domingo, novembro 15, 2020

JURGA IVANAUSKAITĖ, PAUL HINDEMITH, ELSA MORANTE, DIANA KRALL, ALEARDO ALEARDI, ERIKA FRAENKEL & LUIZ VIEIRA

 

TRÍPTICO DQC: AINDA PRIMAVERA - Curtindo Violina, do compositor húngaro Frigyes Hidas (1928-2007), na interpretação da premiada violinista argentina Betina Stegmann, que é primeiro violino do Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo e do Ensemble São Paulo, professora do Curso Superior de Música (Bacharelado) da Faculdade Cantareira – A noite é plena com tantas luzes e não compreendo o buzinaço rasgando o momento, muito menos o que é comemoração ou protesto. Não sei quase nada do que é vida ou morte, quantos se matam em nome de qual causa ou por fazer valer a existência, aos acenos ou sem. Marianne Moore saúda o meu janelão: As mãos são as mensageiras do coração. Seus espinhos são a melhor parte de você. Abençoado o homem cuja fé é diferente da possessividade - de um tipo não emoldurado por coisas que aparecem. Riso tímido, olhos vivos, um jeito de me convidar para viver e eu apenas queria contar uma história, como se isso for possível depois de tantos sobressaltos. Ao seu lado, emergiu Chinua Achebe parece que adivinhando meus pensamentos: Não há histórias que não sejam verdadeiras. O mundo é infinito, e aquilo que é bom para certas pessoas pode ser abominável para outras. Sim, eu sei. Os dois trocam cortesias e eu apenas os vejo nítidos como se nem dessem pela minha presença. Olham para mim e insinuam que eu poderia fazer melhor que posso e agir na desrazão do que sempre me levou e jamais me aproveitei disso. Deveria ser doutro jeito, nunca faço como manda o figurino e sei que ainda é pouco, ousar mais e muito, isso sim. Ainda é noite e eu espero não ficar tão só, apenas.

 


MADE IN SOLIDÃO – Imagem: arte da artista multimídia Dora Longo Bahia, curtindo Ludus Tonalis (1942), do compositor alemão Paul Hindemith (1895-1963), na interpretação do pianista russo Sviatoslav Richter (1915-1997), Live at Fêtes Musicales en Touraine, France. - Sequer percebi o trâmite da madrugada e não preguei os olhos agora na barra do dia. E se tudo amanhecia, ainda em mim a noite presente. Nenhuma história me assaltou, só queria contar o que saltita impune no coração. Impossível coordenar ideais, nem redigir outros solecismos. A zoada é grande, apesar do horário. Já me alertava Astrid Lindgren: Escrevo para divertir a criança que vive dentro de mim, só espero que outras crianças também se divirtam. Quero escrever para leitores que possam fazer milagres. As crianças fazem milagres quando leem. Tão infantil quanto, sequer milagre algum para obrar àquela hora. Pudesse eu a abraçaria, mas não estava mais ali. Só a beleza estonteante da Jurga Ivanauskaitė com seu jeito encantador: Desejo-lhe felicidade por ver como este mundo é freneticamente lindo todos os dias. Sim e eu só queria abraçá-la e com ela passar a manhã pelo entardecer, enquanto as horas bailassem no nosso prazer.  

 


VOLTA POR CIMA – Imagem: arte da artista visual, videoartista e cineasta Erika Fraenkel, curtindo Live Rio (2008), da cantora e pianista canadense Diana Krall & Orquestra de Rio de Janeiro, regência de Ruriá Duprat. Anoiteceu com acordes nostálgicos e ela apareceu do nada para me dizer Madeleine de Scudéry: Perdoa-se tudo aos amantes... e aos doidos. Por muito boa que seja a cabeça, quase nada pode contra o coração. Esvoaçante como sempre, agarrou-se em volta dos meus ombros com um beijo afetuoso a me dizer o quanto sou louco e desencontrado. Dela a boca úmida e um verso do poeta italiano Aleardo Aleardi (1812-1878): Pura é uma dor que supera todas as dores / carregue o luto em uma pessoa viva. Ela sabia que eu sucumbia inevitavelmente, sabia que pouco me restava além de claustros e vales longínquos. Diante do meu desalento era ela a escritora italiana Elsa Morante (1912-1985), altiva e voluptuosa: As liberdades não são concedidas. Elas são levados. Não espero perdão nem desejo a simpatia dos outros. Eu apenas finjo ser honesta. Quem dera fosse sempre em mim, ventania de todos os pontos cardeais para ressuscitar nela e a vida apenas seguisse sem direção. Até mais ver.

 

LUIZ VIEIRA

Quando estou nos braços teus / Sinto o mundo bocejar / Quando estás nos braços meus / Sinto a vida descansar / No calor do teu carinho / Sou menino-passarinho / Com vontade de voar.

Preludio Pra Ninar Gente Grande (Menino Passarinho), do cantor, compositor e radialista Luiz Vieira (1928-2020), autor de álbuns antológicos como

Pai, acende o lampião/Caixa d.água (Todamérica, 1951), Dona Catulina/Chova ou faça sol (Todamérica, 1952), O menino de Braçanã/Os olhinhos do menino (Todamérica, 1954), Cantiga da lembrança/Embolada mudou (Copacabana, 1958), Retalhos do Nordeste (Copacabana, 1959), Prelúdio pra ninar gente grande/Jaguaribe (Copacabana, 1962), Paz do meu amor – Prelúdio nº 2 (Copacabana, 1963), Em tempo de verdade (Copacabana, 1971), Na asa do vento (CBS, 1978), entre outros. Veja mais aqui e aqui.