quinta-feira, julho 22, 2021

OSKAR GRAF, ERNA LENDVAI-DIRCKSEN, BRUNO PAES MANSO, BOSCO BRASIL & LUIS MENDONÇA

 

 

TRÍPTICO DQP – Notícias do Fecamepa: Da peste ao caos... - Ao som da The Brazilian Suite KPM-1071 (1970), de Rogério Duprat. – Desabou? Quase! Eita. Porqueira! É lamentável ver o país devastado e o Fecamepa no balanço festivo da desgraça. No olho do furacão, Coisonário se debate entre bravatas e petas sobre o morticínio de mais de meio milhão de vidas. Como não sabe ler direito, desconhece o que seja lista tríplice (que porra é essa) e reconduz o PostAras quebrando todos os protocolos. Ou melhor, caga na entrada de melar até a saída para as gadociatas nazifascistas, maior meladeiro todo dia e o dia todo. Para deixar seu filme cada vez mais chocho e pior que fiapinho de nada, o General Vice é enxotado de Angola na tentativa de salvar a diabólica UnEdir, enquanto a Amazônia e o resto de vivoverde é queimado para gozo do agronegócio e grileiros desalmados que insistem em extinguir de vez os indígenas, valha-me a desfortuna da rotônica! Além do mais, cada um dos seus desconfiáveis e indigestos ministros e colaboradores cometem cipoadas as mais cabeludas, contam-se aos borbotões do filadpuGuedes, da Doidamares, da esquisitagricultura TetêCricri e os outros desmiolados sabifalidos, que não enxergam seu capitão se afrouxado com as calças arriadas e de quatro pro inescrupuloso Kid Centrão: serão todos enrabados sem dó pelo gigantesco falo melado de areia do algoz; isso ele, as debuputadas e outros prosélitos. Afora isso, vão todos de cara lisa, porque eles nunca viram O interrogatório de Peter Weiss ou sequer leram uma linha que seja do livro A República das Milícias - Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro (Todavia, 2020), do cientista político Bruno Paes Manso. Enquanto isso, vão todos entre pipocos escandalosos de generais, salafrários e estúpidos, a coisa desanda a deixar a gente quase a não ver navio nem nada, só as estatísticas pandêmicas e dos desplantes. Eta Brasilzim véio, arrevirado e de porteira escancarada!

 


A urdidura labiríntica do amor e desfecho... - Imagem: a arte da fotógrafa alemã Erna Lendvai-Dircksen (1883–1962) – Os meus nos olhos dela, livros e desejos ocultos. Assim, lá e cá, ela e eu, tímidos e cautelosos, o cenário nada auspicioso. Se o país derretia, assim nossos corações e nenhum de nós previa onde tudo ia dar. Propositadamente ela sacava Emma Lazarus: Dai-me vossos pobres fatigados, / As multidões que por só respirarem livres zelam, / Resíduos miseráveis dos caminhos fervilhados. / Mandai-os a mim, desabrigados, que a minha vela / Os guiará, calmos, através dos portões dourados! E fechava com a frase da poeta: Até que sejamos todos livres, nenhum de nós é livre. À provocação dela eu respondia com o escritor alemão Oskar Maria Graf (1894-1967): Não mereci esta desonra! Com relação a toda minha vida e toda minha obra, tenho o direito de exigir que meus livros sejam lançados à chama pura da fogueira e não venham parar nas mãos sangrentas e nos cérebros podres dos bandos assassinos marrons. Não sabíamos, mas era como se estivéssemos no enredo d’O acidente, do dramaturgo Bosco Brasil: dois humildes funcionários criadores de uma ideia de cada um e moldando a suas vidas baseados nisso, até a festa do meu aniversário e ela chega, ficamos encurralados: era a paixão latente, a descoberta do idílio, a revelação das verdadeiras identidades e a nossa tragédia. Não era apenas: ...uma peça de cena única, com narrativa fechada, que se passa em tempo real, como dizia o autor, éramos nós desolados entre livros e segredos: nosso mundo está envolvido pelas dores da humanidade e de tudo que nos circunda. Ela não resiste e se vai, esse desfecho me levou à solidão e outra era a cena, a do Ilustríssimo Filho da Mãe, da Leilah Assumpção, depondo inconsolável à mãe ausente imaginária, todo meu desconsolo e fracasso, dúvidas e ressentimentos.

 


A festa popular do teatro... – Era preciso resistir e tomar outra direção. Assim fiz e me deparei com a ilustre arte do ator, dramaturgo, professor e diretor Luis Mendonça (1931-1995), o mesmo que iniciou lá pelos anos 1951 suas atividades teatrais com o Teatro do Estudante Secundário do Recife e que atuou no teatro, cinema e televisão. O maravilhoso da ideia dele era a defesa do teatro para o povo e com o povo, a exemplo da iniciativa com sua mãe, dona Sebastiana Mendonça, a Paixão de Jesus de Nova Jerusalém. A arte, para ele, era a salvação das pessoas. Tanto que em depoimento sobre a experiência do Teatro de Cultura Popular de Pernambuco, reproduzido na Arte em revista, ano 2 n. 3, 1964, dissera: Quase toda a cidade do Recife era servida por Centros e Praças de Cultura, além de 8 Centros Educativos Operários com teatros aparelhados e construídos desde os idos do Estado Novo... A festa... não houve. Foi o maior 1º de abril dos que lutavam no Teatro de Cultura Popular. Era porque ele integrava o MCP, ao lado de Paulo Freire, Hermilo, Abelardo e Ariano, que foi assaltado pelo golpe de 1964, o exílio no Rio de Janeiro. Aí montou Viva o cordão encarnado, de Luiz Marinho, tornando-se a partir de então, arte-educador, ao mesmo tempo em que colocava em cena figuras como Wilker, Tânia Alves e Elke Maravilha, encenando Vital Santos, Osman Lins e Brecht, entre outros. Noutro momento, ele depôs: Os teatros, principalmente os municipais, com toda a sua ostentação, são verdadeiros espantalhos para o público. É difícil levar o povo ao teatro; tem que se levar o teatro ao povo. Além disso, na rua ou no campo, o público é desconfiado. É preciso que organizações de classe ou bairro o levem ou lhe recomendem. Mas, se o teatro for bem feito, o público fica grato e o aplaude. E chegou o espetáculo Auréola, com elenco formado por jovens oriundos da Varginha, interpretando a cena de anjos que desciam à Terra para coroar uma santa, mas que decidem coroar o busto de um traficante morto a tiros, um Robin Hood tupiniquim. Já havia evidenciado que: O importante é assinalar que é preciso partir suas circunstâncias, descer até ele para fazê-lo subir, gradativamente, até a assimilação do que lhe quisermos dar. E dar como teatro, como diversão, como espetáculo; do contrário, engajado ou não, mesmo que fale de coisas que lhe digam respeito, ele não o aceita. Foi com essa garra que dirigiu vários grupos, entre os quais o Teatro de Cultura Popular de Pernambuco, cuja importante experiência transmitiu em depoimento veiculado na Revista da Civilização Brasileira: Teatro e Realidade Brasileira. O que me fez ainda mais feliz foi saber que a sua trajetória instigante foi reunida na obra Luiz Mendonça: teatro é festa para o povo (FCCR, 2005), de Luis e Carlos Reis. Até mais ver.

 

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