sábado, abril 22, 2023

GLORIA ROLANDO, ERICA JONG, GEORGE STEINER, SUZANNE COLLINS & ALTINHO

 

(Imagem: Acervo ArtLAM)

Ao som dos álbuns Uma Maneira de Dizer (Independente, 2012), Diários de Vento (Independente, 2016), Boa Noite pra Falar com o Mar (Independente, 2016) e Tempo Sem Tempo (Yb Music, 2019), todos da compositora e multi-instrumentista Joana Queiroz.

 

ICONOGRAFIA DA RUÍNA – Quem ainda se lembra se o coração bate alheio e o tempo, ah o tempo passa veloz afiada lâmina e pouco importa, as ruas e direções servem aos pneus congestionados na pressa do relógio de quem bate no pulso porque tem de ir nem se sabe direito pra onde. E vai acolá, o que tem de desembesto pragoraqui inadiável, líquido e certo, urgente, o resto pra depois de amanhã. Decerto o depois demorará a chegar, não tem de ficar à espera, não há mais muros nem janelas, varandas ou terraços, apenas mausoléus e lavabos suntuosos no quadratismo vertical, com suas vidraças espelhadas sobre as calçadas do vaivém desde ontens e há muito. Dá pra notar: há tempos só troca de roupa, no ademais o mais do mesmo. Só não passou quem está mais mole que um prato de papa ou mais velho que um papa-figo estirado numa cama ou maca hospitalar. Só não passou quem está entrevado que nem borreia engrenada na esquina, ou se acabando pelo fundo feito panela. Isso também não importa, destampa a garrafa, goles e farras. Tudo passa. Seria invencionice a cana em demasia: beira de rio, terreiro de casas, topo de morros e nos cafundós da desgraça difusa Mata adentro e ninguém nem aí, vale o esfolado no estrépito do consumo arrivista, ostentação e desencanto. A quem a pachorra de se dar conta do tanto desolador, ninguém. Ninguém mesmo porque o deliberado racismo fracking entra sem bater portas e com todos os dedos na ferida aberta perfurando profundidade na carne do solo para extrair o xisto ou folhelho pro gás natural em Vaca Muerta, um ecocídio Mapuche que agora desaloja os nossos ameaçados pelo Maranhão, Piauí, Mato Grosso do Sul e Tocantins, por enquanto. O que estridula no bolso é emergencial, recados da hora, decisões iminentes e ninguém quer passar batido, ora! Quem ainda se lembra vai clandestino, exilado voluntário com exercício de inventar alvos móveis ou falsos. O que sei é se não estou em apuros, confesso: no meio do caos e do medo. Pudera, há mais de quinhentos anos à deriva, há mais de um século sucumbindo aos golpes – e por falar em golpe, melhor se precaver: um novinho em folha está no ensaio dia após noite, os que malograram já foram. Ah, quem acenou eu nem vi, quase sou atropelado na faixa de pedestre; semáforos, vá entender. Quem aceitou foi recusado, não sei como, ah não, basta de tantos nãos e coniventes sins, quanto eufemismo à toa. Quem ainda se lembra eu não sei, só não esqueci sangue nas veias. Até mais ver.

 

DITOS & DESDITOS

(Imagem: Acervo ArtLAM)

A história, no sentido humano, é uma rede de linguagem arremessada para trás...

Pensamento do professor e crítico literário francês George Steiner (1929-2020), que no ensaio The Retreat from the Word (Kenyon Review (1961), inserido na obra Language and Silence: Essays 1958-1966 (Macmillan Pub Co, 1967), expressou que: [...] A linguagem só pode lidar significativamente com um segmento especial e restrito da realidade. O resto, e presumivelmente a parte muito maior, é silêncio.[...]. Quando uma língua morre, uma maneira de entender o mundo morre com ela, uma maneira de olhar para o mundo. [...]. Veja mais aqui.

 

TORDO - [...] Certos passos você tem de dar sozinho. [...] A promessa de que a vida pode continuar, não importa quão ruins sejam nossas perdas. Que pode ser bom de novo. [...]. Trechos extraídos da obra Mockingjay (Scholastic Press, 2010), da escritora e roteirista estadunidense Suzanne Collins. Veja mais aqui.

 

DUPLA MORAL RACIAL - O racista se faz, não se nasce... Essas atitudes são aprendidas e muitas delas são transmitidas de geração em geração como durante um longo período, e constituem um código de valor-informação que é transmitido a cada indivíduo no processo de socialização... Expressão do sociólogo, antropólogo e professor espanhol Tomás Calvo Buezas, autor de obras como Los más pobres en el país más rico: clase, raza y etnia en el movimiento campesino chicano (1981), Los racistas son los otros. Gitanos, minorías y Derechos Humanos en los textos escolares (1989) e La escuela ante la inmigración y el racismo. Orientaciones de educación intercultural (2003), entre outras obras.

 

UM POEMA & DUAS FRASES

E o problema é que, se você não arriscar nada, arriscará ainda mais...

(Imagem: Acervo ArtLAM)

Eu estava cansada de ser mulher, \ cansada da dor, \ do detalhe irrelevante do sexo, \ minha própria concavidade \ faminta inutilmente \ e mais vazia sempre que estava cheia, \ e finalmente preenchida \ por seu próprio vazio, \ buscando o jardim da solidão \ em vez dos homens. \ A cama branca \ no jardim verde - \ eu ansiava \ por dormir sozinha \ do jeito que alguns anseiam \ por um amante. \ Mesmo quando você chegou, \ tentei espancá-lo \ com minha tristeza, \ minhas seduções cínicas \ e meu truque de \ transformar um escravo \ em mestre. \ E tudo porque \ você fez \ meus dedos doerem \ e meus olhos se cruzam \ numa paixão \ que não sabia o próprio nome. \ Urso, fera, amante \ do livro do meu corpo, \ você folheou minhas páginas \ e descobriu \ o que havia \ para ser escrito \ do outro lado. \ E agora \ estou em branco \ para você, \ uma tabula rasa \ pronta para ser impressa \ com letras \ em um idioma desconhecido \ pela grande imprensa \ do nosso amor.

Frase & poema Beast, Book, Body, da escritora e educadora estadunidense Erica Jong, que ainda expressa: Todo mundo tem um talento. O que é raro é a coragem de seguir o talento para o lugar escuro onde ele leva. Veja mais aqui e aqui.

 

DIÁLOGO COM A MINHA AVÓ - [...] Esta é uma história de muitas mulheres negras que lavaram, passaram a ferro e foram as bases das nossas famílias. É por isso que mostrei suas mãos. Por respeito pelas mãos que trabalharam tanto para construir uma família [...] Há algo que não posso evitar dizer. Eles queriam distorcer muitas vezes a imagem da minha avó... Desde a época colonial, eles inventaram os padrões de uma indústria que não nos representa. Mas, infelizmente, muitas pessoas em Cuba e outros países também reproduzem e vendem essas irresponsáveis versões coloniais. Por que essa imagem falsa e degradante da mulher negra? Por quê? Por quê? Por quê? [...]. Trechos extraídos de Diálogo com a minha avó (2015), da premiada cineasta e roteirista cubana Gloria Rolando, que também se expressou sobre o filme Reshipment (2014): Quando falamos sobre a diáspora africana, às vezes as pessoas não sabem muito sobre o que aconteceu na história do Caribe - e Cuba é uma ilha caribenha que compartilhou muitos destinos com outros países do Caribe. Mesmo que falemos espanhol e outros falem francês ou inglês, temos muitas coisas em comum. Então eu acho que a expectativa, o interesse e a reação que eu vejo é porque as pessoas querem saber o que aconteceu com o resto dos negros do continente... Através dos meus filmes, eles conseguem ter um pedaço desse conhecimento. Não consigo abarcar, em um documentário de uma hora, toda a complexidade da história dos países caribenhos e de nossa história como pessoas negras. Mas pelo menos o público pode obter alguns elementos que lhes permitem continuar estudando ou fazendo mais pesquisas, especialmente a geração jovem...

 

VALUNA: ALTINHO

(Imagem: Acervo ArtLAM).

Enquanto Jorge cantava correnteza abaixo...

De mim o que jamais passou, a mesma coisa e não, processos dos devires. E tantos que ela já era a Cabeleira de Altinho, da Chata e Mentirosas, Maracajá, Molambo...

Valuna: homenagem ao Município de Altinho – Pernambuco. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.