filme Les Amours de Lady Hamilton
(Le calde notti di Lady Hamilton,
1968) baseado no romance homônimo de Alexandre Dumas, que é publicado
sob o tútulo de La Sanfelice (Adelphi, 1999), que retrata
a prisão e execução em Nápoles de Luisa Sanfelice, acusada de conspirar com os
franceses e seus partidários contra Fernando I das Duas Sicílias durante a
Guerra Revolucionária Francesa.
REGISTROS DE UMA ATRIZ - [...]
A simplicidade é um grande elemento da boa educação. [...] Muitas causas tendem a tornar os bons patrões e patroas
tão raros quanto os bons criados. As grandes e rápidas fortunas pelas quais as pessoas
vulgares e ignorantes se tornam proprietárias de casas esplêndidas,
esplendidamente mobiliadas, não lhes dão, é claro, os sentimentos e as maneiras
das pessoas nobres, nem de forma alguma as elevam acima dos criados que
empregam, que estão bem cientes desse fato, e que a posse de riqueza é
literalmente a única superioridade que seus empregadores têm sobre eles. [...]. Trechos extraídos da obra Further Records, 1848-1883 - A Series of Letters (Palala
Press, 2013), da
escritora e atriz britânica Fanny Kemble (1809-1893), autora da frase: Às vezes, sou assombrado pela ideia de que
era um dever imperativo, sabendo o que sei e tendo visto o que vi, fazer tudo o
que está ao meu alcance para mostrar os perigos e os males dessa terrível
instituição. Dela também um pequeno poema: Um fardo sagrado é esta vida que você carrega, \ Olhe para ela,
levante-a, carregue-a solenemente, \ Levante-se e caminhe sob ela com firmeza; \
Não falhe pela tristeza, não vacile pelo pecado, \ Mas avante, para cima, até
que o objetivo seja alcançado. Veja mais aqui e aqui.
DOIS POEMAS – FOGO - Esta vida que chamamos de nossa \ não é forte nem livre; \ Uma
chama no vento da morte, \ Ela treme incessantemente. \ E tudo o que podemos
fazer \ Para usar nossa pequena luz \ Antes que, no vento cortante, \ Ela
pisque na noite: \ Ceder o calor da chama, \ Para não ressentir, mas dar \ O
que tivermos de força, \ Para que mais uma chama viva. AS CORES DA LUZ - Isso
não é fácil de entender \ Para você que vem de uma terra distante \ Onde todas
as cores são baixas - \ Púrpuras profundos, esmeraldas profundas e ricas, \ Onde
o outono é flamejante e o verão é verde - \ Aqui está uma beleza que você nunca
viu. \ Tudo é afinado em um tom mais alto, \ Lilás, topázio e marfim, \ Verde-jade
pálido e azul claro claro \ Como águas-marinhas pelas quais o sol brilha, \ Ouros
e pratas, temos à vontade - \ Prata e ouro em cada planície e colina, \ Prata
-verde das folhas de myall, \ Ouro fulvo dos feixes colhidos, \ Rios prateados
que deslizam silenciosamente, \ Areias douradas à beira d'água, \ Acácia
dourada e vassoura dourada,\ Estrelas prateadas do jacarandá florescem; \ Sol
âmbar e tom azul-esfumaçado: \ cores opalas que brilham e desbotam; \ No ouro
da relva do planalto \ Nuvens-sombras azuis que passam rapidamente; \ Fumaça de
madeira soprada em uma névoa azul; \ Colinas de tênue ametista... \ Freqüentemente
as cores são tão altas que \ a nota mais profunda é o céu de cobalto; \ Temos
que esperar até o pôr do sol chegar \ Para sombras que parecem batidas de
tambores - \ Ou como notas de órgão em sua ascensão e queda - \ Roxo e laranja
e cardeal, \ Ou o verde pavão que se torna suave e lento \ Para o azul pavão
como o grandes estrelas mostram... \ Bolos de goma de açúcar corados para
rosa-pêssego; \ Gengivas azuis, altas à beira da clareira; \ Pilares de marfim,
sua inclinação fina e lisa \ Manchado com heliotrópio delicado; \ Cinza das
raízes mulga retorcidas; \ Bronze-dourado dos rebentos em botão; \ Matizes dos
líquenes que se agarram e se espalham, \ verde-nilo, prímula e vermelho pálido...
\ Brilho da asa de bronze; azul do guindaste; \ Fulvo e pérola da cauda do
pássaro-lira; \ Creme de tarambola; cinza da pomba - \ Estes são os tons da
terra que amo. Poemas da escritora australiana Dorothea Mackellar (1885-1968). Veja mais aqui e aqui.