terça-feira, julho 30, 2019

MÁRIO QUINTANA, EVELYN FOX KELLER, LINOR ABARGIL, HENRY MOORE & CIDADE CORAÇÃO


CIDADE CORAÇÃO – A cidade sou eu rio acima de nenhuma margem, menino que não precisava saber qualquer coisa de nada. Se as ruas repletas de sangue coagulado são veias que se abrem do talho involuntário, qual esquina não mora o agouro e eu sequer distinguia a bondade congênita da malévola tapiação. Não devia o pé fora de casa, nenhum passo além da placenta rasgada, inferno que pulsa a madrugada na festa vazia. Ali eu pensava em nunca esquecer a distopia de heróis fugitivos dos gibis levando todo mundo aos pandarecos, como se o estágio da esperança entre mendigos bem aquinhoados, servissem à desolação do ermo. A cidade não existe nem nunca existiu nas minhas migrações por pisos falsos e escravos de Babel: uma tábua suspensa no ar, a qualquer momento despenca num poço sem fundo. Nunca se sabe por aqui se é inverno ou verão, a chuva torrencial logo passageira se vai sem me levar e deixa o Sol mostrar o avesso e a pirotecnia que nunca se viu. Todos dormem diante do espetáculo horrível, ou não enxergam, nem querem ver. Eu não sei e a cidade é um defeito de alheias convalescências. Nada mudou desde sempre além do estardalhaço, nenhuma perspectiva no horizonte, nem há mais futuro, só agora a se dissolver até quando acabar. Desconheço perguntas que soam ao vento, se versos inauditos ou poemas sequer recitados, são vozes sombrias e ninguém escuta: os mortos declamam a esperança de acender a noite revelando a vida real em que não existem respostas largas ou longas, a memória violada de tantas agruras. Assim os meus dias e outros dias e a cidade é uma nuvem de seres desérticos, coração em chamas, outras escuridões. Todo dia é quarta-feira de cinzas por aqui, mesmo ano a cada virada, quem diria. Apesar do calendário o que resta é sorrir sem saber se tarde ou não, porque ninguém mais tem direção alguma para amparar e viver. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Estou argumentando que uma transição (ou descontinuidade) de importância foi o surgimento do que eu poderia chamar de "matéria inteligente", ou melhor, moléculas inteligentes. Moléculas inteligentes são moléculas que podem ambas registrar (sentido) sinais em seu ambiente e respondem mudando suas regras de engajamento - por exemplo, moléculas alostéricas. Eu sugeri que tais moléculas entraram em cena em algum lugar no curso da evolução de macromoléculas como o DNA e proteínas, e além disso, que sua aparência era crucial para o evolução subsequente dos sistemas vivos. [...] sugiro que uma vez que a matéria evolua para a matéria inteligente, o alcance do que pode fazer torna-se enormemente expandido. [...].
Trecho do texto Auto-organização, automontagem e inerente (Upsala University, 2009), da premiada física, escritora e ativista estadunidense Evelyn Fox Keller, pesquisadora que enfoca a história e a filosofia da biologia moderna e sobre o gênero e a ciência. Veja mais aqui.
  
BRAVE MISS WORLD
Não tenho medo de falar sobre meu estupro. Mas espero que os homens tenham medo. Eu acho que é muito importante falar. Porque essas mulheres que não falam, não querem acreditar que isso aconteceu. Eles estão com medo de mencionar a palavra estupro. Se eles disserem a palavra 'estupro', eles podem tremer e desmaiar. Isso controla você. E por quê? Você deixa essa pessoa controlá-lo pelo resto da vida. Eu acho que quando você coloca o que aconteceu com você do lado, e você não tem medo de confrontá-lo, então você percebe que não é o que faz de você quem você é.  Eu não era como as outras garotas. Eu nunca me culpei, ou pensei que isso aconteceu por minha causa. Eu nunca guardei dentro. Na época, o que eu fiz pareceu normal. Mas agora percebo que não foi. Porque a maioria das vítimas não fala, nunca. Eu sou bem única nesse sentido. Eu falo, eu grito, não tenho medo. Espero que os homens não ajam como animais.
O documentário Brave Miss World (2013), dirigido por Cecilia Peek, conta a triste história e a superação da vencedora do concurso Miss Mundo 1998, a atriz, amodelo e advogada israelense Linor Abargil. Seis semanas antes de ganhar o prêmio, então com 18 anos de idade, ela foi sequestrada e estuprada pelo agente de viagens Shlomo Nour, posteriormente condenado em Tel Aviv. Anos depois ela declarou: Nunca passou pela minha mente que aquele 'bom' homem iria me prejudicar. Mais tarde, percebi que este ato foi cuidadosamente planejado e a visão daquela noite terrível esteve em meus pesadelos por muitos anos. Desde então se tornou uma ativista contra a violência sexual, ajudando vítimas de estupro ao redor do mundo e luta contra essa cultura machista. Veja mais aqui.

A ESCULTURA DE HENRY MOORE
A verdadeira base da vida está nas relações humanas. Em certa medida, toda arte é uma abstração.
A arte do premiado escultor britânico Henry Moore (1898-1986) que desenvolveu uma obra tridimensional predominantemente figurativa, com breves incursões pela abstração. Veja mais aqui.

A OBRA DE MÁRIO QUINTANA
Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.
A obra do poeta, tradutor e jornalista Mário Quintana (1906-1994) e muito mais aqui.